Um dia danado de bom.

1389 Words
Romão Dei graças a Deus por mais um dia produtivo, foi bom demais da conta. Apesar de o rebanho estar menos agitado como de costume, a colheita de grãos e frutas foram fartas, somente as verduras e legumes que não estavam boas. Tudo por causa daqueles danados dos coelhos, que viviam comendo as minhas hortas. Ah, mas eu ainda farei um cozido deles, a carne de coelho era danada de bom. Voltei para a casa só no finalzinho da tarde, segui pelo corredor lateral, indo em direção ao chuveiro externo. Painho construiu esse banheiro do lado de fora, a pedido de mainha, porque ela não gostava quando eu entrava em casa todo cheio de lama. E fazia eu limpar o chão. O que foi bom, pois todos os dias eu chegava cansado e o que mais queria era tomar um banho e deitar na rede na varanda da casa. Então, quando terminava as minhas tarefas, eu tomava uma chuveirada. Mamãe sempre deixava uma toalha e roupas limpas no varal disponível para me trocar. Peguei a toalha e pendurei na porta da cabine. A roupa eu pegaria depois de terminar o banho. Não chegava ser um banheiro, porque não tinha privada e ainda podia ver quem estava do lado de fora, o que me impedia de tomar banho pelado. Catei um sabonete caseiro, que era feito na fazenda com banha de porco, mel e mais algumas coisas que não sabia o que era, mas que dava um cheiro danado de bom e acunhei para dentro da cabine. Tirei minhas roupas, pendurei na parede oposta, ficando somente de cueca, era a única peça que não estava suja de lama, liguei o chuveiro. Depois de um dia trabalhoso, esse banho era gostoso que só. Molhei o meu corpo, passei o sabonete esfregando tudo quanto era parte, porque sabia que mamãe iria conferir e se tivesse alguma parte suja, ela obrigaria a tomar banho de novo. Tirei a lama das pernas e lavei entre os dedos. Vi por de baixo da cabine, dois pés tamanho trinta e cinco. Eu já os conhecia, era os pés da Cidinha. O que ela fazia aqui? Pensei que estava estudando na cidade. — Será que posso ajuntar-me a você? Parece que essa água está uma delícia. Estiquei o meu corpo e a olhei por cima da cabine. — Eu estou pelado! Mentira, estava de cueca. — Até parece que eu nunca te vi pelado antes. — Éramos crianças! — falei passando sabão no meu rosto o enxaguando depois. — Depois de grande, também! Maldito o dia em que concordei em ser seu namorado. — Isso foi antes de eu te pegar se esfregando naquele mauricinho engravatado. — Ela me olhou decepcionada. De tanto a mamãe “atazanar” os meus ouvidos, dizendo que eu deveria namorar a Cidinha, eu a obedeci. Mesmo vendo Cidinha como uma irmã. Um dia resolvi buscá-la de charrete na faculdade, no centro da cidade. Quando ela me viu, sentiu vergonha de mim, entrou no carro de um mauricinho e antes de sair, eles se beijaram. Agora ela ficava atrás de mim, querendo voltar e fazendo com que eu pensasse que eu tinha tirado sua pureza, mas na noite em que ficamos juntos, não parecia nenhum pouco. No entanto, como a princípio, eu a via como uma irmã. — Poxa, Romão! Eu cometi um erro e já pedi desculpas, são águas passadas. Eu sempre te amei, você foi o único homem da minha vida. — Jeito estranho de demonstrar isso. Além disso, não sou trouxa como muitos pensam. Desliguei o chuveiro, terminando o meu banho, peguei a toalha e sequei-me. — Você não vai esquecer nunca, não é? — Olha, Cidinha, eu te quero muito bem, mas nunca te vi de outra maneira, que não fosse como uma irmã. Eu só namorei com você, porque mamãe insistiu muito e te agradeço por você ter feito aquilo, pois, eu ia terminar com você de qualquer jeito. Ela me olhou com os olhos esbugalhados de surpresa. — Você pensou em mim como irmã, quando estávamos na cama? — Enrolei a toalha na cintura, lembrando dos momentos ardentes que tivemos. Maria Aparecida, Cidinha se preferir. Com vinte e um anos de idade, loira de cabelos encaracolados, que agora estavam lisos por influencias das patricinhas da cidade grande. Era linda, mas vivia se enfeitando com um pó que as pessoas chamavam de maquiagem. Eu a preferia como era antes, ao natural, sem esses rebocos todos na cara. Mas desde que ela começou a fazer faculdade, por conseguir uma bolsa de estudos, perdemos a nossa Cidinha humilde, que servia para ser uma boa esposa. Para a Cidinha sexy, que sonhava em morar na cidade e que não dava mais valor as coisas simples do campo. — Uai! Você é uma mulher bonita, vivi me provocando de todo jeito e... eu não só de ferro. Fora que você sabia muita coisa para quem se dizia virgem. Nunca me esqueceria da Taiza. Eu me envergonhava por ter caído na sua armadilha, no entanto, isso nunca mais acontecerá. — Eu posso até ser para você, como uma irmã, mas sei o que eu sinto e não vou desistir de você. Ela saiu pisando fundo, sempre fazia isso quando era contrariada. Nem dei muita atenção, terminei de me secar, enrolei a toalha em volta da cintura, tirei a cueca para não molhar e saí da cabine. Percebi que Cidinha levou as roupas que minha mãe tinha separado para mim. Infelizmente não podia reclamar, ela já tinha sumido das minhas vistas. Fui para a área de serviço, levando as minhas roupas sujas, para coloca-las de molhos, para não ter que dar tanto trabalho à Marta, esfregando os encardidos. Coloquei-as em um balde, acrescentei o sabão em pó e “danei” água dentro, até ficar submerso. — Onde estão as roupas que separei? Olhei para a mainha, que franzia a testa. — Cidinha tirou do varal para atazanar o meu juízo. — O que ela queria? Dona Meire, ela era uma senhora de quarenta e dois anos, bem conservada e linda. “Para ser minha mãe, tinha que ser linda”. Cabelos castanhos claros, quase loiro, levemente grisalhos. Podia dizer que a velhice ainda não tinha chegado para ela. Olhos azuis e brilhantes que painho tanto era apaixonado. Diziam que olhos são espelho da alma, achava que era por isso que papai se apaixonou por ela, uma alma tão linda e generosa como a dela, eu nunca vi até então. — Ora, o de sempre, né? Pedir desculpas, voltar comigo, tomar banho... — Eu ainda não entendo o porquê você terminou o namoro. Ela parecia a pessoa certa para você. — Dona Meire, eu não estou procurando uma mulher para casar e se eu estivesse, não existe só a Cidinha no mundo. — Mas a Cidinha te conhece, sabe o que você gosta e ela vai saber te fazer feliz. — Só se for para ter dois galhos na cabeça. Ela se surpreendeu com o que disse, achava que Cidinha não tinha sido sincera, quando disse o motivo do nosso término. — Ela disse que só estava com vergonha e fingiu que não te conhecia. Dei bronca nela por isso e não me disse sobre a traição. Mencionou que você foi o primeiro homem dela. Filho, se você a desvirtuou... — Mãe, não acredito que fui o primeiro homem dela, Cidinha sabia exatamente o que fazer, para que eu cedesse. Ela só quer saber da cidade grande, não se importa com os bichos, com a colheita, nem teme mais a Deus. Acredito que esse mauricinho foi quem ensinou tudo a ela e como desprezar suas raízes. Peguei uma escova e esfreguei as minhas botinas. — É, você tem razão, agora estou decepcionada. No entanto... — Ah, lá vem o “no entanto”. — Talvez não seja uma má ideia mudar para a cidade grande, aprender fazer outras coisas, encontrar uma mulher para casar... — A Senhora está conversando muito com o papai, ele ainda insiste para que eu vá trabalhar com ele? Ignorei sua última frase, mamãe sempre insistia para que eu encontrasse uma mulher e me casasse. Porém, não estava à procura. — Você é inteligente em finanças, seu pai está passando por dificuldades na quitanda, você poderia ajudá-lo.
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