— O gosto do medo

918 Words
Lívia A manhã chegou cinzenta. Eu já estava acordada quando ele abriu os olhos ao meu lado. — Bom dia, cara mia. — disse, com a voz rouca de sono, a mão quente deslizando para minha cintura. — Bom dia. — respondi, suave, sem encará-lo. — Ainda pensando em me surpreender? — perguntou, os lábios roçando minha orelha. — Sempre. — respondi. Ele riu baixo, beijando meu pescoço. — Não importa o que faça… eu sempre ganho. — Veremos. — murmurei. Depois que ele saiu para atender ligações, fiquei no quarto sozinha. Abri a gaveta e tirei o frasco. O líquido brilhava, traiçoeiro. Fui até o bar do quarto, peguei a garrafa de uísque dele, e cuidadosamente pinguei três gotas no copo que ele sempre usava. Não era para matá-lo. Só para derrubá-lo. Eu precisava que ele sentisse que não era invencível. Quando ele voltou, ainda afrouxando a gravata, olhou para a bandeja. — Já me serviu? — perguntou, surpreso. — Hoje quero que você apenas… prove. — respondi. — Prove do quê? — ele arqueou a sobrancelha. — De mim. — sorri. Ele pegou o copo, sem tirar os olhos de mim, e bebeu. Um gole longo. Eu prendi a respiração. — Você tem um gosto perigoso. — disse ele, com um meio sorriso. — Talvez seja você que seja fraco demais. — rebati. Ele deixou o copo na mesa e me puxou para perto. — Fraco? — murmurou, a respiração já se tornando mais pesada. Eu sentia o calor do corpo dele começar a subir além do normal. — O que você fez? — perguntou, finalmente sentindo o coração acelerar, o corpo tremer. — Só um lembrete… de que você não é deus. — murmurei, desafiadora. Ele me empurrou contra a parede, as mãos prendendo meus punhos acima da cabeça. — Você me envenenou? — perguntou, a voz entre um rosnado e um gemido. — Nada que vá te matar. — disse, olhando dentro dos olhos dele. O olhar dele oscilava entre ódio e desejo. — Você é louca. — sibilou. — Você me fez assim. — respondi. Ele soltou uma risada baixa, doentia. — Então me faça sentir. — ordenou, com a testa colada na minha. Antes que eu pudesse reagir, ele me ergueu no colo e me jogou na cama, rasgando minha camisola com um puxão. — Vai me castigar? — desafiei, ofegante. — Não. — ele murmurou, os olhos febris. — Vou me perder em você. Os dedos dele desceram famintos pela minha pele, marcando cada centímetro. — Tira tudo. — disse, a voz rouca. Me despi completamente sob o olhar dele, sentindo a tensão elétrica no ar. Ele abriu a própria camisa às pressas, a respiração já entrecortada pelo efeito das gotas que eu coloquei no copo. — Você me enlouquece. — disse, antes de se ajoelhar entre minhas pernas. As mãos dele seguraram meus quadris com força enquanto a boca me explorava sem pudor. A língua dele se movia lenta, depois rápida, alternando, me obrigando a gemer, a me arquear, a cravar as unhas nos lençóis. — Olha pra mim. — ordenou. Obedeci, encontrando aqueles olhos negros, ainda mais escuros pela febre que subia nele. — Boa garota. — murmurou contra mim. Quando me senti à beira do abismo, ele se ergueu, me virou de bruços e me penetrou de uma vez, profundo, quente, pesado. Um gemido preso na garganta, e eu senti cada centímetro dele como se fosse a primeira vez. — Você… é… minha. — disse entre investidas, a mão em minha nuca, me mantendo no colchão. — Por enquanto. — rebati, arquejando. Ele riu, rouco, e aumentou o ritmo, os quadris batendo contra os meus com força. — Sempre. — murmurou. — Sempre. Quando acabou, ainda ficou deitado sobre mim, ofegante, a pele dele pegando fogo. Eu sentia seu coração disparado, os músculos tensos. O veneno já começava a fazer efeito — os olhos dele turvos, o corpo vacilante. — O que… você… — sussurrou, tentando se levantar. Eu me virei para encará-lo, ainda nua, e sorri. — Só um lembrete, Dante. Você também sangra. Ele cambaleou para a poltrona e caiu sentado, a mão no peito. — Louca… — murmurou, mas sem força. Me aproximei devagar, me ajoelhei diante dele e segurei seu rosto entre as mãos. — Você queria que eu jogasse, não queria? — perguntei. — Não assim. — ele arfou. — Assim é a única maneira que eu sei. Beijei-o lentamente, sentindo o calor febril dos lábios dele. — Eu não vou te matar, Dante. — prometi. — Não hoje. — Então por que isso? — perguntou, a voz fraca, mas os olhos ainda desafiadores. — Para você entender… que não é o único que sabe brincar com fogo. Fiquei ali, sentada em seu colo, enquanto ele lutava para recuperar a respiração, o suor escorrendo pela testa, os dedos ainda cravados em minha coxa como se me pedissem para não ir. — Você me paga por isso. — ele sussurrou. — Então venha cobrar. — rebati, mordendo o lábio. Mesmo debilitado, ele ainda encontrou forças para me puxar pela nuca e me beijar, profundo, possessivo, como se quisesse me consumir antes de desmaiar. Quando finalmente os olhos dele se fecharam e a respiração ficou mais lenta, me levantei, peguei o robe e o cobri. — Descanse, amore mio. Amanhã… você vai implorar para que eu pare. Saí do quarto sem olhar para trás. Agora, finalmente, eu sentia que era ele quem estava na jaula.
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