Capítulo 2.

1903 Words
Courtney POV. “Ok, docinho, para com isso, a menos que você queira que eu faça xixi nas calças?” Me espreguiço na cama e o feijão chuta e se remexe na minha bexiga. Dou uma risadinha e acaricio minha barriga cada vez maior. Me empurro para cima e fico de pé, esfregando os olhos enquanto entro no banheiro da suíte. Me olho no espelho sobre a pia e faço uma careta. Meus olhos estão remelentos e inchados de tanto chorar, e minha pele pálida está toda manchada. Baba seca na bochecha, que lindo. Uso o vaso, lavo as mãos e o rosto. Pego a escova de dentes e começo a escovar. Enxugo a boca enquanto caminho de volta pro quarto. Nem tem por que me vestir. Não pretendo sair de casa nos próximos dias. Só quero me cercar das lembranças da mamãe. Talvez chorar mais um pouco. As possibilidades no luto são infinitas. Pego meu robe e o visto, junto com meus chinelos felpudos, e saio do quarto. Segurando minha barriga, desço as escadas. Mas paro de repente — os pelos da nuca se arrepiam. Ali, sentado no sofá segurando uma foto emoldurada minha com a mamãe, está o doador de esperma. Não demorou nada pra me encontrar. “O que você está fazendo aqui? Como diabos entrou?” pergunto, e ele se levanta, virando-se pra me encarar. As lágrimas escorrem pelo rosto dele. Ele coloca a foto delicadamente sobre a mesa de centro. “Courtney, eu sei que você não quer me ver, mas…” Eu corto ele. “E mesmo assim, aqui está. Olha, você sabe que eu não quero nada com você. Seja lá o que tenha acontecido pra fazer mamãe fugir comigo, eu presumo que tenha sido por sua causa. Então, por favor, me deixa em paz. Eu não consigo lidar com isso agora.” Digo, tentando ao máximo parecer ameaçadora com o olhar que lanço pra ele. Meus punhos estão cerrados ao lado do corpo. Ele suspira e abaixa a cabeça, as emoções estampadas no rosto. Eu dou uma risada debochada enquanto caminho até a cozinha para preparar uma bebida. Tive enjoos horríveis de manhã e não conseguia nem sentir o cheiro do café, mas agora passou e posso tomar. Com moderação, claro, mas ainda assim. Abro o armário e congelo ao ver a caneca da mamãe, aquela que pintei pra ela quando tinha cinco anos. Ela sempre bebia nela. Estico a mão por trás e pego a minha. Está escrito: Meu mundo, minha filha. Com amor, Mamãe. Pego a caneca com cuidado, fecho o armário suavemente e começo a preparar a bebida. Sei que ele está atrás de mim, mas não vou me virar nem oferecer uma xícara. Sempre quis saber quem ele era, mas agora que está aqui na minha cozinha, o momento não poderia ser pior. O jeito como apareceu, montado na moto com sua gangue, esperando que eu corresse pros braços dele como num reencontro piegas de novela. Ele feriu profundamente a mamãe — e, consequentemente, a mim também. “Court, por favor, minha menininha. Me deixa explicar.” Dou a volta por ele e volto para a sala de estar. Me sento e pego a almofada, colocando-a no colo. Era da mamãe. Ela adorava almofadas espalhadas e os confortos do lar. Mantas, travesseiros macios e fundos, velas, pedrinhas decorativas... A gente se sentava nesse mesmo sofá nos meses de inverno, vestindo pijamas de corpo inteiro, enroladas nas cobertas, lado a lado com os pés de meia felpuda apoiados na mesa de centro, dividindo pipoca e assistindo filmes. Minha mamãe era como minha melhor amiga. A gente contava tudo uma pra outra. Bom, quase tudo… considerando o convidado indesejado na minha casa neste momento. “Vai, então, explica. Por que minha mãe fugiu? O que você fez com ela? E por que agora?” Disparo as perguntas. Mamãe sempre dizia que eu tinha uma língua afiada e uma mente curiosa. Eu queria saber os detalhes de tudo. E ela sempre respondia, feliz, a menos que fosse sobre a família dela ou de onde eu vinha. Esse era um segredo guardado a sete chaves — um segredo que ela levou para o túmulo. Agora estou deprimida de novo. Desvio o olhar e respiro fundo algumas vezes para não deixar a emoção me consumir. Estou com raiva, triste, confusa e apavorada com as respostas. “Eu traí sua mãe. Fui drogado. A mulher que me drogou não faz mais parte do clube. Quando recobrei a consciência e vi que vocês tinham sumido, soube que sua mãe devia ter visto o que aconteceu. Sinto muito, princesa, cheguei tarde demais pra contar a verdade. Eu botei meu clube e outros clubes pra procurarem vocês duas. Sua mãe era muito boa em se esconder.” Ele diz, olhando pra baixo, tomado pela vergonha. Meu coração congela no peito. Ele traiu a mamãe? Agora entendo por que ela sempre dizia para ficar longe de motoqueiros. Até o Kaden fez a mesma coisa. “Vocês são todos iguais. Tão ansiosos pra meter que não importa quem se machuca no processo.” Resmungo, e ele me encara. “Um motoqueiro te machucou? Quero o nome dele.” Ele pergunta, e eu não respondo. Apenas dou um gole no meu café. Suspiro e balanço a cabeça. “Não adianta. Ele fez a escolha dele. Não vou vê-lo de novo.” Digo enquanto acaricio minha barriga. Ele me observa. “Desculpa, Courtney. Você não teve boas experiências com motoqueiros. Mas nem todos somos como eu… ou como esse cara aí. Alguns são bons, outros, bem, nem tanto. E é por isso que estou aqui.” Eu levanto os olhos e vejo que ele está sério. “Sua mãe chegou a contar como a gente se conheceu?” Ele pergunta, e eu balanço a cabeça — porque não, ela nunca disse nada sobre ele ou sobre a família dela. “Não. Por quê?” Pergunto, percebendo o leve estremecer dele. Talvez ele saiba, e eu finalmente consiga descobrir como era a vida dela antes de mim. “Conheci sua mãe num restaurante, em outro estado. Ela era a mulher mais linda que eu já tinha visto na vida.” Ele sorri com um ar nostálgico. Consigo ver o amor brilhando nos olhos dele enquanto fala. “Você é a cara dela. A única diferença é…” “Tenho os seus olhos.” Digo, e ele ri, assentindo com a cabeça. “É, tem mesmo. Eu voltava naquele restaurante todo santo dia enquanto estive por lá. Sabia, desde o primeiro instante, que ela seria minha mulher. Ela me contou que estava fugindo de gente perigosa e, como eu era presidente de um clube… é nosso código ajudar mulheres e crianças em necessidade. Sua mãe estava apavorada com quem a perseguia. Disse que a família dela foi atacada no meio da noite. A mãe, o pai e o irmão mais velho foram mortos. Ela fugiu e nunca mais olhou pra trás. Nos casamos quatro meses depois. E dezoito meses depois, você veio.” Ele diz, e eu me inclino para frente, completamente absorvida pela história. “Ela era a criatura mais linda do planeta. Forte, feroz e não aceitava merda de ninguém — nem a minha. Mas tinha um lado doce, amoroso e gentil. Aí ela entrou… ou foi avisada sobre o que aconteceu naquela noite. Ela fugiu. Meu mundo desabou no dia em que descobri que vocês tinham sumido. Achei que quem matou a família dela tinha encontrado vocês duas,” ele diz, com os cotovelos apoiados nos joelhos, me observando. “O que você tá tentando dizer?” Pergunto, e ele me encara com a mandíbula travada — sei que está puto. “Você está em perigo, Courtney. Você e seu filho. Eu não vou te perder. Você vai vir comigo, e os dois estarão seguros. Eu te prometo isso,” ele diz, se levantando. Pisco pra ele e começo a rir. Ele só pode estar brincando. Acha mesmo que eu não sei me proteger? A cara dele ainda deve estar marcada o bastante pra lembrá-lo de que eu sei, sim, me defender. Sem contar as armas que eu tenho em casa. “Se o cargo de presidente do clube não der certo, você pode tentar uma carreira como comediante. Isso é uma completa palhaçada. A gente não tá em perigo. Se liga, pelo amor de Deus. Se essas pessoas — quem quer que sejam — tivessem nos achado, eu e mamãe já estaríamos mortas. Isso se alguma coisa do que você falou for verdade. Você só veio aqui pra me convencer a ir com você. Mas eu não nasci ontem... embora você já saiba disso.” Rio enquanto me esforço pra levantar. Ele tenta me ajudar, mas eu me endireito antes que ele encoste. “Courtney, tô falando sério. Por que você acha que você e sua mãe se mudavam tanto? Ela sabia que eles estavam atrás dela. Sem a proteção do clube, vocês duas estavam vulneráveis.” Ele diz, e então a porta da frente se abre e três homens enormes entram. Todos acenam com a cabeça para o meu pai antes de sorrirem pra mim. “Você vai vir comigo, mesmo que seja só até descobrirmos quem está por trás disso. Por favor, querida, eu não posso perder minha filha. Nem meu neto. Sua mãe entenderia.” “Você teve vinte anos pra descobrir a verdade, e não chegou nem perto. Olha… eu posso arrumar minhas coisas e sumir. Quem quer que sejam essas pessoas, nunca vão me encontrar.” Digo, mais pra mim mesma do que pra ele, e ele suspira, dando um passo à frente. Estica a mão pra me tocar, e eu me encolho. Mas ele não desiste. Passa o polegar sob meu olho com delicadeza. “Eles saberão quem você é. Como você é. Como acha que eu a encontrei? Seus dados foram fáceis de encontrar no banco de dados de registro de óbito. Uma busca pelo nome da sua mamãe e descobrimos tudo sobre você. Não sabemos quem são eles. Mas…” Levanto uma sobrancelha para ele. Esperando ele continuar. “Você já ouviu falar dos Guerreiros do d***o?” Ele pergunta e eu o olho confusa. “Finja que não. Quem são eles?” Retruco. Veja, minha boca me mete em muita encrenca. “Eles são o maior MC do mundo. Rumor de que o presidente do clube estava procurando sua mamãe. Não sabemos por quê. Acreditamos que quem matou sua família pediu ajuda a eles. Isso é sério, Courtney.” Ele está tentando me assustar e está funcionando. Acaricio minha barriga e olho para baixo, pensando no que ele me contou. Quem quer que estivesse atrás da mamãe está atrás de mim também. Eu poderia lutar para me livrar, mas não posso arriscar me machucar enquanto estou grávida. Nunca me perdoaria se algo acontecesse ao meu feijão, especialmente se eu puder evitar. Suspiro, olhando para ele. “Acho que é melhor o d***o que você conhece do que o que não conhece. Tudo bem, irei com você, mas você tem quatro meses para descobrir quem eles são. Então eu parto.” Digo a ele e ele sorri e acena com a cabeça. “Ok, rapazes, ajudem-na a fazer as malas e levem-na,” ele diz e eu suspiro. Mamãe, no que você se meteu?
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