Armin POV
Balançava meus hashis distraidamente pensando em tudo o que estava acontecendo e a mão pálida de Nikita acenou em minha frente me tirando de meu transe.
Nem mesmo havia percebido que ele já havia voltado com seu lanche em mãos e que tanto ele quanto Theo e Vikram me observavam com estranheza.
– Está no mundo da lua desde cedo, aconteceu alguma coisa?
Questionando de sobrancelhas unidas ele apontou e eu vi, Theodore e Vikram me encarando e também esperando uma resposta.
Então engoli a seco e sorri falsamente voltando a comer.
– Fui dormir muito tarde ontem, estou com um pouco de sono. Só isso.
Expliquei o que não deixava de ser verdade já que eu fiquei tentando me lembrar de alguma ação suspeita de mamãe ou de Arzhel que eu pudesse fazer ligação com a carta, mas de nada me recordei.
Agora tudo parecia tão estranho.
Eu que antes confiava em minha família de olhos fechados, não sabia mais em que é no que confiar.
Arzhel estava mentindo, mamãe omitindo, e papai principalmente não estava sendo nada honesto sobre suas intenções em meu casamento.
Eu até mesmo esperava uma mentira vinda de meu irmão mais velho, mas nunca poderia sequer imaginar que mamãe estaria omitindo seu estado de saúde por tanto tempo.
Frustrado, passei os olhos rapidamente por Vikram eu vi que seus olhos me encaravam de uma maneira diferente. Ou eu que estava vendo ele de uma maneira diferente.
De alguma maneira agora nós estávamos mais distantes ainda depois do que aconteceu no teatro. Eu estava assustado e com medo do que ele poderia fazer comigo, já que ele se mostrara bem mais ameaçador do que eu achava que ele era.
Talvez eu estivesse sendo muito injusto, eu não sabia com quem estava lidando e estava mais do que em minha razão de ter medo, mas Vikram não havia feito nada contra mim até agora, e por isso eu repensava se ele realmente apresentava ser algum perigo.
Tirando-me de meus pensamentos, escutei uma bandeja bater na mesa e quando procurei a fonte do som vi Victor sorrir para mim e passar a mão em meu cabelo.
Abaixei meu rosto resignado sentindo seus dedos escorregarem por minhas madeixas.
Aquilo era o meu destino. Mesmo que eu me manifestasse e negasse meu pai me casaria a força de qualquer maneira.
Eu sabia que não adiantava fugir quando se tratava de minhas obrigações como filho concebedor.
Theo bufou revirando os olhos e cortando seus vegetais com raiva.
Ele nunca foi muito a favor dessa ideia de casamento forçado, e sentia que ele se sentia injustiçado junto comigo toda vez que meu irmão me jogava para algum possível pretendente.
Mas dessa vez Victor era o pretendente final e isso era nítido.
Todos não passaram apenas de distrações vindas deles apenas para eu não ter tempo de me relacionar com ninguém de verdade.
Isso era um pouco evidente e por isso eu me sentia tão frustrado.
Será que eles realmente pensam que eu sou burro ao ponto de não entender que estou noivo a mais tempo do que eles dizem que estou?
Niki franziu o cenho para o loiro ao meu lado.
Bom, claro que Nikita faz cara feia para todo mundo, mas parecia que ele não tinha ido com a cara de Victor em específico.
E não era pra menos, ninguém naquela mesa ia com a cara daquele mauricinho.
– Como foi sua noite, meu bem?
Perguntou Victor sorrindo ambíguo se sentando ao meu lado e passando seu braço por minhas costas acariciando o local com o polegar.
Suspirei um pouco cansado de brigar com ele já que ele tinha se mostrado muito insistente e persistente, e a essa altura do campeonato, não havia nenhum motivo para resistir.
Tudo o que acontece quando eu resisto a ele é dor. Ou ele machuca alguém ou ele me machuca, e eu definitivamente não quero mais isso.
– Um pouco difícil. E a sua?
Respondi murmurando e usando do resto de minha força de vontade que sobrara, então Theodore voltou a trazer seus olhos para mim como se eu tivesse acabado de o ofender.
Vikram POV
Vi Victor sorrir satisfeito com a resposta de Armin, então pude apenas ranger meus dentes me controlando entre a raiva e aquela estranha ardência que eu torcia muito para ser apenas azia.
O loirinho, amuado, se mantinha com a cabeça abaixada, encolhido entre o abraço lateral de Victor, e possivelmente não estava percebendo o quão próximo aquele nojento estava dele.
Eu sabia quais eram as intenções dele, e por isso eu abaixei minha cabeça deitando em meus braços para esconder meu rosto rindo incrédulo diante daquela cena.
Como ele pode simplesmente manipular Armin desse jeito como se ele fosse apenas sua aquisição?
– Ah, melhor impossível!
Respondeu ele me observando de soslaio com um sorriso afiado e passando o indicador pelo lóbulo da orelha do menor fingindo ajeitar seu cabelo apenas para tocá-lo mais um pouco.
Vejo que os olhos de Armin corriam de um lado para o outro em uma óbvia declaração de que estava pedindo socorro, seus ombros cada vez mais encolhidos apenas me diziam que ele estava assustado e isso só me deixava mais e mais frustrado.
Sinto minhas garras quererem saltar de meus dedos e, se fosse em outra época, eu rasgaria ele aqui mesmo.
Na frente de todos.
Não faria cerimônia nenhuma em deixá-lo todo recortado como uma obra abstrata.
Ele estava mexendo com alguém que significa muito para mim, e isso eu não posso aceitar facilmente.
– Mas quando você for oficialmente meu esposo, eu vou me certificar de que você durma muito bem...
Suas segundas intenções eram visíveis para quem quisesse ver.
Quase torci meu rosto em nojo pelo que estava ouvindo, mas me mantive inerte tentando não me expor ao máximo.
Também tentei voltar meus olhos para meu prato onde repousava minha comida favorita - como um gato de respeito - peixe.
Não funcionou muito afinal, já que eu ainda queria matá-lo alí mesmo.
Ou pelo menos deixá-lo ferido ao ponto de ele nunca mais querer se meter com Armin ou encostá-lo daquela forma.
– Hey, Vic! Você vem?!
Olhei para trás e vi Finn chamando Victor e estreitei meus olhos tentando entender o que esse loiro fazia andando com os garotos do H3.
Se bem que era algo bem previsível, não é mesmo?
– Você só pode ter enlouquecido!
Escutei a voz de Theo alta como um trovão quase ensurdecer minhas quatro orelhas.
E parece que eu não fui o único que sentiu essa leve dor, já que Niki fez uma careta.
– Como você deixa ele tocar em você assim?!
Armin deu de ombros rindo fraco e eu senti minha raiva escorrer pelos dedinhos dos pés percebendo que ele estava ferido com aquilo.
Não fisicamente, entenda, ele estava ferido emocionalmente.
Era óbvio isso, mas o pior de tudo era que eu não podia interfirir naquilo diretamente. Pelo menos não tanto quanto deveria.
Ele estava sendo muito afetado por causa de Victor e eu.
Eu sabia disso, por isso estava tentando de qualquer forma acabar com isso tudo, mas parecia que ficar preso naquela casa era meu karma.
– Eu não tenho nenhuma opção, Theo...
Ele disse finalmente me encarando e eu tentava de qualquer maneira passar o que eu estava pensando para ele apenas por olhares.
Tentava dizer para ele que aquilo era uma má ideia. Se meter com um Goldberg não era uma coisa boa, não traria nada de interessante para sua vida.
Queria que ele entendesse que mesmo que ele estivesse achando que se submeter fosse uma boa ideia, isso apenas faria com que ele estivesse mais e mais afundado nesse poço de lama chamado Victor Goldberg.
Porém, mais uma vez seus olhos se desencontraram dos meus e eu não consegui me expressar o suficiente.
Quando minha vida havia se tornado isso?
Eu não queria que Armin se casasse de maneira nenhuma com aquele homem, mas sabia muito bem o preço de uma desobediência.
Então eu preferia que ele mesmo escolhesse seu próprio caminho.
Mesmo sabendo que se fosse esse, ele caminharia para o seu próprio fim...
– Idai?! Grite, lute, negue! É a sua vida, você precisa tomar as rédeas da situação!
Theo ainda apoiava indignado com aquela situação e eu dei uma garfada no peixe que já estava frio.
Ele parecia o único naquela mesa disposto a fazer o que eu tanto queria fazer.
Ele parecia tão enojado daquela situação quanto eu, e isso me fez respirar parcialmente em alívio, já que eu não era mais o único alí.
– Eu sei, mas por quê? Por qual motivo?!
Armin respondeu com os olhos cheios de lágrimas e eu senti meu coração se apertar por um segundo.
Era assim que ele se sentia?
– É a sua vida, Min! Se você não lutar por ela quem vai lutar?!
Ele abandonou seu garfo na bandeja gesticulando afobado tentando fazer com que ele acordasse e eu não consegui mais me manter calado diante daquela situação me pondo de pé e batendo a palma das mãos na mesa.
Com a atenção indevida direcionada a mim, tudo o que me restou depois desse impulso i****a foi fingir que não ia falar alguma merda fora de meu personagem.
– Vikram luta!
Disse com muito mais argumentos presos em minha garganta, mas foi apenas isso que deu para dizer em meu vocabulário átimo.
Porém de alguma forma aquilo pareceu o suficiente já que Armin me encarou e sorriu pequeno.
Merda, eu só podia estar com a cabeça no mundo da lua.
Eu já estava atolado nessa situação o suficiente e não precisava de mais nada que me enfiasse mais nisso.
Mas toda vez que eu via que ele estava se aproximando de Victor era inevitável querer os separar.
Não por sentir algo por ele além de afeto amigável, mas por saber bem quem era Victor.
Apenas eu, de todos o que estavam alí, conhecia exatamente como ele agia e como ele realmente é.
– Isso mesmo, Vikram luta por mim!
O loirinho respondeu parecendo secar um pouco o canto dos olhos como se eu não fosse perceber e por algum motivo começou a cortar o peixe em meu prato.
Sorri ladino percebendo que ele estava achando que eu não estava comendo porque não estava conseguindo cortar.
Quando na verdade eu não estava comendo porque queria cortar a garganta de uma pessoa ao invés desse filé de peixe.
– Agora coma, precisamos estar fortes pois hoje temos teste físico!
Armin desconversou rapidamente apontando para nossos pratos e eu encarei Nikita que ria.
Não de felicidade, ele ria - literalmente - da minha cara.
Niki sabia bem de onde eu tinha vindo e deu uma de João sem braço para que eu continuasse no anonimato pois ele sabe bem o quão difícil é pessoas como nós nos escondermos na sociedade.
Ele também sabia que eu não tinha nada de deficiência intelectual coisa nenhuma, e estava apenas suprindo esse personagem para manter minha pele sã e salva.
Torci sutilmente o nariz e ele reprimiu mais uma risada.
Pelo menos eu não estava mais sozinho nessa, agora tinha pessoas em quem eu podia confiar e me abrigar.
O que eu precisava evitar era desentendimentos e coisas que remetessem ao meu passado.
Um bom exemplo foi aquele desentendimento do beijo.
Bom, na verdade aquilo nem beijo foi, mas eu sabia que para Armin aquilo significou de alguma forma.
E, bem... eu me senti meio culpado.
Na verdade nunca foi minha intenção beijá-lo, ou esbarrar, que seja.
Vi que ele ficou desconfortável mas não podia deixar de me sentir um pouco pervertido demais ao - na maioria das vezes mais pela parte da noite - me lembrar da cor de seu rosto assim que o ato aconteceu e sorrir.
O que eu poderia fazer se aquilo era puro entretenimento?