Capítulo 4

2051 Words
Harmony Na segunda-feira de manhã, Harmony entrou no escritório. Tinha recebido apenas uma mensagem de Damien no domingo pela manhã: “Desculpe, amor, fui chamado pelo meu pai para uma reunião de negócios na propriedade. Vejo você na segunda no escritório.” Ela ficou olhando para aquela mensagem com raiva. Então ele realmente esperava que ela estivesse no escuro sobre tudo. Fingindo normalidade. Respondeu apenas: “Ok. Aproveitou o aniversário?” — jogando o blefe, fingindo não saber de nada, já que era exatamente o que ele estava fazendo. A resposta dele veio curta e seca: “Sim.” E nada mais. Ela também não respondeu. Pelo visto, ele acreditava mesmo que ela não sabia de nada. Caminhou pelo corredor do quarto andar até sua mesa e pousou a bolsa. Viu Chloe já sentada na própria estação de trabalho — e teve que conter o impulso de ir até lá e esbofeteá-la. Mas não o fez. Faltavam duas semanas e meia para o Natal, e a época deveria ser alegre. Além disso, até poucos dias atrás ela esperava um pedido de casamento — Damien tinha falado sobre isso na semana anterior, com tanta empolgação... Harmony desviou o olhar de Chloe quando a dor apertou o peito. Saber que aquela mulher dormia com seu namorado — e provavelmente ainda estava dormindo com ele — era devastador. Era bem possível que Chloe tivesse passado o fim de semana inteiro na casa dele, já que Damien dissera que estava na propriedade do pai. Assim, Harmony nem pensou em ir até lá — afinal, ele “não estaria”. “Oi, Harmony! Onde você se meteu na sexta à noite? Você sumiu, ninguém te achava!” Chloe se aproximou, apoiando-se na mesa dela. Usava o de sempre: uma saia-lápis justa e uma blusa de mangas curtas, dessa vez com um boneco de neve sorridente bordado no bolso — o escritório incentivava algo com tema natalino. Harmony pôde ouvir o tom leve e amistoso na voz dela. Ainda falava como se fossem amigas. Como se nada tivesse acontecido. Sem nervosismo, sem culpa. Claro — o caso com Damien devia estar acontecendo havia tempo o suficiente para ela se acostumar a mentir bem. Harmony sentou-se, mantendo a voz calma. “Não sei... não lembro de nada.” Chloe deu uma risadinha. “Você precisa parar de beber até apagar.” “É. Não vou mais beber. Cansei de não saber o que acontece ao meu redor.” Ela ergueu o olhar e o fixou em Chloe. “Nem sei como cheguei em casa.” Chloe franziu levemente o cenho, mas ainda tentou manter a leveza na voz. “Ah, você pode beber um pouquinho, sabe? Se divertir um pouco.” “Não, chega.” Harmony respondeu firme. “Acho que misturar bebida com antibiótico só piorou tudo.” “Bom, é melhor eu voltar pro trabalho.” Chloe disse, dando meia-volta e se afastando, mas o tom dela soou irritado. Harmony observou discretamente quando a viu se sentar e começar a digitar algo furiosamente no celular. O rosto da mulher se contraiu de raiva, os dedos movendo-se rápidos na tela por vários minutos, até que ela largou o telefone na mesa com força. Chloe levantou o olhar diretamente para Harmony, o semblante duro, antes de forçar um sorriso. “Ah, meu pai tá sendo um inferno, sabe como é... Ah, desculpa, você não sabe, né?” Harmony piscou lentamente. Não, ela não sabia — porque nunca tivera problemas com o pai. Dava-se bem com ele e com a mãe. Sempre fora uma filha tranquila e educada. O comentário soou mais como uma provocação do que um pedido de desculpas. Quinze minutos depois, ela ouviu seu nome sendo chamado. Levantou os olhos e viu Damien vindo em sua direção. Estava sorridente, confiante, como se nada tivesse acontecido. O sorriso se alargou ainda mais quando os olhos dele encontraram os dela. Ele claramente acreditava que ela não sabia de nada. Harmony desviou o olhar para Chloe — e a pegou quase a fulminando com os olhos, embora o olhar hostil logo desaparecesse, substituído por um sorriso rápido e falso. Ah, sim, ainda estavam juntos. Devia ter passado o fim de semana com ele, pensou Harmony. Agora via com clareza. A “outra” não estava nem um pouco satisfeita em vê-lo se aproximando da namorada oficial. “Harmony, senti sua falta, amor! Onde você se meteu na sexta? Você sumiu e não consegui te achar em lugar nenhum.” Damien apoiou-se na borda da mesa dela e inclinou-se para beijá-la. Ela recuou imediatamente, o corpo rígido, afastando o rosto. Não deixaria aquele homem encostar nela — não depois de saber onde aqueles lábios estiveram. Provavelmente com Chloe, durante todo o fim de semana. Ele piscou, surpreso. “Harmony?” questionou, confuso com a reação. Aquilo não era normal — ela sempre fora carinhosa com ele. “Você não me encontrou porque estava ocupado transando com a Chloe na sala VIP.” “O quê? Não, eu não estava!” ele retrucou, o olhar se tornando uma mistura de indignação e alarme. “Estava, sim. Eu vi com meus próprios olhos.” respondeu ela, firme. Talvez não se lembrasse da cena em si, mas vira o vídeo. Tinha a prova. “Amor, acho que você sonhou. Por que eu faria uma coisa dessas com você?” ele disse, com um tom leve, quase zombeteiro, como se aquilo fosse uma brincadeira absurda. “Também gostaria de saber a resposta pra isso. E gostaria de saber há quanto tempo isso está acontecendo.” Harmony o encarou com ódio. Não podia acreditar que ele ainda tentava negar — mesmo depois de ela ter dito claramente que o viu com os próprios olhos. “Você estava bêbada, Harmony. Tão bêbada que m*l conseguia ficar de pé.” ele retrucou. “Não tão bêbada a ponto de esquecer de ver você e Chloe se comendo.” rosnou ela, a voz tremendo de raiva. “Mentira.” ele cuspiu a palavra, furioso. “Mentira?” ela rebateu, com a voz afiada, o sangue fervendo. A raiva agora transbordava, visível em cada gesto, em cada palavra. Levantou-se de repente, puxou o celular da bolsa, abriu a mensagem e deu play no vídeo — girando o aparelho na direção dele e subindo o volume. “Mentira mesmo? Olha aí, Damien. Você é um i****a traidor.” “Ah, sou eu?” ele explodiu, saindo da mesa e a encarando de frente. “Você é que saiu e foi dar pra algum cara qualquer, logo depois que fugiu. Vira uma v***a em menos de um minuto.” A mão dela acertou o rosto dele antes mesmo que ela pensasse — um t**a forte, seco, que fez o rosto dele virar de lado e o corpo recuar. “Mesmo que eu tivesse feito isso,” ela disse entre dentes, olhando-o fixamente, “nós já tínhamos acabado no momento em que eu vi você comendo ela.” O dedo dela apontava direto para Chloe. “Você foi o traidor, não eu!” gritou, a voz ecoando pelo escritório. “O que diabos está acontecendo aqui?” A voz de Spencer, o chefe, soou alta quando ele saiu da sala. Olhou de Harmony para Damien e de volta para ela. “Dá pra ouvir os gritos lá do meu escritório.” “Acabou, Damien.” Harmony disparou, sem hesitar. “Espero que você e a Chloe sejam muito felizes juntos.” “E seremos.” ele devolveu, venenoso. “Ela é melhor na cama—” A segunda bofetada veio ainda mais rápida, cortando a frase dele pela metade. O som estalou no ar, e Harmony viu o olhar de fúria se acender no rosto dele. E ali, naquele instante, ela entendeu. Era por isso. Era esse o motivo. As palavras dele a atingiram com força. Doíam mais do que as traições, mais do que o vídeo, mais do que o olhar frio dele. Ele tinha sido o primeiro homem da vida dela — o único. Tudo o que ela aprendera, aprendera para agradá-lo, para fazê-lo feliz. E agora, ele cuspia aquilo como se ela fosse nada. Como se o amor dela tivesse sido... insuficiente. Ela sentiu as lágrimas se formarem nos olhos, mesmo enquanto o chefe lhe agarrava o braço e rosnava: “Pega sua bolsa, Harmony.” Ela a pegou e foi conduzida do quarto andar direto para o departamento de RH, sendo empurrada para uma cadeira. “Agressão no local de trabalho.” Ele declarou friamente ao homem de RH. “Ela deu um t**a no rosto de Damien Blackwell.” Então olhou para ela com uma sobrancelha carregada de desaprovação e saiu do escritório. Ela viu Joshua olhar diretamente para ela e suspirar. “Você bateu no Damien?” “Sim, duas vezes.” Ela admitiu. “Ele está me traindo com a Chloe. Acabei de descobrir.” O homem a encarou por um longo e quieto momento, e então disse: “É uma ofensa passível de demissão, Harmony, ainda mais considerando que o pai do Damien é o proprietário.” “Não me importa, eu vou pedir demissão antes que me despedam.” Ela murmurou — não queria continuar trabalhando ali e ter de ver os dois; ela sabia que isso aconteceria. Chloe e Damien provavelmente iriam alfinetá-la na cara. Ia ouvir comentários sobre há quanto tempo aquilo acontecia. Não fazia ideia de quem mais no escritório sabia e, se sabiam, não tiveram a decência de contar — e ela não queria saber quem eram. “Ele ainda pode apresentar queixa.” Joshua suspirou. “O pai dele pode querer isso, quando souber do ocorrido.” “Eu não ligo. Vou mostrar ao pai dele que tipo de i****a o filho dele é — um porco traidor.” Ela levantou-se e arrancou o crachá do pescoço, entregando o crachá da empresa a ele. “Diz pro pai dele que eu tenho o filho dele transando com a Chloe — tá tudo gravado. Data e hora carimbadas, na festa de Natal da empresa na sexta. Se ele quiser processar por eu ter dado um t**a no meu namorado por me trair, eu vou espalhar tudo na internet, destruir a imagem do Damien. Se ele quer acabar com a minha, vou destruir a dele.” Ela saiu do escritório batendo a porta, sem se importar com as consequências. Harmony saiu do departamento de Recursos Humanos e marchou até sua mesa, o coração pesado e a raiva queimando por dentro. Começou a empacotar suas coisas, tentando ignorar a sensação de olhos sobre ela — mas podia sentir o olhar de Chloe a acompanhando o tempo todo. Não ficaria ali. Não trabalharia mais naquela empresa. Não suportaria vê-los juntos, felizes, agindo como se nada tivesse acontecido — como se pudessem escapar impunes de tudo, só por causa do sobrenome dele, do poder do pai. Duas das pessoas em quem mais confiava agora não passavam de estranhos. Harmony esperava que Chloe soubesse exatamente no que estava se metendo. Era a amante. E, cedo ou tarde, Damien também a trairia. Pessoas assim não mudavam. Uma vez traidor, sempre traidor. Bateu à porta do chefe e entrou. Ele ergueu o olhar, o cenho franzido. “Acabei de pedir demissão.” ela declarou. “Melhor já chamar alguém temporário do setor de digitação.” Ele piscou, surpreso. Ela era sua secretária há mais de quatro anos — eficiente, dedicada, uma das melhores. “Gostaria de uma carta de recomendação sobre minhas habilidades e desempenho enquanto estive aqui.” continuou ela, com a voz firme. “Pode me enviar por e-mail.” Fechou a porta antes que ele dissesse qualquer coisa. Harmony caminhou pelo corredor sem olhar para trás, sem sequer lançar um olhar àquela que um dia chamara de amiga. Mas, enquanto andava, uma lembrança antiga lhe atravessou a mente — o começo da amizade delas. Chloe já trabalhava ali antes de ela ser contratada. Já conhecia Damien também. Eles eram próximos, riam juntos. E agora, Harmony se perguntava, com o coração apertado, se eles realmente nunca tinham se envolvido antes. Ou se, desde o início, ela fora apenas a distração conveniente... enquanto os dois mantinham o segredo entre sorrisos e mentiras.
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