Volto para a mesa abalada por aquele encontro, pego a minha bolsa e digo que vou embora.
- Você está bem? – Mariana me pergunta vendo meu descontrole.
- Eu só quero ir pra minha casa. – digo pondo a mão na testa – Desculpa.
- Você está bem para ir dirigindo? – Mariana torna a perguntar.
- Eu estou bem sim. – confirmo e beijo a bochecha dela – Boa noite.
- Me liga quando chegar. – ela pede.
Afirmo com a cabeça e saio. Paro ao lado do meu carro e reviro a bolsa em busca da chave. Acabo deixando ela cair no chão antes de conseguir colocá-la na fechadura.
Vejo que alguém se abaixa e junta a chave.
- Você não está em condições de dirigir. – a pessoa diz segurando minha chave. Só então vejo que era a fotógrafa novamente – Não posso deixar você ir pra casa sozinha nessas condições!
- Devolve a minha chave! – digo irritada – O que eu preciso fazer pra ficar livre de você? Não percebe que eu não te suporto? Me deixa em paz!
- Mesmo você sendo grossa desse jeito comigo, eu ainda quero que minha chefinha chegue em casa em segurança. – ela diz sorrindo, nem se importando com a minha grosseria – Quer que eu te leve?
- Prefiro ir a pé! – digo revirando os olhos – Devolve a minha chave e me deixa ir para a minha casa. Já chega ter que te aturar no trabalho.
- Desculpa, mas eu não posso mesmo. - ela diz séria - Eu me sentiria muito culpada se você se machucasse. Também não acho seguro te colocar num táxi nessas condições. Deixa eu fazer a minha boa ação do ano! Entra no carro e deixa eu te levar pra casa!
- Quem me garante que estou segura com você? – pergunto arqueando a sobrancelha.
- Ninguém garante porque você não está. – ela dá um sorriso provocador que me causa um frio na barriga.
Percebo que ela está olhando algo atrás de mim. Vejo uma expressão de preocupação surgir em seu rosto. Tento me virar para ver o que ela estava olhando, mas ela me segura pelos ombros e me faz continuar olhando para a frente.
- Tá maluca? – pergunto querendo tirar a mão dela de mim.
- Tenta não chamar a atenção. – ela diz séria – Aquele jornalista do programa de fofoca está atrás de você, na porta do bar.
- E o que eu tenho com isso? – pergunto dando de ombros.
- Você está visivelmente alcoolizada e está tentando dirigir. – ela diz tentando colocar juízo na minha cabeça – Além de ser algo totalmente i****a porque você pode se machucar e machucar outras pessoas, ainda pode proporcionar a matéria que ele deve estar procurando aqui. Não posso deixar você sair daqui dirigindo. Se sairmos daqui antes que ele nos veja é melhor ainda! Entra no carro e deixa eu cuidar da sua segurança e da sua imagem. Não quero ter uma chefe multada por embriaguez ao volante.
Eu poderia odiá-la, mas precisava admitir que ela esta certa.
Caminho até o outro lado do carro e me sento no banco da frente. Ela assume o lugar do motorista. Antes de ligar o carro, ela se preocupa em colocar meu cinto. Isso faz com que ela se aproxime mais do que deveria. Sua boca estava a centímetros da minha e seu hálito com cheirinho de chiclete de menta tocava meu rosto.
- Agora podemos ir. – ela sorri colocando o próprio cinto também – Preciso que me diga o endereço.
Traço no GPS a rota até a minha casa, apoio a cabeça no vidro e fico olhando pela janela. Ela dirige em silêncio. Tanto silêncio que eu acabo pegando no sono.
Sinto os dedos dela gelados deslizando pelo meu rosto e acordo assustada.
- Acho que chegamos. – ela diz baixinho sem se afastar de mim – É aqui que você mora?
- Sim. – respondo desconcertada pela proximidade.
- Você está bem? – ela pergunta e desliza os dedos pela minha face.
Balanço a cabeça afirmando.
- Obrigada por me trazer aqui. – digo me ajeitando no banco.
Ela percebe que a proximidade estava me deixando sem jeito e abre um sorriso.
- Está com medo de mim, Heloisa? – ela pergunta com uma voz mais sensual e me olha de um jeito diferente – Eu não vou morder você, a menos que você peça.
- i****a! – reviro os olhos e abro a porta – Quer ficar com o carro? Você traz amanhã quando vier pra conversar com a gente sobre a agenda.
- Prefiro ir pra casa de táxi e deixar o seu carro aqui. – ela diz tirando o cinto.
Seguro a mão dela a impedindo.
- Para de ser i****a! – exclamo – Eu aceitei a sua ajuda. Leva o carro. Eu vou me sentir menos em dívida com você.
- Eu gosto da ideia de você se sentir em dívida comigo. – ela abre aquele sorriso provocador e olha para a minha mão que ainda segurava a dela – Você tem mãos macias.
Solto a mão dela e desço do carro.
- Não ganho um beijinho de boa noite depois de salvar você? – ela pergunta antes que eu feche a porta.
Ignoro e caminho para o portão. Ele é aberto imediatamente e o Pedro caminha até mim.
- Quer que coloque o seu carro na garagem? – ele pergunta vendo o carro parado.
- Não. – respondo entrando – Emprestei ele para uma amiga voltar para casa.
Por que usei a palavras amiga? Aquela mulher poderia ser tudo, menos minha amiga! Dou de ombros e continuo andando.
Vou direto para o meu quarto aproveitando que a Helena não estava na sala. Só me jogo na cama e apago.
- Heloisa! - Helena chama me chacoalhando.
- Que foi? – pergunto com sono enfiando a cara no travesseiro para fugir da luz que irritava meus olhos.
- Mariana ligou pra perguntar se você tinha chegado viva em casa. - Helena diz mais alto do que deveria.
Parecia que a voz dela estava ecoando dentro da minha cabeça.
- Fala baixo, Helena! – resmungo – Já viu que eu tô viva, agora me deixa dormir!
- Dormir? – Helena fala ainda sem baixar o tom. Ela não estava gritando, era a minha ressaca que ampliava a voz dela – Já é quase meio dia! Temos uma reunião com a Sarah à uma hora. Esqueceu?
- Não, reunião não! – reclamo – Não tem necessidade de eu ir, já que você passa por cima da minha autoridade e decide as coisas sozinha. Além do mais, ela é sua funcionária. O problema é todo seu!
- Heloisa, a gente tem que conversar sobre a Sarah. – ela diz acariciando minhas costas – Eu não quero ficar brigada com você.
- Não tem o que conversar. – digo me encolhendo na cama – Você tomou a decisão e eu fui obrigada a aceitar. Só quero deixar claro que não vou tolerar que ela me ofenda. O primeiro problema que eu tiver com ela, espero que você fique do meu lado.
- Sempre vou estar do seu lado. – Helena diz e me abraça, deitando sobre mim.
- Sai, Helena! - resmungo - Deixa eu dormir, vai!
- Vou ver se nosso almoço está pronto e volto te chamar daqui a pouco. – ela diz saindo da cama.
- Não quero almoçar. – exclamo – Me chama só na hora da reunião!
Mal pego no sono novamente, já era a hora de levantar. Tomo um banho rápido, coloco um short jenas, uma regata e desço para a sala.
Ao chegar ao fim da escada, vejo que a Sarah já estava lá. Ela vestia um vestidinho florido, colado nos s***s e solto da cintura pra baixo. Sua pernas eram bem torneadas. Ela tinha um corpo muito bonito.
Ela abre um sorriso assim que percebe que meus olhos estavam sobre ela.
- Boa tarde. – digo e vou me sentar no sofá ao lado da Helena.
Percebo que a Sarah estava de olho em mim enquanto a Helena repassava as informações sobre a agenda e sobre como gostávamos das coisas.
Levanto e vou na cozinha pegar alguma coisa para beber. A ressaca estava me deixando com muita sede.
Abro a geladeira e me sirvo de um copo de água. Coloco o recipiente na geladeira novamente e, quando me viro bebendo a água, dou de cara com a Sarah. Ela tinha um sorriso de canto provocador e estava muito perto de mim.
- O que faz aqui? - pergunto me sentindo encurralada contra a porta da geladeira.
- Vim devolver a sua chave. – ela me entrega sem desviar os olhos dos meus – Percebi que estava me olhando. Gostou do que viu?
- Não seja ridícula! – rio – Está insinuando que fiquei interessada em você? Eu não suporto você e não pense que ter me ajudado ontem mudou alguma coisa! Eu não tenho atração por mulheres, mas se tivesse, você não seria uma delas. Eu só quero distância de você!
Ela ri.
- Então está bem. – ela me dá as costas e sai da cozinha.
- Mulher maluca! – penso alto assim que me vejo sozinha.
Volto pra sala e acompanho o fim da reunião. Vez ou outra ela me olhava e dava um pequeno sorriso.
A reunião acaba e ela vai pra casa.
- Percebi que você estava falando com a Sarah na cozinha. – Helena diz na mesa de jantar – Começaram a se dar bem?
- Não crie fantasias. – digo encarando ela – Nunca vou me dar bem com aquela mulher! Acredita que ela teve a capacidade de insinuar que eu estivesse interessada nela? Ela é maluca!
- Todo esse seu ódio por ela é estranho. – Helena ri – Dizem que existe uma linha tênue entre o amor e o ódio. Será que você não...
- Não seja ridícula! – digo irritada interrompendo a frase dela – Ela é uma mulher e eu tenho um namorado maravilhoso!
Percebendo meu nervosismo, minha irmã encerra o assunto por hora. Mas eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, ela voltaria a falar disso.