O carro parou em frente ao humilde barraco de Serena. Alessandro, com uma expressão fria, estendeu um comprimido e uma garrafa de água para ela.
— Tome de uma vez — ordenou, a voz baixa, mas firme.
Serena pegou os itens com mãos trêmulas e tomou sem hesitar, ainda processando a noite que tiveram. O silêncio entre eles era denso, carregado de emoções não ditas.
Quando ela abriu a porta para sair, Alessandro a surpreendeu, segurando delicadamente seu rosto com uma das mãos. Ele se inclinou, seus olhos fixos nos lábios dela, e a beijou com intensidade. Ao se afastar, murmurou:
— Foi delicioso.
Serena, corando, esboçou um sorriso tímido.
— Boa noite, Alessandro — disse suavemente, saindo do carro e fechando a porta com cuidado.
Enquanto ela entrava em casa, Alessandro permaneceu parado, observando-a desaparecer na escuridão. Internamente, ele não sentia remorso, mas sim uma satisfação egoísta.
"Finalmente," pensou, enquanto um sorriso satisfeito surgia em seus lábios.
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O amanhecer trouxe reflexões para Serena. Deitada em sua cama, revivia cada momento da noite anterior. O beijo, o toque, a sensação inédita que ele causara. Apesar disso, uma pequena dúvida persistia: "Será que ele realmente gosta de mim, ou é apenas o jeito dele?" Ela balançou a cabeça, tentando afastar os pensamentos negativos.
Levantou-se lentamente, sentindo um leve desconforto em seu corpo, lembrança da i********e compartilhada.
Após um banho, vestiu um vestido simples e foi para a fazenda. Era o aniversário do senhor Inácio, e ela queria que tudo fosse perfeito.
Na cozinha, Serena se dedicava ao doce favorito dele, quando dona Alzira entrou, notando sua expressão distante.
— Menina, está tudo bem? Não a ouvi cantar hoje nem uma vez.
— Estou só distraída, dona Alzira — respondeu Serena, tentando sorrir. — Quero que o doce do senhor Inácio saia perfeito.
— Com essa dedicação, tenho certeza de que ele vai adorar — disse Alzira com um sorriso encorajador, antes de voltar para seus afazeres.
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O Jantar
Quando a noite chegou, Serena estava nervosa. Vestiu seu melhor vestido, um modelo branco de ciganinha, já surrado, e calçou uma sapatilha apertada, determinada a parecer apresentável.
Chegando à fazenda, as luzes iluminavam o cenário luxuoso. Pegou o doce cuidadosamente na cozinha e foi ao encontro do senhor Inácio.
— Boa noite, senhor Inácio, dona Eleonora — cumprimentou Serena, tentando esconder sua timidez.
— Boa noite, minha querida! — disse Eleonora com um sorriso.
— Fiz seu doce favorito, senhor Inácio. Espero que goste — disse Serena, entregando a travessa.
— Que consideração maravilhosa, menina! Muito obrigado! — respondeu ele, com um sorriso sincero.
Enquanto Eleonora e Inácio se afastavam para cumprimentar outros convidados, Serena ouviu um sussurro ácido:
— Veja se isso é presente de se dar. Que s*******o — disse Betina, aproximando-se.
Serena ignorou o comentário venenoso e logo avistou Alessandro. Criando coragem, se aproximou e disse:
— O-oi, Alessandro. Posso falar com você?
Alessandro, enquanto tomava sua bebida, respondeu friamente:
— Agora não, estou ocupado. Outra hora.
Serena assentiu, sem jeito.
Betina, insinuante, aproveitou a situação. Beijou Alessandro no rosto e murmurou alto o suficiente para Serena ouvir:
— Essa selvagem ainda está aqui? Lamentável, Alessandro.
Serena esperava uma defesa, uma palavra, mas Alessandro apenas deu um gole no drink, mantendo-se indiferente.
Betina, notando a dor nos olhos de Serena, alfinetou novamente:
— E olha, ela até está calçada. Que milagre!
Serena, ferida e humilhada, tentou manter a compostura.
— Não vim aqui para causar confusão. Boa noite.
Ela se afastou, os olhos marejados, sentindo-se invisível aos olhos de Alessandro.
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Confronto na Varanda
Após algum tempo, Serena estava a caminho da cozinha, quando viu Alessandro e Betina na varanda. Betina estava perto demais dele, as mãos em seu peito, falando algo que Serena não conseguiu ouvir.
Seu coração apertou.
— Alessandro… — chamou, a voz embargada.
Ele olhou para ela, a expressão indecifrável, enquanto Betina, irritada, se virou abruptamente.
— Está louca, garota? Saia daqui!
— Não entendo por que me trata assim — disse Serena. —
Nunca fiz nada a você.
Betina deu um passo à frente, com desdém nos olhos.
— Porque você é uma ninguém. Não deveria nem estar aqui.
— Talvez você devesse olhar no espelho para encontrar uma ninguém de verdade — respondeu Serena, com firmeza inesperada.
Betina bufou, mas Alessandro nada fez para intervir. Serena esperou, em vão, por alguma palavra dele. Quando nada veio, ela apenas saiu, lutando para segurar as lágrimas.
Enquanto caminhava para casa, encontrou Luiz Fernando vindo a cavalo. Ao vê-la, ele desceu rapidamente.
— Serena, o que aconteceu?
Ela tentou responder, mas sua voz falhou. Tirando os sapatos que a machucavam, ela pediu:
— Pode me levar para casa, por favor?
Ele a ajudou a subir no cavalo e, no caminho, sentiu Serena chorar contra suas costas. Ao chegarem, Luiz Fernando insistiu:
— Não vou sair daqui até você me contar o que houve.
Serena suspirou, derrotada.
— Talvez você estivesse certo… sobre ele.
Luiz Fernando entendeu de imediato.
— Ele… Ele se aproveitou de você?
— Não — disse Serena, com a voz fraca. — Foi… consentido. Eu fui uma boba.
Furioso, Luiz Fernando subiu no cavalo novamente, determinado a confrontar Alessandro. Serena o segurou pelo braço, implorando:
— Por favor, não faça isso. Hoje é aniversário do senhor Inácio.
Ele hesitou, mas cedeu, abraçando-a enquanto ela chorava em seus braços. Apesar de sua promessa, Luiz Fernando decidiu que não deixaria isso assim.