JAMILE
Cheguei em casa ainda com o corpo vibrando como corda esticada demais. Não era cansaço físico era tensão presa na pele, na carne, no osso. A bolsa caiu no sofá como quem não aguenta mais carregar peso. Lavei o rosto na pia, amarrei o cabelo num coque firme, daqueles que seguram até pensamento. Cozinha, sempre que posso, é meu confessionário silencioso.
A panela grande subiu pro fogão. Água até a metade, sal grosso caindo em punhado, um fio de óleo tilintando no fundo. Cebola e alho picados no ritmo da raiva, faca batendo na tábua como se fosse tambor de guerra. O cheiro forte subiu, abriu caminho dentro do apartamento. Joguei a carne moída, vi a gordura chiar, espalhar calor, misturar-se ao tempero.
O som da água fervendo foi música de fundo. Quando mergulhei o macarrão, o barul
