Capítulo 31 – Tempestade no Coração

1001 Words
Serena entrou no apartamento em silêncio. A luz fraca do corredor lançava sombras no ambiente, refletindo o cansaço estampado em seu rosto. Sem forças para enfrentar mais nada, caminhou lentamente até o quarto, jogando-se na cama e fechando os olhos, tentando esquecer a noite perturbadora. --- Na manhã seguinte, ela abriu os olhos lentamente, sentindo o peso do dia anterior ainda sobre os ombros. Ao se sentar, notou a jaqueta de Miguel sobre a cadeira. Um leve rubor tomou conta de seu rosto ao lembrar-se da noite passada. Levantou-se, tirou a roupa e foi para o banho. A água quente escorria por seu corpo, mas não levava embora o nó apertado em seu peito. Pensamentos sobre a conversa desconfortável que teria com Miguel e Alice pairavam em sua mente. Não havia mais como fugir da verdade. --- Na empresa Enquanto isso, Alessandro estava na sala de reuniões com Lucas. O amigo observava o jeito inquieto de Alessandro e resolveu comentar sobre Serena: — Cara, a Serena parece ser uma mulher incrível. Além de linda — disse Lucas, cruzando os braços e inclinando-se na cadeira. Alessandro ergueu os olhos, cerrando a mandíbula. — Incrível? — riu com amargura. — Você acha que eu devo aceitar esse casamento ridículo só porque ela é bonita? Por favor! Eu não acredito nem por um segundo que ela seja tão inocente quanto parece. Lucas franziu a testa, avaliando o amigo. — Já pensou que talvez esteja errado? Ela parece gostar de você. Sinceramente, fiquei com pena dela ontem. Talvez você devesse pegar mais leve. Alessandro passou a mão no rosto, visivelmente irritado. — f**a-se, Lucas. Não quero pensar nisso. Só quero minha vida de volta... antes dessa palhaçada. Lucas suspirou. Conhecia Alessandro o suficiente para saber que ele raramente admitia qualquer sentimento além de raiva ou desejo. Sem insistir, mudou o assunto para os negócios. --- Na faculdade Serena sabia que a conversa que tanto temia finalmente aconteceria. Alice a chamou de longe, acenando com um sorriso animado. — Vamos! Miguel já está esperando — disse Alice, puxando Serena pelo braço. Sentados em um canto mais reservado, Miguel a encarava com um olhar firme, esperando respostas. — Preciso contar algo a vocês... — Serena começou, a voz baixa e vacilante. — Meu casamento com Alessandro é de fachada. Alice arregalou os olhos. — O quê? Como assim?! Miguel, por outro lado, manteve-se calado, esperando por mais explicações. Serena respirou fundo e começou a contar toda a história, desde o início. Quando terminou, Miguel bateu com força na mesa. — Então foi por isso que aquele i****a te deixou sozinha ontem! Que o****o! — Miguel! — Alice repreendeu, mas seus olhos também estavam cheios de preocupação. — Amiga, eu entendo... Mas você foi muito ingênua. Como não percebeu que estava sendo manipulada? Miguel cruzou os braços e disse: — Ela foi ingênua porque foi criada em uma fazenda, Alice. Não é tão fácil enxergar essas coisas quando você não conhece o mundo. Alice suspirou, tentando aliviar a tensão. — Tá bom, tá bom. Agora precisamos pensar no futuro. Logo você estará livre desse casamento. Serena abaixou os olhos. — Espera aí... — Alice inclinou-se. — Você ainda gosta dele, não é? O silêncio de Serena confirmou. — Isso pode ser complicado, mas talvez essa situação seja uma oportunidade... Quem sabe algo mude entre vocês? Serena esboçou um sorriso tímido, mas não disse nada. --- Mais tarde, no apartamento Alessandro estava sentado no sofá, segurando um copo de uísque e encarando Serena quando ela entrou. — Finalmente chegou — disse ele, com a voz fria. — Precisamos ir à fazenda. Vou confirmar a data depois. Serena abraçou o próprio corpo, sentindo o desconforto no ar. — Tudo bem — respondeu, tentando manter a voz calma. Alessandro estreitou os olhos, como se quisesse decifrar o que se passava dentro dela. Sem dizer mais nada, pegou as chaves e saiu do apartamento. --- Horas depois Serena jantava sozinha, encarando o prato sem fome. Sabia que Alessandro provavelmente não voltaria naquela noite. A imagem dele nos braços de outra mulher atormentava sua mente. Respirou fundo, mas a dor apertava seu peito. --- De madrugada, Serena caminhava até a cozinha para pegar um copo d’água quando a porta se abriu. Alessandro entrou, visivelmente bêbado. — Alessandro! — exclamou, assustada. Ele a olhou com desprezo. — Por que você não desaparece de uma vez?! — Sua voz saiu áspera e carregada. Serena abaixou o olhar e tentou passar por ele, mas Alessandro tropeçou em um móvel. — Deixa que eu te ajudo. Você bebeu demais — disse Serena, aproximando-se. Ele afastou o braço com força. — Eu não preciso da sua ajuda! — Dá pra parar com isso?! — gritou Serena, a voz embargada. — Como se eu fosse a única culpada por tudo isso! Alessandro se virou lentamente, os olhos brilhando de raiva. — Está ficando corajosa agora, hein? — Sorriu com sarcasmo. — Isso até te dá um pouco de graça. — Chega, Alessandro! — Ela recuou. — Eu já entendi o meu lugar. Sei que não sou nada pra você. Mas você não faz ideia de como isso também está sendo difícil pra mim! Ele avançou, agarrando o braço dela com força. — Difícil? Vou te mostrar o quão difícil isso pode ser! Puxando-a pela mão, Alessandro abriu a porta da varanda. Serena resistiu. — O que você está fazendo? Solta! Está me machucando! Ele a empurrou para fora, e a porta se fechou atrás dela. — Aí está o seu lugar. Serena bateu na porta, desesperada. — Alessandro! Abre essa porta! Por favor! Gotas de chuva começaram a cair. Ela continuou, com a voz embargada: — Alessandro... Desistindo de chamar, encolheu-se em um canto, tremendo. — Por favor... — sussurrou entre soluços. — Tenho medo de tempestades... Do lado de dentro, Alessandro jogou-se na cama, ainda tomado pelo álcool. Mas, mesmo enquanto tentava dormir, o eco das súplicas de Serena continuava ressoando em sua mente, como um trovão distante.
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