CAPÍTULO - 1

2136 Words
Charlote se encarou pelo espelho e se perguntou no silêncio se ela estava bonita. Mas ela se sentiu um robô! Como uma coisa programada e como se a qualquer momento fosse surtar e estourar como uma bomba relógio, sem saber qual seria o estrago. Do que ela tanto fugiu diante dela. Com ela, algo que a deixaria presa em um completo maluco estranho que não havia desistido daquele circo todo até aquele momento, do grande casamento que estava prestes a acontecer. Era um casamento forçado. Em pleno século 21. Aconteve mais do que podemos acreditar. Era trágico para ela e uma alegria sem fim para outras pessoas que poderiam chegar e ver o que pensava que ela se apaixonava. Que os dois tinham algo bonito e agora iriam pra uma nova fase. Quando na verdade, era apenas uma amarração e negócios. Dominik Barette era irredutível no que queria e ele queria que aquele casamento. Um homem de negócios. Alguém que se ela pudesse trocar por tanta coisa, até por um algodão doce do Parque Central. De verdade, ela já pensava se a história fosse diferente ou, mesmo, se nada daquilo estivesse até então. Mas estava. Suas tentativas de fugas também estavam falhando e ela já começava a achar que fugir não era a solução mais. Mas ela não havia desistido de tentar algo pra se afastar ou evitar o casamento, da mesma forma que Dominik a queria. Ela queria fugir dele. Ela poderia se jogar do carro em movimento. Era capaz dele estar ali para levantar toda quebrada e levar para esse casamento mesmo de muleta ou cadeira até de rodas. Até um caixão, havia algo inevitável no ar e no dia. O vestido não era modelo da família. O tradicional rendado com as mangas flare e bordado a mão na gola e nas mangas. Charlote poderia descrever a partir de uma sensação única na etiqueta antes de colocá-lo. Agora estava olhando e vendo a organização, o buquê com as rosas brancas e o cabelo loiro leve e bem arrumado. parecia uma boneca. A maquiagem à prova de lágrimas e o batom claro. O que havia ganho no ano passado, a única coisa que ela havia escolhido, um batom que havia ganho do avô antes dele morrer e Charlote ficar a merce das armações dos Lekler, principalmente de seu pai. Que usou ela como moeda de troca. Ela encarou o seu reflexo pelo espelho. O cabelo curto e tudo tão diferente e fora do que ela esperava. parecia c***l ver aquela imagem e estar ali, indo para o casamento. Céus, ela estava a ponto gritar com quem fosse, apenas pra falar que ela iria se casar contra vontade dela. Ela gostaria de voltar pra sua fuga de dias atrás. Ter tentando ir mais longe que aquilo mil vezes. Mas ela não sabia como fazer e máquinas do tempo ainda não existiam. Parecia que não havia uma fada madrinha disponível para o dia e nem pra vida inteira dela. Agora, pouco tempo para aquilo terminar, ela se sentiu sufocada. As instruções depois do casamento, na festa, era sorrir e ficar ao lado dele, falar com todos e tudo, agir como o novo status e companheiro mandava. Dizendo que o ama e dizendo que foi amor a primeira vista, inexplicavelmente, que os dois estavam radiantes e felizes demais. Queriam pagar de casal do ano e feliz, queria dar uma perspectiva que não existia, uma que era falha e pesada, uma que doía nela e em mais ninguém. Aquele casamento era apenas uma emoção de negócios para ela, não por divididos e nem nada, ela até poderia entrar se fosse uma dívida ou uma coisa maior, mas era por algo tão fútil e sem utilidade pra ela, algo que era por força e mais dinheiro e poder. Isso era o que movia o mundo, a parte egoísta e que sempre buscava poder em cada oportunidade. Cheio de moedas de troca, cheio de hipocrisia e pessoas dispostas a sacrificar sonhos próprios e sonhos alheios para ter sempre mais.. A cidade era grande para aquela fachada r**m. Para Charlote nada daquilo era bom. Dominik Barrete não parecia confiável e parecia determinado a manter ela no casamento. Nem o homem que dirigia um carro para o salão cerimonial parecia confiável agora, um velho de cabelos brancos e terno escuro. Havia um carro atrás dela, com dois seguranças pra garantir que ela não iria fugir. Ela estava sozinha. Não havia a mãe ou ninguém ao lado dela naquele carro. parecia que estava indo pra força ou para uma ponte próxima. Até mesmo assinar sua carta de sentença infeliz. Ela se deixou fechar os olhos e respirar fundo para acalmar seu coração. O coração que estava descontrolado dentro do peito. Ela estava numa mistura de sentimentos tão grandes. Mesmo não tendo se envolvido tanto com alguém na sua vida. Uma vez se pegou pensando naquele momento, mas não era nada disso, era na praia, no Caribe, em pleno verão. Com as águas lindas e o tempo bom, sem aquele vestido caro e nem nada disso. Apenas a família e amigos, com os pés na área. Sentindo a leveza de ir até alguém que ela amaria de verdade. Charlote gostava de pensar no amor. Ela sabia que era dolorido algumas vezes, que fazia você não ter cautela e até tomar decisões erradas, mas ela não teria isso na cabeça dela. Tudo parecia um fim do túnel para ela. Charlote não tinha uma luz, não tinha ao menos uma luz de vela ou um pisca-pisca. Nada. Escuro. O carro parou e ela sentiu a controlar aumentar e as mãos controlar geladas e o corpo fraco. Era agora. Quando a porta ao lado dela se abriu e ela encarou o rosto do pai, ela soube que nada poderia fazê-la permitir aquele homem tão cedo. Ela iria guardar uma mágoa por aquilo. O pai de Charlote sorria. Ele parecia tão medíocre e tão filho da p**a. Charlote apostava que ele sabia o que a filha estava sentindo e qual era a posição dela até aquele momento. A mesma que ela manteve durante o tempo que aprendeu e sabia aquilo. Que ela não era uma pessoa que queria se casar. Que poderia se correr sem parar, segurando uma barra daquele vestido. Até suas pernas cansarem e seu coração se aclamar, seus pensamentos mudarem e ela se sentir bem novamente. "Você está linda!" Ele ergueu a mão e tentou ajudar Charlote, mas a garota decidiu descer sozinha e se colocar ao lado do homem bem vestido para o grande casamento. Olhando para a porta, ela viu o fotógrafo clicar várias vezes. Sentiu uma fobia daquilo e quis acertar uma pedra no homem magro e baixo. "Está pronta?" O homem puxou o braço dela e colocou por baixo do seu. Uma cena que até poderia ser habitual de todo pai fazer com uma filha. "Você está gelada, tenta relaxar Charlotte, você consegue." Relaxar, no inverno passado ela tinha indo para os Alpes. Charlote se sentiu relaxada descendo uma montanha de snorbord, quando seus dedos se congelaram e ela precisou correr para esquentar, antes que tivesse uma granguena. Quando se sentava na varanda da casa e bebia o chá quente ou chocolate, até sentir a xícara pegar o frio na medida que o conteúdo sumia. Aquilo era relaxante e era fácil de relaxar. Ali não era fácil de relaxar. Encarou o homem, se lembrou das vezes que teve alguma dúvida ou quando era pequeno e parecia ele o máximo. Tentou fazer o mesmo que fazia quando estava com medo de alguma coisa, mesmo se lembrando também que ele sempre era ocupado e na maioria das vezes dava preferência pelo trabalho. Isso fez ela não gostar de política e negócios quando criança. Agora ela também não gostava, ela detestava. "Estou com medo." Disse, apelativa para o afeto que um dia ele demonstrou pra ela. Ela que se lembrava tão bem, mas viu com o tempo aquilo acabar. Coml se ela teve um divisor de águas. "Fica calma, com o tempo você vai gostar do seu marido. Você consegue gostar dele como homem e nem preciso falar que você e forte para passar por tudo isso, você sabe, é um par perfeito. Isso é pela família." Você consegue dormir sozinha, filha. Você é uma super heroína. O pai dizia quando ela era uma menina e tentava pedir pra ele ficar. Ele sempre era ocupado demais com o trabalho, cuidava tão bem de um estado e até de mais coisas. Mas não conseguiu apaziguar o medo da filha. Assim como fazia ficar ela apavorada como nunca, com medo e agoniada. Ele sabia ser pai, ele só não era um bom pai. "Foi pelos negócios dele, governador?" O homem encarou o rosto da filha, vendo a revolta tão aparente nela. "Não, foi pela família. Foi o melhor para você." A catedral estava cercada pela equipe de organização e segurança dos Barrete e dos Lekler. Uma parada diante da porta de madeira da catedral central e conhecida da cidade fez aquela sensação horrível aumentar. As duas semanas que ela tentou inutilmente fugir apareceram e ela começou a se perguntar onde ela havia errado. Charlotte não sabia a resposta e naquele momento não era culpa dela. Não era ela no comando, era todos eles. Ela era apenas uma peça naquele jogo. "Esta doendo, papai." Ela deixou uma lágrima deslizar, como o último dos pedidos de clemência. O homem a encarou, encarou os olhos escuros e brilhantes, tristes e marcados por tudo aquilo. "Você é nossa filha e vai fazer o que nós estamos pedindo, pela nossa família. Sem sabor, não tem vitórias." "Se isso significa me colocar com um estranho por causa de uma maldita troca. Eu não quero essa vitória e nunca quis. Na verdade, se é isso que tenho que fazer por uma família. Eu não quero." "Carlote Lekler." Ele para de falar, fazendo uma pausa. "Essa é minha última tentativa. Se não fizer isso, seu destino será outro. Como seu pai eu não quero chegar nisso, faça como pedimos e não seja estúpida. Você terá um futuro ao lado de um Barrete, aproveite e se conforma de uma vez. Não faça nada lá. Apenas siga com as decisões tomadas, isso vai ser o melhor para todos. Não arruine tudo." "Por favor, não faz isso comigo, pai. Por favor!" O homem lançou um olhar duro. Um sem pena ou compaixão nenhuma pela menina. "Eu lamento." "Vai para o inferno com sua lamentação!" Sussurrou. "Um dia vai me agradecer." "Nunca." E aí as portas se abriram. No mesmo momento as lágrimas encheram os olhos dela e logo tudo ficou mais difícil. Tinha pessoas e mais pessoas olhando para Charlote, sorrindo e acenando para o pai. Quando ergueu o olhar para frente. Ela viu ele. Vestido de preto, com uma rosa branca no bolso, os cabelos penteados para trás. Com o sorriso na boca atrevida dele e os olhos verdes na direção dela. Um olhar de puro contentamento por ver aquela que ele havia escolhido a dedo como exclusivamente para ele. Como a mulher ideal para o homem que ele era, mesmo metade do pessoal dele duvidando disso. Charlote viu sua liberdade e tudo que sonhava ir embora. Lembrou das noticias sobre os negócios estupidos do futuro marido. Ninguém que mexia com armas desvia ser boa coisa. E, por Deus, ela queria apenas acordar se aquilo fosse um pesadelo, ou quem sabe, não arrumar uma das armas que os Barretes causaram e mataram Dominik. Lembrou dos sonhos de menina. Se apaixonar de verdade por alguém idealista. Porque, no fundo, ela acreditava em amor. Não acredito, mas não adiantava agora, do que adiantaria acreditar no amor se ela casaria dessa forma? Era um jogo. Como jogo, ela era a peça principal. Uma moeda de troca. "Sr. Lekler." A voz veio tonalizada. "Cuide da minha filha." Sussurrou para o homem a sua frente, erguendo a mão da filha como a joia mais rara do mundo. "Com a minha própria vida." Charlote sentiu o aperto na ponta de seus dedos, encarando Dominik. Seu coração só faltava pular do peito. Até pensar que não conseguiria, que iria apagar e ver tudo aquilo virando uma tragédia. Viu seu pai se levou e o último barulho que escutou foi o da porta fechando. Aquilo indicava que o casamento havia começado. Que não importava quem era ela, apenas seria a mulher de um Barrete. Charlote se colocou diante de um padre e quando ousou olhar para o lado, viu os olhos dele. Dois olhos verdes profundos. "Ainda dá tempo de você me deixar ir." Sussurrou, apenas para ele ouvir. "Eu sei." Houve um silêncio entre os dois e uma troca de olhar. "Mas eu não quero deixar você ir querida. Eu escolhi você. Iria começar.
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