PONTO DE VISTA DE HEAVEN-LEIGH
Desço a escadaria em espiral do quarto andar em meu vestido verde-menta de seda com alças finas, que amarravam no topo dos meus ombros e uma f***a grande, expondo toda a minha perna direita enquanto meus saltos brancos ecoam contra os degraus. Meu rosto não mostra nenhuma emoção enquanto passo por meus pais. Meu pai, Alpha Raymond, está usando um terno preto e minha mãe, Luna Gina, está usando um vestido branco com os ombros à mostra que chega até os tornozelos.
Eu queria elogiá-los por parecerem tão graciosos, mas nem me dei ao trabalho, afinal, estou muito irritada porque eles decidiram ter uma reunião com a nova alcateia vizinha hoje à noite, no aniversário da Mia. Por que não amanhã à noite ou depois de amanhã? Por que hoje à noite?
— Você está linda, querida — meu pai sorri para mim. Seu cabelo castanho claro está penteado para trás, enquanto o cabelo ruivo profundo da minha mãe está preso em um coque.
— Podemos resolver isso logo? — pergunto, e minha mãe me olha com raiva.
— Tome cuidado com o tom — ela adverte, e eu reviro os olhos.
— Tenho lugares melhores para estar, podemos ir? — pergunto impacientemente, ignorando a ameaça dela. Antes que minha mãe pudesse dar um passo em minha direção para me estrangular, meu pai segurou seu braço, assentindo enquanto saímos para o carro.
Havia alguns guerreiros treinando no gramado da frente da casa da alcateia, alguns antigos e outros novos.
— Henric, estarei em uma reunião — meu pai informa ao nosso beta, que acena, fazendo uma reverência em respeito antes de meu pai entrar no carro, que nosso manobrista trouxe da garagem subterrânea.
— Obrigado, Simon — meu pai acena antes de entrar no carro.
— Alpha, Luna, princesa — ele faz uma reverência para nós, e eu reviro os olhos com o nome que minha alcateia me deu desde o nascimento, princesa — só porque sou a primeira fêmea Alfa na história — ridículo.
Meus olhos seguem as profundezas da floresta enquanto seguimos por uma estrada de terra, observando algumas flores e árvores altas ao redor do território da nossa alcateia, mantendo-nos escondidos.
— Heaven-Leigh… — meu pai suspira, e lá vem ele com o sermão.
— Não — resmungo, e ele não continua, porque sabe que seu pequeno sermão iria me deixar ainda mais irritada.
***
Eu encaro em admiração a casa da alcateia da Torre Vermelha, grande e cinza, mas acho que a nossa é maior.
— Quanto tempo isso vai demorar? — pergunto, irritada.
— Vou fazer o que precisa ser feito o mais rápido possível, querida — meu pai sorri para mim pelo retrovisor, e eu reviro os olhos quando o carro para. Ele estava tentando me bajular, mas não vou perdoá-los se perder a festa da Mia.
— Por favor, seja simpática — meu pai implora, e minha mãe me olha com raiva. Se eu não estivesse tão brava, me importaria com o olhar mortal que ela me deu.
— Vou fazer o meu melhor — digo sarcasticamente antes de abrir a porta.
Um homem grande com uma cicatriz no rosto se aproximou de nós, com um sorriso forçado no rosto.
— Fico feliz que você veio, Raymond — ele sorri, e eu imagino que ele seja o alfa, pois nenhum lobo com uma posição abaixo se dirige a um alfa pelo primeiro nome.
— Como você está, William? — meu pai pergunta, e William sorri enquanto acena para meu pai.
— Estou ótimo — ele mente, posso ouvir a aceleração de seu coração. Claro, todo alfa diz que está ótimo, eles não querem que os outros saibam de seus problemas, isso os faria parecer fracos.
— Por favor, entrem. Minha família está esperando na sala de jantar — o alfa William faz um gesto em direção à casa e o seguimos.
Um delicioso cheiro de hortelã encheu minhas narinas e eu respirei fundo, sentindo meus olhos ficarem vermelhos, franzo a testa quando passo rude por William em direção de onde o aroma estava vindo. Passo por grandes portas pretas e a primeira coisa que vejo é uma longa mesa cheia de comida, mas isso não foi o que atraiu meu olfato. Olho ao redor da sala, procurando pela fonte deliciosa do cheiro, percebo uma mulher alta e William, o alfa, a quem meus pais seguem até ela.
— Vejo que você encontrou a sala de jantar — o alfa William ri constrangido e minha mãe segura meu braço.
— O que deu em você? — ela rosna.
— Está tudo bem — diz a mulher.
— Esta é minha esposa, Diane — o alfa William faz um gesto para a mulher e assim que ela se afasta, meus olhos se encontram com os dele. Meus olhos ficam vermelhos brilhantes, assim como os dele, enquanto caminhamos um em direção ao outro, presos no momento que ficará eternamente gravado na minha memória, vendo-o pela primeira vez.
— Parceiro — sussurramos juntos e todos nos olham, eu posso sentir seus olhares nos perfurando.
Nossos olhos voltam ao normal e sinto sua mão segurar a minha de maneira carinhosa, seu polegar acariciando a pele macia no topo da minha mão.
— Você é minha… — ele congela, uma expressão confusa cobre seu rosto e ele parece quase destruído, com certeza não é um bom sinal.
— Parceira — concluo, e ele assentiu lentamente, antes que uma garota se aproximasse dele, arrancando sua mão da minha e segurando-a. Minha mão de repente fica fria, mas estou assassinamente raivosa enquanto olho para ela.
— Grayson... o que isso significa? — Ela pergunta, seus olhos castanhos escuros da cor de fezes lacrimejando e um rosnado percorre minha garganta enquanto ela segura o que é meu.
— Que p***a você está fazendo? — Eu grito e meu coração afunda no estômago quando Grayson se coloca na frente dela, protegendo-a, não a mim, mas a ela.
Meus próprios olhos verdes ficam brilhantes enquanto as lágrimas enchem meus olhos.
— Quem é ela? — Eu engulo em seco, não conseguindo evitar que meu lábio tremesse e ele suspirou, soltando a mão dela e acariciando minha bochecha. Faíscas surgem em minha pele e eu me inclino na sensação agradável.
— Esta é Emily, minha companheira escolhida — ele murmura e eu sinto meu coração se partir em bilhões de pedaços, meus olhos brilhando em vermelho intenso quando olho para ela novamente.
Eu seguro o pulso de Grayson, a mão que acariciou minha bochecha, torcendo-o para trás até ouvir um osso se partir, um grito irrompendo de seus lábios. Parecia tão suave, mas eu estava com muita raiva para me importar. Ele cai de joelhos e eu o empurro para trás, ele cai no chão e ouço suspiros ao meu redor. Ela grita e se agacha ao lado dele, segurando o pulso dele e, antes que eu pudesse avançar para arrancar a garganta dela por tocá-lo novamente, sinto dois braços fortes envolverem meu corpo, levantando meus pés do chão e um rosnado profundo escapa de minha boca enquanto tento morder sua cabeça.
Quem diabos ela pensa que é pegando o que é meu? Roubando de uma alfa.
— Me solta — ela rosnou num tom exigente e meu pai sussurrou em meu ouvido.
— Acalme-se — ele tenta dizer da maneira mais reconfortante possível e o alfa William se agacha ao lado de seu filho, colocando seu pulso no lugar e o uivo dolorido que escapa de seus lábios me traz alívio, eu não seria a única a sofrer aqui.
— Parece que temos um problema — Luna Diane sorri cautelosamente e minha mãe assentiu com um sorriso forçado no rosto.
— Solte-o! — Rosno enquanto tento me libertar do aperto do meu pai.
— Só quando você estiver calma, jovem senhora — ele rosna para mim usando sua voz de alfa e eu soluço, deixando minha cabeça cair. Respiro fundo três vezes, olhando para o chão.
— Estou calma — murmuro honestamente e ele me colocou lentamente de volta no chão.
— Peça desculpas — minha mãe rosna para mim e minha cabeça se vira em direção a ela.
— Me desculpar? p***a, pelo quê? Ela tocou o que é meu! — Rosno, meus olhos voltando a brilhar em vermelho enquanto me viro ligeiramente, meus dentes caninos se estendendo, e ela me dá um tapa na cara, na frente de todos.
Que mãe eu tenho! Minha cabeça se vira para o lado e eu respiro fundo antes de dar um passo para trás.
— Eu te odeio — murmuro e duas mãos seguram meus ombros, as faíscas surgindo em minha pele, deixando-me saber que é ele.
— Podemos conversar? — Ele pergunta com uma voz tão suave, acalmando-me instantaneamente.
Eu assenti sem dizer uma palavra, enquanto seus dedos deslizam pelo meu braço e ele segura minha mão, me guiando para fora da sala. Eu não perdi o olhar de morte que Emily estava me lançando.
As mãos dele eram macias, ou eu estava apenas delirando, eu não me importava, as mãos dele pareciam certas, ele parecia certo. Seus olhos cinzentos olhavam para mim com amor, seus lábios pareciam tão macios e eu só queria me inclinar e beijá-lo.Ele levantou as mãos e acariciou minhas bochechas, um sorriso amoroso aparecendo em meu rosto enquanto eu olhava para cima para ele. Sua figura alta pairando sobre a minha menor.
— Eu não posso te aceitar como minha companheira — ele murmurou pedindo desculpas e eu senti meu coração doer cada vez mais, a raiva me percorrendo enquanto arranco suas mãos do meu rosto, empurrando-o para trás, fazendo-o tropeçar, seus olhos no chão, envergonhado. Meus olhos vacilam em vermelho quando Emily sai da sala, meus caninos se estendendo, e quando um rosnado mortal rasga minha garganta, eu me lanço para a frente, me transformando em uma loba de cor avermelhada, pulei sobre ela, fazendo-a cair no chão. Seu grito de terror me dando a maior satisfação e antes de poder afundar meus caninos nela, sou derrubada pelo lado por um lobo cinza-claro, quase prateado, e eu sabia que era ele, protegendo-a mais uma vez.