Sua mão trêmula tocou a maçaneta dourada, fria como o medo que subia por sua espinha. Girou-a com cautela.
O ambiente do quarto era morno e sem vida. Uma única luz de abajur, no criado-mudo ao lado da cama, lançava sombras dançantes pelas paredes. A penumbra dava ao espaço uma aura íntima e tensa, como se o ar estivesse pesado demais para ser respirado com liberdade.
Alessandro estava de costas, em frente ao espelho, tirando a camisa. Os músculos das costas se moviam sob a pele bronzeada, tensos, marcados por esforço e arrogância. Havia domínio em cada gesto dele. Uma ameaça silenciosa.
Serena entrou devagar, como se pudesse desaparecer na penumbra. Mas ele notou sua presença de imediato.
— Demorou — murmurou ele, sem se virar, a voz baixa, rouca, carregada de algo entre sarcasmo e autoridade. — Mas até que se saiu bem. Só tome cuidado... meu pai pode perceber algo. Acho interessante nos aproximarmos mais quando estivermos perto deles. Tipo... um verdadeiro casal.
Aquelas palavras escorreram pela espinha de Serena como gelo líquido. Ela inspirou com dificuldade.
— Estava com a Alzira... conversando — disse, a voz quase um sussurro. Depois, com um suspiro contido: — Vou tentar fazer o meu melhor.
Alessandro se virou devagar. Vestia apenas uma calça preta. O tronco nu reluzia à meia-luz, o cabelo levemente desalinhado. Os olhos castanhos escuros a examinaram com frieza, como quem observa um objeto.
— Assim espero — disse, com amargura nas palavras. — Você nos colocou nessa situação. Poderia ter evitado... mas não fez. Agora, o mínimo que pode fazer é cooperar.
Serena se encolheu ligeiramente com o tom seco e cortante. Mas o que veio a seguir a feriu de forma mais profunda.
— Tem esse jeitinho doce... essa cara de anjo — ele disse, se aproximando com passos lentos e certeiros —, mas sei que não é nem metade inocente como tenta parecer.
Ela recuou, instintivamente. O quarto, antes grande, agora parecia sufocante. As sombras nas paredes pareciam se fechar sobre ela.
— Alessandro... — tentou dizer algo, mas ele a interrompeu com brutalidade:
— Tire a roupa.
A frase caiu como um estalo seco no quarto abafado.
Serena congelou. A garganta secou. Os dedos se entrelaçaram em um aperto ansioso. O olhar dele perfurava o dela como lâmina.
— Eu... — hesitou, a voz falhando.
Ele se aproximou mais. Seus rostos quase se tocavam. O hálito quente contra sua pele fez um arrepio percorrer-lhe o corpo.
Ele sorriu de lado, com desdém nos olhos.
— Você quer isso. Está implorando com esse olhar. Mas sabe o que é pior? — A voz dele baixou ainda mais, quase um veneno sussurrado. — Você me interessa cada vez menos. E agora estou aqui, trancado num quarto com uma mulher que jamais escolheria para ser minha esposa. Mas que terei que aturar, porque se fez de esperta.
Os olhos de Serena faiscaram. Havia dor, sim. Mas também havia algo mais: orgulho ferido. E revolta.
— Você me culpa por isso... — murmurou, com a voz embargada —, mas talvez o maior culpado seja você.
Alessandro a fitou como se suas palavras fossem um desafio.
— Eu te quis — disse, com raiva. — Te achei bonita. Quis f***r você, só isso. E olha só o que virou... a f**a mais cara da minha vida.
Ele sorriu, mas era um sorriso torto, sarcástico.
— E sabe de uma coisa, Serena? — acrescentou, c***l — Não valeu a pena. Olha pra você... é sem graça.
Ele se aproximou ainda mais. Passou um dedo pela linha do pescoço dela até o colo, devagar. Serena estremeceu, não apenas pelo toque, mas pelo desprezo com que ele a tocava.
— Estou tentando sair dessa loucura. Me livrar de você — disse entre os dentes, como se cada palavra fosse cuspida de ódio.
Serena, com os olhos marejados, mas o queixo firme, respondeu em voz trêmula:
— E eu estou tentando sobreviver...
Ele segurou seu rosto, obrigando-a a encará-lo.
— Sobreviver, Serena? — riu sem humor, um riso amargo. — Isso aqui não é sobrevivência. É consequência.
Ela tentou se soltar, mas ele a puxou pela cintura, colando seus corpos. O calor dele a invadiu. Serena sentiu o coração bater em disparada.
— Me solta — sussurrou.
— Não — disse, a voz baixa e firme. — Porque você não quer que eu faça isso de verdade.
Os olhos dele desceram para a boca dela. E ali houve um silêncio estranho, quase íntimo. Serena sentia medo. Mas também uma fome que não compreendia — e que a aterrorizava.
Por um breve instante, Alessandro hesitou. O olhar dele escureceu. Então se afastou bruscamente, como se lutasse contra algo dentro de si.
Ela caiu sentada na beira da cama, o peito arfando, as mãos trêmulas.
Ele entrou no banheiro e bateu a porta.
E, naquele novo silêncio, pesado e cortante, Serena entendeu — estava presa numa cela invisível. Um cárcere onde nem seu corpo, nem seu coração, nem sua razão sabiam como escapar.
E o pior de tudo...
É que uma parte dela... não queria fugir.