Priscila narrando
Fiz uma janta para mim e os meninos poderem comer. MD às vezes gosta de chamar o Lobão porque acha que ele se sente sozinho. Acho muito bonita essa amizade que eles têm e tenho certeza de que fizemos uma ótima escolha em colocá-lo como padrinho do nosso filho.
Durante o jantar, meu celular começou a tocar e, assim que olhei na tela, vi o nome do meu pai escrito. Eu não ia atender porque sei que ele vai vir com o mesmo papo de sempre, e eu não estava a fim de estragar a minha noite nem de passar nervoso, porque agora preciso pensar no meu bebê.
Ele não parava de ligar, e então, quando achei que ele tivesse se dado por vencido, o celular apitou. Abaixei a barra de notificação para ver e era ele quem havia me mandado uma mensagem. A mensagem dizia que eu tinha até hoje de manhã para pegar as minhas coisas e sair desse morro, ou então ele me faria me arrepender de forma dolorosa.
Respirei fundo tentando ignorar a mensagem, mas não posso negar que um frio percorreu a minha espinha e fiquei com um grande medo, porque sei que agora a polícia vai invadir o morro por minha causa. Eu posso estar sendo muito egoísta por ficar aqui e deixar isso tudo acontecer, só que eu não consigo simplesmente abandonar o MD e seguir sem ele.
Eles deixaram o morro em alerta, e isso já me deixou bastante preocupada. Ele m*l acaba vindo em casa durante o dia, e quando soube que o Vidigal havia sido invadido, me desesperei ainda mais, porque tenho certeza de que aqui será o próximo lugar.
Eu estava sentada no sofá esperando pelo MD quando os fogos estouraram no céu. Dei um pulo do sofá com o coração na mão e apertado, indo em direção ao meu celular para falar com ele. Ele estava na boca junto com o Lobão, esperando para ver se ia ficar tudo bem.
Ligação on
— Amor, eu não tô com um pressentimento bom, então, por favor, toma cuidado. — Falo já sentindo a minha garganta fechar e uma vontade imensa de chorar.
— Fique em paz, minha vida. Eu prometo que volto para você e para o nosso bebê, já é? Nada de r**m vai me acontecer, não. Eu te amo, tá me ouvindo? Agora sobe para o nosso quarto e tranca a porta.
— Por favor, Leon, toma cuidado, eu te imploro. — Falo sentindo as lágrimas descerem e coloco a mão na barriga, respirando fundo para não prejudicar o meu bebê.
— Pode pá, vida, eu vou tomar cuidado. — Ele fala e, logo em seguida, diz: — Eu amo vocês.
— Eu também te amo, amor. — Digo para ele e desligo a chamada, ouvindo os barulhos de tiro.
Ligação off
Subi para o meu quarto e tranquei a porta, assim como ele mandou. Aquela sensação r**m de que alguma coisa ia acontecer não me deixava, e eu já estava me sentindo sufocada. Andei de um lado para o outro tentando me acalmar por conta do meu bebê. Os tiros se aproximando só me deixavam ainda mais apavorada. Ajoelhei no chão, pedindo a Deus para proteger o Lobão e o MD.
Já era quase de manhã quando o celular apitou com uma notificação. Assim que peguei, vi que era da página de fofoca da comunidade. Abri a mensagem e vi uma foto do Leon jogado no chão com um tiro na cabeça e a legenda: "Infelizmente o nosso sub acabou de morrer, tropa. Alemão está de luto."
Nesse momento, o meu mundo caiu e eu caí ajoelhada no chão, pedindo a Deus para que isso tudo fosse somente um engano, que fosse mentira. Não sei de onde tirei forças, só sei que me levantei desesperada e desci as escadas correndo, indo em direção ao local onde ele estava.
Reconheci o beco pela foto, então segui direto para lá, ainda ouvindo alguns barulhos de tiro. Acho que a polícia está recuando, porque os tiros já estão bem mais para baixo do morro. Passei por uma viatura que estava com vários policiais dentro e achei estranho, porque nunca os vi circulando aqui dessa forma. Acho que aconteceu alguma coisa com o Lobão e eles conseguiram pacificar o morro.
Meu coração o tempo todo parecia que ia sair pela boca. Assim que cheguei ao beco, vi o Leon caído no chão em cima de uma poça de sangue e corri até ele, me jogando sobre seu corpo, que ainda estava quente.
— Amor, não! Por favor, Leon, não faz isso comigo. Você prometeu que voltaria para casa, para mim e para o nosso filho, então, por favor, levanta daí, não me deixa. — Falo chorando muito sobre seu corpo. Quando coloco o rosto perto do seu nariz, percebo que ele ainda está respirando. Então, me levanto e olho para seu rosto, que está pálido.
Bati na porta de um dos moradores, que, mesmo com medo, abriu.
— Por favor, me deixa colocá-lo aí só até eu ir em casa buscar um carro para levá-lo ao hospital? — A senhora que abriu a porta me olhava com dó, como se quisesse me dizer que ele já estava morto e que era inútil tentar fazer isso.
— Tudo bem. — Ela diz, abrindo mais a porta e me ajudando a pegá-lo, colocando-o para dentro da casa dela.
Vi ela olhando de um lado para o outro para ver se ninguém tinha nos visto e então respirei fundo, tentando parar de chorar. Me virei para ela.
— Eu vou pegar o meu carro para tirá-lo daqui. A senhora espera só um pouco? — Pergunto, e ela confirma.
— Muito obrigada. — Falo, feliz, mas com muito medo, porque preciso ser rápida. Tenho certeza de que ele não vai aguentar muito tempo.
A respiração dele estava muito fraca e descompensada. Ainda não pensei no jeito que vou tirá-lo desse morro, então tenho um caminho todo de ida e volta até aqui para pensar no que fazer.
[...]
Agora preciso pensar no que fazer e para onde vou, já que o MD é procurado. Não posso perder tempo com ele aqui dentro, senão ele não vai resistir. Peguei meu celular e liguei para a Cristina. Estudei com ela na faculdade antes de ela mudar de profissão e ir para a medicina. Faz um tempo que não falo com ela, então espero que ela possa me ajudar.
Ligação on
— Que milagre é esse que você tá me ligando, Pri? Achei que tivesse esquecido as amigas depois que se mudou para a favela. — Ela fala, debochada.
No dia do baile, Cristina também estava comigo, e quando o MD chegou em mim, ela logo cresceu os olhos em cima dele. Esse foi um dos motivos de eu ter me afastado um pouco dela.
— Cris, eu preciso de ajuda. Queria saber se pode me encontrar no meu antigo apartamento.
— Tá bom, te encontro lá daqui a 30 minutos. O gato do seu homem vai estar lá também? — Ela pergunta de brincadeira, e eu respiro fundo.
— Sim, ele vai estar lá. Te espero lá, tá bom? Vê se não demora. Tchau, beijo. — Falo, desligando a chamada e acelerando o carro em direção ao meu antigo apartamento.
Ligação off
Fui o caminho todo orando a Deus, pedindo para que ele ainda esteja respirando e que Ele não leve o meu amor de mim.