Serena estava na cozinha, segurando um copo de suco gelado. Enquanto mexia distraidamente o líquido, seus pensamentos a consumiam. Por que, mesmo depois de tudo, ela ainda se importava tanto com Alessandro? Por que desejava que aquele casamento forçado desse certo? Desde o momento em que o viu, um sentimento inexplicável havia surgido dentro dela, crescendo a cada olhar, a cada palavra dele — mesmo as mais duras.
Respirando fundo, ela pegou o copo e decidiu levá-lo até o quarto dele. Sabia que as compras do shopping já estariam lá, organizadas a mando de Eleonora. Talvez aquele pequeno gesto fosse uma forma de tentar se aproximar.
Quando abriu a porta, Alessandro estava no final de uma ligação. Seu tom era firme e autoritário, o que a fez hesitar por um segundo antes de entrar.
— Oi... — disse ela, nervosa. — Eu trouxe um pouco de suco. Está muito bom.
Alessandro desligou o telefone, virou-se lentamente e a encarou com um olhar frio. Sua expressão era indiferente, quase impassível.
— Por que isso? — perguntou, com a voz carregada de desconfiança.
Serena ficou tensa, segurando o copo com as duas mãos para evitar que ele tremesse.
— Eu... eu achei que você gostaria. E que talvez... pudesse se sentir melhor.
Ela tentou sorrir, mas o nervosismo tornou o gesto frágil. Alessandro estreitou os olhos e cruzou os braços.
— Me sentir melhor? — repetiu, com um tom cortante. — Eu só vou me sentir melhor quando essa farsa de casamento acabar. E mais uma coisa, Serena... — Ele deu um passo à frente, fazendo-a recuar instintivamente. — Não estamos na frente dos meus pais agora. Não precisa fingir.
Serena piscou algumas vezes e, ainda segurando o copo, caminhou até a mesinha e o colocou ali.
— Ma-mas eu não estou fingindo... — murmurou, quase inaudível.
Sem conseguir encarar Alessandro por mais tempo, virou-se e foi para o banheiro. Assim que fechou a porta, encostou-se nela e respirou fundo, lutando contra o nó na garganta.
Enquanto isso, Alessandro soltou um suspiro pesado e caiu na cama, fechando os olhos como se quisesse esquecer a presença dela ali.
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Na manhã seguinte
O som de batidas na porta fez Alessandro despertar. Ainda meio sonolento, ele olhou para Serena, que já estava acordada e o encarava assustada. Antes de abrir a porta, fez sinal para que ela deitasse ao lado dele.
— Depressa — sussurrou.
Serena, com o coração acelerado, pegou as coisas do sofá e se acomodou ao lado dele na cama.
— Filho? — a voz de Eleonora soou do outro lado da porta.
Alessandro abriu a porta, forçando um sorriso.
— Bom dia, mãe.
— Bom dia, querido. Desculpe acordar vocês. Vou voltar mais cedo para a fazenda e queria me despedir.
Ele deu espaço para que ela entrasse. Serena se ajeitou na cama, tentando parecer natural.
— Não precisa se levantar, minha querida. — Eleonora se aproximou e depositou um beijo carinhoso na testa dela. — Qualquer coisa, não hesite em me ligar.
— Obrigada — Serena respondeu, tentando manter a voz firme.
Eleonora então virou-se para Alessandro.
— Espero que não demore muito para me visitar na fazenda.
Alessandro assentiu, mas seu olhar denunciava contrariedade. Assim que Eleonora saiu, ele fechou a porta e virou-se para Serena.
— Não me espere hoje. Talvez eu nem durma em casa. — Sua voz era dura, mas Serena percebeu algo mais... talvez uma tensão oculta.
Ela apenas assentiu e, após ele sair, se levantou para se preparar para a faculdade.
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Mais tarde, na faculdade
Serena conversava com Alice e Miguel no intervalo entre as aulas.
— O que acham de irmos ao Aurum Bar hoje? — sugeriu Alice, animada.
— Ótima ideia — disse Miguel. — Eu pago hoje.
— Melhor ainda — riu Alice. — E você, Serena?
— Eu... acho que sim. Nunca fui lá.
— Você vai gostar — garantiu Miguel.
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À noite
De volta ao apartamento, Serena se arrumava. De certa forma, estava feliz por ter feito amizade com Miguel e Alice. E feliz também por sair e conhecer lugares que nunca imaginou conhecer. Sem saber o que escolher no meio de tantas roupas que a senhora Eleonora comprou, optou por um vestido justo que marcava suas curvas e destacava sua feminilidade. Escolheu uma sandália baixa, pois ainda estava tentando se acostumar com calçados. A maquiagem que aprendera era simples, mas realçava seus traços delicados. Olhou-se no espelho, sentindo-se diferente, quase como outra pessoa.
— É só uma questão de costume... — murmurou para si mesma, tentando se convencer.
Pegou a bolsa e chamou um táxi. No caminho, Alessandro invadiu seus pensamentos. Mas logo ela se concentrou nas ruas, onde tudo era incrivelmente lindo para ela.
Seu celular tocou.
— Já estamos aqui! — disse Alice, empolgada.
— Estou chegando — respondeu Serena.
Assim que o táxi parou, Alice e Miguel se aproximaram.
— Meu Deus, Serena! — exclamou Alice. — Você está maravilhosa! Que corpo é esse?!
Miguel engoliu em seco e coçou a nuca.
— Alice tem razão. Você está... incrível.
Serena sorriu, tímida.
— Obrigada. Vocês também estão ótimos.
Alice deu um passo à frente e pegou a mão de Serena.
— Vamos entrar? Está lotado, e eu sinto que hoje é o meu dia de arrumar um gatinho.
Eles riram juntos e seguiram para dentro do bar.