Capítulo 37 - Desejo e Desprezo

597 Words
Dentro do banheiro, Alessandro apoiou as mãos na parede de mármore fria, respirando fundo. Seu reflexo no espelho estava tenso, os olhos queimando com raiva m*l contida. A água quente que escorria pelo corpo não era suficiente para apagar o turbilhão que rodava dentro dele. Ele sabia que ficar na fazenda, tão próximo de Serena, seria muito mais difícil do que manter a distância que mantinha na cidade. Lá, ele podia ignorá-la, fazer de conta que ela não existia. Aqui, dividindo o mesmo quarto, a mesma cama, o mesmo ar… seria impossível. Enquanto abaixava a cabeça, deixou escapar um riso amargo, quase irônico, ao olhar para sua ereção evidente. A excitação era real — e irritante. O simples fato de tê-la tão perto o deixava em chamas, mesmo que sua mente estivesse tomada por raiva. — Ridículo — murmurou para si, a voz baixa, carregada de desprezo. Ele queria machucá-la. Queria mostrar que ela não o afetava, que o atraía menos do que nada. Queria deixá-la insegura, pequena, indesejada. Alessandro tinha certeza: Serena se aproveitou da situação e fingiu uma inocência que não possuía. Enquanto isso, no quarto, Serena tentava distrair a mente. O closet, com seu leve perfume de lavanda misturado ao cheiro amadeirado da madeira, a acolhia melhor do que o olhar cortante de Alessandro. Organizou suas roupas com mãos trêmulas, dobrando cada peça lentamente, como se isso fosse suficiente para manter os pensamentos longe dele. O som da porta do banheiro se abrindo a fez parar. O cheiro dele tomou o ambiente — forte, amadeirado e envolvente. Serena fechou os olhos por um instante, permitindo-se sentir, mesmo que odiasse o quanto aquele aroma mexia com ela. Alessandro saiu apenas com uma calça de moletom escura, os cabelos ainda úmidos e desgrenhados. Ele se jogou na cama, pegou o celular e, sem ao menos olhar para ela, fingiu que ela não estava ali. Sua expressão era fria, quase entediada. Sem dizer uma palavra, Serena caminhou até o banheiro, tentando manter a calma. O coração batia descompassado. Sentia-se invisível. E, pior do que isso, sentia-se ferida. A água morna caiu sobre seu corpo como um alívio. Mas era impossível lavar o que doía por dentro. Pensava nele, na maneira como a tratava, como se ela fosse uma intrusa, uma ameaça. Lembrou dos momentos em que ele parecia outro homem — interessado, gentil, até carinhoso. Aquilo teria sido real ou só mais um jogo? Seu peito apertou. As lágrimas vieram silenciosas, misturando-se com a água que escorria do chuveiro. Ela se sentia usada, rejeitada. Mas, mesmo assim, uma parte dela ainda desejava... que ele a amasse. Quando saiu do banheiro, encontrou o quarto mergulhado em penumbra. O abajur lançava uma luz suave sobre o rosto de Alessandro, que já dormia de lado, o peito subindo e descendo em um ritmo calmo. Por um tempo, ela ficou apenas observando. Como ele podia ser tão bonito… e tão c***l? Serena caminhou até o outro lado da cama, hesitante, o coração apertado. Deitou-se devagar, mantendo distância. A cama era enorme — graças a Deus. Apagou o abajur, deixando apenas a escuridão e o som da respiração dele ao seu lado. Ficou ali, com os pensamentos embaralhados, com o gosto amargo das palavras dele ainda ecoando. Cada uma parecia ter sido feita para machucá-la. Mas o cansaço da viagem e das emoções do dia foi mais forte. Aos poucos, os olhos foram se fechando. E antes de cair no sono, pensou: Se ele soubesse o quanto me destrói por dentro... talvez não fizesse metade do que faz. Ou talvez fizesse pior.
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