Confissões de uma concubina

266 Words
Confissões de uma concubina As confissões de uma concubina. Eu não sou mais nada. Nada além da concubina de minhas dores, minhas insatisfações, minhas frustrações, minhas necessidades prontamente desconsideradas, ignoradas, pisoteadas, vilipendiadas, desprezadas, queimadas na fogueira. Sou eu, escarnecida, despojada de toda dignidade, ajoelhada no altar dos desejos dos outros. Forçada. Forçada a voltar a espaços estreitos que m*l se adaptam ao meu desejo de liberdade. Ao final de cada dia resta apenas uma penetrante sensação de vazio interior, como se minhas entranhas tivessem sido roubadas. E espero ainda fugir e não ouvir nada, esquecer esse tormento que nunca me abandona. A noite sonho acordada em poder me libertar dos cadarços que me deixei amarrar e poder soltar-me deles. Ser capaz de fazer sem o pouco de mendicância que eu posso ter vergonhosamente. A minha vida é uma via de mão única, a dicotomia entre dar e receber, entre o desejo pungente de viver e a existência que se consome momento a momento, na vã tentativa de recuperar minha vida, como eu queria. E nenhuma resposta do vazio cheio de pessoas ao meu redor. Assim aprendi a refugiar-me no universo solitário dos dias desvanecidos. Cada vez que eu entendia tarde demais, e preso, percebia o papel que deveria ter desempenhado naquele momento da minha vida, naquela situação, enquanto à noite os pensamentos se misturavam com os sonhos e os sonhos com as lembranças. Com o tempo aprendi a deixar o eu que queria ser pendurado em um cabide e minha vida continuou inexoravelmente, numa tentativa nunca feita de escapar da inadequação que ninguém jamais havia remediado.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD