Quantas pessoas são necessárias para tirar uma garota de 55 quilos de cima de um cara de pelo menos 90 quilos? A resposta para essa pergunta seria de aproximadamente 2 pessoas. Seria matematicamente suficiente. E se reformularmos a pergunta? E se dermos nomes?
Quantas pessoas são necessárias para tirar Marina de cima de Ander?
De início, o grupo também pensou que a resposta era 2. Afinal, Emília e Luísa seguraram cada uma, um braço de Marina para salvar Ander. Luísa levou uma cotovelada no nariz e Emília, na barriga. Foi quando os rapazes entraram na vez. No total, foram preciso 5 pessoas para tirar Marina de cima de Ander.
Quando Ander voltou a superfície, ele não deu indícios que havia se afogado, aliviando as meninas na hora, pois as mesmas temiam pelo réu primário de Marina. Ander passou a mão no rosto e olhava assustado para Marina presa entre 5 pessoas. O semblante de Ander mudou para a raiva que o consumiu. Ele se aproximou de Marina agitando os braços.
— Que porra foi essa? — Ele perguntou. Ander estava irado, seu peito fervia, sua vontade era de gritar aos quatro ventos o quão maluca era a garota na sua frente. A garota de biquini, enxarcada, com o cabelo caindo no rosto e o braço sangrando por algum motivo.
Ander balançou a cabeça. Marina parecia uma daquelas garotas fatais de séries. Aquelas que possuíam uma beleza tão única que quase compensava suas loucuras. Ander nunca tinha encontrado esse tipo de garota pessoalmente, as malucas que ele geralmente conhecia, não eram assim. Elas não causavam nele uma sensação de "quero mais". Ele sabia que bem no fundo, ele desejava que soltassem Marina para que ela pulasse nele novamente. Marina era uma cigana que enfeitiçava os homens, ele estava certo disso. E mais certo ainda que deveria se manter longe dela. E claro, manter os amigos longe também.
— Some daqui! — Marina gritou. — Você é a pior espécie que existe! Distorcendo histórias ao seu favor, sem se preocupar com terceiros. Um puta de um narcisista desgraçado!
Ander piscou.
Por que diabos ele não conseguia reagir aos absurdos que Marina proferia sobre ele? Por que diabos ele só conseguia olhar para a garota de biquini querendo a morte dele? Ele respirou fundo e fechou os olhos para se concentrar.
— Nunca mais chegue perto de mim novamente. E nem dos meus amigos. — Ander falou calmamente.
— Pro seu bem, é bom que eu não chegue mesmo. — Marina disse.
Ander assentiu.
— Concordo.
Ander pegou uma toalha e saiu.
Marina foi solta finalmente. Ela pôde ajeitar o cabelo e respirar fundo. Ela sabia que tinha feito mais uma vez. Que tinha deixado suas emoções lhe dominar. Ela olhou para as amigas e sabia o tamanho da "merda" que tinha feito. Ela odiava isso. Odiava os olhares das amigas para ela. Olhares de pena e de preocupação. E mais ainda, odiava o olhar de desconhecidos para ela. Pois eram sempre os mesmos, os olhares de julgamento.
— Eu...eu fiz merda. — Ela admitiu. — Desculpa envolver vocês nisso.
No momento que ela terminou de falar, Marina sentiu a adrenalina deixando seu corpo e começou a sentir as dores. Seus braços doíam, provavelmente pela força que os rapazes tiveram que usar para conter ela. Ela também sentia alguns lugares arder e chutou ser arranhões dela mesma ou das amigas.
— O que aconteceu? O que te fez ficar com raiva assim? — Fabião perguntou.
Marina suspirou.
— Noite passada aconteceu uma coisa. — Marina começou. Ela sabia que devia contar, afinal, todos eles já iriam saber depois do que aconteceu, então melhor que seja por ela. — O recepcionista trocou minha chave e me deu a chave do quarto do Ander sem eu saber. E eu fui. Tomei um banho, estava tranquila, até que ele apareceu dentro do banheiro. Eu achei que ele era um tarado e que vinha me fazer mal, então eu peguei uma lâmina de barbear, que foi a única coisa que encontrei e ameacei ele para ir embora. Mas ele não foi, a situação ficou maior do que era, eu tava muito assustada. Foi quando o recepcionista apareceu falando o que aconteceu e nos deu esses cupons do spa pra compensar.
Marina observou alguns olhares de julgamento sumindo, e isso a deixou aliviada.
— Então você ficou com raiva porque pensou que o Ander tinha distorcido a história? — Luísa perguntou.
— Eu não pensei. Ele fez. Me pintou de doida novamente pra alimentar esse discurso repetitivo que ele usa contra mim. — Marina retrucou.
— Bom...— Mário começou a falar. — Na verdade ele só me contou a história porque eu cheguei e o quarto estava com aquela bagunça e questionei ele. O Ander me contou exatamente isso que você falou.
Marina piscou.
— Ele não falou que eu invadi o quarto de vocês?
— Não, ele falou que tudo foi um mal-entendido e que você parecia muito assustada e que ele também estava.
— E por que você falou daquele jeito? Por que você falou que eu invadi o quarto e quase matei ele?
— Ele acha que mesmo que você tivesse assustada, ainda parecia uma maluca. E eu discordei e ele começou a brincar falando que você invadiu e quase matou ele. Eu só usei as palavras dele pra discordar, por isso falei aquilo.
Marina finalmente entendeu toda a situação. Ela odiava esse sentimento de quando ela explodia e só depois entendia a situação.
— Talvez eu seja mesmo maluca. — Marina sussurrou pra si.
— Acho melhor a gente ir ver o Ander. — Mário chamou os amigos.
Logo os rapazes deixaram o lugar. Marina estava sentada com a cabeça entre as pernas quando levou um belo tapa.
— Você sustente suas gracinhas. — Emília falou brava.
— Você se arrependa pra gente, não na frente desses caras que a gente nem conhece. — Luísa completou.
— A gente tem que ser meio maluca mesmo pra não ser pisada, se exagerou, sustenta! — Gabi falou.
Marina olhou para as amigas e riu.
— Vocês acham que eu devia pedir desculpas pro Ander?
— Acho que sim, você deu uma exagerada, mas não na frente dos amigos dele. Vem, vamos limpar esse braço, acho que foi eu. — Luísa falou mostrando as unhas afiadas.
As meninas levaram Marina de volta para o quarto. Gabi e Luísa queriam ficar, mas Marina pediu que fossem dormir, já que pareciam um zumbi. Emília e Marina fizeram o mesmo. Tomaram um banho e dormiram, mesmo que ainda estivesse de dia, elas só acordaram na manhã do dia seguinte.
A primeira coisa que Marina fez ao acordar, foi checar o celular que não parava de vibrar. Ao que parecia, Isa estava desesperada atrás das madrinhas e padrinhos no grupo, e nenhum deles respondiam.
Marina foi a primeira a responder e foi obrigada a se levantar e bater na porta das amigas para que elas acordassem também. Isa pediu que ela acordasse os padrinhos, mas Marina delegou a tarefa para Gabi e Luísa.
Marina aproveitou o tempo para tomar um banho e se arrumar. Alguns minutos depois, todos estavam acordados, e Isa intimou todos para o café da manhã.
E assim, pouco tempo depois, o grupo estava reunido. O café da manhã do resort era algo de se maravilhar. Uma coisa é um café da manhã de hotel com algumas frutas, ovos mexidos e pães. Outra coisa são 12 mesas cheias de diferentes opções para todos os gostos.
Os recém-casados ocuparam uma mesa inteira com as madrinhas e padrinhos e amigos próximos. Todas as pessoas no qual Isa e Felipe pagaram para estar ali nessa semana.
— Antes de comer, quero fechar com vocês a programação da semana. Temos cinco dias de programações e o resort deu algumas cortesias pros padrinhos e madrinhas. — Isa falou.
Ela explicou o que queria fazer e como queria passar um tempo com as pessoas que ela convidou, então montou um cronograma que enviou a todos por e-mail e queria que todos confirmassem.
Marina abriu o e-mail para verificar.
Segunda-Feira
09:00 - Café da manhã (coletivo)
11:00 - Trilha (preciso da confirmação de quem vai)
13:00 - Almoço na praia (coletivo)
15:00 - Tarde do cabelo, barba e bigode (meninos)
18:00 - Noite do karaokê(coletivo)
Terça-feira
08:00 - Cortesia para os padrinhos e madrinhas: Estejam na praia no horário!
09:00 -Programação normal de café da manhã e almoço para o restante dos convidados.
15:00 - Chá de lingerie (meninas)
18:00 - Noite de quiz no bar.
Quarta-feira
09:00 - Programação normal de café da manhã
11:00 - Passeio de cavalo (confirmar presença)
13:00 - Almoço normal
15:00 - brincadeira do biquini (meninas)
18:00 - Noite da piscina
Quinta-feira
09:00 - Programação normal de café da manhã
11:00 - Livre
13:00 - Almoço normal
15:00 - Cortesia do resort para padrinhos e madrinhas: Encontro na recepção.
20:00- Noite do pijama sexy
Sexta-feira
Dia livre
18:00 - Maquiagem (meninas)
20:00 - Noite de encerramento
Sábado
09:00 - Último café da manhã coletivo
11:00 - Entrega de lembrancinhas e preparação pro Checkout
12:00 - Todo mundo fora!
Marina já esperava por algo assim, na verdade, ela estranhou esse cronograma não ter sido enviado com antecedência.
Luísa levantou a mão.
— Isa, a lingerie e o biquini eu até trouxe porque você avisou antes, mas o pijama mais sexy que eu tenho é da Hello Kitty. — Luísa falou, fazendo várias pessoas concordarem e outras caírem na risada.
Ander foi uma dessas pessoas. Marina não quis notar, mas ela não conseguiu. Ela procurava o melhor jeito e momento para pedir desculpas e ele estar bem ali, a poucos metros dela, não ajudava
— Relaxem, uma amiga minha é dona de uma loja de roupas e ela vai trazer uns modelos pra vocês escolherem.
— De graça? — Marina perguntou.
— Tudo free. — Felipe confirmou.
— Aos eventos que precisa confirmar presença, preciso que seja agora porque preciso mandar a lista pro resort, então quem for, manda ali no meu w******p e aí podem tomar café. — Isa avisou.
Marina confirmou presença em tudo, afinal para ela, de graça, até injeção na testa. Em seguida ela foi se servir. Após fazer um prato de valor equivalente a diária do resort, ela voltou a mesa. As amigas foram chegando uma a uma.
— Vocês vão na trilha? — Gabi perguntou.
— Eu confirmei. — Luísa deu de ombros. — Apesar de eu não gostar de caminhar ou de insetos e nem acho que uma vista bonita valha eu arriscar minha vida.
— Foram esses exatos motivos que me fizeram recusar. — Emília contou.
Gabi levantou a mão.
— Idem, amiga.
— Eu confirmei, não vou pagar nada por isso mesmo. — Marina explicou.
—Nós duas então, amiga. — Luísa assentiu.
Isa sentou ao lado delas de repente.
— Suas falsas! Vocês sabem que o Felipe gosta dessas coisas de trilha e eu só vou por causa dele! Só minhas três madrinhas confirmaram?
— A Ana Paula vai? Ótimo, já somos maioria. — Marina disse.
— Maioria onde? Todos os meninos confirmaram e eu só tenho três amigas pra levar. Vocês me pagam.
Isa voltou ao seu lugar.
Marina olhou para Ander. Será que uma trilha é um bom lugar pra pedir desculpas? Qualquer coisa, ela pode desaparecer. Literalmente. E só ser encontrada 3 dias depois morta por algum animal. Ela descartou a ideia na hora.
O café da manhã seguiu tranquilo e Marina estava feliz em ver Isa e Felipe juntos trocando carícias a todo momento. Ela sabia que dentre todas as pessoas que ela conhece, Isa era a pessoa que mais merecia um final feliz. perto das 11:00, Isa se levantou.
— Gente, aos confirmados pra trilha, vão se arrumar e encontrem a gente no saguão. Sem atrasos, por favor.
Marina e Luísa seguiram para seus respectivos quartos. Marina escolheu uma roupa leve. Ela vestiu um conjuntinho de calça e top de malhar, um tênis confortável e jogou uma blusinha curta de alcinha por cima, afinal o dia estava bem quente. Ela aproveitou para prender o cabelo e em seguida foi ao quarto de Luísa.
Faltava apenas 5 minutos para as 11:00 quando Luísa abriu a porta.
— Por que não está arrumada? — Marina perguntou.
Luísa passou a mão no rosto.
— Eu comecei a me maquiar e demorei bastante pra fazer essa trança porque pensei que iria por qualquer roupa, mas eu não trouxe nada! A não ser que eu use um biquini, eu não tenho com o que ir.
— A gente vai morrer. Isa vai matar a gente! Por que você não foi no meu quarto? Você sabe que eu tenho bastante calça de malhar. Espera, eu vou buscar.
Marina correu até o quarto e pegou uma roupa pra amiga. Marina teve sorte por gostar de usar calça de malhar no dia a dia, mesmo que não frequente a academia. Depois de Luísa se vestir, elas correram até a recepção, onde de longe viram Felipe e respiraram aliviadas.
— Graças a Deus, achei que Isa tinha nos deixado, ela nos matarias. — Marina disse.
Felipe riu.
— Ah, ela deixou. O grupo já partiu, eu fiquei pra levar os atrasados.
Marina e Luísa se olharam.
— Que o casamento tenha amaciado o coração da minha prima, então. — Marina concluiu.
— A minha caminhonete tá lá fora, podem ir entrando, eu vou continuar esperando. — Felipe avisou.
Marina e Luísa assentiram e saíram.
— Pelo menos não fomos as únicas. — Luísa deu de ombros.
Elas se acomodaram na caminhonete de Felipe quando alguns minutos depois, os outros atrasados chegaram. Marina, como sempre, estava no banco do meio, por ser sempre a menor, e foi a primeira a ver quando a porta do carro abriu.
E lá estava Mário, com Ander logo atrás dele.
— Ah! Olha só! Não somos os únicos atrasados então! — Mário exclamou.
— Ah sim! Vão ser quatro caixões em vez de dois. — Marina disse.
— Só entrem, por tudo que é mais sagrado. — Felipe falou abrindo a porta do motorista.
Mário foi entrando ao lado de Marina, quando Ander deu um pequeno puxão nele.
— Vai na frente, você enjoa. — Ander disse ao amigo.
Mário assentiu.
— Verdade. Valeu.
Assim, Mário deu a volta no carro e sentou ao lado de Felipe, e Ander sentou ao lado de Marina. Ela ficou um tanto decepcionada e extremamente sem graça. Lampejos da explosão no dia anterior passavam na sua mente cada vez que o carro balançava e ela tocava em Ander sem querer. E o pior de tudo, eles entraram numa estrada de terra em pouco tempo.