26. Luna

1371 Words
Dante parou bem na frente. Desceu da moto como se tivesse todo o tempo do mundo, como se encontrar uma mulher destruída na porta de uma casa vazia fosse apenas mais uma terça-feira comum. — O que está fazendo aqui ainda? — perguntou com voz baixa, mas com aquele tom de aviso por trás. Não respondi. Ele subiu os dois degraus e parou diante de mim. Olhou para dentro da casa vazia, depois me observou de cima a baixo. — Está esperando o quê? Que eu devolva as coisas? Que eu desfaça a mudança? Permaneci calada. O que eu diria? Que meu peito doía como se tivessem arrancado uma parte de mim? Que me sentia expulsa da minha própria história? Ele respirou fundo. Por um segundo, achei que perderia a paciência de vez. Mas não. Apenas estendeu a mão, como se fosse a coisa mais natural do mundo. — Vem. Balancei a cabeça, negando. Dei um passo para trás. Mas ele nem esperou por discussão. Aproximou-se novamente, pegou meu braço com firmeza e, quando tentei puxar, segurou ainda mais forte. O suficiente para me fazer entender que não tinha escolha. — Não me faça te carregar no colo, Luna — disse entre os dentes, com o olhar firme cravado em mim. Fechei os olhos por um segundo. Respirei fundo. E fui. Não porque quisesse, não porque aceitasse, mas porque, naquele momento, resistir mais só pioraria tudo. Ele me puxou até a moto e me obrigou a subir na garupa. Segurei na lateral, sem encostar nele, com o corpo duro como pedra. E assim, com o barulho do motor engolindo meus pensamentos, fui levada para a nova casa. Para a nova prisão. O caminho até a nova casa foi um borrão. Não olhei para os lados, não reparei nas ruas, nas pessoas, em nada. Mantive o olhar preso no chão da garupa, o capacete m*l encaixado, os dedos fincados nas laterais apenas para não ter que encostar nele. Quando ele desligou o motor, demorei para descer. Só soltei o ar que estava preso no peito quando ele se virou para mim e disse, como sempre fazia: — Desce. Coloquei os pés no chão com as pernas bambas. E então vi. A casa. Ficava umas três vielas depois da minha antiga. Um lugar mais afastado, onde as ruas eram um pouco mais largas e o barulho do morro parecia menor. Pintura nova, portão de alumínio, janelas com grades limpas. Entrei com ele atrás, sentindo o peso daquele passo como se fosse definitivo. A sala tinha sofá novo, daqueles que eu passava em frente à loja e ficava imaginando como seria ter. A parede tinha até uma TV maior que a minha anterior. Mesa de jantar com quatro cadeiras, tapete limpo, piso brilhando. Fui andando devagar até a cozinha. Armário planejado, geladeira nova, micro-ondas. O fogão era daqueles com tampa de vidro. Nunca tinha cozinhado em um assim. O cheiro de tinta fresca ainda estava no ar. Fui para o corredor e, quando abri a porta do primeiro quarto, quase desabei. O quarto da Clara. Cama de solteiro com cabeceira, colchão novinho, roupa de cama colorida com estampa de personagens infantis. Um guarda-roupa branco, um tapete fofo no chão e, em cima da cama, uma boneca. Daquelas caras que Clara sempre olhava nas vitrines e eu só dizia "um dia". Levei a mão à boca, sentindo o nó na garganta crescer. Fui até o outro quarto, o meu, teoricamente. Uma cama de casal nova, armário grande, cortinas nas janelas. Tinha até um ventilador de teto girando devagar, como se a casa tivesse vida própria. Mas o que deveria ser um sonho só me deu mais vontade de vomitar. Porque tudo ali, tudo, veio dele. Do jeito dele, no tempo dele. Arrancado da minha vontade. Quando voltei para a sala, ele já estava lá. De pé, de braços cruzados, olhando para mim com aquele olhar que me desmontava por dentro. — Agora está tudo certo — disse, como se fosse um favor, como se eu devesse agradecer. A raiva se misturou ao medo, ao nojo, à tristeza. — Eu nunca pedi isso, Dante — falei baixo, mas com os olhos queimando. Ele deu de ombros. — Agora tem. — Eu não quero! — Problema seu — respondeu, direto, frio, como sempre. Passei por ele, fui para o corredor e encostei na parede, sentindo a respiração falhar. Fechei os olhos com força, tentando segurar as lágrimas. Não queria chorar, não na frente dele. Mas quando senti ele se aproximar, o corpo colando nas minhas costas, o cheiro dele invadindo meu espaço mais uma vez, soube que não havia mais volta. A partir dali, nada mais seria meu de verdade. Nem minha casa, nem minha vida, nem eu mesma. O corpo inteiro tremia. Era como se tudo dentro de mim estivesse bagunçado. — Luna — chamou baixo, a voz rouca demais, arrastada. Quando virei, ele já estava perto. Perto demais. Seu olhar não era como das outras vezes. Tinha desejo, claro, mas havia outra coisa, uma fome que parecia maior, mais profunda. Dante me encostou na parede com o corpo inteiro, sem usar força, mas também sem me dar opção de recuar. Suas mãos foram direto à minha cintura, me puxando com firmeza. Seu rosto encostou no meu pescoço, o nariz deslizando na minha pele, como se quisesse gravar meu cheiro na memória. — Eu passo o dia inteiro querendo isso — sussurrou contra minha pele, a respiração quente, descompassada. Minha vontade era empurrar, gritar, dizer para parar. Mas meu corpo já não obedecia. Suas mãos desceram pelas minhas costas, contornando a curva da minha b***a. Subiu a barra da minha blusa com pressa nervosa, como se cada segundo sem pele fosse castigo para ele. Quando seus dedos tocaram minha barriga, um arrepio forte percorreu minha espinha. Ele afastou o tecido, empurrou o sutiã para cima e fechou a boca no meu seio como se tivesse sede. O jeito que ele chupava, lambia, mordia de leve era desesperado, possessivo, mas com uma delicadeza torta ali. Como se quisesse me devorar, mas ao mesmo tempo cuidar daquilo que era só dele. Minhas mãos foram para seus ombros, primeiro tentando afastar, depois segurando. Ele me pegou no colo como se eu não pesasse nada. Me carregou para o quarto novo, me jogando na cama como se aquele colchão já fosse acostumado com nossa bagunça. Seu corpo veio por cima do meu logo em seguida, os joelhos afastando minhas pernas com facilidade. Me beijou com força, com raiva, mas com um gosto amargo de saudade. Suas mãos abriram o botão do meu short com um puxão rápido. Short, calcinha, tudo arrancado com urgência. Suas calças desceram até a metade das coxas, e antes que eu pudesse ter tempo de pensar, ele já estava dentro de mim. O encaixe foi fundo, quente, arrastado. Um gemido baixo escapou de sua garganta enquanto ele enterrava o rosto no meu pescoço outra vez. A primeira estocada foi forte, como um aviso. Mas as próximas vieram num ritmo mais lento, mais sentido. Como se estivesse aproveitando cada segundo, cada reação minha. Ele gemia baixo, contra meu ouvido, falando coisas que eu nem conseguia entender direito. Palavras soltas: "Minha", "Só minha", "Nunca mais". E eu me odiava por estar reagindo daquele jeito. Por abrir as pernas, por puxar os cabelos dele, por pedir mais, mesmo sem dizer em voz alta. Meu corpo traía minha cabeça. Quando ele acelerou o ritmo, senti meu quadril indo de encontro com o dele sem perceber. Ele segurou meus pulsos acima da cabeça, como se quisesse me prender ali de vez. O orgasmo veio rápido, rasgando meu peito, arrancando um gemido alto, abafado por sua boca colada na minha. Ele gozou logo depois, dentro de mim, com o corpo inteiro tremendo. Ficou ali parado por alguns segundos, respirando fundo, como se tivesse acabado de correr uma maratona. Depois, soltou meus pulsos, deitou de lado, ainda colado em mim, e ficou me olhando com aquele olhar estranho. Aquele olhar que misturava desejo, posse e algo que parecia quase cuidado. Quase. Porque no fim, eu sabia. Nada daquilo era amor. Era apenas o jeito dele de me manter ali. Presente. Presente e dele.
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