MAXIMILIANO (apartamento, chuveiro frio, lembrança quente e ligação certeira) Cheguei no meu apartamento quando Brasília já apagava metade das luzes. Portas automáticas, silêncio de concreto, o barulho seco do sapato no mármore. Joguei a chave no aparador, camisa aberta até o peito, corrente pesada batendo no osso da clavícula. Fui direto pro banheiro. Toalha no ombro, relógio largado na pia. A água caiu no chuveiro e desceu gelada, como eu gosto: queima sem queimar. Só que, por trás da água, o pensamento não desligou. Jamile. Rabo de cavalo preso na manhã, postura reta na reunião, a forma como segurou meu olhar sem piscar quando recusou a carona. Uma estagiária não deveria ocupar espaço assim. Mas ocupou. Era a lembrança que batia no azulejo junto com a água. Passei a mão pelo rosto,

