Fui frio com ela e, propositalmente, levei Annely — uma das garçonetes com quem transava de vez em quando — para minha suíte. Era só sexo. Cru e carnal. Sabia que a qualquer momento Victoria iria entrar ali para deixar o almoço, como eu havia ordenado. Eu queria que ela me visse com outra, que se decepcionasse e me odiasse, para que eu não me sentisse mais culpado do que já estava, sabendo que me aproveitei de sua ingenuidade na noite passada.
Estou dividido entre o desejo de ter Victoria em meus braços e a convicção de que jamais deixarei outra mulher confundir meus sentimentos e dominar meus pensamentos. Os momentos intensos que vivi com ela me impactaram profundamente. Se ela foi impactada ao menos pela metade do que eu fui, com certeza teria expectativas. As mulheres sempre criam expectativas, e eu não tinha nada a oferecer a ela.
Meu coração está endurecido pelas mágoas do passado. Nunca me permitiria ficar vulnerável por causa de ninguém outra vez.
Enquanto estava com a garçonete, meus pensamentos estavam em Victoria. E quando gozei, foi nela que pensei. Era por ela que meu corpo reagia. Não resisti e a chamei, baixinho, enquanto me entregava ao orgasmo intenso.
Ao abrir os olhos, me deparei com ela diante de mim, presenciando aquele momento que eu queria que ela visse. Mas, naquele instante, vendo o seu sofrimento, senti meu coração dilacerar.
Eu senti raiva. Raiva de mim mesmo. Raiva de ser tão cafajeste a ponto de magoar alguém tão doce e inocente como ela. Raiva por ser tão quebrado a ponto de não conseguir evitar minha dor e, ao mesmo tempo, causar dor em quem não merece.
Depois do que aconteceu, eu precisava de distância. De Victoria, de mim mesmo, de tudo que me lembrasse o quanto eu estava perdido. Liguei para Enzo e Alex, meus parceiros de sempre, e marcamos de nos encontrar no restaurante do Enzo. O lugar estava movimentado, mas a mesa reservada para nós era um refúgio.
Enzo chegou primeiro, sempre com aquele sorriso de quem sabe aproveitar a vida. Alex apareceu logo depois, já contando alguma história absurda de viagem.
— Então, Chris, qual foi a última? — Enzo perguntou, servindo vinho nas nossas taças.
— Última o quê? — tentei desviar, mas eles me conhecem bem demais.
— Conquista, escândalo, novidade… Você sempre tem uma, — Alex provocou, rindo.
Dei de ombros, tentando parecer indiferente.
— Nada demais. Só negócios, festas, aquela rotina de sempre. Vocês já conhecem minha rotina.
Enzo não se deu por satisfeito.
— Você está estranho, cara. Desde que chegou, parece que está em outro planeta.
Suspirei, olhando para o copo.
— Só estou cansado. Muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. A inauguração em Las Vegas, entrevistas, reuniões… preciso focar nisso até concluir todo esse processo e ter a Empire Light Las Vegas funcionando a todo vapor
Alex riu.
— Focar? Você? Desde quando? — Ele brinca — que eu saiba você só se empenha mesmo é em “socar” isso sim — todos rimos.
— Que é isso, Alex? Até parece que não me conhece. Percebi que, se eu não cuidar dos meus negócios, ninguém mais vai cuidar — argumento — então tenho que focar mesmo.
Enzo me olhou com atenção.
— Ou parece que alguém mexeu com a sua cabeça, né?
Fingi não ouvir. Não queria falar de Victoria. Não queria admitir que ela estava ocupando espaço demais nos meus pensamentos.
A conversa seguiu, alternando entre piadas, lembranças de viagens e histórias de conquistas. Eles tentavam me animar, e eu agradecia por isso, mesmo que por dentro o vazio continuasse. Em alguns momentos, me peguei olhando para o nada, revivendo a expressão de Victoria quando nossos olhares se cruzaram mais cedo. Tentei afastar a imagem, mas era inútil.
— Chris, terra chamando Chris! — Alex brincou, estalando os dedos na minha frente.
— Desculpa, estava pensando aqui em uns detalhes da viagem.
— Viagem ou alguém? — Enzo insistiu, mas dessa vez não respondi.
No fundo, eu sabia que não adiantava fugir. A dor nos olhos de Victoria ainda me perseguia, e eu não sabia como lidar com isso. Preferi me calar, deixar que meus amigos falassem, rirem, ocuparem o espaço que eu não conseguia preencher.
Quando a tarde terminou, agradeci aos dois pela companhia. Eles me abraçaram, prometeram mais encontros e, antes de ir embora, Enzo sussurrou:
— Seja lá o que for, não deixa te destruir, Chris. Você é mais forte do que pensa.
Fiquei com aquela frase ecoando na cabeça enquanto voltava para casa.
Acordei cedo, tentando me convencer de que o dia seria diferente. Precisava focar na inauguração da filial da Empire Nights em Las Vegas. Jasmine já me esperava no escritório, tablet em mãos, olhar atento.
— Bom dia, Chris. Dormiu bem? — ela perguntou, sem tirar os olhos da tela.
— O suficiente para sobreviver, — respondi, forçando um sorriso.
Ela percebeu meu tom e não insistiu. Foi direto ao ponto.
— Precisamos revisar os últimos detalhes da inauguração. A equipe de Las Vegas confirmou a chegada dos equipamentos de som e iluminação. Os DJs já estão com as passagens emitidas. Só falta você definir o cronograma das entrevistas.
Sentei na poltrona, massageando as têmporas.
— Quantas entrevistas estão agendadas?
— Três presenciais, duas por vídeo. E tem a coletiva de imprensa no dia anterior à inauguração.
— Certo. Me manda tudo por e-mail. Preciso revisar antes de embarcar.
Jasmine fez uma pausa, me observando.
— Chris, está tudo bem? Você parece distante.
Hesitei, mas decidi não entrar em detalhes.
— Só estou cansado, Jazz. Essa inauguração é importante. Não posso errar.
Ela assentiu, compreensiva.
— Eu sei. Mas lembra que você não está sozinho. A equipe está pronta, só precisa do seu aval final.
— Eu confio em vocês. Só preciso garantir que tudo saia perfeito. Las Vegas é um passo grande para a Empire Nights.
Jasmine sorriu.
— E você vai dar conta, como sempre. Aliás, precisa decidir se vai antecipar a viagem. O pessoal de marketing sugeriu que você chegue dois dias antes para alinhar os últimos detalhes e dar entrevistas exclusivas.
— Pode marcar. Quanto antes eu resolver isso, melhor.
Ela anotou, eficiente como sempre.
— E sobre Nova York? Vai deixar alguém responsável pela casa enquanto estiver fora?
— Marina assume a gerência. Ela já está acostumada com a rotina.
Jasmine concordou.
— Ótimo. Então, só falta você aprovar o material da campanha digital e revisar o roteiro da inauguração.
Peguei o tablet, folheando os arquivos.
— Vou olhar tudo hoje. Se precisar de ajustes, te aviso.
Ela sorriu, satisfeita.
— Sabia que podia contar com você. E, Chris… se precisar conversar, estou aqui.
Agradeci com um aceno. Jasmine sempre soube ler nas entrelinhas, mas respeitava meus silêncios.
Quando Jasmine saiu, fiquei sozinho no escritório, encarando a tela do computador. Tentei me concentrar nos detalhes da inauguração, mas a imagem de Victoria continuava voltando. O conflito dentro de mim era real: parte de mim queria procurá-la, pedir desculpas, explicar o que nem eu entendia direito. A outra parte gritava para manter distância, para não me deixar vulnerável de novo.
No fim, decidi focar no que sabia fazer: trabalhar, construir, comandar. Talvez, em Las Vegas, eu conseguisse deixar tudo isso para trás. Ou talvez, Victoria já tivesse deixado uma marca impossível de apagar.