Alice Narrando
Eu não consegui dormir a noite toda. Fiquei rolando de um lado pro outro, coração acelerado, a cabeça cheia de pensamentos. Desci e fiquei no sofá, sozinha. Só consegui relaxar quando ouvi a chave girando. Meu pai tinha chegado. Olhei no relógio, já passava das duas da manhã.
Quando a porta do meu quarto se abriu, senti o cheiro antes mesmo de ver o rosto dele. Um cheiro forte de fumaça, misturado com suor e cansaço. Aquele cheiro de rua, de morro, de noite que não acaba. Senti um enjoo na hora, mas me segurei. Ele entrou, os olhos vermelhos, a pele marcada pela noite pesada.
Se inclinou, deu só um beijo leve na minha cabeça e murmurou:
— Tô precisando de um banho.
— Tá mesmo — falei, tentando sorrir.
Ele riu cansado, balançando a cabeça.
— Me respeita, moleca.
Sor
