Capítulo 16 – Um Caminho Sem Volta

821 Words
O sol m*l havia nascido quando Alessandro chegou ao escritório do pai, a pedido dele. O ambiente carregava o perfume forte de madeira polida e couro envelhecido, enquanto Inácio, sério, conversava em voz baixa com o advogado da família. Quando Alessandro entrou, o pai levantou o olhar, suas feições firmes e inabaláveis. — Alessandro, sente-se. — O tom autoritário de Inácio não deixava margem para questionamentos. Assim que Alessandro se acomodou na cadeira à frente da mesa pesada, Inácio empurrou dois documentos na direção do filho. — Aqui estão dois papéis. Um é sobre a transferência dos bens da família, que será bloqueada caso você não se case com Serena por tempo indefinido. O outro é a documentação necessária para formalizar sua união com ela. Por um instante, Alessandro ficou imóvel, o rosto rígido enquanto os olhos fixavam os papéis. Seu maxilar travou, e ele respirou fundo, lutando contra a incredulidade que o dominava. — O senhor não pode estar falando sério... Inácio cruzou os braços, inclinando-se levemente para frente. — Estou mais do que sério. E quero que fique claro: se eu souber que você a está maltratando, tomarei providências imediatamente. Estou te dando a chance de escolher, Alessandro. O jovem riu com desdém, passando a mão pelo rosto como quem tentava controlar a fúria crescente. — Então, por causa da sua loucura, eu também tenho que enlouquecer? — Ele suspirou, quase em súplica. — Pai, pensa bem. Isso é insano. — Decida. Agora! — A voz de Inácio cortou o ar como uma lâmina. Alessandro cerrou os punhos, desviando o olhar para o chão antes de responder com relutância. — Casamento. Inácio assentiu com satisfação, como se houvesse vencido uma batalha. — Ótimo. Amanhã cedo será o casamento. Alessandro se levantou sem dizer mais nada, sua expressão fechada e dura. --- Na cozinha, Serena lavava a louça quando Eleonora apareceu com um semblante cuidadoso. — Serena, pode me acompanhar por um momento? — Claro, dona Eleonora. Elas caminharam até a varanda, onde a brisa leve balançava as cortinas. Eleonora virou-se para Serena, os olhos cheios de ternura e preocupação. — Inácio marcou o casamento civil para amanhã cedo. É isso mesmo que você quer? Serena sentiu o coração disparar e levou a mão ao peito. — Nossa... tão rápido! Alessandro ainda não falou comigo, mas sim, é isso que eu quero. Desde que o vi, sinto algo que não sei explicar. Eleonora segurou as mãos dela com gentileza. — Minha querida, converse com ele antes. Não será fácil, e você precisa estar preparada. — Ok, vou procurá-lo. — Ah, e tome este dinheiro. Vá à cidade comprar algo especial para amanhã. Serena hesitou, mas Eleonora insistiu até que ela aceitasse. --- Na pequena cidade, Serena encontrou um vestido branco simples, com mangas longas e tecido fluido. — Este é perfeito, dona Alzira. Alzira apontou para uma sandália delicada com brilho. — E essa? — Acho melhor aquela rasteirinha. Vou me sentir mais segura. De volta à fazenda, Serena avistou Alessandro na varanda, servindo-se de uma bebida. Com nervosismo evidente, apertou a sacola contra o peito. — O-oi, Alessandro. Posso falar com você? Ele virou lentamente, sem esconder a indiferença no olhar. — Diga. Serena respirou fundo antes de se sentar à sua frente. — Sua mãe me disse que nos casaremos amanhã. Mas desde aquela noite, você tem estado distante... Alessandro interrompeu, irritado. — Distante? Você não percebe que... Antes que pudesse terminar, Inácio surgiu. — Ah, querida, já sabe do casamento? — Sim, estarei pronta amanhã. — Excelente. Alessandro, venha comigo. Alessandro terminou sua bebida de um gole e seguiu o pai sem olhar para trás. --- Durante o jantar, Serena chegou com hesitação. Alessandro já estava sentado, calado. A conversa era fria, até que Inácio perguntou: — O que fará amanhã, Alessandro? Ele levantou o olhar, seus olhos brilhando com desafio. — Voltarei para casa. — Já avisou sua noiva? Alessandro virou-se para Serena, seu tom cortante. — Prepare-se, porque iremos embora. Serena engasgou com o susto. — I-iremos embora? — Não moro aqui, Serena. Serena engoliu em seco. — Tudo bem... Eleonora tentou aliviar a tensão. — Você se acostumará, querida. Qualquer coisa, estaremos aqui. Serena assentiu, mas o nervosismo a consumia. --- Mais tarde, no quarto, Alessandro se serviu de mais uma bebida, encarando o copo com olhar perdido. — Não posso arriscar. Meu pai perceberia se eu influenciasse Serena. — Ele murmurou para si mesmo, enquanto virava mais uma dose. — Ela é ingênua... não será difícil até eu encontrar uma saída. Enquanto isso, Serena, em seu pequeno quarto, olhava para o vestido novo com um misto de ansiedade e medo. O brilho das estrelas parecia menos acolhedor naquela noite. Abraçando a pequena bolsa com seus pertences, ela sussurrou: — Tudo vai mudar... mas eu espero que não doa tanto quanto parece. Fechando os olhos, tentou reunir forças para enfrentar o dia que viria.
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