capítulo 72

1148 Words

[NARRADO POR MURILO – DIA SEGUINTE NA CELA] Acordei antes da luz. Ou talvez nem tenha dormido. Na cadeia, o tempo não passa — ele apodrece. E eu já tava mofando por dentro. Levantei devagar, os músculos reclamando da laje dura, mas o instinto já afiado. Não precisava olhar pra saber: os dois da cela tavam acordados. Um fingia dormir, o outro me estudava. Dava pra sentir o peso do olhar. A cadeia tem seu próprio idioma. E todo olhar é um risco. Fui até o canto, lavei o rosto na pia nojenta com cheiro de rato morto. A água gelada bateu como tapa. Acordou mais do que refrescou. Quando me virei, ele tava lá. Outro preso. Do bloco ao lado. Tava parado na grade, olhando direto pra mim. Cicatriz no supercílio, sorriso manco, dentes faltando. Mas o olhar... o olhar era de quem tava so

Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD