"Noite após noite, descubro que o verdadeiro desafio não é conquistar o mundo lá fora, mas domar os meus próprios fantasmas."
Christopher Davis
O salão principal da Empire Nights pulsava com energia e expectativa naquela noite de gala. Era o maior evento da temporada, e eu sentia o peso de cada olhar, cada expectativa depositada sobre mim e sobre o império que construí. Por fora, mantinha a postura impecável, mas por dentro, a tensão era real — eu sabia que, em noites como aquela, qualquer deslize poderia virar manchete.
Todos os funcionários estavam em alerta máximo, e eu observava cada movimento, atento a tudo. Entre eles, duas novas contratações chamaram minha atenção: Victoria Ashford e Jade Carter. Tinham chegado há poucos dias, e era impossível não notar a ansiedade e a determinação no olhar das duas.
Em Victoria, especialmente, havia algo diferente — uma mistura de medo e esperança, como se aquela noite pudesse mudar o rumo da sua vida. Eu reconhecia esse sentimento, porque já fui assim um dia.
Dos bastidores, vi Jade tentando animar Victoria, ajustando seu uniforme e sorrindo com cumplicidade. Aquela cena me fez lembrar de quando tudo era novidade para mim, quando eu também precisava de alguém que dissesse que tudo ficaria bem.
— Relaxa, Vic. Você vai arrasar. Só lembra de sorrir e não tropeçar nos saltos — brincou Jade, ajeitando o crachá da amiga.
Victoria tentou sorrir, mas eu percebia o nervosismo em cada gesto. O ambiente luxuoso, as luzes, os convidados vestidos de gala — tudo parecia um universo distante da realidade dela. Eu via a luta para esconder as inseguranças, e isso me tocava mais do que eu gostaria de admitir. Sabia o quanto é difícil precisar que algo dê certo para poder recomeçar. Talvez, no fundo, eu torcesse para que ela conseguisse.
— Se eu tropeçar, pelo menos vai ser com estilo — respondeu Victoria, tentando disfarçar o receio.
Marina Torres, minha gerente elegante e sempre atenta, aproximou-se das duas, e eu senti orgulho da equipe que formei, mas também a responsabilidade de ser exemplo.
— Meninas, lembrem-se: discrição, simpatia e atenção aos detalhes. Hoje é noite de impressionar. Victoria, você ficará na entrada, recepcionando os convidados. Jade, fique atenta às mesas do salão principal.
Vi Jade piscar para Victoria antes de se afastar, carregando uma bandeja de taças reluzentes. Victoria respirou fundo e se posicionou na entrada. Os primeiros convidados começaram a chegar: empresários, artistas, políticos. Ela cumprimentava cada um com um sorriso tímido, tentando manter a postura elegante.
No salão, Jade circulava entre as mesas, servindo drinks e trocando olhares de incentivo com a amiga. O ritmo aumentava, e eu percebia Victoria cada vez mais tensa a cada novo rosto famoso que cruzava a porta. Eu sabia exatamente como era sentir o coração acelerar diante do desconhecido.
Em determinado momento, vi uma cliente visivelmente embriagada se aproximar da entrada, apoiando-se em Victoria.
— Moça, você pode me ajudar? Acho que exagerei no vinho… — disse a mulher, com voz arrastada.
Victoria tentou ajudá-la, guiando-a até uma poltrona próxima. No movimento apressado, a cliente se desequilibrou e, ao tentar segurar a taça de vinho, Victoria acabou derrubando o líquido — justamente em mim.
O salão silenciou. Todos os olhares se voltaram para Victoria, que ficou paralisada de vergonha. Senti o peso da atenção sobre nós, mas, curiosamente, não senti raiva. Pelo contrário, uma compaixão inesperada me invadiu. Eu sabia o que era ser julgado, estar sob holofotes, e não queria ser mais um a aumentar o medo dela. Mantive o sorriso, usando o autocontrole que aprendi a cultivar ao longo dos anos.
Naquela noite, eu vestia um terno sob medida em tom escuro, perfeitamente alinhado às últimas tendências internacionais. O tecido realçava minha silhueta atlética, e os acessórios de luxo completavam o visual sofisticado. Mesmo diante do acidente, mantive a elegância — afinal, já vivi situações muito piores sob os holofotes.
Olhei para Victoria, avaliando a situação. Em vez de me irritar, sorri de lado, quebrando o clima tenso.
— Não se preocupe, acidentes acontecem — disse, tirando um lenço de seda do bolso e oferecendo a ela. — Aqui, pode usar. Só não me diga que esse vinho era o mais caro da casa.
Alguns convidados riram discretamente, aliviando a tensão. Victoria, ainda constrangida, aceitou o lenço e tentou limpar meu paletó.
— Me desculpe, senhor...
— Davis... — informei, vendo o nervosismo aumentar em seu rosto.
— Sr. Davis... Eu… eu só queria ajudar — disse Victoria, a voz trêmula.
Inclinei-me, falando baixo para que só ela ouvisse:
— Senhor Davis? Agora fiquei preocupado. Espero que não me trate assim a noite toda.
Ela corou, sem saber como reagir. Jade, que observava de longe, aproximou-se discretamente.
— Vic, está tudo bem? — sussurrou, preocupada.
— Acho que acabei de perder o emprego — murmurou Victoria, sem levantar os olhos.
Não consegui conter o sorriso divertido. Senti uma vontade genuína de tranquilizá-la, de mostrar que nem tudo estava perdido.
— Perder o emprego? Depois de um espetáculo desses? Acho que você acaba de garantir sua vaga — disse, olhando para Marina, que se aproximava preocupada. — Marina, certifique-se de que Victoria tenha um uniforme novo amanhã. E, por favor, alguém traga outro vinho para a cliente.
Marina assentiu, aliviada, e Jade soltou um suspiro de alívio.
— Viu? Você é impossível de ignorar — brincou Jade, tentando animar a amiga.
Victoria finalmente sorriu, ainda nervosa, mas senti uma onda de gratidão em seu olhar. Aquilo mexeu comigo. Era raro sentir empatia tão forte, mas havia algo nela que me fazia querer protegê-la.
Continuei observando Victoria com interesse. Havia algo nela que me intrigava — a sinceridade, o contraste com o universo superficial ao meu redor. Aproximando-me novamente, desta vez com um tom mais pessoal, disse:
— Victoria, certo? Espero que não se assuste com o glamour daqui. A maioria das pessoas só finge estar confortável.
Ela me olhou, surpresa com a gentileza.
— Eu… estou tentando me adaptar. É tudo muito novo para mim.
Assenti, olhando ao redor.
— Nova Iorque é feita de oportunidades para que novas histórias sejam escritas e pessoas tenham recomeços. E a Empire Nights também oferece isso. Se precisar de ajuda, pode me procurar.
Ela agradeceu, parecendo um pouco mais confiante. Jade, ao lado, não perdeu a oportunidade de provocar:
— Olha só, Vic, já começou bem. Só não vai derrubar vinho em mais ninguém, hein?
Rimos juntos, e o clima no salão voltou ao normal. O evento seguiu com música, risos e conversas animadas. Victoria, agora mais tranquila, cumpria suas funções com dedicação, e eu sabia que aquela noite marcava o início de uma nova fase — para ela e, talvez, para mim também.
Durante toda a noite, entre cumprimentos e conversas com convidados, não tirava os olhos da nova hostess. Sua autenticidade e coragem diante de todos me intrigavam. Eu sentia uma curiosidade crescente, uma vontade de entender o que havia por trás daquele olhar inseguro, mas determinado.
No final do evento, vi Jade encontrar Victoria nos bastidores.
— Sobreviveu ao batismo de fogo, hein?
— m*l posso acreditar. Achei que ia desmaiar de vergonha.
— Você foi incrível. E, sinceramente, acho que chamou a atenção do chefe.
Victoria riu, ainda sem acreditar no que havia acontecido.
— Não sei se isso é bom ou r**m.
Jade a abraçou.
— É ótimo. Você merece estar aqui. E amanhã, vamos arrasar juntas.
Enquanto as duas se despediam, passei pelo corredor e, sem resistir, parei por um instante para falar com aquela garota que já mexia com meus instintos.
— Boa noite, Victoria. Espero vê-la amanhã — disse, com um sorriso genuíno.
Ela respondeu timidamente, e percebi seu coração acelerar. Era quase engraçado pensar que alguém como eu pudesse causar esse efeito. Senti um calor inesperado no peito, uma faísca de algo que não sentia há muito tempo.
— Boa noite, senhor Davis.
Ouvi Jade sussurrar, divertida, enquanto me afastava:
— Senhor Davis é?… Isso vai dar história.
Sorri sozinho, sentindo que, talvez, aquela noite fosse mesmo o início de um novo capítulo — para todos nós. E, pela primeira vez em muito tempo, fui tomado por uma expectativa diferente: a de que algo verdadeiro pudesse acontecer, mesmo no meio de tanto luxo e superficialidade.