Capítulo 23 - Ilusões Despedaçadas

1500 Words
O elevador subia silencioso, mas o coração de Serena batia com uma intensidade que parecia preencher todo o espaço. Seus olhos ainda estavam vermelhos e inchados, reflexos do que acabara de acontecer. Assim que entrou no quarto, trancou a porta atrás de si e se jogou na cama. Não houve contenção; as lágrimas desciam livremente, como se fossem uma tentativa desesperada de aliviar a dor que parecia consumir sua alma. Por que Alessandro havia mudado tanto? Será que ela estava sendo tola, imaginando que ele a tratava com interesse e até com carinho antes de toda essa confusão? O pensamento a sufocava, mas, entre os soluços, percebeu que talvez estivesse se agarrando a uma esperança ilusória. "Ele não me quer como esposa," pensou, seu coração partindo em pedaços ao aceitar essa verdade c***l. Levantou-se cambaleante, cruzando o quarto até o espelho. Seus olhos encontraram sua própria imagem, e ela ficou ali, encarando a mulher refletida à sua frente. Uma mulher que parecia forte por fora, mas estava devastada por dentro. A imagem da mulher elegante que ela viu na empresa passou por sua mente, uma lembrança dolorosa do contraste entre o que ela queria ser e como se sentia agora. Com um suspiro longo e pesado, limpou as lágrimas do rosto. "Seja forte. Você consegue," sussurrou para si mesma, tentando acreditar nessas palavras enquanto sua determinação lentamente se firmava. O Encontro à Noite A noite caiu, e Serena continuava sentada em sua poltrona favorita, diante da imensa parede de vidro, contemplando as luzes da cidade. Era um espetáculo de vivacidade e movimento, mas, para ela, parecia apenas um fundo distante para sua própria solidão. Horas depois, já perto da meia-noite, Alessandro finalmente entrou. O som de seus passos ecoou pelo apartamento silencioso. Serena o viu atravessar a sala sem sequer olhar para ela, como se sua presença fosse irrelevante. Ela respirou fundo, reunindo coragem. – Alessandro... posso falar com você? Ele parou, mas não se virou imediatamente. Sua voz soou impaciente: – Não estou afim. Amanhã você fala. – Prometo não demorar. – Sua voz era firme, mas carregava uma nota de súplica. Ele bufou e finalmente se virou, caminhando até o sofá com expressão de desagrado. – Fala. – Sentou-se com os braços cruzados, os olhos fixos nela, frios e avaliadores. Serena ajeitou-se na poltrona à sua frente, tentando organizar os pensamentos. Cruzou as mãos sobre os joelhos e soltou o ar lentamente antes de começar. – Eu estive pensando... – começou hesitante, mas logo endireitou a postura. – Se quiser, posso falar com seus pais e dizer que quero o divórcio. Explico que foi uma decisão minha, que não tem nada a ver com você. Assim, tiro qualquer problema que isso possa causar para você. Os olhos de Alessandro se estreitaram brevemente, surpresos, antes de um sorriso frio e satisfeito aparecer em seus lábios. – Até que enfim entendeu. Assim será melhor. E, sim, vou querer que faça isso. Mas teremos que esperar um tempo. Meu pai não é i****a, vai desconfiar. Então, até que eles estejam convencidos, você terá que fingir. Principalmente na frente deles. O coração de Serena apertou, mas ela apenas assentiu, mantendo o rosto sereno enquanto a dor a consumia por dentro. – Certo – disse ele, inclinando-se para frente. – Vai demorar um pouco até que meu pai esteja realmente convencido. Então, enquanto isso, você sabe o seu lugar. Serena assentiu, levantou-se devagar, alisando o vestido com as mãos trêmulas. – Está bem. Amanhã é meu primeiro dia no curso, então... vou para o meu quarto. Alessandro acenou com a cabeça, satisfeito com sua submissão. – Amanhã vamos sair mais cedo para comprar o que você precisar. – Certo. – Sua voz era um fio de som, mas ela ainda encontrou forças para dizer, educadamente: – Boa noite. Serena se retirou com passos firmes, mas ao entrar em seu quarto, deixou que o peso de tudo recaísse sobre seus ombros. Enquanto isso, Alessandro ficou parado na sala, suspirando aliviado. "Agora será mais fácil lidar com isso," pensou, enquanto subia para seu próprio quarto, acreditando que finalmente havia colocado as coisas sob controle. Manhã de Novos Começos Serena já estava pronta, esperando por Alessandro na sala. Vestia algo simples, mas com cuidado, tentando transmitir confiança, apesar do nervosismo que tomava conta de seu coração. Quando ele apareceu na porta, sua expressão era neutra, quase fria. – Vamos – disse, seco, caminhando em direção a saída. Durante o trajeto até a loja de materiais, Serena manteve-se em silêncio. Escolheu cadernos e itens básicos para o curso com calma, mas sentia o coração pulsar mais rápido a cada minuto. Quando finalmente terminaram as compras e voltaram ao carro, o nervosismo dela era intenso. Quando Alessandro parou em frente à universidade, Serena respirou fundo antes de abrir a porta. – Obrigada, Alessandro – disse, baixinho, sem encará-lo. Ele notou seu nervosismo, mas optou por não comentar. – Te pego mais tarde – respondeu com indiferença. – Tá bom, estarei aqui esperando. Obrigada – disse ela, hesitante. Ele apenas assentiu e arrancou com o carro, deixando Serena sozinha em frente ao prédio. Por alguns momentos, ela ficou ali parada, encarando a imponente fachada da universidade. Respirou fundo novamente e começou a caminhar, segurando firme o papel com as informações de sua sala. Serena entrou na sala de aula, sentindo olhares curiosos seguirem seus movimentos. Encontrou um lugar discreto e se sentou, tentando se misturar ao ambiente. Pouco depois, um rapaz alto, de cabelos castanhos e sorriso fácil, aproximou-se e sentou ao seu lado. – Olá, aluna nova? – perguntou ele com um tom amigável. – Olá – respondeu Serena, tímida. – Sim. – Meu nome é Miguel – disse ele, estendendo a mão. – O meu é Serena – respondeu, apertando a mão dele com delicadeza. – Lindo nome. Prazer, Serena. – O sorriso dele parecia sincero, e ela não pôde evitar retribuir com um pequeno sorriso. Antes que pudessem conversar mais, o professor entrou na sala e deu início à aula. Serena esforçou-se para prestar atenção, absorvendo cada informação, ainda que seu nervosismo dificultasse um pouco. Quando a aula terminou, Miguel voltou a se aproximar. – Que tal almoçarmos juntos? Posso aproveitar e te mostrar a universidade. Serena hesitou por um momento, mas a ideia pareceu agradável. – Ah, sim. Eu agradeço. Será ótimo. Enquanto caminhavam pelo campus, Miguel puxou conversa: – Você não é daqui, né? – Não – respondeu ela, com um sorriso discreto. – Sempre morei no interior, em uma fazenda. Miguel parecia genuinamente interessado, e a conversa fluiu naturalmente. Foi um alívio para Serena sentir-se acolhida em um ambiente tão novo. Quando as aulas terminaram, já no final da tarde, Serena se dirigiu ao ponto combinado para esperar Alessandro. O céu começava a escurecer, e as nuvens pesadas prometiam chuva. – Ei, Serena! Quer uma carona? – perguntou Miguel, aproximando-se com uma moto. – Acho que vai chover, e tenho dois capacetes. Ela olhou para o céu, apreensiva, e depois para ele. – Ah, não, obrigada. E... nunca andei de moto. Miguel riu, de forma descontraída. – Outro dia te levo para experimentar. É como andar a cavalo. Até mais, Serena. – Até, Miguel – respondeu ela, sorrindo antes de ele partir. O tempo passou, e Alessandro não chegava. A rua começou a esvaziar, e as primeiras gotas de chuva caíram, rápidas e pesadas. Serena correu para o abrigo de um ponto de ônibus, mas o vento forte fazia com que a água ainda a atingisse. Trovões começaram a ecoar, seguidos por relâmpagos que iluminavam o céu. Ela abraçou o próprio corpo, encolhendo-se no banco. – Alessandro, chega logo... – murmurou baixinho, fechando os olhos. Desesperada, pegou o celular e ligou para ele. Após alguns toques, ele atendeu com voz distraída. – Oi. – Alessandro, você está chegando? Está chovendo muito – disse ela, a voz carregada de ansiedade. No mesmo instante, um trovão ribombou, e Alessandro ouviu o leve grito de Serena do outro lado da linha. – Pega um táxi. Eu acabei esquecendo – respondeu ele, casualmente. – Eu... eu não sei andar por aqui. Por favor... – A voz dela tremia. – Eu tenho medo de trovão. Houve um suspiro contrariado do outro lado. – Já vou – respondeu ele, seco, antes de desligar. Serena continuou encolhida, agora completamente encharcada. Quando finalmente Alessandro parou o carro diante dela, a chuva caía ainda mais forte. Serena correu para o veículo e entrou tremendo, com os cabelos e roupas grudados ao corpo. Alessandro a olhou de relance, visivelmente irritado, mas não disse nada até começarem a dirigir. – Você precisa aprender a se virar sozinha. Não vou ficar te buscando o tempo todo – disse ele, com tom impaciente. – Desculpa... Eu... eu vou aprender – respondeu Serena, quase em um sussurro, a voz carregada de vergonha. Quando chegaram ao apartamento, Serena foi direto para o quarto, correndo para se secar e aquecer. Alessandro, indiferente à situação, seguiu para o próprio quarto.
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