Capítulo Sete — O Peso do Desejo

1151 Words
"Às vezes, o que mais me assusta não é o poder que tenho sobre os outros, mas o poder que alguém pode ter sobre mim. Descobrir que posso ser marcado por dentro, esse é o tipo de fraqueza que sempre tentei negar — mas, diante dela, tudo o que sou parece pequeno." Christopher Davis Acordei de um breve cochilo com o gosto dela ainda nos meus lábios, o perfume da sua pele impregnado em mim como uma marca invisível. Meu corpo carregava os vestígios da noite que tivemos — arranhões, hematomas, sinais que desapareceriam com o tempo. Mas o que me assombrava eram as cicatrizes deixadas na alma. Victória havia gravado algo dentro de mim que não se apagaria com banho frio nem com goles de uísque. Ela era perigosa. Não pelo que fazia, mas pelo que era. Sua doçura, sua inocência, sua falta de experiência — não eram fragilidades. Eram armas. O afrodisíaco perfeito para o cafajeste em mim, para o sedutor e dominador que se alimentava da conquista. E, no entanto, quanto mais eu a desejava sob meu corpo, entregue ao prazer que eu podia lhe dar, mais eu queria vê-la longe. Fora do alcance dos meus olhos, do meu olfato, dos meus toques. Quando ela se mexeu ao meu lado, procurando nos meus olhos algum traço de ternura, senti a tentação de me trair. De segurá-la, de sussurrar algo suave, algo que a fizesse acreditar que importava. Mas eu não podia permitir. Nenhuma mulher teria esse poder sobre mim. — Vista-se — ordenei, a voz seca, sem calor. Ela piscou, confusa. — Chris…? — A noite acabou. Não crie ilusões sobre nós, Victória. Tudo não passou de uma troca de prazer. Você me deu o que eu quiz e eu te dei o que precisava. Agora pode ir. Seus lábios tremeram, carregados de decepção. Eu não cedi. Não suavizei. Observei-a recolher suas roupas em silêncio, os movimentos pesados, os ombros curvados como se tentassem se proteger da frieza que eu havia lançado sobre ela. Quando a porta se fechou atrás dela, soltei o ar. Não era alívio. Não havia satisfação. Era algo mais sombrio. Algo que eu me recusava a nomear. Tomei um banho e me vesti com roupas que mantinha ali na suíte da casa noturna. Voltei para aproveitar o resto a noite com os visitantes vips dessa noite de casa cheia. Não iria deixar de prestigiar meus convidados que estavam deixando uma fortuna com seus gastos em meu empreendimento. E no resto da noite tive várias mulheres a minha disposição. Victória esteve na recepção, assumindo sua função de hostes. Percebo seu rosto abatido, sabendo o que causou aquela tristeza. Mas eu não poderia fraquejar. Na manhã seguinte, tratei-a como se nada tivesse acontecido. Passou por mim no corredor, os olhos buscando reconhecimento, mas não lhe dei nenhum. m*l olhei para ela. — Café — disse, sem olhar para ela. — Preto e sem açúcar. Ela assentiu, os lábios comprimidos, e desapareceu na cozinha. Para mim, era apenas uma funcionária. Alguém que estaria ali a minha disposição. Por dentro, porém, travava uma guerra. Cada vez que sua presença roçava a minha, sentia o ímã. A tentação. E, a cada vez, forçava-me a afastá-la. Essa mulher veio para me desestabilizar. Mas eu não iria deixar. Mais tarde, encontrei Enzo Romano e Alex Turner no restaurante de Enzo. O lugar fervilhava com conversas, o tilintar de taças, o aroma de carne assada e vinho caro. Enzo me recebeu com seu sorriso habitual, braços abertos, o tipo de homem que vivia como se o mundo lhe devesse prazer. Alex já estava sentado, postura relaxada, olhos atentos às mulheres que passavam. Pedimos bebidas, e logo o assunto deslizou para o território familiar — mulheres. Enzo recostou-se, girando a taça. — Vocês não acreditariam na loucura de ontem. Cara, estive com duas irmãs. As duas ao mesmo tempo. — Ele riu como se lembrasse de algo — tive uma noite de rei Alex riu, balançando a cabeça. — Você é um doente. — Doente? Não. Estou vivo — corrigiu Enzo, o sorriso se ampliando. — É disso que a vida se trata, não é? Prazer, aventura e o gosto da caça. Alex ergueu a taça. — À liberdade. Sorri, embora as palavras me soassem amargas. — À liberdade. Falamos de noites incontáveis, corpos incontáveis, rostos que se confundiam na memória. A intensidade, o fogo, o caos que uma vida de prazeres intensos pode causar. E, por baixo das risadas, havia um vazio que todos reconhecíamos, mas nenhum admitia. Enzo me lançou um olhar atento. — Você parece distante, Chris. Alguma coisa está bagunçando ainda mais essa cabeça? Balancei a cabeça. — Nada que valha a pena mencionar. Mas o rosto de Victória me perseguia. Seus olhos, seus lábios, o modo como me olhara como se eu fosse mais do que a soma dos meus pecados. Alex inclinou-se para frente. — Não me diga que está se deixando levar por alguém, meu amigo. Isso não combina com você. Ri, com frieza e um certo deboche. — Não sou homem de nutrir sentimentos, Alex. Por favor. Vocês me conhecem. Nenhuma mulher me controla. Nunca vai rolar. As palavras eram armadura. Mentiras que eu precisava acreditar. Não vou permitir que sentimentos me ceguem a ponto de alguém determinar o que devo ou não fazer, por medo de perdê-la. À medida que a noite avançava, a conversa se tornava mais alta, mais imprudente. Brindamos às nossas aventuras, às mulheres que haviam atravessado nossas vidas como tempestades, deixando destruição e desejo. Mas, ao sair do restaurante, o riso se dissipou. As ruas estavam silenciosas, o ar pesado. E nesse silêncio, a verdade me pressionava. Victória era diferente. Não era apenas mais uma conquista. Era uma ameaça. E talvez a minha ruína. Ela ameaçava a minha zona de conforto. E ameaças precisam ser neutralizadas. Na manhã seguinte, vi-a novamente organizando a recepção da Empire. Estava arrumando flores na sala, os dedos delicados, o rosto sereno. Ela não me olhou. Nem me dirigiu a palavra. E aquilo me incomodou. Por um instante, quis romper o silêncio. Eu precisava ouvir a voz dela, sentir seu olhar me queimando. Queria dizer algo que desfizesse o estrago. Mas não disse nada. Não podia. Eu não iria fraquejar. Passei por ela, a voz cortante. — Certifique-se de que o almoço que pedi, esteja pronto às 13hs. Quero que você mesma vá me entregar em minha suíte. Ela assentiu, os olhos fixos nas flores. Continuei andando, cada passo pesado com o peso das minhas próprias contradições. Dentro de mim, a batalha seguia. Era o meu desejo contra o meu orgulho. Necessidade de tê-la contra o medo de ela tivesse o controle. Victória havia deixado sua marca. E, por mais que eu tentasse negar, sabia a verdade: Ela era a única mulher capaz de me desfazer. E isso era algo que eu jamais poderia permitir.
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