O dia seguinte amanheceu cinzento, como se até o céu soubesse que algo havia mudado.
Isabella estava no jardim dos fundos da mansão, vestida com um robe de seda cor creme, os cabelos soltos dançando ao vento. O aroma de jasmins misturava-se ao gosto metálico da realidade. Ela ainda não havia digerido o que tinha acontecido na noite anterior. Oficialmente prometida. Um laço selado em nome da honra — ou do controle.
Ela girava lentamente uma taça de chá entre os dedos, tentando organizar os pensamentos. A vida que conhecia estava por um fio. E o que a aguardava do outro lado era um homem que ela não conseguia decifrar.
Um vulto se aproximou em silêncio.
Ela não precisou virar para saber quem era.
— Você tem o estranho hábito de aparecer sem ser chamado — disse sem se mover.
— E você tem o hábito ainda mais estranho de não demonstrar medo — respondeu Alessandro, parando ao lado dela.
Ela ergueu o olhar com calma, os olhos castanhos fixos nele.
— Medo é um luxo que eu não posso me permitir.
— Você fala como um soldado — ele comentou, com um tom quase admirado. — Mas não é.
— Não. Eu sou uma arma. Criada por meu pai para parecer bonita, mas pronta para disparar quando necessário.
Alessandro deixou escapar um sorriso torto. Não era de diversão. Era de reconhecimento.
— E acha que isso me intimida?
— Acho que deveria.
Ele se aproximou mais um passo, invadindo seu espaço de forma deliberada. Seu olhar era uma tempestade contida.
— Talvez... me excite mais do que me assuste.
O coração de Isabella bateu mais forte, mas seu rosto permaneceu impassível. Ela se levantou, deixando a taça sobre a mesa.
— E você? Está tão acostumado a comandar, a dar ordens, que esqueceu como é quando alguém o confronta?
— Eu não esqueço nada, Isabella. E costumo esmagar quem se opõe.
Ela deu uma risada baixa.
— Talvez seja por isso que ninguém o ama de verdade.
Alessandro ficou em silêncio por alguns segundos. O impacto da frase pairou no ar como pólvora prestes a incendiar.
— O amor não me interessa — disse enfim. — Mas você, sim.
A sinceridade crua da frase a desconcertou. Ele a queria. Não como um troféu. Mas como um desafio. Uma igual.
— Então prepare-se, Don Vitale. Eu não sou fácil de manter por perto. E menos ainda de controlar.
Ele deu meia-volta sem responder. Mas antes de desaparecer no corredor, murmurou:
— Ainda bem que eu gosto de jogos difíceis.
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Mais tarde, Isabella foi chamada à biblioteca. Seu pai, Marco De Luca, a esperava com Alessandro ao lado. Os dois homens conversavam com expressões sérias.
— Isabella, — disse Marco ao vê-la entrar — chegou o momento de discutir as regras. Você será apresentada oficialmente à família Vitale em um jantar nesta sexta-feira. E a partir da próxima semana, viverá com Alessandro em sua mansão.
— Está me despachando como uma encomenda?
— Está sendo unida ao homem que garantirá sua segurança. E a nossa aliança.
Ela se virou para Alessandro.
— E você? Vai me manter trancada, como uma princesa em uma torre?
Ele se levantou com calma.
— Não. Mas vai aprender que, mesmo livres, todas as rainhas têm suas obrigações.
— Rainha? — Ela arqueou a sobrancelha. — Achei que eu fosse apenas mais uma peça no seu tabuleiro.
Ele se aproximou, os olhos fixos nos dela.
— Uma peça? Não. Uma ameaça em potencial.