Capítulo 21 - Sob o Peso do Desprezo

1366 Words
Alessandro se levantou da mesa do café da manhã de forma abrupta, os movimentos tensos e o olhar carregado de frustração. Seus olhos pousaram em Serena por um instante, breves, mas intensos. Parecia culpá-la por tudo o que estava acontecendo. O que antes era um brilho sedutor em seu olhar agora não passava de raiva contida. Serena, ao notar o olhar fulminante, desviou o dela rapidamente. Havia algo esmagador naquele silêncio, um peso que fazia seu coração disparar. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, Alessandro virou as costas e saiu do apartamento em passos firmes, deixando para trás um rastro de frieza. Ela suspirou profundamente, tentando se recompor, quando a empregada Dirce apareceu com o telefone na mão. — Serena, aqui está. Dona Eleonora quer falar com você. — Obrigada, Dirce — respondeu com um sorriso educado, embora nervoso. Pegou o telefone com as mãos um pouco trêmulas. — Bom dia, dona Eleonora — cumprimentou, a voz soando hesitante. — Bom dia, minha querida. Como estão as coisas? — perguntou Eleonora, com um tom gentil que parecia penetrar a barreira de tristeza de Serena. Serena hesitou. As palavras de Alessandro vieram à mente, ameaçando-a caso mencionasse algo aos pais dele. Sentiu a garganta apertar e o peso da insegurança, mas forçou um sorriso, mesmo sabendo que Eleonora não podia vê-la. — Está tudo bem — mentiu, a voz quase falhando. No fundo, desejava abrir seu coração, contar sobre o desprezo que sentia, mas havia algo em seu coração que a impedia. Ela gostava de Alessandro, mesmo que o sentimento fosse carregado de dor. — Que bom — respondeu Eleonora, com um tom acolhedor. — Mas, qualquer coisa, quero que me conte, está bem? Serena concordou com um pequeno som, incapaz de dizer mais. — Alessandro já deve ter ido para a empresa — continuou Eleonora. — Não é bom você ficar trancada todos os dias em casa. Que tal fazer um curso? Pode ser uma forma de se adaptar e se sentir melhor. Serena arregalou os olhos, surpresa com a sugestão. — Eu... acho que seria ótimo — respondeu, ainda tímida. — Alguma ideia de que curso gostaria de fazer? — Algo relacionado à fazenda — sugeriu, com um fio de empolgação na voz. — Eu poderia ajudar Alessandro e vocês com isso. — Excelente ideia! Vou pedir para Inácio providenciar um curso de administração rural. O que acha? — Sim, gostei muito — respondeu Serena, quase sorrindo. — Ótimo. Logo estará tudo pronto. Depois de se despedirem, Serena desligou o telefone, sentindo-se ligeiramente animada. Um curso significava uma oportunidade de fazer algo, de crescer. Caminhou até a enorme janela da sala, olhando para a cidade movimentada abaixo. Seu coração estava dividido entre o nervosismo e a determinação. — Vô, você ainda vai sentir orgulho de mim — sussurrou para si mesma, enquanto seus olhos brilhavam, refletindo a luz do sol que atravessava o vidro. --- No Escritório de Alessandro Na empresa, Alessandro estava em sua mesa, os ombros tensos, os pensamentos girando em torno do casamento que odiava. A conversa com seu pai ainda ecoava em sua mente. Ele deu ordens secas para sua secretária. — Consiga um curso de administração rural para Serena em uma boa universidade. Quero tudo resolvido o quanto antes. A secretária anotava freneticamente, mas hesitou por um instante, esperando alguma instrução adicional. — O que está esperando? Vá logo! — ele disparou, impaciente. — Sim, senhor — respondeu a secretária, saindo rapidamente. Logo depois, Lucas, seu amigo, entrou no escritório com um sorriso largo. — E aí, cara? Até que enfim voltou à ativa! Alessandro o cumprimentou com um aceno desanimado, apoiando-se na mesa. — Tô aqui, mas puto com tudo isso. Como te falei, olha só o que meu pai arrumou pra mim. Essa p***a de casamento forçado... Lucas soltou uma risada, tentando aliviar o clima. — Sua cara tá péssima. Vamos sair hoje, relaxar, e você tenta esquecer isso tudo. Alessandro riu, mas havia algo amargo no som. — Vai ser o jeito. Tô louco por uma boa transa, cara. Não vou parar minha vida por essa loucura. Eles continuaram a conversa, e Alessandro saiu para almoçar, decidido a seguir sua rotina como se nada tivesse mudado. --- O Encontro Noturno Quando Alessandro voltou para o apartamento, Serena estava na sala, sentada no chão em frente à janela. A vista da cidade a acalmava, mas seu coração ainda carregava o peso da solidão. Alessandro a observou por um momento, seus olhos avaliando a figura delicada dela. — Amanhã, esteja pronta cedo. Vamos resolver as últimas questões do seu curso — anunciou, a voz firme, cortando o silêncio. Serena se virou, ligeiramente assustada. — Já? — Sim, já — ele respondeu, seco, antes de sair em direção ao quarto. Mais tarde, Alessandro entrou na sala novamente, agora vestindo uma calça escura e uma camisa preta que destacava sua forma atlética. Seu perfume preencheu o ambiente, e Serena não pôde evitar encará-lo por um momento longo demais. — O que foi? — perguntou ele, o tom carregado de ironia. Serena gaguejou, tentando se recompor. — N-nada... o jantar já está servido. Eu mesma preparei. — Não vou jantar — respondeu ele, revirando os olhos. — E você não precisa cozinhar. — Eu gosto. É bom fazer algo útil — respondeu Serena, a voz quase inaudível. Alessandro deu de ombros, despreocupado, e respondeu com frieza: — Tanto faz. Ele se virou para sair, mas Serena, reunindo coragem, interrompeu: — Eu poderia ir? Gostaria de conhecer a cidade... fico olhando daqui, é tão linda. Ele parou, voltando-se para ela com um olhar crítico. Seus olhos percorreram a figura simples de Serena, examinando sua roupa sem qualquer esforço para disfarçar o desdém. — Só se for pra me fazer passar vergonha. Não! Prefiro deixar a vergonha para momentos em que não terei como fugir. Sem esperar resposta, Alessandro virou-se e saiu, deixando Serena parada, estática. As palavras dele a atingiram de uma maneira c***l. Seus ombros caíram, e o brilho nos olhos desapareceu, substituído pela sombra de uma tristeza profunda. Ela olhou para o enorme espelho da sala, observando sua própria figura com insegurança. Sentia-se deslocada, inadequada. Voltando à janela, seu olhar se perdeu nas luzes da cidade enquanto lágrimas silenciosas escorriam por seu rosto. Serena era simples, ingênua. Mas até quando suportaria o desprezo constante de Alessandro? Será que encontraria forças para enfrentar aquela realidade tão c***l? Enquanto isso, Alessandro estava em um clube exclusivo, acompanhado de Lucas. A atmosfera era luxuosa, e o som animado da música misturava-se com o tilintar dos copos. Alessandro já tinha uma mulher no colo, rindo e bebendo, tentando afogar a irritação que sentia. Mais tarde, ele a levou ao carro e seguiram para um hotel. No quarto, Alessandro entregou-se à luxúria com intensidade, como se pudesse esquecer seus próprios demônios no calor dos corpos. Quando tudo terminou, a mulher, ainda nua, apoiou-se na cama, olhando-o com um sorriso malicioso: — Nossa, você é tão gostoso. Espero que fiquemos mais vezes. Ele sorriu com arrogância, puxando-a para um último beijo antes de se vestir. — Quem sabe — respondeu com um tom despreocupado. Horas depois, Alessandro retornou ao apartamento. O ambiente estava silencioso, iluminado apenas por uma luz baixa e aconchegante. Ao entrar, cruzou com Serena, que saía da cozinha em direção à sala. Ela levou um leve susto ao vê-lo surgir na penumbra, levando a mão à boca antes de soltar um sorriso hesitante: — Que susto... Ele a observou por um instante, seus olhos estreitados, e o sorriso que se formou era irônico, quase c***l. — Estava me esperando, minha querida esposa? Serena sentiu o cheiro forte de álcool e respondeu, nervosa: — N-não... eu só... Antes que pudesse terminar, Alessandro interrompeu com sarcasmo: — Não precisava se incomodar. Eu estava muito bem. Na verdade, até demais. Respirando fundo, ele deu um sorriso debochado e seguiu para o quarto, sem mais explicações. Serena ficou parada no mesmo lugar, com o coração batendo mais forte pela interação breve. Apesar do tom ácido de Alessandro, a proximidade inesperada a desconcertou. Sentindo-se inquieta, ela continuou até o seu quarto, tentando acalmar os pensamentos confusos que a assaltavam.
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