Maria Clara Narrando
- Eu vi que ele saiu, ouvi o barulho da moto. Deixa ele viver, não vou esquentar a cabeça com mais nada. No meu caso e a situação que se encontra a minha vida, deveria estar correndo de problemas e não arrumando mais um. Tentei ver um filme mas não consegui prestar atenção em nada. O meu traço tóxico é quando estou com raiva, falo um monte de merda pra machucar a pessoa mesmo e fazer com que ela sinta o mesmo que eu senti. Nada do que eu disse é verdade, até porque eu jamais me envolveria com alguém pra chegar a tal ponto.
- Desliguei a TV e subi as escadas indo pro meu quarto, mas a vontade que estava de entrar no quarto dele foi maior que eu. Entrei, fui direto no closet, tudo organizado e mais uma vez as paletas de suas roupas revelando que nesse quarto não tem vida, não tem cor. É só branco, cinza e preto, apenas. O cheiro dele fica impregnado. Peguei uma de suas camisas e coloquei no rosto, me afogando naquele cheiro maravilhoso e único que só ele tem. Deitei na cama e fiquei perdida em meus pensamentos e no seu cheiro.
- Levantei porque ele pode chegar a qualquer momento e me ver aqui, seria horrível e uma morte lenta hahahahah. Fui pro meu quarto sentindo o cheiro dela e me acalmou de uma forma inexplicável, é como se ele tivesse aqui do meu lado, que loucura cara. Decidi dar uma volta, se eu ficar aqui vou acabar enlouquecendo. Tem um lugar aqui que tem a vista toda do RJ, pesquisei no google e vi que era depois do mirante, preciso pensar, organizar a mente e recalcular a rota. Não posso ter sentimentos por ele, não tem como. Chega ser impossível eu e ele ter algo, só tenho 17 anos e nada expediente, exceto os meus traumas. Já ele tem muitas vivências, já deve ter tido diversos relacionamentos e ainda é dono desse morro, bandido e procurado.
- Coloquei um conjunto da Adidas rosa, me ajeitei mais ou menos, passando uma maquiagem pra tirar essa cara de choro e de sofrida. Depois da briga eu me acabei de tanto chorar, nessa de querer magoar ele, falando aquelas coisas, acabou que quem ficou m*l com tudo foi eu.
- Desci as escadas e segui para a vista mais linda daqui. Não respondi nem a Bianca, sei que ela está preocupada pelo negócio do pagode mas não estou com cabeça, to chateada pra caramba com a vida e preciso ficar na minha. Fui subindo pelas vielas, estava um vento gelado mas gostoso e aquela brisa batendo no rosto. A ansiedade me acertando em cheio, doida pra chegar lá e ver o que todos falam. Já estava na metade do caminho e percebi que estava sendo seguida, fiquei um pouco desesperada mesmo aqui sendo bem tranquilo e quase um quartel general. Mas logo senti o cheiro dele de longe, aquele cheiro que me deixa extasiada, me acalma e ao mesmo tempo me deixa nervosa. Fiz o percurso todo sem deixar a entender que eu sabia que ele estava me seguindo.
- Cheguei na vista e tem uma parte que só dá pra subir a pé. Ele ficou de longe e eu olhando esse lugar maravilhoso, realmente é lindo e eu nunca vi um lugar tão perfeito assim. Ele não se contentou em ficar longe e veio com aquele olhar que me desmonta e desarma, conversamos e toda raiva passou, dele eu não consigo ficar com ódio e raiva, fiquei triste mas já passou. Ele não é de falar muito, mas só de ter pedido desculpas fiquei feliz, sei que isso deve ser algo muito difícil pra ele pedir, afinal, ele é o Terror né. Não me gabo por isso, mas ele me mostrou que eu despertei um lado mais humano nele.
- Fomos pra casa, fiz algo pra gente comer e fui tomar banho. Já que ele não pode dormir, fiquei surpresa por ele está de plantão, desde que estou aqui não vi ele indo pra nenhum, privilégios de ser um dono de morro. Ele bateu na porta do meu quarto e me chamou pra ver um filme, ele tá tentando deixar o clima mais tranquilo e agradável. Fomos para o seu quarto e ele foi tomar banho, parece que ele já não tem vergonha de mim, tomou banho com a porta entreaberta, se enxugou e colocou um short que o negócio dele ficava bem visível, que situação em Brasil.