Harmony
Harmony acordou com o corpo inteiro dolorido e a cabeça latejando. Sentiu o estômago revirar e soube que ia vomitar — rolou para fora da cama e correu para o banheiro, onde vomitou várias vezes. Desabou no chão, tentando se lembrar do que havia acontecido na noite anterior.
Sabia que tinha ido à festa de Natal da empresa com os colegas de trabalho. Queria, na verdade, celebrar o aniversário de Damien apenas entre os dois, mas o escritório havia marcado a festa exatamente para aquele dia. Ela tinha planejado passar uma ou duas horas no clube, e depois os dois iriam comemorar em particular.
Harmony se perguntou onde ele estava. Estava em casa, mas não lembrava como havia chegado ali. Sabia que tinha bebido coquetéis e doses, e ela não era exatamente uma boa bebedora — Damien a incentivara a beber mais, dizendo que não se importava em comemorar o aniversário junto com a festa de Natal da empresa, já que praticamente todos com quem ele convivia estariam lá.
Deve ter bebido bem mais do que de costume. A noite era uma mistura confusa de lembranças — bebidas, dança, mais bebidas. Franziu o cenho, lembrando-se de uma imagem vaga dela chorando, talvez.
Balançou a cabeça para afastar o pensamento e se levantou do chão do banheiro. Realmente precisava aprender a dizer não a Damien quando ele a forçava a beber. Não era a primeira vez que ele a deixava completamente bêbada, nem a primeira que acordava sem memória da noite anterior. Não gostava da sensação de não se lembrar do que tinha feito — e já tinha dito isso a ele.
Ele só ria e dizia: “Você só vive uma vez, sabia?” Ficar bêbada uma ou duas vezes por ano não fazia m*l algum, segundo ele. Mas essa já era a terceira vez em poucos meses. Lembrava-se de ter dito que não queria beber, mas ele insistira: era aniversário dele, hora de “se soltar”.
Lembrava-se dele dançando com ela, entregando copo após copo, até que tudo se apagou.
Harmony suspirou, escovou os dentes, gargarejou com enxaguante bucal e tirou a roupa. Foi então que percebeu que não estava usando nenhuma roupa íntima. Piscou, confusa, pegou uma toalha e foi até a porta do quarto. Olhou para fora — nada de Damien. Balançou a cabeça; teria de perguntar o que tinha acontecido, mas só depois do banho e do café.
Fez exatamente isso: tomou um banho e vestiu um jeans folgado e uma camiseta branca simples, estampada com flocos de neve e ramos de visco. Gostava do Natal — das pessoas felizes, das risadas, do espírito leve. Aquilo a lembrava da casa da infância, cheia de alegria e diversão em volta da árvore de Natal.
Ela foi até a cozinha e encontrou a bolsa e as chaves sobre o balcão, junto com o celular. Pelo menos não tinha perdido nada. Notou que o telefone piscava, indicando uma nova mensagem. Pegou-o enquanto colocava a chaleira no fogo para preparar café.
Desbloqueou a tela e leu a mensagem acompanhada de um símbolo de “play”: “Caso tenha esquecido o que ele fez ontem à noite.” Franziu a testa, sem entender. Quem teria mandado aquilo? Não era nenhuma de suas amigas, não havia identificação de remetente, mas devia ser algo da noite anterior. Provavelmente Damien havia feito alguma besteira, e algum amigo achou engraçado o suficiente para filmar e mandar.
Harmony apertou o botão de reproduzir — e ficou absolutamente horrorizada. Diante dela, Damien aparecia transando com Chloe, uma das garotas do g***o de amigos deles. Ficou paralisada vendo-o beijar e tocar Chloe por todo o corpo antes de virá-la e incliná-la sobre a mesa para penetrá-la.
Ouviu Chloe gemendo o nome dele, dizendo que ele era o melhor, pedindo para que fosse mais forte, para não parar. Ouviu a voz de Damien em resposta, dizendo o nome dela, dizendo o quanto estava gostando, prometendo que transaria com ela de novo quando chegassem em casa.
E então, no vídeo, ela mesma apareceu — entrando no quarto e vendo tudo.
Harmony assistiu, incrédula, enquanto Damien olhava diretamente para ela — e mesmo assim não parava. Não tentou se afastar de Chloe, não demonstrou arrependimento algum. Continuou, indiferente, enquanto ela fugia da sala. O vídeo terminava ali.
Ela ficou olhando para a mensagem sob o vídeo: “Caso tenha esquecido o que ele fez ontem à noite.”
E realmente tinha esquecido. Não lembrava de absolutamente nada.
Deixou o celular sobre o balcão e sentiu as lágrimas escorrerem pelas bochechas. Três anos juntos. Na semana anterior, eles estavam conversando sobre noivado. Ele estava sorridente, foi quem trouxe o assunto, dissera que o pedido viria no Natal, no Ano-Novo ou no Dia dos Namorados — que seria uma grande surpresa. Riu, abraçou-a, provocou dizendo que não contaria o momento certo, mas que seria algo marcante.
Harmony se perguntou por quê. Por que ele faria isso? Por que falaria em casamento... se estava lá, traindo-a daquela forma?
Então ela começou a se perguntar como havia chegado em casa. Normalmente, era Damien quem a levava — para casa ou para o apartamento dele —, mas ele não estava ali. Não se lembrava de nada. Nem mesmo sabia onde estava sua roupa íntima, apenas que não a estava usando quando acordou. O corpo inteiro doía, como se tivesse feito s**o — e muito. Um arrepio percorreu suas costas diante da ideia de não se lembrar de nada.Será que Damien a trouxera para casa e transara com ela também?
Correu de volta para o banheiro e vomitou novamente. Depois, ficou ali sentada no chão frio, encarando o nada por sabe-se lá quanto tempo, até conseguir se levantar e voltar para a cozinha. Ficou olhando para o celular por longos minutos, antes de se afastar. Não conseguia lidar com aquilo agora.
Foi até a sala e parou diante da lareira, olhando fixamente para a foto dela com Damien no porta-retratos — tirada há apenas dois meses, no aniversário de namoro. Ficou paralisada quando viu o que estava escrito embaixo: “Não se esqueça de dar um pé na b***a dele.” E um grande “X” riscava o rosto de Damien.
Virou-se lentamente e olhou ao redor da sala. Em todas as outras fotos dele, havia também um grande X desenhado sobre o rosto.
Quem quer que a tivesse trazido para casa obviamente sabia o que havia acontecido no clube — ou tinha visto tudo — e queria garantir que ela soubesse. Mas ela não fazia ideia de quem era, nem de quando exatamente havia sido levada para casa. Não sabia o que fazer consigo mesma.
Trabalhava no mesmo escritório que Damien e Chloe. Não fazia ideia de há quanto tempo os dois estavam juntos pelas suas costas. Pensando bem, eles eram bem próximos. Sempre os via rindo no escritório. Chloe frequentemente almoçava com ela e Damien.
Lembrou-se de quantas vezes Damien a incentivara a beber até perder o controle — e de quantas vezes ela acordara sem lembrar como chegara em casa, ou sequer como a noite terminara. Agora se perguntava se ele fazia aquilo de propósito... se a embebedava para poder sair com Chloe sem que ela desconfiasse. Refletiu sobre isso com atenção — porque ele sabia muito bem que, quando ela bebia demais, não se lembrava de nada depois de certo ponto da noite.
Da última vez que isso aconteceu, ela acordou na cama dele, no apartamento dele — e Damien e Chloe já estavam na cozinha, tomando café e rindo. Ambos sorriram para ela, chamando-a de dorminhoca, e ainda zombaram dizendo que ela nunca se lembrava das noites em que saíam.
Ela não havia pensado em nada disso antes. Mas agora se perguntava se ele não apenas a embebedava até fazê-la desmaiar, como também levava Chloe para o apartamento dele — e transava com ela enquanto Harmony estava inconsciente, deitada em sua própria cama. Talvez ele apenas usasse o quarto de hóspedes para Chloe dormir depois.
Um arrepio de repulsa percorreu seu corpo. Agora ela tinha certeza de que aquele homem a traía — e há muito tempo. O que vira e ouvira naquele vídeo não era algo de uma primeira vez entre duas pessoas.
O que faria agora? Devia ligar para Damien e confrontá-lo? Ir até a casa dele e jogá-lo contra a parede? Ou esperar para ver o que ele diria? Ele sabia que, quando ela bebia até desmaiar, raramente se lembrava de algo no dia seguinte. O namorado de três anos tentaria fingir ignorância? Agir como se nada tivesse acontecido, como se ela não tivesse visto?
Ela pensou seriamente nisso. Sabia que ia esperar. Queria ver o que ele faria.
Com certeza não fora ele quem a levara para casa — ele nunca teria rabiscado o próprio rosto nas fotos. Harmony levantou o olhar para as molduras, depois se ergueu e arrancou todas da parede, jogando-as direto no lixo.
Não fazia ideia de quem a havia trazido de volta, mas naquele momento estava grata por isso.
Passou o resto do dia inteiro sentada, olhando para a televisão ligada, sem realmente enxergar nada. A mente estava vazia. Damien não ligou, não mandou mensagem, nada. O celular permaneceu teimosamente silencioso o dia todo.
Então era isso — ele ia fingir que nada acontecera. Provavelmente achava que ela não sabia de nada.
O fato de ela não tê-lo procurado, de não ter gritado nem cobrado explicações, provavelmente o fazia acreditar que ela havia esquecido do que viu. Talvez não lembrasse de tudo... mas tinha o vídeo. E iria guardá-lo. Seria sua prova quando ele tentasse negar — e ela tinha certeza de que ele tentaria.
Harmony se sentia anestesiada, vazia, vendo sua vida ruir. Achava que Damien seria sua família. Dava-se bem com os pais dele, os irmãos, todos gostavam dela. Era bom ter aquela sensação de pertencimento, de família estendida. Mas agora tudo havia acabado.
E mais uma vez... ela estava sozinha.
Harmony se deitou na cama naquela noite e ficou encarando o teto escuro, perdida em pensamentos. Perguntava-se por que aquilo estava acontecendo com ela. O que tinha feito para merecer? Era uma boa namorada, pensava. Sempre deixara Damien sair com os amigos, viajar com eles para acampamentos, pescarias e caçadas. Nunca o cobrava por passar tempo com amigas. Dava-se bem com praticamente todo o círculo social dele.
Também trabalhava duro na empresa da família dele. Já estava lá há bastante tempo — um ano inteiro antes de ele sequer convidá-la para sair. No começo, fora reservada quanto a isso, já que trabalhava para o pai dele. Mas Damien a tranquilizara, dizendo que o relacionamento não interferiria no trabalho. E, de fato, eles mantinham tudo profissional durante o expediente — com exceção dos almoços juntos.
Eles nem trabalhavam no mesmo andar. Ele estava sendo preparado para assumir o comando da empresa, e ela se contentava com o cargo de secretária de um dos advogados da firma. Nunca quis subir de posição ou trocar de setor — não queria que dissessem que estava dormindo com alguém para crescer profissionalmente. Continuava trabalhando para o mesmo homem que a contratara.
Agora, porém, se perguntava o que aconteceria dali em diante. Conseguiria continuar trabalhando lá, vendo Damien e Chloe todos os dias? Era improvável, pensou com amargura, já que Chloe ficava no mesmo andar que ela.
Não conseguia entender o que havia feito Damien se voltar para outra mulher. Eles dormiam juntos com frequência, passavam noites um na casa do outro. A vida s****l deles era boa — praticamente todas as noites, exceto quando ele viajava a trabalho.
Suspirou, sentindo o peito apertar. Seriam dias longos e pesados, pensou tristemente. Pegou o celular e olhou para a tela: nada. Nenhuma ligação, nenhuma mensagem. Um dia inteiro... e silêncio absoluto.