O sol m*l havia nascido quando Alessandro chegou ao escritório do pai, a pedido dele. O ambiente carregava o perfume forte de madeira polida e couro envelhecido, enquanto Inácio, sério, conversava em voz baixa com o advogado da família. Quando Alessandro entrou, o pai levantou o olhar, suas feições firmes e inabaláveis.
— Alessandro, sente-se. — O tom autoritário de Inácio não deixava margem para questionamentos.
Assim que Alessandro se acomodou na cadeira à frente da mesa pesada, Inácio empurrou dois documentos na direção do filho.
— Aqui estão dois papéis. Um é sobre a transferência dos bens da família, que será bloqueada caso você não se case com Serena por tempo indefinido. O outro é a documentação necessária para formalizar sua união com ela.
Por um instante, Alessandro ficou imóvel, o rosto rígido enquanto os olhos fixavam os papéis. Seu maxilar travou, e ele respirou fundo, lutando contra a incredulidade que o dominava.
— O senhor não pode estar falando sério...
Inácio cruzou os braços, inclinando-se levemente para frente.
— Estou mais do que sério. E quero que fique claro: se eu souber que você a está maltratando, tomarei providências imediatamente.
Estou te dando a chance de escolher, Alessandro.
O jovem riu com desdém, passando a mão pelo rosto como quem tentava controlar a fúria crescente.
— Então, por causa da sua loucura, eu também tenho que enlouquecer? — Ele suspirou, quase em súplica. — Pai, pensa bem. Isso é insano.
— Decida. Agora! — A voz de Inácio cortou o ar como uma lâmina.
Alessandro cerrou os punhos, desviando o olhar para o chão antes de responder com relutância.
— Casamento.
Inácio assentiu com satisfação, como se houvesse vencido uma batalha.
— Ótimo. Amanhã cedo será o casamento.
Alessandro se levantou sem dizer mais nada, sua expressão fechada e dura.
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Na cozinha, Serena lavava a louça quando Eleonora apareceu com um semblante cuidadoso.
— Serena, pode me acompanhar por um momento?
— Claro, dona Eleonora.
Elas caminharam até a varanda, onde a brisa leve balançava as cortinas.
Eleonora virou-se para Serena, os olhos cheios de ternura e preocupação.
— Inácio marcou o casamento civil para amanhã cedo. É isso mesmo que você quer?
Serena sentiu o coração disparar e levou a mão ao peito.
— Nossa... tão rápido! Alessandro ainda não falou comigo, mas sim, é isso que eu quero. Desde que o vi, sinto algo que não sei explicar.
Eleonora segurou as mãos dela com gentileza.
— Minha querida, converse com ele antes. Não será fácil, e você precisa estar preparada.
— Ok, vou procurá-lo.
— Ah, e tome este dinheiro. Vá à cidade comprar algo especial para amanhã.
Serena hesitou, mas Eleonora insistiu até que ela aceitasse.
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Na pequena cidade, Serena encontrou um vestido branco simples, com mangas longas e tecido fluido.
— Este é perfeito, dona Alzira.
Alzira apontou para uma sandália delicada com brilho.
— E essa?
— Acho melhor aquela rasteirinha. Vou me sentir mais segura.
De volta à fazenda, Serena avistou Alessandro na varanda, servindo-se de uma bebida. Com nervosismo evidente, apertou a sacola contra o peito.
— O-oi, Alessandro. Posso falar com você?
Ele virou lentamente, sem esconder a indiferença no olhar.
— Diga.
Serena respirou fundo antes de se sentar à sua frente.
— Sua mãe me disse que nos casaremos amanhã. Mas desde aquela noite, você tem estado distante...
Alessandro interrompeu, irritado.
— Distante? Você não percebe que...
Antes que pudesse terminar, Inácio surgiu.
— Ah, querida, já sabe do casamento?
— Sim, estarei pronta amanhã.
— Excelente. Alessandro, venha comigo.
Alessandro terminou sua bebida de um gole e seguiu o pai sem olhar para trás.
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Durante o jantar, Serena chegou com hesitação. Alessandro já estava sentado, calado. A conversa era fria, até que Inácio perguntou:
— O que fará amanhã, Alessandro?
Ele levantou o olhar, seus olhos brilhando com desafio.
— Voltarei para casa.
— Já avisou sua noiva?
Alessandro virou-se para Serena, seu tom cortante.
— Prepare-se, porque iremos embora.
Serena engasgou com o susto.
— I-iremos embora?
— Não moro aqui, Serena.
Serena engoliu em seco.
— Tudo bem...
Eleonora tentou aliviar a tensão.
— Você se acostumará, querida. Qualquer coisa, estaremos aqui.
Serena assentiu, mas o nervosismo a consumia.
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Mais tarde, no quarto, Alessandro se serviu de mais uma bebida, encarando o copo com olhar perdido.
— Não posso arriscar. Meu pai perceberia se eu influenciasse Serena. — Ele murmurou para si mesmo, enquanto virava mais uma dose. — Ela é ingênua... não será difícil até eu encontrar uma saída.
Enquanto isso, Serena, em seu pequeno quarto, olhava para o vestido novo com um misto de ansiedade e medo. O brilho das estrelas parecia menos acolhedor naquela noite. Abraçando a pequena bolsa com seus pertences, ela sussurrou:
— Tudo vai mudar... mas eu espero que não doa tanto quanto parece.
Fechando os olhos, tentou reunir forças para enfrentar o dia que viria.