Não consegui dormir direito essa noite. A todo momento suas palavras martelavam em minha cabeça, e acabei sonhando com essa situação incomum, Mason até me chamou de mãe. É tudo tão estranho. Eu sempre me imaginei casando e tendo meus próprios filhos.
Eu não tenho nada contra criar o filho de outra pessoa, sei que poderia amar aqueles meninos como se fossem meus, o problema não é com eles, e sim com o pai deles. Sim! Eu sinto atração por John, não posso negar que me sinto uma menina tímida com algumas atitudes dele, mas eu não o amo, eu sequer tenho sentimentos por ele além dessa atração, que poderia muito bem acontecer com qualquer um.
Finalmente consegui dormir, depois de ler e reler o bendito contrato diversas vezes, já eram quatro da manhã. Levantei ao meio dia, haviam algumas mensagens de John, acabei decidindo ignorar, ainda não sei o que devo dizer.
John: Bom dia, como você está? – 08h
John: Oi, estava aqui olhando as fotos do parque e da festa, gostaria de mostrá-las pra você, posso ir ai? – 10h
John: Eu sei que não pedi uma coisa comum, eu imploro, fale comigo! – 14h
John: Certo, desisto! Vou te dar o tempo que quiser para pensar, não incomodarei mais. Quando quiser, estarei aqui. – 20h
Foi difícil ler as mensagens e não responder. Eu não tenho o costume de ignorar os outros, sei muito bem como é ser ignorada, mas o que eu deveria responder? Eu deveria vê-lo e agir como se ele não tivesse me proposto a casar com alguém que m*l conheço?
É uma decisão muito importante! É a minha vida! Se ele tivesse feito eu me apaixonar e me pedido em casamento, que i****a! Eu teria aceitado sem pensar duas vezes, porque eu estaria apaixonada, porém, sem sentimento algum, além da atração física, a decisão fica ainda mais difícil de ter tomada.
Não quis contar a Will, preciso pensar um pouco primeiro. E foi assim que passei meu Domingo, dividida entre banalidades e um contrato que me tirou a paz.
No dia seguinte acordo cedo, tomo banho, me arrumo e em menos de meia hora estou na galeria. Chego cedo, exceto Lupi, a responsável pela limpeza, ninguém mais chegou.
– Bom dia, minha querida. – Ela diz assim que me vê.
– Bom dia, Lupi, senti sua falta.
– Que carinha estranha é essa? O que aconteceu?
– Não aconteceu nada, Lupi.
– Sabe, é muito fácil saber quando uma algo não está bem. Um sorriso contagiante como o seu não some por nada.
– Eu trouxe café da manhã! – Ergo minhas mãos para que veja a sacola e ela sorri, percebendo minha mudança de assunto. – Me acompanha? – digo com dengo.
– Claro! – ela larga a vassoura e seguimos até a cozinha.
Após servir a mesa, Lupi já havia feito inúmeras perguntas sobre meu semblante triste e me fez contar tudo. Não é só querer conversar, eu precisava! Lupi é como uma avó para mim, de todos, exceto por Will, eu sabia! Seria ela, quem mais me entenderia e me ajudaria, ela sempre sabe o que dizer!
– Então ele quer que se torne sua esposa e mãe dos filhos dele? – indaga ela com olhos arregalados.
– Exatamente, estaríamos amparados pelo contrato. Um contrato que diz o que posso ou não fazer, tanto com ele, quanto com os filhos.
– E o que você acha disso?
– Eu não sei, Lupi. John é um homem muito bonito, educado, entre outras coisas. Não seria difícil me apaixonar por ele, quem sabe ele também não passaria a gostar de mim? Não é assim que vai funcionar Lupi, isso é só um negócio para ele. Eu vou receber pelo meu papel, receber pra estar casada.
– E qual o problema? – ela pergunta risonha.
– Lupi, eu quero romance! Não me importo de criar as crianças, me importo de dormir com alguém que sequer me ama. Como vai ser? Vamos dormir em quartos separados, m*l vamos nos falar e na frente dos amigos seremos o casal perfeito? Depois do que aconteceu com você sabe quem, eu não quero atuar ou ter que passar por qualquer coisa do gênero de novo.
– Então o faça amá-la.
Olho para ela confusa e digo: Acho que não entendi, Lupi.
– Seja sincera com ele! Conte como se sente! Faça ele entender o seu lado da história. Conte a ele sobre você sabe quem...
– Ele já sabe! – Ela arqueia uma sobrancelha a ouvir minhas palavras. – Eu contei.
– Se você contou, é porque você confia nele.
– Eu não sei... Acho que foi só a situação que me obrigou a contar.
– Se ele já sabe, ele vai entender! Enquanto ele estiver ocupado em tentar fazer com que você o ame, faça-o te amar também.
– Você faz parecer fácil, Lupi.
– E é, minha querida. Ele quer você como esposa, mesmo de uma maneira diferente, a única coisa que você pode fazer é mostrar pra ele a maneira certa e o motivo certo.
Ela sorria como quem sabia bem do que falava. Fiquei refletindo em suas palavras enquanto a observava. Lupi era ótima em dar conselhos, desde quando entrei na galeria Lupi cuidou de mim. Quando meu namoro acabou, Lupi bateu em meu ex quando o viu na rua. Peguei meu celular e alguns minutos se passaram enquanto eu olhava para a tela, me decidindo se era isso mesmo que eu queria fazer, até reunir coragem suficiente e mandar uma mensagem para ele
Catrina: Oi, podemos nos ver? Precisamos conversar. - Quase imediatamente recebi minha resposta.
John: Oi, sim, claro! Diga-me, quando?
Catrina: Hoje, às 19h
John: Combinado.
Embora tenha passado boa parte do meu dia pensando no que estaria por vir, ocorreu tudo bem. A compra de John ajudou a pôr algumas coisas no lugar, não havia resolvido tudo. Porém, acendia em nossos corações outra vez a chama da esperança. Talvez eu devesse agradecê-lo, ou talvez não... Eu não sabia nem o que faria ao vê-lo, a única coisa que eu sabia é que minha vida, jamais seria a mesma.
Quando chego em sua casa, ele está na porta, pronto para me receber. Ele está vestindo um blazer preto, e uma camisa branca tendo alguns de seus botões abertos. Não posso evitar olhar para a a******a e o pedaço de pele exposto, estranhamente sinto um arrepio percorrer meu corpo, imaginando o que mais teria ali. Se ele percebeu, não deu sinal algum, apenas me convidou para entrar.
– Você disse que queria conversar, não disse se íamos a algum lugar, então achei melhor ficar arrumado – ele sorri envergonhado.
– Não iremos a lugar algum, acho melhor conversamos sobre isso aqui mesmo, é um lugar mais reservado. – sorrio para amenizar a rispidez de minhas palavras.
– Claro. – Ele diz antes de me convidar a acompanhá-lo até o escritório – Sente-se – ele pede assim que entramos.
– Onde estão os meninos? - pergunto
– Dormindo. – ele responde sorridente. Eu esperava por mais, queria assuntos banais capazes de tirar a tensão caída sobre meu corpo naquele momento. – Sobre o que queria falar? – ele questiona sem piedade.
– Sobre sua proposta.
– Você tem uma resposta?
– Eu sempre me imaginei casando e tendo meus próprios filhos. O que quero dizer é que sua proposta me pegou de surpresa.
– Eu entendo! Você é jovem, bonita, ainda tem muito pela frente e pegar filhos que não são seus para criar realmente é assustador.
– Não! Meu problema não é com seus filhos. Eles são crianças maravilhosas! Não há nenhum problema em não serem meus filhos.
– E qual seria o problema? – franze a testa como se realmente não entende-se.
– O problema é você.
Ele fica chocado com minhas palavras e não fala nada, apenas me analisa por um tempo.
– Por que sou um problema?
– Você me atrai, de alguma forma eu me sinto uma menina perto de você...
– Não vejo problema nisso – ele me interrompe, olho séria para seu sorriso sem vergonha que logo some.
– O problema é que eu não o amo. Eu sequer gosto de você romanticamente. Eu me sinto atraída por você como eu me sinto por algum homem bonito que conheci em uma balada. É desejo, só s**o, entende? Eu não me importo em criar filhos de outra pessoa, se eu amar o pai deles é o que importa! Eles não tem culpa de nada e nem merecem sofrer por isso, contudo, me casar com alguém, quando eu não o amo, é uma coisa completamente diferente.
Ele me olha profundamente, seu olhar curioso me perturba.
– Eu devo amá-la?
– Eu não disse isso! – eu pensei, não falei!
– Se me amasse, casaria comigo. Você acabou de dizer isso.
– Exatamente! Se eu te amar. Você jamais me amará, seu contrato é claro, nenhuma promessa de amor será feita. Portanto, não posso amar alguém que não terá sentimentos por mim, pra você são negócios, pra mim não!
– Posso amá-la se me permitir. – Eu não esperava ouvir isso.
– Como faria isso? – digo com gozação.
– Saia comigo! Vamos ser como um casal normal nos conhecendo. Três meses! Me dê três meses para provar, eu posso amá-la assim como pode me amar.
– Como vou saber? Pode ser parte do seu jogo para conseguir uma esposa.
– Você vai saber! A gente sabe quando o sentimento é recíproco de verdade. – Apesar de olhar para mim eu pude perceber, seu pensamento estava longe, como se um piscar de olhos o trouxesse de volta, ele continuou: – Se no final desse período nada evoluir entre nós, eu te deixo em paz!
Proposta tentadora, penso comigo. Isso é exatamente o que Lupi me sugeriu.
– Tudo bem. Eu aceito sua proposta! Porém, tenho uma condição!
– Que seria?
– Você é um homem com muita influência, a galeria não tem passado por seus melhores momentos, melhorou um pouco desde sua última compra, e eu agradeço imensamente por isso.
– Eu preciso comprar mais, é isso?
– Você gosta de interromper, não é mesmo? Não é isso! Eu não quero seu dinheiro, quero seus contatos. Você é um homem influente, com sua ajuda podemos reerguer a galeria.
– Como planeja fazer isso?
– Me deixe organizar uma exibição aqui na sua casa, para seus amigos, deixe-me mostrar sua coleção particular, eles vão ser influenciados por você. Então apresentarei a eles quadros novos e eles comprarão para acompanhá-lo.
Ele parece confuso, tudo indica que está pensando em minha proposta, quando ele sorri, além de sentir uma vontade incontrolável de sorrir também, sei que concorda comigo.
– Fechado. – Ele responde e apertamos nossas mãos selando nosso acordo.