Capítulo dezoito - 18:1

963 Words
A estrada interminável. Uma linha reta. Se estendia sob o calor implacável. O rugido solitário do motor cortava a vastidão da paisagem desértica. A poeira suspensa no ar quente. Ao longe, um ponto escuro começou a se destacar na estrada e lentamente o contorno distante do veículo foi se aproximando. O veículo estacionado alheio uns poucos metros à frente, era um contato direto com a facção. Renan parou o carro com um movimento brusco e desceu - o sol refletindo nos óculos escuros como uma expressão de sua personalidade irreverente. Ele olhou ao redor. Nenhum sinal de movimentação. Então caminhou até o carro. — Apreciando a vista? — brincou batendo a porta. O contanto, um homem de aparência distinta usando um terno escuro, o esperava com a tranquilidade de quem tem o controle absoluto da situação. — Está atrasado. E sabe o quanto eu preso a pontualidade. — Torres, Torres, relaxa! Estou aqui, não estou? Explicou Renan, fazendo o possível para manter a postura firme na negociação. — Vamos direto ao ponto. Temos negócios inacabados. Negócios que se não me falha a memória, tem faltado com a sua palavra. Nos deve. E nada pessoal, mas com franqueza, nessa hierarquia, negócios são negócios — disse o contato inclinando levemente o rosto de semblante inexpressivo atrás das lentes frias dos óculos. — No entanto, há uma maneira de, digamos, quitar sua dívida. — Estou ouvindo. Renan ponderou por um momento. — Um carregamento transportando armas chega amanhã à noite. Reúna uma equipe. Cuide da escolta. Considere isso uma oportunidade de redenção. — E se eu fizer, estamos quites? — Depende. — De que? — De sua fidelidade, competência... Do seu compromisso... — Eu não perco meus compromissos, eu apenas adapto às circunstâncias — disse ele topando o acordo. — Considere feito. Não tinha muita escolha. Essa era a única saída. — Sabia que podia contar com a sua boa vontade. Os lábios finos de Torres se contraíram em um sorriso cínico. — Cuide pessoalmente para que tudo ocorra como o combinado. Nada pode dar errado. — E se der? A resposta veio fria como o aço: — Então considere-se fora do jogo. Renan saiu do carro, ciente da tarefa que tinha pela frente e, da importância de tê-la de cumprir para manter a posição dentro da organização. Parou para abastecer o tanque em um posto de gasolina. A pintura desbotada das bombas de gasolina, cobertas por camadas de poeira e ferrugem, refletia a luz mortiça do fim de tarde. O calor impregnava o ar, denso e parado. O asfalto rachado se confundia com a terra seca, e o vento quente levantava poeira em redemoinhos dispersos. A estrada à frente se perdia na linha do horizonte, um corte escuro no solo árido. Enquanto fazia o reabastecimento do tanque, digitou rapidamente uma mensagem alertando a equipe: “Preciso de escolta amanhã à noite. Trabalho grande. Local: Zona Norte.” ***** A garoa fina umedecia o asfalto e Renan escorado a lataria do carro com os braços cruzados a altura do peito, aguardava sua equipe no ponto combinado. Não precisou esperar muito. O ronco de motores cortando a pista. Preto, como sempre foi o primeiro. Desceu do carro sem pressa, ajustando o boné. Logo atrás, Douglas apareceu, o cigarro equilibrado no canto da boca, soltando anéis de fumaça pelo ar úmido. Beto e Warley vieram juntos. Conheciam o protocolo: quando Torres os contactava, era porque ordens de cima haviam chegado. A escolta: O carregamento chegaria ao anoitecer. Armamento pesado, sem margem para erros. A missão no papel soava fácil: escoltar a carga até o destino final com Renan no comando. Trabalhar para Torres significava dinheiro rápido, mas também riscos altos. Se algo saísse do controle, era certo que não haveria segunda chance. Independente do que acontecesse, o plano seguia seu curso. Três SUVs pretas estavam estacionadas em fila. O carregamento chegaria em dez minutos. Tudo tinha que ser rápido, limpo e sem margem de erro. Renan saiu do carro e se aproximou dos outros. Douglas, Beto, Warley e Preto estavam encostados no capô de um dos veículos. O radio chiou com um aviso sendo anunciado: [Movimento suspeito na área. Fiquem atentos.] As luzes de farol cortaram a escuridão quando um caminhão surgiu na rua. Ele reduziu a velocidade e parou ao lado das SUVs. O motorista, um homem robusto de barba rala, desceu e caminhou até Renan. — Tudo pronto. Renan acenou com a cabeça. — CHEGOU A HORA GALERA. Subiu no banco do carona do caminhão. Os outros três entraram nos SUVs. Assim que todos se posicionaram atrás dos volantes, o comboio começou a se mover pela avenida deserta. Até aí tudo tranquilo. 20 minutos depois, o comboio estavam prestes a entrar na Marginal, quando um farol alto se acendeu no retrovisor. Em questão de segundos, duas motos surgiram acelerando pelo corredor, se aproximando rápido. Warley, atento, alertou no rádio: [Tem gente colando. Olhos abertos.] Renan sacou a pistola e abriu um pouco o vidro. A primeira moto emparelhou com o caminhão e o garupa puxou algo debaixo da jaqueta. [Contato hostil!] — avisou Preto. A primeira rajada de tiros explodiu no ar, atingindo a lataria do caminhão. O motorista puxou o volante bruscamente, tentando evitar os disparos. Renan viu um dos SUVs jogando uma das motos contra a mureta, fazendo o piloto se desequilibrar e cair. Mas a segunda moto ainda estava na cola. O garupa novamente apontou a arma. Ele não pensou duas vezes. Mirou e atirou. O disparo fez o piloto perder o controle e a moto foi direto para debaixo das rodas do caminhão. Beto conferiu pelo espelho. [Qual o plano? Abortar ou Seguir?] Renan limpou o rosto suado e olhou para a pista. Ainda tinham um longo caminho até o destino. [Segue.]
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