- E LÁ VAI A GAROTA MAIS DESEQUILIBRADA DOS TEMPOS, ESCORREGANDO NO SABÃO, E ELA VAI MARCAR, VAI FAZER UM GOL! - Hans estava, mais uma vez, fingindo não ser um arquiteto e sim um narrador de futebol. Agora ele segurava uma esponja com a mão toda cheia de espuma, e na outra, uma mangueira que jorrava água em cima do carro dele, que estávamos lavando.
Eu usava só um short e um top - era um dia raro, estava fazendo um solzinho. Até aqui, tudo bem, você ainda não entendeu o que meu pai estava narrando. Simplesmente o fato de que eu estava em cima do capô do carro, antes, passando a esponja, agora, preparada para escorregar e cair na grama do quintal. Isso mesmo, eu estava preparando a maior queda de todos os tempos! Que beleza, não existe coisa melhor para fazer não, Mad?
Eu me preparei, sentada no capô e então fiz impulso com as mãos. Meu short escorregou por todo o sabão, eu desci pelo vidro da frente e caí uns dois metro longe do carro, rolando na grama. Meu pai se aproximou, rindo e apontando a mangueira em cima de mim, me molhando completamente.
- E ESSA FOI A QUEDA MAIS INCRÍVEL DE TODOS OS TEMPOS, MAIS INCRÍVEL ATÉ DA QUEDA DO SEGUNDO ANDAR! E ELA MAAAAAAAARCA! - Gritou Hans, me fazendo gargalhar.
Aquela, era uma bela sexta-feira, em que meu pai tirou um dia de folga do escritório para lavar o carro junto comigo e mais tarde, sair para o centro e procurar um emprego provisório para a minha pessoa que, isso mesmo, estava economizando para comprar um carro ou um apartamento (como se eu quisesse sair da minha casa agora que descobri que moro ao lado do Century), enquanto não começavam as aulas do curso que eu iria começar a fazer sobre sei lá o que eu iria fazer, eu ainda estava pensando sobre isso.
- Agora chega, eu preciso trocar de roupa para a gente sair. - eu disse, entre gargalhadas. Me levantei da grama com a ajuda do meu pai e terminamos de tirar a espuma do carro. Após isso, subi as escadas com o maior cuidado para não bater de cara no chão e fechei a porta do quarto, pegando minha toalha em cima da cama.
Tomei um banho rápido e me arrumei. Eu não gostava muito de saias, mas hoje coloquei um vestido florido, até que me caiu bem. Parei em frente a minha baywindow e procurei vestígios de vida na casa dos meninos que provavelmente deveriam estar dormindo, pois era por volta das onze da manhã, ainda. Acontece que eu vi um movimento de uma das janelas do segundo andar. Empurrei minha cara contra o vidro para observar melhor e... SANTO CRISTO!
Henry caminhava de um lado para o outro no quarto, mas ele não simplesmente caminhava, ele estava tirando a blusa que vestia. E eu fiquei ali, de olhos arregalados, perdendo a noção do tempo em que fiquei. Só me lembro de parar de olhar para seu corpo, que agora estava apoiado na janela e subir os olhos para o seu rosto... e me dei conta de que ele estava olhando para mim.
Me atirei para trás, caindo no chão e começando a rir sozinha. d***a! Eu sou muito descarada.
O que eu ia fazer agora? Não acredito, nunca mais vou conseguir olhar para a cara do meu ídolo sem ficar morrendo de vergonha. Meu celular vibrou em cima da cama, eu puxei e apertei um botão para ascender a tela e vi a foto do Henry como plano de fundo, então comecei a rir. Tinha uma nova mensagem:
"Peguei você me espionando haha (:".
Que m***a! Eu havia até me esquecido, ele tem meu número! E agora, o que eu faço? Ah já sei, tenho um plano maligno perfeito! Vou pedir para o Loki arrombar a casa dos meninos, pegar uma COLHER de p*u (que provavelmente não deve existir lá, então ele pega uma da nossa cozinha mesmo) e vai bater na cabeça do Henry até ele esquecer o que aconteceu! Perfeito.
Mas o que eu estou pensando? Meu gato agente secreto não vai fazer isso, até porque, ele atualmente já está em uma missão.
- Loki? - Chamei. É, ele não estava em casa. - Eu odeio quando vilões farmacêuticos do m*l ocupam meu gato quando eu mais preciso dele! - E eu realmente preciso parar de falar sozinha.
Decidi olhar novamente pela baywindow para, sei lá, falar que eu não estava olhando para ele e sim para um pombo que estava no jardim da casa deles... Mas quando fui ver, ele já não estava ali. Suspirei aliviada. Espero nunca mais encontrá-lo, só se for em um estágio em que eu esteja gritando no meio de muitas fãs mais atraentes fisicamente do que eu!
- MAD! DESÇA AQUI, PRECISO FALAR COM VOCÊ! - Ouvi meu pai gritar da sala e revirei os olhos. Ele sempre fazia isso.
- Já vou logo avisando que não vou abrir o seu spray de barbear de novo. Você é um homem de quase meia-idade, já deveria saber fazer isso sozin...
Minha frase morreu quando levantei meus olhos do último degrau da escada (ninguém pode dizer que eu não estou tentando me afastar da textura macia do concreto do chão) e presenciei um dos momentos mais traumatizantes de minha vida: meu pai. Ou pelo menos uma versão mutante e mais acabada dele. Fico imaginando o que o chefe da grande empresa de projetos arquitetônicos pela qual meu pai trabalhava pensaria se visse o respeitável arquiteto Hans Harrison no estado que o mesmo se encontrava.
Uma barata mendiga e bêbada estaria em melhores condições. Hans tentava falar ao telefone, fazer cappuccino, pentear o cabelo, abotoar a camisa, subir as calças, procurar o cinto para as mesmas, escovar os dentes, e bom, respirar. É claro que ele não estava fazendo nenhum direito.
- Sim senhor, entendo perfeitamente... - Ele repetia essa mesma frase vezes seguidas, sempre balançando a cabeça em sinal de afirmação, como se a outra pessoa pudesse vê-lo fazendo isso. - Mad, precisamos conversar. - Ele disse assim que terminou de falar ao telefone (e de subir as calças).
- Tudo bem pai, eu posso trocar a areia do Loki hoje, mas saiba que era o seu dia... - Me adiantei, sabendo exatamente o que ele queria dizer.
- Não, Madison, eu queria te dizer qu...
Meu pai começou a me corrigir quando eu o interrompi novamente.
- Ah não pai, tirar o lixo também é s*******m e...
- MADISON HARRISON! PARE DE USAR ESSA SIRENE DE CARRO POLICIAL QUE VOCÊ APELIDOU DE BOCA E ME ESCUTE! - Meu pai gritou. Ah, os Harrison... Tão fraternos uns com os outros...
- Mas o que é, caramba? - Arregalei os olhos e desci o resto da escada.
- Eu recebi um trabalho urgente de um cara de outro país que veio em Seul só para me contratar, e meu chefe disse que se eu não chegar lá em dez minutos, estou fora. Preciso mesmo ir. - Ele disse. Eu fiz biquinho.
- E eu preciso mesmo de um emprego! - Disse. - Se não formos hoje, quando iremos? Você vai adiar isso para sempre! Você sempre faz isso!
- Não se preocupe, meu amor, eu arranjei alguém para passear com você. - Disse ele, terminando de abotoar a camisa... Toda errada. Eu me aproximei e abotoei direitinho enquanto ele tomava o cappuccino.
- Ah, sim, agora eu tenho em plenos dezoito anos, uma babá. Quem será dessa vez? Uma velha com uma verruga no centro do nariz que fala de forma fanha?
Meu pai saiu andando e rindo, pegando sua maleta de projetos arquitetônicos. - Não, não, dessa vez você vai gostar. Eu chamei os...
Então a campainha toca. Ele esticou o braço e abriu a porta, revelando sete meninos. Isaac e Bailey estavam bem na frente. Isaac estava comendo uma barra de cereais e abriu um sorriso do tipo "você tem chocolate para me dar?".
- Aí estão eles! Boa sorte com o emprego, tenho que ir, tchau filha. - E saiu de casa, fechando a porta atrás dos garotos que haviam entrado. Imagina a minha cara ao olhar para o rostinho do Henry.
- Mas e aí, Mad!? Tudo beleza? Comendo muita proteína ultimamente? Se esborrachando em mais alguns skate pra competição de "seja um pirata e caia da prancha, sendo essa de verdade ou não" do mês que vem? Admirando muito o abdômen "sarado", do Henry ali pela janela? Como vai o Harry, seu g**o do peito...ou melhor, da "testa"... Entendeu!? Do peito... Galo... Testa... - Joshua me bombardeou dois segundos depois de Isaac gritar:
- Olha! Cappuccino! Eu não estava mesmo afim de procurar um Starbucks...
Eu não sei o que era pior. Joshua tentando me convencer de que aquela piada fora realmente engraçada, ou Isaac invadindo (novamente) minha cozinha.
Espera... Como Joshua sabia que eu estava admirando a obra prim-, digo, Henry se trocando? Bem, isso não importa agora, sabe o que importa? Importa que eu estava muito vermelha e muito a fim de me esconder por causa disso, tanto que eu atirei uma almofada em Joshua, que começou a gargalhar, então eu me enfiei no sofá, escondendo o rosto.
- Arrrg eu não acredito que todos vocês sabem disso! - Eu choraminguei. Ouvia que a risada de Henry era a mais alta.
- Relaxa, Mad, a gente promete não contar para ninguém. - Disse Darwin, rindo também. - Opa, parece que o Backer já fez isso. - Ele voltou a rir, e eu o notei mexendo no celular. Deveria estar no twitter.
Eu arregalei os olhos e fiz biquinho. - Vocês são muito maus! Backer, cortei relações com você!
- Sério? Você fez isso mesmo? Logo hoje que eu te trouxe esse presente maravilhoso... - Backer exibiu uma barra enorme de chocolate suíço, meio amargo. Aquele que eu amava, mas era um olho da cara para comprar.
- Bem, eu posso rever esse conceito. - Tentei não sorrir, mas foi impossível. Ele se sentou ao meu lado e abriu a barra para nós dois comermos e eu ainda não estava conseguindo encarar o Henry.
- Para que nós viemos aqui mesmo? - perguntou Bailey - Ah, sim, vamos ajudar Mad a arranjar um emprego. Backer, guarda esse chocolate e vamos andando!
- Ah! Esperem, eu tenho que terminar de me arrumar! - falei, tímida. - Esperem aqui embaixo.
Subi as escadas rapidamente, tropeçando três vezes, que arrancou várias gargalhadas de Isaac, principalmente. Fechei a porta do meu quarto e entrei no banheiro, para terminar de arrumar o cabelo e passar uma maquiagem para meu novo chefe me amar. Fechei a tampinha do blush e abri a porta do meu quarto, me deparando com uma coisa que poderia ter me feito explodir de vergonha, mas não, eu só queria agora arrancar fora a cabeça de Joshua, Noah e Henry!
Isso mesmo, esses três filhos de uma boa sogra (a minha, claro) estavam na cara de p*u olhando minha primeira gaveta da cômoda... A gaveta de r************s.
- MAS QUE m***a? - Eu gritei e os três saltaram de susto. - Eu vou matá-los.
- CORRE NEGADA! - Gritou Noah para os outros, e os três saíram correndo do meu quarto. Claro que eu também tentei sair correndo atrás deles. Desisti quando cheguei ao pé da escada, quase levando um tombo muito f**o que possivelmente quebraria meus três dentes da frente, então Bailey colocou os braços na minha frente e me segurou.
- Eu não vou perguntar se eles estavam olhando suas gavetas. - Bailey falou, repetindo a frase para si umas três vezes tentando acalmar os nervos. Ele abriu a porta da sala e mandou todos saírem de casa, e assim fizemos, logo depois que eu puxei os cabelos dos três imprestáveis que estavam bisbilhotando minhas coisas.