Capítulo 4

4212 Words
THEO Hoje é meu ultimo dia aqui, encarei o quarto a minha volta em busca de algo que eu poderia ter deixado para trás e me certifiquei se já havia pego todas as minhas coisas -não que eu tivesse muitas. É estranho pensar que á partir de agora eu poderei correr atrás das metas, bom, e amedrontador ao mesmo tempo.  _Foi legal passar esses dias com você -o garoto da beliche de baixo quase nunca falou comigo, ele perdeu os pais a pouco tempo e foi um trauma e tanto, eu imagino como deve ser péssimo perder os pais quando já se sabe como a vida funciona. Inclusive, considero sorte o fato de ter perdido meus pais novo, porque mesmo sentindo saudade em alguns momento, quase não mantenho memórias de quem foram. _Digo o mesmo -respondi.  Se eu falar que foi r**m estaria mentindo, mas como eu já sabia que iria ser dispensado daqui, evitei de criar mais laços para tornar tudo menos difícil, sou péssimo com despedidas, então foi tudo muito raso. _Posso ficar com a sua cama? Dormir embaixo é uma merda quando a pessoa de cima mexe muito. Ele está querendo dizer o que com isso? Fiz que sim com a cabeça dando um sorriso de canto e então me virei para encarar o relógio na parede, o garoto não falou mais nada, apenas subiu para a cama superior e ficou lá.  Já era hora de descer para tomar meu ultimo café da manhã com meus amigos, só de pensar que não os terei enchendo meu saco todos os dias meu peito aperta. Ser formado é uma droga, nem na escola poderei ver eles mais. Peguei minha mochila com algumas coisas minhas dentro e então fui a encontro ao três, desviando de algumas pessoas no caminho e me despedindo das que estavam sabendo que hoje era o dia que a liberdade cantaria -e olha que nem estou na cadeia, ainda. [...] _E o que vai ser do quarteto  fantástico? -perguntou um garoto qualquer enquanto passava do lado da mesa em que os meninos e eu estávamos sentados. _Bom, os três que ficarem vão comer teu cu -respondeu Joe, jogando o resto de uma maçã no moleque que saiu correndo e rindo. Coitado, ele não estava tão feliz assim no dia de hoje. O silêncio tomou conta daquela mesa por alguns segundos e quando tudo estava começando a ficar estranho Maggie quebrou o gelo. _Escuta aqui miss liberdade, espero que você corra trás de uma casa logo, e que arrume um lugar que caiba eu, os meninos e meus sete gatos -ela levava o pedaço de pão até a boca enquanto conversava com ela cheia.  Maggie é zero modos.  _E meus três cachorros -completou seu namorado, passando a mão em volta de seu ombro e puxando a ruiva para mais perto dele. _Gente calma ai, primeiro tenho que achar uma que me caiba -dei uma risada, mas no fundo tinha mais desespero que graça envolvido nela. _Vai mesmo ficar na casa da Molly? -perguntou Joe, enquanto tomava seu ultimo gole de café. Cocei atrás da minha nuca e soltei um suspiro longo e involuntário antes de começar a falar. _Bom, estou um pouco inseguro de ficar na casa dela já que ela nem está lá, mas Molly sempre foi gente boa com a gente e está de fato confiando essa em mim, não posso perder a oportunidade, fora que -tomei um gole do meu café- se não for a casa dela, será um abrigo para moradores de rua, o que é ainda pior. Triste realidade de merda, ou você sai daqui adotado, ou sai daqui sem casa, sem emprego e tendo que morar com um monte de gente violenta que algumas vezes não fazem nem ideia de quem são ou de onde estão. _É... qualquer coisa é melhor que o abrigo -completou Joe. E antes que eles falassem mais alguma coisa os interrompi pedindo um segundo de atenção de cada um deles e quando os três estavam com os olhos fixados em mim, abri minha mochila e  fui tirando algumas coisas de lá. _Entãããão... -comecei- vocês sabem que eu não iria embora sem deixar algo meu com vocês, algo que de fato fosse bom para que lembrassem desse rostinho bonito aqui, eu sei que virei ver vocês em alguns momentos, mas quero estar perto sempre. O rostinho de Maggie pareceu o de um bebê chorão por um instante e eu tive que ignorar aqueles olhinhos brilhantes para conseguir continuar. _Vamos começar pelo Joe, a encrenca em pessoa -ele riu- pensei em te dar um coisa que de fato combinasse contigo, algo pra te tirar do tédio e ver se você para de caçar confusão por ai -falei como se eu nunca estivesse envolvido em uma delas. O garoto começou a ficar animado e então se inclinou sobre a mesa para prestar ainda mais atenção no que viria. _Fica com essa belezura aqui -tirei um radinho da mochila e entreguei a ele, que soltou um ''valeu'' como uma criança que ganhou seu doce favorito. Antes que se questione, não é tão difícil conseguir esse tipo de coisa quando se cresce em um abrigo para órfãos, várias pessoas vem e vão e sempre deixam algumas coisas para trás, cabe aos espertos confiscarem as melhores antes que a administração faça isso. _Tem certeza? -perguntou ele, estendendo o radinho com os fones enrolados no mesmo para mim, confirmei com a cabeça e ele o guardou logo em seguida- de verdade, valeu mesmo! Você sabe o quanto gosto de escutar musica -e gosta mesmo, porém o radinho dele quebrou a uns dias atrás. _Ta mas e eu? -questionou o apressado do Josh- não ganho nada? _Claro que ganha -mexi mais uma vez na mochila procurando o presente dele -pra você eu deixo o meu livro favorito, na verdade, o nosso livro favorito -joguei um livro que havia nos ajudado a passar pelo processo de entender o porque isso tudo rolou com a gente sobre a mesa e ele ficou o encarando com o mesmo olhar de seu irmão. _c*****o, VOCÊ NÃO ERRA MESMO! -acho que ele não controlou o tom de voz quando pegou o livro e segurou o mesmo firme em suas mãos, chamando a atenção de alguns olhares para nós, seu olhar estava firme enquanto ele permanecia folhetando o mesmo sem ler se quer uma palavra que estava escrita ali- obrigado mano! -ele se esticou sobre a mesa e me deu um beijo no rosto. E sim, nós fazemos isso, o nome disso é masculinidade saudável. _Fico feliz que gostou, mané -dei um sorriso de canto e então encarei a ruiva a minha frente, ela me olhava esperando o que ela ganharia e então continuei a falar- e para a minha irmã de vida, deixo uma das coisa mais valiosas que tenho -enfiei a mão dentro da mochila e então tirei um porta-retratos com a minha foto e a foto dela impressa, nós erámos crianças e havíamos sido ''adotados'' por uma família juntos, naquela época  pudemos de fato sentir que éramos irmão de sangue, mas voltamos pra cá quando o casal se divorciou após vários problemas financeiros- espero que goste, de coração -entreguei o objeto em sua mão e então sorri. Maggie, como sempre, se levantou, deu a volta na mesa e então me puxou para um abraço assim que levantei para corresponder a ação dela. Eu sentirei falta desse abraço, mas sei que ela entende que logo estaremos juntos de novo. _Seu filha da p**a vai me fazer chorar, corno? -ela me deu um soquinho no peito, já com a voz tremula segurando o choro. _Não chora p***a, se não eu choro também -ri enquanto meus olhos marejavam, apertei ainda mais o abraço e deixei um beijo em sua testa. Ela se aconchegou ali por um instante e quando me soltou começou a falar novamente. _Vou aproveitar o momento para dar uma noticia, que nem sei como vão reagir. Pronto, hoje é o dia dos dias. _Que noticia? -perguntou Josh, mordendo o resto do seu pedaço de bolo. _Lembra que eu ia te contar uma coisa? -ela me encarou colocando as mãos no bolso de seu moletom, como de costume. Afirmei em silêncio e ela prosseguiu, e o que veio em seguida foi um soco no estômago- eu to grávida aos dezesseis anos, p***a -ela não estava nem um pouco animada quando falou. Foi questão de fração de segundos entre o intervalo de tempo dela terminar de falar e de Josh engasgar com o pedaço de bolo que tinha acabado de engolir, coitado. _COMO ASSIM c*****o? -Joe perguntou por todos nós- vocês estão transando desde quando? Da pra fazer isso aqui? Que? Que merda de preocupação que é essa? Ele enlouqueceu? _Bom, se você não sabe a gente namora -respondeu ela, enquanto seu namorado se mantinha paralisado e branco feito as mesas do refeitório- e casais transam, mas... estou pensando em falar com a administração pra tentar um aborto. Pera, é muita informação ao mesmo tempo! _Que mané aborto, ta doida??? -olhei para ela assustado- por que você faria isso? _Porque eu não tenho condições nenhuma de criar essa criança Theo, e quando eu de fato for uma mãe, não quero que seja assim, com esse cenário a minha volta -ela esticou os braços, mostrando o refeitório com todo mundo comendo- isso aqui já é o suficiente pra nós quatro, esse bebê não precisa disso. E só depois de uns minutos paralisado Josh enfim soltou algo. _Você está sabendo disso a quanto tempo? E por que não me disse nada? -ele parecia perdido, assim como eu e seu irmão.  Acho que a ficha de ninguém aqui caiu, perdi meu momento por um problema bem maior. _Faz duas semanas -dava pra notar a tristeza em sua voz- a moça da cantina, Holly, me ajudou comprando um teste de gravidez que deu positivo e eu não queria esconder isso de vocês, já que somos uma família. _E por que não disse nada antes? -questionou Joe. _Porque eu não sabia o que fazer quando olhei aqueles dois malditos pontinhos, você acha mesmo que é fácil passar por isso? -ela parecia agitada enquanto falava, como se estivesse desabando- se fosse em outra ocasião com certeza eu teria essa criança, mas não quero colocar uma criança pra fora, pra acabar tento uma vida de merda que nem eu tive! De fato não sei o que fazer em uma situação dessas. _Você tem certeza disso? -segurei a lateral de seu corpo e apertei a mesma, encarando-a nos olhos e sem que eu insistisse outro abraço já estava rolando, junto as lagrimas que eu e ela derramávamos. _Sim, vai ser melhor... -ela colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha- vou falar com a Lya hoje de tarde, espero que ela consiga me ajudar. _Merda, ela está p**a com a gente -completou Josh- péssimo momento para isso -ele não questionou a decisão dela, o que julguei bastante nobre, o cara simplesmente aceitou e pronto. _Não é possível que essa sem coração vai nos negar ajuda justo agora -seu irmão que antes estava triste, agora estava ansioso e suando, a ideia de fato assustou todo mundo. _Droga, justo hoje que estou indo embora você me conta isso? -resmunguei. _Olha, eu tentei te falar no lago, mas os meninos me interromperam, talvez essa fosse a melhor hora para isso acontecer, mas... antes de ir, posso te pedir um favor? _Claro que sim! -nem esperei para responder. _ Você poderia passar na sala dela comigo? Não sei se quero fazer isso sozinha. _Eu vou! -disse Josh, antes mesmo de eu abrir a boca. _E eu também! -agora quem falou foi Joe. _Bom, o convidado não pode negar, não é mesmo? -falei repreendendo os meninos com o olhar, que ignoraram a minha atitude e continuaram com a decisão. Não iria demorar muito para que eu tivesse que ir embora então fomos todos quatro para a sala da administração assim que a conversa acabou. Maggie é louca, poderia ter me contato isso assim que descobriu! Agora está impossível parar de pensar que serei obrigado a deixar minha irmã passar por tudo isso sozinha. Quando chegamos á sala da Lya, a porta estava aberta e entramos sem pedir, o que fez com que ela já ficasse na defensiva. _Nossa mas além de delinquentes não sabem bater na porta? -ela mexia seu chá com a colher enquanto nos encarava. _Olha, não temos tempo para isso! Precisamos da sua ajuda -começou Joe. A mulher nos encarou e viu que o assunto era sério, então se sentou na mesa, respirou fundo com os olhos fechados e se preparou para o que viria . _A Maggie está grávida! -Josh nem se quer rodeou o assunto, simplesmente jogou a bomba encima da mesa da megera e falou ''engole ai porque o problema também é seu''. _COMO ASSIM GRÁVIDA? -ela quase cuspiu seu chá. Maggie, mais uma vez, começou a falar tentando deixar Lya calma, e não pode ser mais articulada do que havia sido agora. _Olha, eu sei que isso é um problema dos grandes porém não está sendo fácil, você sabe que isso tudo é uma merda e que eu não tenho capacidade alguma de ser mãe agora, fora que -ela colocou as mãos no bolso do moletom, isso de fato é uma mania, e continuou- você sabe que não podemos deixar essa informação vazar, se o sindicato souber que tem uma adolescente grávida sobre a sua supervisão, você está tão frita quanto eu. A monstra estava tão perdida quanto nós. Parada, tentando raciocinar todas aquelas informações que estavam chegando. _VOCÊ É MESMO UMA ESPERTINHA NÃO É? -Lya como sempre, já estava se estressando, mas dessa vez, ela tinha toda razão para poder fazer isso- como deixou isso acontecer? Relações interpessoais não são se quer permitidas nesse lugar! Quem é o pai dessa criança?  Agora era a hora, a megera não sabia que Maggie é namorada do Josh, e se soubesse que ele era o pai, os dois irmãos gemeos estariam bem longe um do outro em questão de dias, congelei sem saber o que fazer, estou aqui mas sinto que sou incapaz de tomar qualquer atitude que seja, droga! Antes mesmo que Josh assumisse a culpa, Maggie o interrompeu falando por si. _Foi um garoto qualquer na escola! Não imaginei que uma simples transa depois da aula no vestiário iria me causar tanto problema assim -essa garota de fato mente muito bem- os meninos estão aqui pra me apoiar, por favor Lya, sei que é mais um problema, mas dessa vez, precisamos de você mais do que nunca. A mulher a nossa frente não poderia deixar esse problema de lado, ela de fato estaria fodida se os seus superiores descobrissem isso, o que nos deu vantagem. Não demorou muito para que ela cedesse ajuda e aceitasse levar Maggie a uma clinica na parte da tarde, o que nos aliviou bastante, já que era questão de tempo para esse problema ser resolvido. [...] _Você poderia ter deixado eu assumir a responsabilidade também! -Josh parecia estar se sentindo tão impotente quanto eu depois da atitude de sua namorada. _Ficou louco? Se essa mulher descobrisse que eu e você estamos juntos, a primeira coisa que ela faria seria transferir você para bem longe, e falta de vaga não seria uma desculpa plausível para você ficar aqui dessa vez -a ruiva estava fora de si, falando as palavras aceleradas, o momento está tenso. _Ela tem razão irmão, a atitude dela foi a melhor a se tomar -disse Joe, acalmando Josh antes que ele soltasse algo que pudesse piorar ainda mais a situação. Estávamos sentados na escadaria de frente ao pátio, meu tempo estava se esgotando e não demoraria muito para que eu tivesse que comparecer a administração para assinar os papéis e meter o pé daqui, achei que seria mais fácil, mas diante das circunstâncias, tudo o que eu queria era ficar aqui com eles, pra poder ajudar. _Você já está quase indo né? -perguntou Maggie, trocando o assunto enquanto me  encarava do degrau debaixo. _Sim -havia um pouco de voz na minha preocupação- mas vou esperar alguém vim me procurar, até lá, pago de louco e fico aqui com vocês -dei um sorriso e então acariciei a cabeça dela- você está bem? Não sei se essa seria a melhor pergunta a se fazer, mas agora já foi. _Irei ficar -ela sorriu, demonstrando força e então escorou sua cabeça no meu joelho- e você? ansioso? _Nem sei mais -cocei minha nuca- queria poder ficar pra ajudar. _Queríamos que ficasse, de verdade -respondeu Joe. _Não mentiu -confirmou Josh- isso aqui vai ficar uma merda! O clima estava tenso, baixo, e não demorou muito para que um dos funcionários fosse até a escadaria me chamar, ele parecia estar me procurando a algum tempo e não pude enrolar muito antes que tivesse que o seguir até a administração.  Quando cheguei, Lya me esperava com a minha pasta aberta em sua mesa, lá estava todos os meus arquivos e minhas informações, que inclusive não eram muitas. Pela primeira vez em muito tempo essa mulher estava calma, com as pernas cruzadas e tomando mais uma xicara de chá. Ela com certeza deve colocar álcool nisso pra aguentar esse lugar, só pode. _Feliz? -perguntou, enquanto mexia em seu óculos, ajeitando o mesmo em seu rosto. _Estaria mentindo se dissesse que sim -sorri fraco dando de ombros- mas temos que encarar os processos da vida, não é mesmo? Ela não disse nada, apenas confirmou com a cabeça e me entregou a pasta. Realmente uma sem coração. _Preciso que assine aqui, pra afirmar que está ciente de que todos os seus atos á partir de agora serão respondidos por você mesmo -depois que peguei os papeis, ela puxou a caneca de seu cabelo, soltando o coque e me entregou a mesma. _Tudo bem -não tinha muito o que ser feito, então simplesmente peguei a caneta e assinei onde tinha que assinar, e enquanto eu escrevia cada letra do meu nome, podia sentir a sensação do meu estomago se remexendo por baixo da pele aumentando mais e mais- pronto.  Entreguei os papeis novamente e escutei algumas orientações dela, depois, me levantei pegando a mochila que estava do meu lado e rodei os calcanhares deixando-a na sala sozinha com seu chá destilado. Fui até o dormitório e então peguei minha mala, encarei aquele quarto pela ultima vez e me despedi do garoto da beliche de baixo, agora, definitivamente. [...] Meus amigos estavam me esperando na saída do edifício, foi f**a ver eles lá, sabendo que agora de fato estaríamos, isso não acontece a alguns anos, e não é legal quando se sente na pele. Despedidas são realmente uma bosta. _Vou sentir falta de vocês, seus cuzões -falei, enquanto recebia um abraço dos três ao mesmo tempo- prometam por favor que agora vão sossegar. Não estamos em posição de fazer merda mais, ok? Eles confirmaram. _Eu amo você -Maggie me soltou e então ficou na ponta dos pés para me dar um beijo do rosto- não se esqueça disso, ta bom? -meu peito apertou. _Prometo -respondi. _Vou cuidar deles mano, pode confiar -e de fato eu não duvidava da palavra de Joe, mesmo sendo minutos mais velho que seu irmão, ele ainda sim era dez anos mais responsável que ele. _E eu prometo não fazer merda -finalizou Josh- mas nos prometa que vai ficar bem, e que não vai desistir da luta lá fora. _Bom -dei um sorriso de canto- não tenho outra escolha a não ser lutar por nós -estávamos todos com os olhos segurando lagrimas, se um chorasse os outros três iriam atrás, mas isso tornaria o momento mais chato, então mantivemos a pose. _Tchau, seus rejeitados -me despedi, rindo para não chorar. Literalmente. _Tchau -respondeu os três, quase que no mesmo tempo. E então dei as costas e segui meu caminho. [...] Molly havia deixado alguns trocados para mim antes de sair de férias no início da semana, coloquei eles no bolso da mochila junto com o endereço de sua casa para então caminhar até o ponto de ônibus, posso dizer que a viagem vai ser um pouco longa, tenho que pegar dois ônibus e o metro, e eu não faço ideia de como essas coisas de fato funcionam, pode parecer besteira, mas não somos preparados para isso enquanto crescemos no sistema foster. Para o meu azar, acabei dormindo no trajeto e não desci no ponto que eu deveria, fui acordar com o motorista dizendo que havia chegado na garagem, merda! Estou fodido! Pedi informação de como chegaria onde eu precisava chegar, e como meu dinheiro estava contado, tive que caminhar a pé até o ponto mais próximo, que ficava a seis quarteirões de onde eu estava. Era tarde, não tinha celular e nenhuma noção de onde eu estava, só a certeza de que virei uma rua errada, o desespero do despreparo já tomava conta de mim e minha garganta ia se fechando aos poucos, nem tem tanto tempo assim que sai da casa de adoção, e já estou sem rumo.  Para a minha infelicidade, me deparei com um único caminho, que estava sendo bloqueado por alguns homens m*l encarados que pareciam conversar entre si, naquele momento a única coisa que eu pensei em fazer foi dar meia volta e tentar voltar pra garagem, e quando o fiz, escutei um deles me chamando. _Ei garoto? Ta perdido? Ignorei. O receio  já estava tomando parte do meu corpo. Continuei andando e acelerei os passos, o que entregou que eu estava com medo, e não tardou antes de eu escutar a mesma voz falando: _A gente pode te ajudar, não corre não! Me atrevi a olhar pra trás e quando vi eles estavam vindo em minha direção, não consegui contar quantos foram, mas consegui começar a correr, embora todos eles estivessem fazendo o mesmo. Era quase impossível de lembrar qual caminho que eu tinha feito para chegar ali, fui virando algumas ruas na tentativa de despistá-los mas foi em vão, minha mala e minha mochila dificultavam a minha corrida e quando menos esperei me encontrei encurralado por eles, que haviam se dividido e cercado os dois lados da rua que eu estava no momento. Não sabia o que fazer e o por que daquilo estar acontecendo comigo, mas sabia que esses homens não iriam fazer nada de bom, e assim foi feito, logo eles me cercaram e então me jogaram no chão, puxando a mochila das minhas costas e pegando a minha mala com as poucas peças de roupa que eu tinha. _Por favor, não! Por Favor, eu preciso de uma coisa que está ai dentro -implorei pedindo a mochila, mas o homem barbado a minha frente não pareceu se importar com aquilo. _Ah, você quer o que tem aqui dentro? Bom, tenho certeza que nós também queremos -a voz dele era fria mas eu conseguia sentir a diversão que ele estava tendo enquanto me aterrorizava. _Por favor -insisti- eu acabei de sair de um abrigo para órfãos e preciso chegar a um lugar, por favor, só preciso de um papel que está ai dentro -apontei pra mochila, minha voz estava quase inaldível, o temor parecia bloquear a minha garganta e nem respirar direito eu conseguia mais. _Então você é órfão? -ele não pareceu querer saber a resposta, apenas olhou para os outros homens que estavam ali na rodinha, jogou a mochila para um deles e então deu uma risada maldosa- isso é ótimo, sinal que ninguém virá atrás de você! E sem que eu pudesse revidar, levei um chute na lateral do corpo, me encolhi para o lado gritando de dor e foi ai que levei outro chute, que agora havia acertado meu ombro esquerdo, perdi a força do braço e comecei a chorar, a única coisa que fiz, foi proteger meu rosto, enquanto implorava para os golpes pararem. Já não tinha mais esperanças de sair dali vivo, eram muitos homens e eles não iriam parar até que me vissem inconsciente, porem, por um milagre, se é que posso dizer assim, os golpes cessaram do nada e eles saíram correndo levando junto a eles minha mochila e minha mala, me deixando ali no chão, fraco e sangrando. Uma luz muito forte cegou meus olhos e quando consegui firmar a visão vi que era o farol de um carro, um carro que parecia ser caro, o veículo ficou parado a minha frente por alguns instantes e então a porta do mesmo se abriu, apenas pedi mentalmente para que não fosse alguém querendo me causar mais m*l, eu estava vulnerável e no chão, me esforcei para tentar me levantar mas meu corpo inteiro doía, e então foi ai que escutei a voz de uma mulher, uma voz aveludada, que quase não pude ouvir por conta do zumbido em meus ouvidos e do barulho do carro. _Nossa, o que um garoto bonito desses está fazendo nessa região da cidade uma hora dessas? Minha visão estava turva, tentei me levantar mais uma vez, porém senti meu corpo perdendo todas as forças, o zumbido ficou cada vez mais alto até que simplesmente desapareceu, juntamente da minha visão, e foi ai que cai no chão, totalmente inconsciente.
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