Regras do Jogo

588 Words
O dia seguinte amanheceu cinzento, como se até o céu soubesse que algo havia mudado. Isabella estava no jardim dos fundos da mansão, vestida com um robe de seda cor creme, os cabelos soltos dançando ao vento. O aroma de jasmins misturava-se ao gosto metálico da realidade. Ela ainda não havia digerido o que tinha acontecido na noite anterior. Oficialmente prometida. Um laço selado em nome da honra — ou do controle. Ela girava lentamente uma taça de chá entre os dedos, tentando organizar os pensamentos. A vida que conhecia estava por um fio. E o que a aguardava do outro lado era um homem que ela não conseguia decifrar. Um vulto se aproximou em silêncio. Ela não precisou virar para saber quem era. — Você tem o estranho hábito de aparecer sem ser chamado — disse sem se mover. — E você tem o hábito ainda mais estranho de não demonstrar medo — respondeu Alessandro, parando ao lado dela. Ela ergueu o olhar com calma, os olhos castanhos fixos nele. — Medo é um luxo que eu não posso me permitir. — Você fala como um soldado — ele comentou, com um tom quase admirado. — Mas não é. — Não. Eu sou uma arma. Criada por meu pai para parecer bonita, mas pronta para disparar quando necessário. Alessandro deixou escapar um sorriso torto. Não era de diversão. Era de reconhecimento. — E acha que isso me intimida? — Acho que deveria. Ele se aproximou mais um passo, invadindo seu espaço de forma deliberada. Seu olhar era uma tempestade contida. — Talvez... me excite mais do que me assuste. O coração de Isabella bateu mais forte, mas seu rosto permaneceu impassível. Ela se levantou, deixando a taça sobre a mesa. — E você? Está tão acostumado a comandar, a dar ordens, que esqueceu como é quando alguém o confronta? — Eu não esqueço nada, Isabella. E costumo esmagar quem se opõe. Ela deu uma risada baixa. — Talvez seja por isso que ninguém o ama de verdade. Alessandro ficou em silêncio por alguns segundos. O impacto da frase pairou no ar como pólvora prestes a incendiar. — O amor não me interessa — disse enfim. — Mas você, sim. A sinceridade crua da frase a desconcertou. Ele a queria. Não como um troféu. Mas como um desafio. Uma igual. — Então prepare-se, Don Vitale. Eu não sou fácil de manter por perto. E menos ainda de controlar. Ele deu meia-volta sem responder. Mas antes de desaparecer no corredor, murmurou: — Ainda bem que eu gosto de jogos difíceis. --- Mais tarde, Isabella foi chamada à biblioteca. Seu pai, Marco De Luca, a esperava com Alessandro ao lado. Os dois homens conversavam com expressões sérias. — Isabella, — disse Marco ao vê-la entrar — chegou o momento de discutir as regras. Você será apresentada oficialmente à família Vitale em um jantar nesta sexta-feira. E a partir da próxima semana, viverá com Alessandro em sua mansão. — Está me despachando como uma encomenda? — Está sendo unida ao homem que garantirá sua segurança. E a nossa aliança. Ela se virou para Alessandro. — E você? Vai me manter trancada, como uma princesa em uma torre? Ele se levantou com calma. — Não. Mas vai aprender que, mesmo livres, todas as rainhas têm suas obrigações. — Rainha? — Ela arqueou a sobrancelha. — Achei que eu fosse apenas mais uma peça no seu tabuleiro. Ele se aproximou, os olhos fixos nos dela. — Uma peça? Não. Uma ameaça em potencial.
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