Serena entrou no apartamento em silêncio. A luz fraca do corredor lançava sombras no ambiente, refletindo o cansaço estampado em seu rosto. Sem forças para enfrentar mais nada, caminhou lentamente até o quarto, jogando-se na cama e fechando os olhos, tentando esquecer a noite perturbadora.
---
Na manhã seguinte, ela abriu os olhos lentamente, sentindo o peso do dia anterior ainda sobre os ombros. Ao se sentar, notou a jaqueta de Miguel sobre a cadeira. Um leve rubor tomou conta de seu rosto ao lembrar-se da noite passada. Levantou-se, tirou a roupa e foi para o banho.
A água quente escorria por seu corpo, mas não levava embora o nó apertado em seu peito. Pensamentos sobre a conversa desconfortável que teria com Miguel e Alice pairavam em sua mente. Não havia mais como fugir da verdade.
---
Na empresa
Enquanto isso, Alessandro estava na sala de reuniões com Lucas. O amigo observava o jeito inquieto de Alessandro e resolveu comentar sobre Serena:
— Cara, a Serena parece ser uma mulher incrível. Além de linda — disse Lucas, cruzando os braços e inclinando-se na cadeira.
Alessandro ergueu os olhos, cerrando a mandíbula.
— Incrível? — riu com amargura. — Você acha que eu devo aceitar esse casamento ridículo só porque ela é bonita? Por favor! Eu não acredito nem por um segundo que ela seja tão inocente quanto parece.
Lucas franziu a testa, avaliando o amigo.
— Já pensou que talvez esteja errado? Ela parece gostar de você. Sinceramente, fiquei com pena dela ontem. Talvez você devesse pegar mais leve.
Alessandro passou a mão no rosto, visivelmente irritado.
— f**a-se, Lucas. Não quero pensar nisso. Só quero minha vida de volta... antes dessa palhaçada.
Lucas suspirou. Conhecia Alessandro o suficiente para saber que ele raramente admitia qualquer sentimento além de raiva ou desejo. Sem insistir, mudou o assunto para os negócios.
---
Na faculdade
Serena sabia que a conversa que tanto temia finalmente aconteceria. Alice a chamou de longe, acenando com um sorriso animado.
— Vamos! Miguel já está esperando — disse Alice, puxando Serena pelo braço.
Sentados em um canto mais reservado, Miguel a encarava com um olhar firme, esperando respostas.
— Preciso contar algo a vocês... — Serena começou, a voz baixa e vacilante. — Meu casamento com Alessandro é de fachada.
Alice arregalou os olhos.
— O quê? Como assim?!
Miguel, por outro lado, manteve-se calado, esperando por mais explicações.
Serena respirou fundo e começou a contar toda a história, desde o início. Quando terminou, Miguel bateu com força na mesa.
— Então foi por isso que aquele i****a te deixou sozinha ontem! Que o****o!
— Miguel! — Alice repreendeu, mas seus olhos também estavam cheios de preocupação.
— Amiga, eu entendo... Mas você foi muito ingênua. Como não percebeu que estava sendo manipulada?
Miguel cruzou os braços e disse:
— Ela foi ingênua porque foi criada em uma fazenda, Alice. Não é tão fácil enxergar essas coisas quando você não conhece o mundo.
Alice suspirou, tentando aliviar a tensão.
— Tá bom, tá bom. Agora precisamos pensar no futuro. Logo você estará livre desse casamento.
Serena abaixou os olhos.
— Espera aí... — Alice inclinou-se. — Você ainda gosta dele, não é?
O silêncio de Serena confirmou.
— Isso pode ser complicado, mas talvez essa situação seja uma oportunidade... Quem sabe algo mude entre vocês?
Serena esboçou um sorriso tímido, mas não disse nada.
---
Mais tarde, no apartamento
Alessandro estava sentado no sofá, segurando um copo de uísque e encarando Serena quando ela entrou.
— Finalmente chegou — disse ele, com a voz fria. — Precisamos ir à fazenda. Vou confirmar a data depois.
Serena abraçou o próprio corpo, sentindo o desconforto no ar.
— Tudo bem — respondeu, tentando manter a voz calma.
Alessandro estreitou os olhos, como se quisesse decifrar o que se passava dentro dela. Sem dizer mais nada, pegou as chaves e saiu do apartamento.
---
Horas depois
Serena jantava sozinha, encarando o prato sem fome. Sabia que Alessandro provavelmente não voltaria naquela noite. A imagem dele nos braços de outra mulher atormentava sua mente. Respirou fundo, mas a dor apertava seu peito.
---
De madrugada, Serena caminhava até a cozinha para pegar um copo d’água quando a porta se abriu. Alessandro entrou, visivelmente bêbado.
— Alessandro! — exclamou, assustada.
Ele a olhou com desprezo.
— Por que você não desaparece de uma vez?! — Sua voz saiu áspera e carregada.
Serena abaixou o olhar e tentou passar por ele, mas Alessandro tropeçou em um móvel.
— Deixa que eu te ajudo. Você bebeu demais — disse Serena, aproximando-se.
Ele afastou o braço com força.
— Eu não preciso da sua ajuda!
— Dá pra parar com isso?! — gritou Serena, a voz embargada. — Como se eu fosse a única culpada por tudo isso!
Alessandro se virou lentamente, os olhos brilhando de raiva.
— Está ficando corajosa agora, hein? — Sorriu com sarcasmo. — Isso até te dá um pouco de graça.
— Chega, Alessandro! — Ela recuou. — Eu já entendi o meu lugar. Sei que não sou nada pra você. Mas você não faz ideia de como isso também está sendo difícil pra mim!
Ele avançou, agarrando o braço dela com força.
— Difícil? Vou te mostrar o quão difícil isso pode ser!
Puxando-a pela mão, Alessandro abriu a porta da varanda. Serena resistiu.
— O que você está fazendo? Solta! Está me machucando!
Ele a empurrou para fora, e a porta se fechou atrás dela.
— Aí está o seu lugar.
Serena bateu na porta, desesperada.
— Alessandro! Abre essa porta! Por favor!
Gotas de chuva começaram a cair. Ela continuou, com a voz embargada:
— Alessandro...
Desistindo de chamar, encolheu-se em um canto, tremendo.
— Por favor... — sussurrou entre soluços. — Tenho medo de tempestades...
Do lado de dentro, Alessandro jogou-se na cama, ainda tomado pelo álcool. Mas, mesmo enquanto tentava dormir, o eco das súplicas de Serena continuava ressoando em sua mente, como um trovão distante.