Na manhã seguinte, Serena já estava de pé, organizando seus materiais para o curso.
Na sala, o som das passadas rápidas de Alessandro anunciou sua chegada após a corrida matinal. Ele estava ofegante e com a camiseta colada ao corpo devido ao suor, mas seu semblante permanecia sério, como de costume.
Serena, enquanto terminava seu café, o observou com um olhar hesitante, mas curiosa. Alessandro parou na entrada da sala, secando o rosto com uma toalha, e percebeu que precisava levá-la para a universidade. O pensamento lhe pesou, então decidiu resolver isso de uma vez.
— Pegue seu celular. Vou ensinar você a pedir táxi — disse ele, o tom direto e impaciente.
Serena levantou-se rapidamente, obediente, e se aproximou com cuidado, entregando-lhe o aparelho. Ele pegou o celular e começou a mostrar o passo a passo, explicando como usar o aplicativo. O cheiro fresco de suor e a proximidade entre os dois deixaram Serena ligeiramente desconfortável, mas ela prestava atenção com dedicação.
— É assim que você faz tanto para ir quanto para voltar — disse ele, salvando o endereço da universidade. — Pronto, já está configurado.
— Tá bom, obrigada — respondeu Serena com um tom educado e discreto. Pegou suas coisas e caminhou até a porta.
Enquanto ela saía, Alessandro a observou de relance. Seus olhos fixaram-se no vestido simples que ela usava, e um pensamento cruzou sua mente: "Ela precisa de roupas mais adequadas." Porém, antes que pudesse aprofundar a ideia, o toque do telefone interrompeu seus devaneios. Ele atendeu e voltou à sua rotina sem maiores considerações.
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Dias de Rotina
Nos dias seguintes, Alessandro notou que Serena quase não incomodava. Ela estava imersa nos estudos e passava boa parte do tempo fora. Em alguns dias, ele m*l percebia sua presença na casa, o que, de certa forma, lhe trazia alívio.
Para Serena, a adaptação ao curso e à nova rotina não era fácil, mas ela fazia progresso. Além de Miguel, que a ajudava desde o início, fez amizade com Alice, uma colega extrovertida que rapidamente se tornou próxima. Os dias estavam mais preenchidos, e isso a ajudava a esquecer, ainda que temporariamente, as mágoas que guardava.
Certa noite, Serena aguardava na sala, nervosa, enquanto tentava entender uma matéria complicada. Sentada no chão, com os materiais espalhados na mesinha de centro, esperava por Alessandro, sabendo que ele poderia ajudá-la. Quando ele entrou pela porta, o cheiro amadeirado de seu perfume tomou conta do ambiente.
— Alessandro? — chamou ela, sua voz calma, mas carregada de expectativa.
Ele parou no meio do caminho, com a mão ainda no botão do colarinho da camisa, e a encarou, visivelmente cansado.
— O que foi? — perguntou em um tom que denotava pouca paciência.
— Você poderia me ajudar? Estou com dúvida em uma matéria... Tenho prova depois de amanhã e... — começou Serena, tentando soar firme.
Antes que pudesse terminar, Alessandro suspirou profundamente, interrompendo-a.
— Não posso. Tenho que sair. Só vou tomar banho — respondeu de forma direta, caminhando para o corredor.
— Ah, tudo bem... Eu... vou tentar entender sozinha — disse ela, mais para si mesma do que para ele, enquanto abaixava a cabeça e voltava a olhar para os papéis.
Alessandro desapareceu no quarto. Pouco depois, passou pela sala novamente, já arrumado e com o mesmo ar indiferente. Serena ergueu os olhos rapidamente, acompanhando-o com o olhar até a porta. Por mais que estivesse se acostumando com a frieza dele, um aperto no peito ainda a incomodava.
Com um suspiro, voltou aos estudos, lutando contra os pensamentos que insistiam em se infiltrar.
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Novas Conexões
Na manhã seguinte, Serena acordou cansada. Passara a noite anterior tentando absorver a matéria, mas ainda se sentia insegura. Ao chegar à universidade, desceu do táxi e encontrou Miguel no ponto de encontro habitual.
— Bom dia, Serena — disse ele, sorrindo ao vê-la.
— Bom dia, Miguel. — Ela devolveu o sorriso, embora estivesse com a expressão levemente abatida.
— Você está bem? Parece que não dormiu muito bem — comentou ele, observando-a com preocupação.
— Estudei até tarde... Estou com dificuldade em uma disciplina — respondeu, tentando soar despreocupada.
— Se quiser, posso te ajudar depois da aula. Podemos passar a tarde estudando — sugeriu ele, de forma gentil.
— Sério? Não vai atrapalhar você? — perguntou Serena, com hesitação.
— Claro que não — garantiu Miguel.
O alívio se estampou no rosto dela, e ela agradeceu com sinceridade. Durante o intervalo, Serena estava com Miguel e Alice, rindo e tentando esquecer do peso que carregava.
— Amiga, seu marido nunca aparece aqui, né? Ele te deixa muito sozinha — comentou Alice, com curiosidade.
Serena forçou um sorriso. — Ele é muito ocupado...
— Ainda queremos conhecê-lo. Deve ser um cara de sorte por ter você como esposa — continuou Alice.
Serena desviou o olhar, mudando o assunto rapidamente. Miguel, por outro lado, apenas observava em silêncio, como se tentasse juntar as peças de algo que ainda não compreendia completamente.
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Uma Tarde Diferente
Após a aula, Miguel convenceu Serena a ir até uma cafeteria para estudarem. Ele sugeriu que fossem de moto, o que a deixou hesitante no início.
— Serena, é rápido. Se você não gostar, paramos e vamos andando, eu prometo — disse ele, tentando convencê-la.
Com alguma relutância, ela aceitou. Ao colocar o capacete, sentiu o coração disparar, tanto pelo medo quanto pela novidade. Assim que a moto começou a andar, Serena sentiu o vento no rosto e um misto de adrenalina e liberdade.
Quando chegaram à cafeteria, Miguel ajudou-a a descer da moto, sorrindo.
— E aí, gostou? — perguntou ele, enquanto a observava atentamente.
— Eu adorei! Foi incrível — respondeu Serena, sorrindo com uma sinceridade que iluminou seu rosto.
Eles passaram horas estudando, e Miguel mostrou paciência ao ajudá-la a entender os tópicos difíceis.
No final, Serena sentiu uma gratidão genuína, e os dois continuaram conversando até que ela percebeu o quanto o tempo havia passado. Ao olhar o celular, viu uma ligação perdida de Alessandro, algo raro.
— Preciso ir. Ele me ligou... Pode ter acontecido algo — disse ela, levantando-se apressadamente.
Despediu-se de Miguel e chamou um táxi, o coração batendo acelerado, sem saber o que a esperava.