No dia seguinte, o sol já iluminava a varanda da fazenda, pintando as tábuas de madeira de dourado e trazendo o cheiro fresco da terra úmida. Alessandro e Inácio estavam terminando de ajustar as rédeas dos cavalos para um passeio pela propriedade, um momento de negócios e conversa. Serena, com os olhos vivos e curiosos, aproximou-se dos dois. Seu sorriso era suave, e havia um brilho de expectativa em seu olhar.
— Posso ir com vocês? — ela pediu, quase ansiosa. — Faz tanto tempo que não ando a cavalo...
Inácio abriu um sorriso acolhedor, seu rosto se iluminando.
— Claro, Serena. Vou pedir que preparem um bom cavalo, bem manso — respondeu com gentileza.
Alessandro, no entanto, parecia mais sério. Seus lábios se contraíram e sua expressão endureceu um pouco.
— Acho melhor não, Serena. Você pode não ter prática suficiente para acompanhar.
— Não tem perigo — insistiu ela, passando uma mecha de cabelo atrás da orelha. — E vão escolher um cavalo tranquilo, não é?
Ele suspirou profundamente, resignado, e assentiu, desviando o olhar.
Silvino foi chamado para preparar os cavalos. Ele se aproximou com o cenho carregado e um olhar frio em direção a Serena. Ainda irritado com a moça por conta de antigos atritos, escolheu de propósito um cavalo que ainda estava em fase de adestramento — um animal impetuoso, nervoso e traiçoeiro.
Quando os cavalos estavam prontos, um empregado ajudou Serena a montar. O olhar do homem era de preocupação; ele sabia que aquele cavalo não era para iniciantes. Aproximou-se de Silvino, com a testa franzida.
— Senhor Silvino… tem certeza de que esse é o cavalo certo para a senhorita? Ele ainda…
— Cala a boca! — cortou Silvino com voz dura e olhos semicerrados. — Não é da sua conta as escolhas dos patrões.
O empregado engoliu em seco, mas se afastou com o coração apertado.
A manhã era clara, o cheiro das flores silvestres pairava no ar, e o canto dos pássaros parecia suave demais para o que viria. Montados, Alessandro e Inácio conversavam sobre a viagem de volta para a capital.
— Infelizmente, amanhã vocês já retornam — disse Inácio, sua voz carregada de melancolia. — Eleonora está triste com isso.
Serena, segurando firme as rédeas, sorriu gentilmente.
— Eu sei, mas hoje vamos passear pela cidade. Espero que isso a deixe feliz.
Alessandro respirou fundo, o maxilar tenso. Ele apertou os lábios, desviando o olhar de Serena.
— Pai, não estamos aqui só para passeio. Vamos tratar logo dos assuntos da fazenda.
Enquanto eles conversavam, Silvino, de longe, mascava uma goiaba verde com um sorriso perverso nos lábios, olhando fixamente para Serena. Ele sabia que aquele cavalo, ao menor susto, disparava como uma flecha.
Foi então que, sem aviso, um cachorro surgiu correndo e latindo, saltando de um arbusto. O cavalo de Serena, de olhos arregalados, empinou as patas dianteiras com um relincho alto e assustador. Serena soltou um grito de surpresa, tentando desesperadamente se segurar.
— Alessandro! — ela gritou, a voz embargada de medo.
O cavalo disparou desgovernado, as patas batendo forte no chão de terra. Alessandro ficou pálido por um instante, depois cravou as esporas no próprio cavalo, arrancando-o em uma corrida.
— Serena! — gritou, a voz rouca de pânico.
Inácio, de olhar arregalado, o seguiu, o vento levando seu chapéu enquanto galopava.
O vento chicoteava o rosto de Serena enquanto o cavalo corria sem direção. Ela tentava segurar as rédeas, o coração batendo tão forte que doía. Alessandro aproximava-se a galope, os olhos fixos nela, o rosto tenso, cada músculo do corpo vibrando em desespero.
— Serena, segura firme! — ele gritava, a voz falhando de medo.
Mas era tarde demais. O cavalo empinou outra vez, e Serena foi arremessada ao chão, seu corpo batendo contra a terra com um som seco. Ela caiu de lado, a cabeça batendo forte. Seu corpo ficou mole, imóvel, um filete de sangue escorrendo de sua testa.
Alessandro prendeu a respiração e saltou do cavalo antes mesmo de ele parar completamente, correndo até ela. Seus joelhos bateram no chão com força ao se ajoelhar ao lado de Serena. Seu rosto estava branco como cera.
— Pai, rápido! Chame o médico! — gritou, a voz rouca e urgente.
Inácio também desmontou, o rosto marcado pela preocupação.
— Vou agora! — disse, montando novamente e disparando de volta para a fazenda. Nenhum deles tinha levado celular, e o desespero tomava conta.
Alessandro ficou ao lado de Serena, as mãos tremendo enquanto verificava sua pulsação. Seu peito subia e descia rapidamente, e o som de sua própria respiração parecia ensurdecedor. Ele a olhava como se pudesse trazê-la de volta apenas com o olhar.
O silêncio foi quebrado pelo barulho de carros chegando, depois o som apressado de passos. A ambulância e o médico da família surgiram como um sopro de esperança.
— Anda, p***a! — esbravejou Alessandro ao ver o médico. — Por que demoraram tanto?
O médico se ajoelhou ao lado dela, examinando-a com rapidez e calma.
— Senhor, ela está viva. Mas vamos levá-la ao hospital para ter certeza da gravidade.
— Então vamos logo! — disse Alessandro, a voz vibrando de impaciência e medo.
— Senhor, o senhor está muito nervoso. Talvez fosse melhor…
— Eu vou com ela! — rosnou Alessandro, cortando qualquer argumento.
Inácio, que chegava no cavalo ofegante, falou com a voz grave:
— Eu também vou para lá, filho. Só vou avisar sua mãe e Alzira. Elas estão desesperadas.
Alessandro assentiu sem dizer palavra, entrando na ambulância ao lado de Serena, os olhos fixos no rosto dela.
No hospital, a correria continuou. Alessandro fazia a ficha com a caneta tremendo na mão. A enfermeira tentou acalmá-lo.
— Senhor, ela está sendo atendida. Por favor, espere um pouco.
Ele a olhou com fúria.
— Esperar? — riu sem humor, um riso seco. — Fala sério…
Quando Inácio chegou com Eleonora e Alzira, elas estavam visivelmente aflitas, os olhos vermelhos de tanto chorar. Alessandro andava de um lado para o outro, as mãos fechadas em punhos.
— Alessandro, calma — pediu Inácio, a voz firme mas cheia de preocupação. — Não adianta se desesperar.
Eleonora soluçou, abraçada a Alzira, enquanto olhavam para Alessandro com medo do que poderia acontecer.
Finalmente, o médico surgiu, com a expressão séria, mas calma.
— Quem é o esposo de Serena Campos Castellani?
Alessandro praticamente saltou à frente.
— Eu! Como ela está?
— Por sorte, ela está bem — disse o médico, com alívio. — Ela bateu a testa, mas não houve fratura ou trauma grave. Está medicada e vai precisar descansar.
Um suspiro de alívio escapou dos lábios de todos. Eleonora e Alzira exclamaram juntas:
— Graças a Deus…
Inácio fechou os olhos, as mãos nos joelhos, como se uma tonelada tivesse sido tirada de suas costas.
Mas Alessandro, ainda com o olhar de fera, falou com a voz firme e baixa:
— Me leve até ela. Agora.
— Senhor, acho melhor…
— Melhor o c*****o — rosnou Alessandro. — Me leve até ela agora!
— Sim, senhor. Por aqui — cedeu o médico.
Alessandro entrou no quarto e parou, o coração batendo descompassado. Serena dormia, a testa com um esparadrapo branco cobrindo o corte. Ele se aproximou devagar, como se temesse quebrá-la. Passou dois dedos com suavidade pelo rosto dela, sentindo a maciez da pele.
Os olhos de Serena se abriram devagar, confusos.
— Alessandro… eu… — murmurou, a voz fraca.
— Shh… — ele disse, num sussurro grave. — Tenta descansar. Você está segura agora.
Ela suspirou, as pálpebras pesadas.
— Eu tive tanto medo… — confessou, a voz embargada.
Ele a olhou intensamente, o peito apertado, mas só disse:
— Descanse, Serena.
Ela fechou os olhos outra vez, afundando no sono.
Alessandro permaneceu ali, olhando-a como se ela fosse a coisa mais preciosa do mundo. Só então saiu para avisar aos outros que Serena estava em segurança, mas o medo ainda ardia no fundo de seu peito.