Calíope Narrando Não sei direito que dia é hoje. Perdi a noção do tempo logo no primeiro dia. Aquele primeiro dia foi aterrorizante. Vou carregar no meu corpo tanto por dentro quanto por fora, a marca desse dia. Se eu sair daqui. Eu conto as noites: cada vez que a luz some lá fora, eu sei que mais um dia passou. Aqui dentro o tempo é uma coisa contada em dor — amanhece, dói; anoitece, dói; e eu sigo contando para sobreviver. Sete dias? Talvez sejam sete, talvez dez. Só sei que toda vez que escurece eu vou riscando mais um traço na madeira da cadeira com a unha que ainda resta inteira, como quem tenta provar que ainda existe. Eles me ferraram em doses. Nem só é físico — às vezes é só o silêncio cortante, o olhar demorado do chefe atravessando minha pele, a piada fria dos homens ao lado —

