Já se passaram dois meses desde que me formei, saí daquela cidade com o coração cheio de esperança, e uma felicidade sem fim, por ter conseguido. A grana que fui juntando com meu trabalho, me ajudou a alugar um apartamento pequeno, apenas um quarto, banheiro, sala e cozinha conjugada e uma pequena área de serviço. Consegui comprar alguns móveis usados e na semana passada fui chamada para uma vaga de secretária em uma das maiores empresas do país. Consegui comprar também roupas adequadas para o serviço que vou trabalhar. Economizei o máximo possível, não quero ficar sem dinheiro. Nunca sabemos o dia de amanhã. Mas o salário que me foi oferecido vai ser quase o dobro do que ganhava. Estou bem feliz e animada, apesar do que ouvi dizer durante a espera da entrevista. Disseram que o dono da empresa é um pouco difícil de lidar, as secretárias dele não aguentam a pressão e todas pedem demissão. Mas não quero pensar muito nisso, vou focar no meu trabalho e fazer o meu melhor.
Termino de tomar meu banho e fazer minha higiene matinal e depois de secar o cabelo, vou me arrumar, escolhi uma saia lápis que vai um pouco acima do joelho, uma camisa social branca com manguinha que vai até o cotovelo, salto baixinho — ainda não estou habituada, então escolhi só baixinhos — prendo o cabelo em um r**o de cavalo, e passo uma maquiagem leve. O apartamento que aluguei, não é muito longe do serviço, então vou caminhando mesmo.
Chego ao prédio, apresento meu crachá e vou para o elevador, o andar que vou trabalhar é o último — quinquagésimo segundo andar — aperto o botão e após chegar sou recepcionada por Carlos, ele trabalha aqui há anos e me explica o básico que preciso saber para começar. Cheguei quinze minutos mais cedo o que já me ajuda bastante.
— Bom dia Heloisa, tudo bem? Vou te mostrar o que você precisa saber agora, o restante você vai pegando conforme for trabalhando, ok?
Ele me mostra onde fica minha mesa e no computador, agenda, e-mail e o que mais preciso saber. Sala de reuniões e onde fica a cozinha, para preparar os cafés, tanto para reuniões, quanto para o Sr. Nunes.
— O nome dele é Thiago Nunes, — Fala sério e sei que isso é algo importante. — mas apenas o chame de Sr. Nunes.
— Certo. — Confirmo, olhando ao redor. — Até aqui entendi tudo.
— Ótimo, vou para o meu andar. — Ele começa a seguir em direção ao elevador. — O Sr. Nunes chega às 8:00 horas em ponto. Tenha a agenda do dia em mãos e não se esqueça do seu café, Forte e sem açúcar.
— Obrigada Carlos. — Tento não demonstrar meu desespero.
— Imagine, qualquer coisa, é só me chamar.
Carlos se vai e eu começo a fazer o que tem que ser feito. Coloco o café pra passar e vou até minha mesa conferir a agenda desta manhã. Começo a anotar tudo no caderno que está à minha disposição.
Oito em ponto as portas do elevador se abrem e um homem alto e forte, com uma carranca no rosto, sai de lá. Não precisa de apresentações, o homem exala poder.
— Bom dia, Sr. Nunes. — Cumprimento, tentando parecer simpática.
— Bom dia. — Responde, passando por mim.
Menos de um minuto depois, meu telefone toca.
— Escritório do Sr. Nunes, bom dia. — Atendo, ainda me recuperando do choque de conhecer meu chefe que, já no primeiro mínimo contato mostrou que talvez o falatório da entrevista pode ser verdade.
— Minha sala. — A voz, nada amistosa diz e logo a ligação é encerrada. Não tenho nem mesmo tempo para responder.
Decido deixar todos os pensamentos e medos de lado e vou rápido até a cozinha, finalizar o seu café. Com a agenda e minha caneta em mãos, sigo até sua porta e depois de duas batidas, ouço sua autorização para entrar.
— Seu café, Senhor. — Coloco a xícara sobre a sua mesa, rezando mentalmente para que não derrame nenhuma gotinha sobre os documentos.
Sou nova demais e ainda não aprendi a voar, para o caso de ele querer me jogar pela janela.
— Qual seu nome?
— Heloisa. — Me afasto da mesa, segurando firme a caneta em meus dedos. — Heloisa Andrade.
— Senhorita Andrade. — Ele finalmente desvia os olhos dos papéis e me encara. — Qual a minha agenda do dia?
Encaro seus olhos por mais um instante, antes de me lembrar de onde estou e o que preciso fazer. Abro o objeto com as mãos trêmulas e começo a falar seus compromissos.
— O senhor tem uma reunião com os Americanos às 10:00 horas. — Ele apenas me observa. — Almoço com sua irmã. E às 15:00 horas reunião com os advogados da empresa.
— Certo. — Ele volta a olhar para os papéis em sua frente. — Prepare a sala de reuniões para às 10:00 horas, certifique-se de que não falte nada para ninguém. Quando todos já estiverem lá, você entra. Preciso que você anote os pontos principais que forem abordados e também quero que você me traga o relatório para essa reunião, quero analisar.
Ele fala sem parar e eu apenas fico balançando a cabeça, para cima e para baixo.
— Vou providenciar, com licença.
Saio de sua sala o mais rápido possível e assim que chego do lado de fora, me permito respirar. Esse trabalho não será nada fácil. Solto um suspiro e sigo para minha mesa, melhor começar a fazer o que preciso, antes que ele se irrite, meu chefe não tem cara de quem gosta de ficar repetindo as coisas que fala.
Serão seis integrantes, coloco em cada lugar copos, canetas, lápis, e uma pasta com o relatório da reunião e folhas em branco. Faço tudo conforme Carlos me passou e quinze minutos antes, levo água gelada e deixo pra cada um. Também deixo a disposição o café em uma mesa ao lado.
Com tudo pronto, volto para minha mesa e assim que me sento, o telefone toca.
— A sala de reuniões está pronta? — Ele nem mesmo me dá tempo de abrir a boca.
— Está, sim senhor. — Respondo e ele desliga novamente.
O pessoal começa a chegar para a reunião, e vou recepcionando e direcionando todos para o local que a reunião acontecerá, quando todos já estão em seus lugares, Sr. Nunes sai da sala e me chama para acompanhá-lo.
Pego o meu caderninho e um lápis e o sigo.
— Bom dia Senhores, como estão?
Ele os cumprimenta, e depois das formalidades a reunião começa, torço pra não entrar em curto. Tantas informações que são passadas.
Anoto tudo que é falado de mais importante, Sr. Nunes é um excelente empresário e conseguiu fechar o negócio.
— Faça um relatório da reunião e me entregue ainda hoje. — Ele fala, assim que a reunião se encerra e todos já se foram.
— Sim senhor, não se esqueça do almoço com sua irmã hoje. — O lembro, enquanto ele já seguia para sua sala.
— Certo. — Pela careta que fez, já havia esquecido.
Balanço a cabeça e começo a arrumar toda a sala, antes de seguir de volta a minha mesa, para iniciar o relatório. Estou concentrada na tela do meu computador, quando a porta de sua sala se abre.
— Estou indo almoçar, volto em 1 hora. — Diz já passando por mim.
Espero as portas do elevador se fecharem e arrumo minhas coisas, antes de seguir para o elevador e seguir na direção do restaurante da empresa. Pego meu livro e vou lendo enquanto almoço, sempre de olho na hora, não quero me atrasar.
— Oi, você é a nova secretária do Senhor Nunes? — Uma jovem, cabelos castanhos escuro com uma franja, pele bem branquinha e olhos castanhos escondidos atrás de óculos me fala.
— Oi, sim sou eu. — A cumprimento simpática e ela me entrega um sorriso amigável.
— Sou Rebeca. — Ela arruma sua posição, como se estivesse mais à vontade. — Trabalho no T.I.
— Muito prazer Rebeca. — Respondo, fechando o livro.
— Está gostando do primeiro dia?
Ela me pergunta, um tanto tímida. Posso ver pela forma que ela movimenta as mãos.
— Estou sim. É um mundo novo, mas estou gostando.
— Que livro você está lendo?
Sorrio. Ela chegou até mim pelo livro?
— Quando a Noite cai - Carina Rissi. Você conhece?
— Não, mas imagino que seja bom...
— É sim, você gosta de ler? — Pergunto, vendo ela observar a capa.
— Amo. — sorri — Os livros são meu refúgio.
— Sinto o mesmo Rebeca. Eles são meus melhores amigos.
Confiro o relógio e vejo que é preciso ir.
— Preciso ir Rebeca. — Me levanto. — Não quero me atrasar. Nos encontramos por aqui?
— Claro. Também vou indo. — Ela se levanta, também — Boa sorte no trabalho.
— A nós Rebeca.
Sigo o meu caminho, ela segue o dela.
O restante da tarde foi tranquilo. Na reunião com os advogados eu não precisei participar, e assim que ela acabou o Sr. Nunes foi pra sua sala e eu fui atrás e lhe entreguei o Relatório da primeira Reunião.
— Senhorita Andrade. — Ele diz, enquanto analisa os papéis que lhe entreguei. — Você fez um excelente trabalho hoje. — Me olha rapidamente e um sorriso mínimo surge em seus lábios. — Por hoje está dispensada, pode ir descansar. — Ele volta a olhar os papéis. — Continue assim.
— Muito obrigada Senhor. — Nem mesmo consigo esconder minha alegria. — Tenha um bom descanso.
Ele me observa por mais um segundo, antes de eu seguir em direção a minha mesa. Depois de pegar minhas coisas, sigo feliz em direção a minha casa. O primeiro dia foi perfeito, espero que as coisas continuem assim.
Depois de retirar dos pés aqueles sapatos, solto um gemido e sigo em direção a cozinha. Hora de fazer uma janta rápida, antes de ir dormir. Quero estar descansada para o dia de amanhã. Vai ser mais um bom dia!