capítulo 05

1120 Words
Ana Paula narrando Oi, meninas, eu sou a Ana Paula e tenho 22 anos. Eu moro aqui no Vidigal e, no momento, ajudo o meu pai com a mercearia que ele tem. Sou branca, tenho cabelos lisos e pretos até a altura da cintura. Meus olhos são castanhos claros e tenho algumas tatuagens espalhadas pelo braço. Sou filha única e, por esse motivo, meus pais sempre fizeram e fazem de tudo por mim. Claro que eu também sempre fui uma boa filha, e por isso eles sempre me deram o mundo. Como ainda moro com eles, nem sempre aceito o salário que meu pai tenta me pagar, só pego quando preciso comprar alguma coisa para mim, e nem sempre pego todo o salário. Semana passada foi meu aniversário e eu ganhei um iPhone 16. Fiquei tão feliz com isso porque era o meu sonho, mas sempre tive outras prioridades na vida. Tô pensando em começar minha faculdade de Psicologia, mas ainda não fui até a faculdade fazer minha inscrição porque não decidi onde vou estudar. Para quem mora aqui no morro, as coisas são sempre um pouco mais difíceis quando se trata de descer para o asfalto para resolver alguma coisa. As pessoas nos olham diferente, como se todos tivessem algum envolvimento com o crime. Não tenho preconceito, até porque conheço pessoas que são envolvidas e têm o coração melhor do que muitos que se dizem "corretos". Hoje tem baile aqui no Vidigal, e eu soube que o Tenebroso vai apresentar a fiel dele. Camila estava me enchendo a paciência para eu ir, dizendo que já iríamos aproveitar para comemorar meu aniversário. Como nunca fui muito de baile, fiquei com um pouco de receio, mas acabei aceitando, já que nunca tinha ido antes. Ela disse que iríamos com o namorado dela e, como ele é envolvido, achei que ficaria tudo bem e não teria problema nenhum em ir. Comprei um vestido lindo para usar, fui ao salão, fiz uma escova e um banho de petróleo no meu cabelo, deixando-o bem pretinho. Fiz a manutenção dos cílios e das unhas e, depois que a Michele terminou, paguei e fui para casa, para estar pronta quando a Camila chegasse. Meu pai já tinha fechado a mercearia quando cheguei. Ele e minha mãe já não são mais novos, e como sempre vendemos bem, pois nossos preços são acessíveis, falo para eles que não é preciso ter ganância e se matar ficando com a mercearia aberta até tarde. Meu pai sempre fica no horário da manhã, para que eu possa ajudar minha mãe com a casa, e, na parte da tarde, fico lá sozinha para que ele possa descansar, já que sempre acorda bem cedo. Por volta das 19h, fechamos e vamos para casa jantar. Eu admiro muito a relação dos meus pais porque eles se amam e têm respeito acima de tudo. Um dia, quero ter uma relação assim, igual à deles. Hoje, como ia ao salão à tarde, fiquei na mercearia até as 15h, quando consegui horário para me arrumar. Cheguei em casa quase 19h, então não daria tempo nem de descansar. Coloquei minha touca de cetim e fui direto para o banheiro tomar banho, pois sempre demoro fazendo maquiagem. Não farei nada extravagante, mas amo uma pele bem feita. Me enrolei na toalha e passei creme no corpo, pois tirei os pelos que estavam crescendo e, como tenho alergia a barbeador, sempre fico me coçando depois da depilação. Ouvi batidas na porta e arrumei a toalha no corpo. — Pode entrar. — falei, olhando para a porta, e vi meu pai aparecer só com a cabeça e sorrindo. — Trouxe esse dinheiro para o caso de você querer tomar alguma coisa ou parar para comer. — Ele fala, me entregando uma nota de R$ 100, e eu dou risada, com o coração quentinho. Amo tanto meus pais que nem consigo explicar o que sinto por eles. Fiz minha make babado, coloquei o vestido preto que comprei, minha sandália que sobe pela canela com alguns brilhos, e, assim que passei meu perfume, a porta abriu e Camila entrou, me olhando de cima a baixo. — Meu Deus, amiga, você está muito linda! - Eu sorrio, ficando um pouco sem graça. — Você também está muito linda, amiga. — Eu falo, e ela confirma. Camila: Agora vamos, porque o Neguinho não está com muita paciência hoje. — Ela revira os olhos e eu confirmo, pegando meu celular e guardando a nota de R$ 100 na bolsinha. — Tchau, minha filha, qualquer coisa você me liga que eu subo para te buscar, tá bom? — Ele fala, e eu confirmo, balançando a cabeça. — Tá bom, pai, pode deixar. — Eu falo, dando um beijo nele e outro na minha mãe, e saímos de casa. Entramos no carro do Neguinho, que apenas assentiu com a cabeça, e subimos o morro em direção ao baile. Estava ansiosa e esperava me divertir muito, mas, vendo como os dois estavam se tratando, achei que o clima ficaria estranho e pesado. Como eu já imaginava, Camila e Neguinho passaram quase o baile inteiro discutindo. Depois que o Tenebroso apresentou a fiel dele, eles decidiram ir embora, e, cansada das brigas, resolvi descer para casa a pé mesmo. — Amiga, eu te levo, não precisa descer andando. — Não precisa, amiga. Vocês vão para a casa dele e ele mora quase do outro lado do morro. Eu vou cortando caminho pelos becos e rapidinho chego lá. — Eu falo, e Neguinho, impaciente, segue para o carro. Caminhando sozinha, entrei no beco da Rua 15, onde estava uma escuridão terrível. Fiquei com um pouco de medo, mas esse era o melhor caminho, então fui andando devagar para não tropeçar em nada. Estava quase no final do beco quando senti alguém me jogando no chão e rasgando minhas roupas. Tentei gritar, mas ele apontou uma arma para minha cabeça e a destravou. Meu corpo paralisou. Ouvi uma moto passando e, mesmo com medo, gritei por socorro, rezando para que alguém me ouvisse. — Eu mandei ficar quieta, v***a desgraçada! — ele disse, batendo com a arma na minha cabeça. Fiquei tonta e desorientada. Senti um nojo imenso, mas, graças a Deus, ouvi a moto voltando. Isso fez ele se assustar e fugir. Vi um flash de celular e percebi que era o Tenebroso e Maria Vitória. Ele ficou furioso, dizendo que não aceitava isso no morro dele, e saiu me deixando com ela, que foi supergentil. Eu não entendia por que aquilo estava acontecendo comigo. Só sabia que tudo que passava pela minha cabeça era que eu preferia estar morta. O nojo que eu sentia de mim não dava para descrever.
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