MAXIMILIANO (porta, silêncio, aço frio na pele) Cheguei em casa com Brasília já deitada. Os prédios riscando o céu como se fossem linhas de um eletrocardiograma: pulsações retas, constantes. Mas eu, por dentro, estava fora de compasso. O elevador me despejou no meu andar com aquele ding que sempre me lembra sentença lida em audiência. Porta abriu, o apartamento inteiro respirou silêncio. Joguei a chave no aparador, tirei a corrente grossa do pescoço, larguei o relógio de aço na bandeja. Gravata não tinha, mas o nó estava dentro bem no peito. Andei descalço pelo piso frio até a vidraça. A cidade lá fora reta, previsível. Eu, por dentro, curvado por algo que não admito. Não bebi. Nem uísque, nem água. Quando o corpo pede anestesia, eu dou aço. Fui direto pro banheiro. Espelho aceso, luz

