Alessandro se levantou da mesa do café da manhã de forma abrupta, os movimentos tensos e o olhar carregado de frustração. Seus olhos pousaram em Serena por um instante, breves, mas intensos. Parecia culpá-la por tudo o que estava acontecendo. O que antes era um brilho sedutor em seu olhar agora não passava de raiva contida.
Serena, ao notar o olhar fulminante, desviou o dela rapidamente. Havia algo esmagador naquele silêncio, um peso que fazia seu coração disparar. Antes que pudesse dizer qualquer coisa,
Alessandro virou as costas e saiu do apartamento em passos firmes, deixando para trás um rastro de frieza.
Ela suspirou profundamente, tentando se recompor, quando a empregada Dirce apareceu com o telefone na mão.
— Serena, aqui está. Dona Eleonora quer falar com você.
— Obrigada, Dirce — respondeu com um sorriso educado, embora nervoso. Pegou o telefone com as mãos um pouco trêmulas.
— Bom dia, dona Eleonora — cumprimentou, a voz soando hesitante.
— Bom dia, minha querida. Como estão as coisas? — perguntou Eleonora, com um tom gentil que parecia penetrar a barreira de tristeza de Serena.
Serena hesitou. As palavras de Alessandro vieram à mente, ameaçando-a caso mencionasse algo aos pais dele. Sentiu a garganta apertar e o peso da insegurança, mas forçou um sorriso, mesmo sabendo que Eleonora não podia vê-la.
— Está tudo bem — mentiu, a voz quase falhando.
No fundo, desejava abrir seu coração, contar sobre o desprezo que sentia, mas havia algo em seu coração que a impedia. Ela gostava de Alessandro, mesmo que o sentimento fosse carregado de dor.
— Que bom — respondeu Eleonora, com um tom acolhedor. — Mas, qualquer coisa, quero que me conte, está bem?
Serena concordou com um
pequeno som, incapaz de dizer mais.
— Alessandro já deve ter ido para a empresa — continuou Eleonora. — Não é bom você ficar trancada todos os dias em casa. Que tal fazer um curso? Pode ser uma forma de se adaptar e se sentir melhor.
Serena arregalou os olhos, surpresa com a sugestão.
— Eu... acho que seria ótimo — respondeu, ainda tímida.
— Alguma ideia de que curso gostaria de fazer?
— Algo relacionado à fazenda
— sugeriu, com um fio de empolgação na voz. — Eu poderia ajudar Alessandro e vocês com isso.
— Excelente ideia! Vou pedir para Inácio providenciar um curso de administração rural. O que acha?
— Sim, gostei muito — respondeu Serena, quase sorrindo.
— Ótimo. Logo estará tudo pronto.
Depois de se despedirem, Serena desligou o telefone, sentindo-se ligeiramente animada. Um curso significava uma oportunidade de fazer algo, de crescer. Caminhou até a enorme janela da sala, olhando para a cidade movimentada abaixo. Seu coração estava dividido entre o nervosismo e a determinação.
— Vô, você ainda vai sentir orgulho de mim — sussurrou para si mesma, enquanto seus olhos brilhavam, refletindo a luz do sol que atravessava o vidro.
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No Escritório de Alessandro
Na empresa, Alessandro estava em sua mesa, os ombros tensos, os pensamentos girando em torno do casamento que odiava. A conversa com seu pai ainda ecoava em sua mente. Ele deu ordens secas para sua secretária.
— Consiga um curso de administração rural para Serena em uma boa universidade. Quero tudo resolvido o quanto antes.
A secretária anotava freneticamente, mas hesitou por um instante, esperando alguma instrução adicional.
— O que está esperando? Vá logo! — ele disparou, impaciente.
— Sim, senhor — respondeu a secretária, saindo rapidamente.
Logo depois, Lucas, seu amigo, entrou no escritório com um sorriso largo.
— E aí, cara? Até que enfim voltou à ativa!
Alessandro o cumprimentou com um aceno desanimado, apoiando-se na mesa.
— Tô aqui, mas puto com tudo isso. Como te falei, olha só o que meu pai arrumou pra mim. Essa p***a de casamento forçado...
Lucas soltou uma risada, tentando aliviar o clima.
— Sua cara tá péssima. Vamos sair hoje, relaxar, e você tenta esquecer isso tudo.
Alessandro riu, mas havia algo amargo no som.
— Vai ser o jeito. Tô louco por uma boa transa, cara. Não vou parar minha vida por essa loucura.
Eles continuaram a conversa, e Alessandro saiu para almoçar, decidido a seguir sua rotina como se nada tivesse mudado.
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O Encontro Noturno
Quando Alessandro voltou para o apartamento, Serena estava na sala, sentada no chão em frente à janela. A vista da cidade a acalmava, mas seu coração ainda carregava o peso da solidão.
Alessandro a observou por um momento, seus olhos avaliando a figura delicada dela.
— Amanhã, esteja pronta cedo. Vamos resolver as últimas questões do seu curso — anunciou, a voz firme, cortando o silêncio.
Serena se virou, ligeiramente assustada.
— Já?
— Sim, já — ele respondeu, seco, antes de sair em direção ao quarto.
Mais tarde, Alessandro entrou na sala novamente, agora vestindo uma calça escura e uma camisa preta que destacava sua forma atlética. Seu perfume preencheu o ambiente, e Serena não pôde evitar encará-lo por um momento longo demais.
— O que foi? — perguntou ele, o tom carregado de ironia.
Serena gaguejou, tentando se recompor.
— N-nada... o jantar já está servido. Eu mesma preparei.
— Não vou jantar — respondeu ele, revirando os olhos. — E você não precisa cozinhar.
— Eu gosto. É bom fazer algo útil — respondeu Serena, a voz quase inaudível.
Alessandro deu de ombros, despreocupado, e respondeu com frieza:
— Tanto faz.
Ele se virou para sair, mas Serena, reunindo coragem, interrompeu:
— Eu poderia ir? Gostaria de conhecer a cidade... fico olhando daqui, é tão linda.
Ele parou, voltando-se para ela com um olhar crítico. Seus olhos percorreram a figura simples de Serena, examinando sua roupa sem qualquer esforço para disfarçar o desdém.
— Só se for pra me fazer passar vergonha. Não! Prefiro deixar a vergonha para momentos em que não terei como fugir.
Sem esperar resposta, Alessandro virou-se e saiu, deixando Serena parada, estática.
As palavras dele a atingiram de uma maneira c***l. Seus ombros caíram, e o brilho nos olhos desapareceu, substituído pela sombra de uma tristeza profunda. Ela olhou para o enorme espelho da sala, observando sua própria figura com insegurança. Sentia-se deslocada, inadequada.
Voltando à janela, seu olhar se perdeu nas luzes da cidade enquanto lágrimas silenciosas escorriam por seu rosto.
Serena era simples, ingênua. Mas até quando suportaria o desprezo constante de Alessandro? Será que encontraria forças para enfrentar aquela realidade tão c***l?
Enquanto isso, Alessandro estava em um clube exclusivo, acompanhado de Lucas. A atmosfera era luxuosa, e o som animado da música misturava-se com o tilintar dos copos. Alessandro já tinha uma mulher no colo, rindo e bebendo, tentando afogar a irritação que sentia.
Mais tarde, ele a levou ao carro e seguiram para um hotel. No quarto, Alessandro entregou-se à luxúria com intensidade, como se pudesse esquecer seus próprios demônios no calor dos corpos.
Quando tudo terminou, a mulher, ainda nua, apoiou-se na cama, olhando-o com um sorriso malicioso:
— Nossa, você é tão gostoso. Espero que fiquemos mais vezes.
Ele sorriu com arrogância, puxando-a para um último beijo antes de se vestir.
— Quem sabe — respondeu com um tom despreocupado.
Horas depois, Alessandro retornou ao apartamento. O ambiente estava silencioso, iluminado apenas por uma luz baixa e aconchegante. Ao entrar, cruzou com Serena, que saía da cozinha em direção à sala. Ela levou um leve susto ao vê-lo surgir na penumbra, levando a mão à boca antes de soltar um sorriso hesitante:
— Que susto...
Ele a observou por um instante, seus olhos estreitados, e o sorriso que se formou era irônico, quase c***l.
— Estava me esperando, minha querida esposa?
Serena sentiu o cheiro forte de álcool e respondeu, nervosa:
— N-não... eu só...
Antes que pudesse terminar, Alessandro interrompeu com sarcasmo:
— Não precisava se incomodar. Eu estava muito bem. Na verdade, até demais.
Respirando fundo, ele deu um sorriso debochado e seguiu para o quarto, sem mais explicações.
Serena ficou parada no mesmo lugar, com o coração batendo mais forte pela interação breve. Apesar do tom ácido de Alessandro, a proximidade inesperada a desconcertou. Sentindo-se inquieta, ela continuou até o seu quarto, tentando acalmar os pensamentos confusos que a assaltavam.