“Quando a dor vira rotina, a gente aprende a vestir máscaras e a transformar o vazio em armadura. O difícil não é fingir que não sente — é lembrar quem você era antes de decidir não sentir mais.”
Christopher Davis
Depois do que aconteceu com Katharine Hilton e meu pai, Richard Davis, eu me tornei outro homem. Ou talvez tenha apenas revelado o que sempre esteve em mim: a incapacidade de confiar, de me entregar, de acreditar que o amor pode ser mais forte que a dor. A partir daquele dia, decidi que não sentir seria minha maior proteção. O mundo da noite, das festas, dos prazeres fáceis, tornou-se meu refúgio. Eu me joguei de cabeça na Empire Nights, transformando cada evento em uma celebração do esquecimento. As mulheres passaram a ser companhia, distração, nunca promessa. O sexo virou válvula de escape, uma forma de anestesiar o vazio que crescia dentro de mim.
No início, era só uma fuga. Mas logo virou rotina. Eu era o anfitrião perfeito, o dono das noites mais exclusivas de Nova York. Sorrisos, brindes, corpos entrelaçados, tudo sob controle. Por fora, eu era o homem desejado, admirado, invejado. Por dentro, só restava silêncio.
As pessoas me viam como o conquistador, o cafajeste, o bilionário solteiro que nunca se apega. E eu alimentava essa imagem. Era mais fácil ser o personagem do que encarar o homem quebrado que eu havia me tornado. Cada noite era uma repetição: luxo, música, mulheres lindas, conversas superficiais. Eu me acostumei a não esperar nada de ninguém, a não oferecer nada além de momentos intensos e passageiros.
Foi então que Victoria Ashford entrou na minha vida. Ela era diferente das outras mulheres que circulavam pela Empire Nights. Havia nela uma sinceridade, uma delicadeza que me desarmava, mesmo quando eu tentava manter o controle. No início, tentei ignorar. Evitava cruzar seu caminho, mantinha as conversas no mínimo, sempre com a postura fria que aprendi a vestir como armadura.
Mas era impossível não notar o impacto que ela causava em mim. Bastava um olhar, um gesto tímido, para que meu mundo interno se agitasse. E isso me assustava. Eu sabia o que era se entregar, sabia o preço de confiar e ser traído. O passado ainda era uma ferida aberta, e a última coisa que eu queria era reviver aquela dor. Meu medo não era só de sofrer novamente, mas de perder o controle, de permitir que alguém atravessasse o muro que construí ao redor do meu coração.
Por isso, sempre que sentia Victoria Ashford se aproximando, eu recuava. Tratava-a com frieza, evitava qualquer sinal de envolvimento. Era como se, ao manter distância, eu pudesse proteger a mim mesmo e a ela. Não queria que ela criasse expectativas, não queria ser responsável por mais uma decepção. Mas, por dentro, a batalha era constante. O desejo de me aproximar lutava contra o medo de me perder.
Minha mãe, Eleanor Davis, percebeu a mudança. Em uma conversa tranquila, ela me alertou:
— Filho, não se feche para o mundo por causa do que aconteceu. Nem toda mulher vai te ferir. Nem todo amor termina em dor.
Samuel, seu marido, reforçou:
— O medo é natural, Chris. Mas não deixe que ele te impeça de viver. Às vezes, é preciso arriscar para descobrir o que realmente importa.
Eu ouvia, mas não sabia se estava pronto. Victoria Ashford era uma ameaça ao equilíbrio que eu havia conquistado. Ela representava tudo o que eu temia: a possibilidade de sentir de novo, de confiar, de ser vulnerável. E, ao mesmo tempo, era impossível ignorar o quanto ela mexia comigo.
O tempo passou, e a presença dela se tornou cada vez mais constante. Eu tentava manter o controle, mas sabia que, se continuasse assim, acabaria cedendo. O medo de passar por tudo novamente era real, mas, no fundo, uma parte de mim queria arriscar. Queria acreditar que, dessa vez, poderia ser diferente.
Meus amigos, Enzo Romano e Alex Turner, eram minha companhia constante. Eles entendiam meu jeito, respeitavam meus limites. Nunca me cobraram explicações, nunca tentaram mudar quem eu era. Com eles, eu podia ser apenas Christopher, sem máscaras, sem expectativas.
— Cara, você precisa relaxar. — Enzo dizia, rindo enquanto servia mais uma rodada de drinks. — A vida é curta demais para ficar preso ao passado.
— O passado nunca vai embora, Enzo. Ele só muda de lugar.
— Então, faz dele combustível. Usa pra crescer, pra conquistar. Você já fez isso com a Empire. Agora faz com a vida.
Alex concordava, sempre prático.
— O importante é não deixar que ninguém te controle. Nem o passado, nem o presente. Você é dono do seu destino.
Eu tentava acreditar nisso. Às vezes, conseguia. Outras vezes, o vazio voltava, mais forte do que nunca.
A Empire Nights continuava crescendo. Abrimos filiais em outras cidades, investimos em tecnologia, criamos experiências únicas. Eu me tornei referência no ramo, respeitado, admirado. Mas, por dentro, continuava lutando contra os fantasmas.
Meu pai insistia em se aproximar. Mandava mensagens, tentava marcar encontros, tentava marcar almoços, jantares, eventos políticos. Eu respondia com educação, mas mantinha distância. Não queria mais ser manipulado, não queria mais fazer parte dos jogos dele.
Minha mãe e Samuel continuavam presentes, oferecendo apoio, conselhos, carinho. Eles eram minha família, minha base. Com eles, eu podia ser vulnerável, podia mostrar as feridas sem medo de ser julgado.
No fim das contas, aprendi a viver entre o vazio e a superfície. Aprendi a usar o prazer como anestesia, a transformar a dor em combustível. Não sei se algum dia vou conseguir confiar de novo, amar de novo. Mas sei que, enquanto a noite durar, eu vou continuar sendo o dono do meu próprio destino.
E, talvez, um dia, eu encontre alguém capaz de atravessar o muro. Mas, até lá, a Empire Nights é meu reino. E eu sou o rei da noite.
Às vezes, penso que o verdadeiro luxo da noite não está nas luzes, nos brindes ou nas conquistas fáceis, mas na possibilidade de esconder quem realmente somos. Aprendi a ser mestre em disfarces, a vestir a armadura do homem frio, do anfitrião impecável, do conquistador que nunca se deixa tocar. Mas, por trás de cada sorriso ensaiado, existe um medo antigo — o medo de sentir, de confiar, de ser ferido outra vez.
O passado me ensinou que vulnerabilidade tem preço alto. Por isso, construí muros, criei regras, transformei o prazer em anestesia. E, mesmo cercado de gente, continuo sozinho. O vazio não faz barulho, mas pesa. E, às vezes, tudo o que desejo é que alguém enxergue além da superfície, que veja o homem por trás do personagem.
Victoria Ashford é um lembrete de que, por mais que eu tente fugir, o desejo de ser visto, de ser aceito, nunca desaparece. Talvez um dia eu tenha coragem de baixar a guarda, de permitir que alguém atravesse o muro. Até lá, sigo reinando na noite, dono de tudo — menos de mim mesmo.
Porque, no fim, o maior desafio não é conquistar o mundo lá fora, mas sobreviver ao que ficou dentro de mim.