A minha vida nunca foi normal
Desde os meus 7 anos, que tenho sofrido muito.
Meus pais se separaram quando eu tinha 7 anos, e daí tudo para mim
Foi de m*l a pior. No princípio eu não ligava, pensava que eles poderiam se acertar e que tudo ficaria bem.
Mas eu me enganei.
Vivíamos numa cidade em Angola
Província do Uíge. Depois da discussão dos meus pais, minha mãe saiu de casa
Junto comigo e meus irmãos.
Se Passaram dois meses, e depois minha mãe foi informada que os meus avós estavam doentes. A gente estava sem dinheiro, minha mãe teve que vender as nossas mobílias de casa para viajarmos até o Kwanza sul, onde meus avós moravam.
Eu não suportava a ideia de deixar o meu pai para trás, eu o amava muito
Ele ele o meu herói, sempre brincava com a gente, e nunca me batia, ele era um bom pai, que levava os filhos para o parque, ale nos levava até mesmo no seu serviço, e lá éramos muitos respeitados, sendo que meu pai era o tenente, seus colegas nos olhavam com admiração.
Mas a minha tristeza não adiantou em nada, nós viajamos e logo estávamos lá com os meus avós que eu não via há anos. Assim que chegamos, conheci vários familiares meus, e assim foi acontecendo até que a minha mãe se casou com outra pessoa.
Nessa altura eu já não tinha notícias do meu pai.
Eu sentia saudades dele, sentia a sua falta quando brincava com os meus primos e amigos que sempre me deixavam de lado.
A minha vida era difícil. Eu me via com irmãos que preferiam estar com amigos do que comigo, preferiam dar coisas aos amigos do que para mim. muitas das vezes a gente escolhia brincar de cantar
Eu sempre ficava em último
Ouvia todos eles cantando e se divertindo, que até se esqueciam que tinham que parar para dar lugar a mim
Mas quando chegava a minha vez, eles perdiam a vontade e trocavam de brincadeira onde eu preferia não entrar.
Quando eu ficava triste, eles simplesmente me ignoravam.
Só espero que não se arrependam depois.
Nessa altura até eu tinha pena de mim
Ficava de canto e solitária, chorava em silêncio.
Com os meus 9 anos minha mãe se separou outra vez, e tivemos que mudar de casa, minha mãe se mudou para o município da Gabela, eu fiquei em casa de uma tia enquanto terminava os estudos, lá era só sofrimento e m*l tratos, eu chorava pensando em minha mãe e no que a nossa vida se tornou.
Até a minha própria família me fazia chorar, eu chorava de manhã tarde e noite, era só uma criança, e já assim me mandavam fazer trabalhos forçados a toda hora e a todo momento
Até que um dia eu decidi fugir.
Ainda sem notícias do meu pai.
Numa sexta feira, decido ir para escola
Era o último dia do ano e meus colegas organizaram um piquenique no riacho
Era conhecido como um dos rios mais perigosos de Angola, denominado Rio Kwanza.
Depois das aulas eu e minhas colegas fomos para o piquenique.
É claro que comigo sendo sempre excluída de tudo, elas só me deixaram ir porque eu implorei como uma tonta desesperada por atenção.
Chegando lá, tinha umas árvores cheias de mangas verdes
E eu era apaixonada por manga verde com sal.
Até hoje sou.
Estendemos os panos e arrumamos as comidas, a única coisa que eu levei foi bolo simples, e foi um esforço levar aquele bolo, eu tive que rouba
Nada contra quem não gosta de roubar.
Não me julguem! Eu era criança.
Comemos e bebemos, alguns colegas até estavam a nadar, mas eu estava com muito medo de entrar no rio porque ouvi muita gente dizendo que tinha jacarés e sereias. Outros diziam que pessoas fazem rituais no rio. E outros diziam que antes de nadar temos que falar com o proprietário, caso contrário morreríamos afogados
O que eu achei bem estranho, como é que um rio tem proprietário? Ele não é público?
Estava sentada com uma colega que depois também decidiu ir nadar um pouco, e olhava para eles e tudo parecia tão fácil, eles se moviam de dentro para fora da água como se não tivessem medo de nada, eu no lugar deles morreria de medo.
___oi Niures, estamos indo do outro lado do rio
Fala uma colega me chamando, o que eu achei estranho, será que ela está planeando me matar na água?
___claro, vamos então, mas eu não irei entrar na água
Falo para ela, se levantado.
___como não? Lá é bem mais fácil de nadar, não tem corrente nem nada.
E como uma burra, dependente de atenção, aceito.
___vamos então.
Pego as minhas coisas e vamos caminhando até o outro lado do Rio
O lugar onde a gente estava, era mais fácil de dar a volta, porque era quase na beira do rio, onde a água pára no joelho.
Ao chegar lá, vimos uma senhora que nos aconselhou a voltar porque aí era perigoso de mais. logo meus colegas começaram a pular na água, para voltar onde estávamos.
___ meninas, aqui vocês têm que pular
Porque tem um buraco no meio
Falou a Nazaré, a colega que se acha a líder do grupo.
Eu estava no meio de duas colegas
Quando a da direita pulou, a da esquerda também pulou seguindo ela.
Elas nadavam e me chamavam para ir logo. Olho para o meu lado direito e esquerdo, e vejo que estou sozinha, olho para trás e vejo a senhora se aproximando de uma maneira estranha.
Sem mais hesitar, pulei na água com medo de cair no buraco, dentro da água me lembrei que não sei nadar, e sou muito pequena, as probabilidades de eu morrer afogada eram maiores do que as probabilidades de eu sobreviver, mexo meus pés para tentar sair daquele lugar, tento nadar e não consigo, dando conta que estou a afundar, acumulo ar no peito e coloco todo meu peso sobre os meus pés, para ver se consigo andar na água, e chegar do outro lado do rio, fico agitada quando percebo que meus pés não tocam no chão do rio, coloco meus braços para fora, tentando pedir ajuda e também não chegam a superfície
Fico apavorada dentro da água, logo sinto meu corpo sendo puxado pela corrente do rio, que me arrasta em sua direção, tento gritar, mas a minha boca se enche com água, sinto uma falta de ar que me sufoca, tento respirar e tudo que consigo é encher as minhas narinas com água, me fazendo se asfixiar com a mesma. Depois de tanto tempo lutando e querendo sair dali
Notei que já não tinha forças, então decidi me entregar ao rio, e me deixar levar pelas suas correntes bravas.
Com um pouco de consciência me lembrei das palavras que a minha mãe sempre me dizia.
_nem tudo é para todos, algumas pessoas são fortes para coisas que outras simplesmente não aguentam
Melhor não ficar com pessoas que te fazem fazer, coisas que você não se sinta bem fazendo
Logo senti meu corpo ser jogado contra algo frágil, ouço barulhos de pessoas e um alívio se instala em minha mente me fazendo criar esperanças. Estava em um estado de choque interno, no qual não conseguia dizer uma palavra, porém conseguia ouvir tudo ao meu redor.
Despertei despejando água pela boca, e tossindo desesperada por falta de ar. Olho ao meu redor, e vejo pessoas lavando roupa na água do rio, outras tomando banho, eles me olhavam curiosos e despreocupados.