3 anos atrás
Igor Santore
Vejo o caixão sendo abaixado, e logo a terra o cobre. Tenho certeza de que meus olhos estão vermelhos por causa do choro na noite passada. Minha cabeça, sinto que pesa mais do que mil toneladas, é uma dor insuportável, não consigo aguentar. Sinto os braços dos meus irmãos ao meu redor, e nem que seja um pouquinho, eles conseguem me ajudar a não desabar, não desabar agora, nesse momento. Do outro lado, vejo os pais de Tristan, a mãe chora desolada, sendo amparada por seu marido, claro que ela estaria assim, é o único filho dela sendo enterrado.
Estávamos felizes, íamos comemorar o nosso primeiro ano de namoro, ele resolveu que estava na hora de contar para nossas famílias, mas uma curva errada, e um caminhão, foi tudo o que precisou para acabar com nossos sonhos. Eu estava tendo sucesso nos meus negócios. Estávamos bem em todos os quesitos possíveis. E então, ele se foi, me deixou aqui, sozinho.
O padre acaba com suas palavras, e as pessoas vão se dissipando, até que Julia, mãe de Tristan vem em minha direção.
-Obrigada por todo o amor que você deu ao meu filho. - No começo de suas palavras fico confuso, até que ela continua. - Uma mãe sempre sabe. Mas querido, eu...- Ela chora mais forte, e seu marido a segura. - Por mais que doa agora, sei que no fim, ele está em um lugar melhor, não era pra ser, então por favor, viva sua vida sendo feliz, tenho certeza que era isso que ele queria. - Uma lágrima cai por minha bochecha e me afasto dos meus irmãos indo para o braço dessa mulher que sempre me tratou como um segundo filho. Sempre gentil e amorosa.
- Obrigado.
Ela deixa um beijo em minha testa e se vai.
Vou para os braços de Damien e o abraço forte. A dor está demais agora, mas não quero que eles me vejam desabar, não na frente deles.
Olho uma última vez para a lápide com seu nome e lhe dou as costas, jurando a ele e a mim mesmo que serei feliz, por nós dois!
Horas depois estou no carro de Damien na frente do meu apartamento.
-Você vai ficar bem irmão? - Pergunta parte de Otávio. E mesmo que pequeno, abro um sorriso na direção dos dois pares de olhos preocupados, eles ainda pensam que Tristan era apenas meu melhor amigo, todo mundo acha isso. - Mamãe e papai não vai gostar de saber que lhe deixamos sozinho. - Pego na mão dos dois que estão virados na minha direção, pois vim sozinho no banco de trás.
-Vou ficar bem, eu prometo. Só preciso de um tempo.
Deixo um beijo na testa de cada um, e saio do carro, indo direto para o meu andar. Assim que subo o elevador, vou o mais rápido possível para dentro do meu apartamento, trancando a porta assim que meu corpo passa por ela. Vou em direção ao meu quarto e ao chegar, olho cada lugar, cada canto daquele quarto tem um toque dele. A camisa, a qual eu dormi agarrado ontem a noite, me faz soltar um grito alto, as lágrimas agora descem sem nenhum tipo de impedimento. Meu corpo doe, minha cabeça parece que vai explodir, me sinto sufocado nesse terno preto, levo minha mão até a gravata e a arranco no mesmo minuto, jogando o blazer longe, sinto minhas pernas fracas e caio de joelhos no chão, minhas vistas embaçadas por causa das lágrimas o que não me impede de ver a foto da nossa primeira viajem juntos a França, lugar onde sempre sonhou em ir depois de ter assistido mil vezes ao filme a culpa é das estrelas. E olha a ironia, hoje estou aqui, sem ele. O mesmo fim trágico. Seu sorriso radiante ao ter ido lá e ter pisado em Amsterdã. Umas das nossas melhores lembranças, que a partir de hoje só serão isso, memórias felizes que nunca poderão ser repetidas.
Caralho, como dói, dói demais. Chega a ser sufocante saber que nunca mais eu vou ver aquele sorriso de novo, nunca mais...eu vou poder beijar ou abraçar ele, nenhum dos sonhos que sonhamos juntos irão se realizar, é tão dolorido, como posso viver depois disso? Como posso dar continuidade a essa merda toda?
- POR QUÊ? - Pergunto, direcionando minha cabeça para cima. - PORQUE ME DEIXOU...por quê...??? Aaaa. - Agarro meu próprio corpo, me sentindo fraco, esgotado.
Não sei quanto tempo passa, só sei que chorei até não restar mais nenhuma lágrima pra derramar, me sinto ainda mais cansado e com sono, não durmo desde ontem de madrugada, quando recebi o telefonema, com toda certeza minha vida acabou ali. Eu só não tinha me dado conta, como estou fazendo nesse exato momento.
Me levanto devagar, e sem vontade alguma, sigo até o chuveiro, me livro de toda a roupa e entro no box, deixando a água lavar cada pedaço do meu corpo, um suspiro pesado escapando por entre meus lábios.
Não me demoro muito e logo estou com minha calça de moletom e camiseta, deitado em minha cama depois de tomar um remédio para dor, a dor de cabeça está sendo solucionada, mas a doe que está no meu coração, na minha alma, essa com toda a certeza vai precisar de mais do que um comprimido para passar.
Todo um filme passa por minha cabeça, o exato momento que nos conhecemos, quando ele foi com a mãe dele a a******a do meu orfanato, eu tinha lutado tanto para que chegasse aquele dia, tranquei até minha faculdade de arquitetura que faltava menos de um ano para ser concluída, mas eu tinha conseguido, e meses depois voltei para a faculdade, nós nos tornamos melhores amigos, mas dai eu e ele nos tornarmos muito mais próximos do que apenas amizade, ele foi a minha formatura e esteve presente na a******a do meu próprio escritório, e depois disso, foram apenas doces momentos. Eu não perdi apenas o meu namorado, perdi um amigo, o cara que eu contava pra tudo, que sempre me ajudava em todas as situações. Eu o amei tanto. Ainda amo, ele sempre terá seu espaço no meu coração. Sempre.