Capítulo 1

1338 Words
— Luara Cavalcanti —  Meu nome é Luara Cavalcanti, até os meus 6 anos de idade, meus pais me chamavam de Lua, mas depois da morte deles, meu mundo acabou. Com eles eu tinha liberdade, amigos e uma vida inteira repleta de felicidades e sonhos.  Completei 18 anos há um dia atrás. Vivi 12 anos em um Convento, me preparando pra ser uma Freira bem religiosa da forma como a minha tia sempre sonhou pro meu futuro, ela dizia que foi o último pedido da minha mãe, eu desconfio, mas tenho que acreditar. Titia sempre disse que era pro meu bem e que em breve eu saberei o motivo dela ter me colocado no Convento, mas diz que me poupa de muita coisa e acredito muito no que minha tia Helga diz, além do mais, ela é minha única família, a única que me protegeu todo esse tempo. Eu devo tudo à ela.  No Convento, eu não tenho muitas amizades, as Freiras que têm aqui não deixa nenhuma menina ficar próxima uma da outra, no máximo, aos finais de semana, elas liberam o jardim do terreno para que possamos respirar o ar livre e nos comunicar com outras pessoas. Toda segunda, quarta e terça, rezamos 4 vezes o terço, isso une um pouco mais as meninas do Convento; Aqui, não podemos ficar sem usar o nosso vestido, ele é todo preto, tem uma manta sobre a cabeça, cobre todo o braço e toda a perna, eu não entendo o motivo de ter que usar sempre, mas as Irmãs dizem que se não vestir algo que cubra nosso corpo, seremos pecadoras. Na hora de dormir, minha tia Helga comprou um casaco e uma calça pra eu vestir, simples, grande e confortável, da forma como eu gosto.  Eu sempre quis conhecer o mundo lá fora, e sempre que eu expresso isso a alguém, me advertem. Dizem que o mundo é cercado de coisas ruins, de pessoas ruins e que devemos sempre nos prevenir, ficar na Igreja ou dentro de casa, que é o que as mulheres boas e puras fazem, mas eu sempre quis conhecer. Nesses 12 anos eu nunca coloquei o pé pro lado de fora do Convento, titia diz que fica em uma área rural do Rio de Janeiro, longe de toda turbulência urbana e que conhecer o mundo não será meu caminho, quando eu sair daqui, ela disse que eu iria viver de casa para Igreja, que o tempo de estudar acabou e que está na hora de eu ir pra a Igreja e ser a "serva do Senhor". Eu nunca entendi o motivo de toda essa p******o, será mesmo que o mundo é tão pecador assim para que minha tia queira me manter só em casa e na Igreja? Será que as pessoass são tão ruins assim?  Saio dos meus pensamentos ao ouvir a Irmã Luzia me chamando:  — Menina, venha aqui. Sua tia acabou de chegar, vá conhecer sua casa! Que o Senhor Jesus ilumine sua vida e te proteja de todo m*l! – Disse ela dando um beijo materno na minha testa. A Irmã Luzia é como uma segunda mãe, ela sempre fez quase tudo que eu queria. Levava a comida ao meu quarto e tirava alimentos da cozinha no meio da madrugada quando eu a acordava com fome, sorrio com os pensamentos, irei sentir muita a sua falta.  — Já tô indo! – Respondo recolhendo minha mochila já que eu não tinha muitas roupas para colocar em uma mala. Ao sair pela porta do meu quarto, vejo a Irmã Luzia com lágrima nos olhos. Corro até ela e me jogo em seus braços num abraço apertado, choro tristemente em ter que deixá-la. – Irei sentir muito sua falta, minha segunda mãe! Nunca se esqueça disso, você estará marcada pra sempre no meu coração! – Ela chora ainda mais e eu dou um beijo estalado em sua testa.  — Fica com Deus, minha querida. Venha me visitar! Sentirei sua falta! — Ela responde e eu aceno saindo pelas grades do Convento, indo em direção ao táxi que minha tia pegou pra vir me buscar. — Que demora, Luara! Na próxima vez em que eu te chamar, trate de vir o mais rápido possível! – Titia diz entrando no carro e me chamando pra sentar ao seu lado na parte de trás, apenas concordo e entro desajeitadamente,  ficando encolhida num canto.  Minha tia sempre foi assim, meio séria demais e afastada de todo mundo, tenho muito medo dela, nunca houve demonstração de carinho e afeto da sua parte, sinto muito a falta dos meus pais. O carro dá a partida e eu olho pela janela, parece que estamos em um local bem distante, já que demoramos cerca de 40 minutos num local rural e com poucas pessoas. Ao chegar na cidade, olho atentamente cada detalhe com os olhos brilhando, é de manhã e o sol brilha despertando uma vontade imensa de uma praia, uma piscina... Mas eu só fico na vontade mesmo, já que além de nunca ter ido, sou proibida.  Passo por uns locais com grandes prédios bem arquitetados, postes com fios elétricos, casas, vários centros comerciais e muitas pessoas com a parte do corpo descobertos, segundo o Convento, são todos pecadores, mas parecem estar tão felizes. Eu lembro que quando era pequena usava roupas curtas igual aos meus pais e nunca foi pecado, éramos felizes, mas nunca comentei nada com ninguém, até porque, eu seria castigada como já fui diversas vezes. Sim, apesar de não saber quase nada de nada, eu sempre fui uma garota um pouco rebelde, com uma personalidade bem forte, as irmãs ficavam loucas comigo.  Passamos pela orla da praia, mulheres com uma tipo de short jeans curto e blusas com alças finas mostrando seus braços e suas pernas, homens com shorts e camisas de pouca manga... Não vejo problemas, mas segundo o convento, está faltando pano ali, lá tinha pessoas correndo com seus cachorros, e do outro lado, a praia. Eu nunca vi a praia tão de perto, é tão mágico, tão lindo! Dou uma risada animada. Será que titia deixaria eu ir lá pra sentir a sensação da areia nos meus pés? Ou então será que ela vai deixar eu entrar na água salgada? Com um largo sorriso, observo tudo atentamente. Pessoas usando um sutiã e calcinha na praia, pessoas usando roupas íntimas! Abro a boca pelo espanto e cutuco minha tia.  — Por que eles estão usando poucas roupas assim? É normal isso? – Aponto para as pessoas e olho para minha tia.  — Não, não é normal! Isso é pecado! Deus castiga. – Ela me olha com desprezo e retruca.  Permaneço observando tudo, realmente, a paisagem é muito bonita, pessoas alegres conversando uma com a outra, só não entendi a parte de homens e mulheres andando de mãos dadas, homens com homens, mulheres com mulheres...  Lá no Convento, não podíamos tocar em ninguém, e eu só toquei na Irmã Luzia porque já possuímos um alto grau de i********e. Não perguntarei titia para ela não ficar ainda mais irritada comigo. Ouço a voz dela um tempo depois dizendo que chegamos, olho novamente em volta e reparo que chegamos em uma casa simples, porém bonita, com muros baixos, um portão de ferro, a casa é branca e tem uma Cruz em cima da porta, o local é um pouco deserto, não tem muitas pessoas e a casa fica uns 50m longe uma da outra. Solto um suspiro, essa será minha nova casa, terei que me acostumar.  Pego minha pequena mochila e adentro na casa de minha tia, observo em volta e a casa é ainda mais simples na parte de dentro, porém, bem grande. Tem um sofá de couro preto, uma mesa de centro simples e os móveis são todos de madeira antiga, a casa aparenta ser um pouco antiga e assombrada, observo tudo atentamente e olho pra um corredor com 3 portas tentando decifrar qual será o meu quarto. *** Segue o primeiro capitulo, espero que gostem!
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