Garrett
Garrett e Wyatt estavam sentados na sala de conferências do 12º andar, conduzindo entrevistas para o cargo de nova secretária de Garrett. A última havia cometido a estupidez de entrar no escritório dele sem ser anunciada — bem no momento em que ele estava repreendendo um m****o da matilha — e acabara presenciando Huntley, seu lobo, vir à superfície.
Era o Alfa em plena forma: imponente, dominador, exigindo respostas de seu subordinado — um m****o que havia violado não uma, mas duas das leis lupinas. Não apenas as leis da própria matilha, mas decretos do Conselho Wolfen.
O homem havia se aproximado de uma jovem loba de apenas dezessete anos — bonita, recém-desperta para sua forma — e lhe dissera que ela era sua companheira. Que já podia sentir o cheiro dela, e que, portanto, não havia problema em ficarem juntos. Seduziu-a, levou-a para a cama… apenas para, na lua cheia seguinte, descobrir quem era sua verdadeira companheira.
A jovem ficou arrasada. Entregara-se acreditando que aquele seria o vínculo da vida dela — e agora o via ligado a outra. Tentou fugir da matilha naquela semana, e quando Garrett e sua unidade a encontraram, ela desabou em lágrimas nos ombros de Ryan, contando tudo. Disse que não suportava vê-lo ao lado da nova companheira.
Agora ela não teria que ver. O lobo estava preso — cumprindo pena nas celas do Conselho Wolfen por violar a lei. Mas Garrett não o entregara sem antes tirar sua parte. Anunciara o crime diante de todos, sem revelar o nome da garota, e o castigara com o chicote. Deixou-o exposto no poste da vergonha da matilha até o Conselho vir buscá-lo. Nem mesmo a companheira verdadeira quis saber dele depois disso. Agora os dois estavam separados pelos próximos três anos — e ela teria de suportar seus cios sozinha, graças à estupidez do companheiro.
A jovem voltara para sua matilha de origem depois que o Conselho levou o homem preso. Não o rejeitara oficialmente, mas também não dissera que pretendia ir embora. Ficaria a cargo dele, quando fosse solto, caçá-la e implorar por perdão.
A antiga secretária de Garrett — Kim, uma humana — havia sido instruída, assim como todas as anteriores, a jamais entrar em seu escritório sem usar o interfone primeiro. Ainda assim, ela simplesmente abrira a porta, papéis nas mãos que exigiam “atenção urgente”, e deu de cara com ele envolto em pura fúria alfa, a aura irradiando pela sala.
A visão a aterrorizara.
Por sorte, a fúria dele não fora direcionada a Kim — ela só recebeu uma pequena dose da aura Alfa. Ainda assim, aquilo bastou para deixá-la apavorada a ponto de pedir demissão. Desde então, vinham passando por secretárias temporárias nas últimas duas semanas, enquanto o cargo era anunciado e as entrevistas, marcadas.
Sua mãe havia filtrado as candidaturas — de cinquenta, restaram apenas vinte — e agora cabia a ele conduzir as entrevistas finais.
Não era a primeira vez que perdia uma secretária. Algumas simplesmente não conseguiam seguir as regras, principalmente a de ficar fora do seu escritório sem ser chamada. Ainda assim, ele precisava contratar uma humana. Aquele era o escritório voltado para o mundo humano, e seu pai havia estabelecido algumas normas — que o irmão mais velho também mantivera enquanto fora o líder, antes de morrer em batalha. Garrett também preservava essa tradição.
Pelo regulamento, um terço dos funcionários deveria ser humano. Se um humano pedisse demissão, entrasse em licença maternidade ou férias, o substituto também deveria ser humano. Assim, sua secretária sempre seria humana — e ele não se importava se fosse homem ou mulher, contanto que fizesse o trabalho direito.
Ele não via problema algum na regra. Na verdade, achava até benéfico — dava aos lobos da matilha a oportunidade de descobrir se tinham companheiros humanos. E muitos, ao longo das décadas, haviam encontrado seus companheiros ali mesmo, naquele prédio. Sua mãe gostava disso também. Um dia fora humana, e ainda se sentia à v*****e entre eles.
Foi então que Garrett viu o nome dela na lista — e um leve sorriso curvou seus lábios. Apontou para Wyatt, que soltou uma risadinha.
“Bem, bem, bem… olha só quem apareceu.”
Senhorita Harmony Preston estava concorrendo à vaga de secretária dele. Fazia duas semanas desde a última vez que a vira.
No instante em que lera o nome, a curiosidade o atingira: será que ela terminara com o namorado? Ou teria sido tola o bastante para aceitá-lo de volta? Claro, não poderia perguntar isso durante a entrevista — mas queria saber.
Quando Harmony entrou na sala de conferências, Garrett a observou atentamente. Ele e Wyatt já haviam analisado o currículo dela: paralegal na Blackwell Industries desde os vinte e quatro anos. E, sim, ele sabia que o namorado dela era Damien Blackwell.
Esperava sinceramente que aquela mudança de emprego significasse também o fim desse relacionamento.
Ele soubera que o pai de Damien havia assinado o cheque referente à conta recebida e se perguntou o que tinha acontecido ali — por que o i****a não podia preencher o próprio cheque? Era curioso para ele. Sabia que os Blackwell eram uma família antiga, humanos extremamente ricos, donos de um grande escritório de advocacia ligado a uma casa de leilões e a uma corretora de investimentos. No momento, tentavam expandir o império entrando no ramo de construção e desenvolvimento imobiliário.
Mas isso não estava indo muito bem. Garrett estava pessoalmente bloqueando o avanço deles. Tinha o monopólio do planejamento urbano e do desenvolvimento habitacional da cidade e não estava disposto a ceder nem um centímetro para aquela empresa. E agora que sabia exatamente o tipo de homem que Damien Blackwell era, tornaria as coisas ainda mais difíceis para ele.
Naquele dia, Harmony usava uma saia-lápis preta e uma blusa vermelha de mangas curtas com acabamento em preto. O cabelo estava preso de forma simples em uma trança, com algumas mechas soltas emoldurando o rosto delicado. Usava uma maquiagem leve, natural. Estava ainda mais bonita do que ele lembrava.
Enquanto a observava, pensou distraidamente que preferia o cabelo dela solto, caindo sobre os ombros, como da última vez que a vira. Ela sorriu para ele e depois para Wyatt, apresentando-se de forma educada.
Aquele sorriso iluminava todo o rosto dela. Ele não a vira sorrir daquela forma na última vez em que estiveram juntos, mas agora ela estava absolutamente deslumbrante. Damien era um completo i****a por ter deixado uma mulher como ela escapar. Quem em sã consciência trairia alguém assim?
Ela estendeu a mão para cumprimentá-lo, e ele a segurou — Wyatt fez o mesmo. Não havia nenhum sinal de reconhecimento no rosto dela quando sorriu. Não se lembrava dele, e Garrett suspirou internamente. Ele era tão fácil de esquecer assim?
Balançou a cabeça, afastando o pensamento. Não, não era isso. Ela só estava muito bêbada naquela noite, provavelmente não lembrava de nada do que acontecera.
Agora, porém, ficou satisfeito por ter enviado o vídeo a ela. Se não se lembrava dele, talvez também não se lembrasse de ter visto Damien traindo-a. Tinha feito a coisa certa — ela merecia saber a verdade sobre aquele homem.
“Ela está uma visão, não acha?” ouviu a voz de Wyatt ecoar pelo elo mental.
“Está mesmo.” respondeu. Ela usava salto, o que a fazia parecer mais alta, mas ele sabia que era pequena. Não tinha nada chamativo em seu visual — nenhum acessório extravagante, apenas um relógio simples no pulso esquerdo. As unhas, bem cuidadas, eram pintadas de um vermelho escuro e brilhante, com um pequeno floco de neve na ponta.
Ela realmente gostava do Natal, pensou ele, lembrando-se de como as unhas dela haviam cravado em sua pele naquela noite — e de como aquilo tinha sido bom. Quase como sentir as garras de uma loba.
Ele precisou se forçar a afastar os pensamentos e focar na entrevista, embora já soubesse que daria o emprego a ela. Ia gostar de vê-la todos os dias ali, trabalhando sob suas ordens. Só precisaria garantir que ela entendesse claramente as regras — especialmente a de nunca entrar em seu escritório sem antes pedir permissão pelo interfone. Não queria assustá-la e acabar fazendo-a pedir demissão como as anteriores.
Observou-a sentar-se, e então ele e Wyatt começaram a fazer as perguntas — as mesmas que haviam feito aos outros candidatos. Harmony respondeu a todas com calma e segurança, levando apenas alguns segundos para pensar antes de cada resposta. Ele percebeu rapidamente que ela era boa no que fazia, inteligente e articulada.
Quando perguntou por que havia deixado o cargo na Blackwell Industries depois de quatro anos, a curiosidade era genuína.
Ela suspirou fundo e respondeu: “Não vou mentir. Dei dois tapas no Damien Blackwell dentro da empresa e…” deu de ombros “…ia ser demitida por isso. Então pedi demissão primeiro.”
Garrett sorriu ao ouvir aquilo e recostou-se na cadeira.
“Gosto da sua sinceridade. Posso perguntar o motivo dos tapas?”
“Prefiro não dizer. Foi algo pessoal, não profissional.”
“Justo.” respondeu, satisfeito. Mas ele sabia o motivo. Sabia que ela havia terminado com Damien, o confrontado no trabalho. Não era o comportamento mais profissional do mundo, mas ele suspeitava que Damien tivesse evitado vê-la no fim de semana e tentado falar com ela num ambiente “seguro”. Harmony, no entanto, provavelmente não se importara com o local.
Ou talvez ela quisesse mesmo humilhá-lo diante dos outros.
De qualquer forma, Garrett admirava a atitude. Gostava que ela tivesse se imposto e encerrado aquilo nos próprios termos.
Acompanhou-a até a saída da sala de entrevistas, apertou-lhe a mão novamente e informou que ela receberia uma ligação dentro de 24 horas, confirmando o resultado. Se contratada, começaria no dia seguinte — queria que ela se ambientasse e aprendesse as regras antes da pausa de Natal, que seria dali a uma semana.
Harmony assentiu e agradeceu pelo tempo dele. Ele ficou observando enquanto ela caminhava até o elevador, e um leve sorriso se formou em seus lábios antes que voltasse à sala. Lá dentro, encontrou Wyatt com uma expressão divertidamente provocadora.
“O que foi agora?” perguntou.
“Vamos continuar entrevistando os seis restantes, ou já podemos ligar pra senhorita Preston e oferecer o emprego logo?” Wyatt riu.
“Vamos terminar as entrevistas e deixar minha mãe ligar pra ela amanhã pra dar a notícia.”
“Por quê? Você sabe que vai contratá-la. Isso já está decidido na sua cabeça. Foi no exato momento em que viu o nome dela na lista.”
Garrett riu baixo — seu Beta não estava errado.
“Está decidido, sim. Mas mamãe organizou os horários, e todos já estão aqui esperando. Não quero que sintam que vieram à toa. Podemos colocar os cinco melhores numa lista reserva, caso ela não se adapte.”
Foi exatamente o que fizeram. Ele ainda pediu a Wyatt que ligasse para a Blackwell Industries para checar a referência profissional de Harmony. No entanto, em vez de falarem com Spencer Wilson — o nome indicado como contato — acabaram sendo direcionados a Damien Blackwell.
Quando Wyatt se apresentou e explicou que ligava para pedir a referência de Harmony, Damien aproveitou a oportunidade para despejar veneno. Disse coisas nada agradáveis sobre ela — que era preguiçosa, vivia chegando atrasada, faltava ao trabalho com frequência e, às vezes, nem ligava para avisar.
Segundo ele, Harmony desaparecia por dias, não entregava as tarefas no prazo, estava sempre atrasada e jogava o próprio trabalho em cima dos colegas, fingindo ter feito tudo e ainda em “tempo recorde”.
Foi uma crítica destrutiva, cheia de rancor.
Wyatt, desconfiado, perguntou por que, então, tinham mantido uma funcionária assim na empresa por quatro anos e sob o mesmo chefe, se era tão incompetente. Disse que aquilo não fazia sentido.
Damien respondeu friamente que ela dormia com o chefe — e que demiti-la seria visto como assédio e dispensa injusta. Por isso, a empresa teria esperado até que ela cometesse um erro grave.
Garrett balançou a cabeça, indignado. Aquele homem estava claramente ferido no orgulho, irritado por Harmony ter terminado com ele e, pior, por ter sido exposto como o mentiroso e canalha que era. Garrett se perguntou se o pai de Damien teria o chamado à razão depois de tudo.
Decidido a não aceitar aquela versão, Garrett ligou de volta para a Blackwell Industries e pediu para falar diretamente com Spencer Wilson. Quando perguntaram o motivo, ele foi breve: precisava de uma reunião com o homem.
Poucos minutos depois, foi transferido para a linha dele. Então se apresentou, explicou quem era e disse estar verificando a referência profissional de Harmony Preston.
Aquele homem deu uma avaliação elogiosa. Disse que ela era pontual, polida e profissional, que nunca havia faltado um dia desde que começou na empresa. Informou que ela havia pedido demissão por motivos pessoais e que a recomendaria para a vaga. Ficara no cargo de secretária por muito tempo e havia ficado triste com sua saída.
Mas compreendia o motivo. Não se aprofundou no assunto, e Garrett não insistiu — apenas agradeceu ao homem. E, quase como um comentário final antes de desligar, contou-lhe o que Damien havia dito.
Houve um suspiro pesado do outro lado da linha e um murmurado: “Vou dar uma bronca séria nele.”
“Você pode lembrá-lo de que difamação é punível. Gravo todas as chamadas que entram e saem.”
“Vou lembrar.” foi a resposta antes do fim da ligação.
Garrett suspirou. “Esse homem precisa levar outra surra, ao que parece.” murmurou, e se perguntou quantos outros empregos Damien Blackwell teria sabotado para a jovem. Bem, ela ficaria com esta vaga — tudo o que restava era ela aceitar a oferta quando sua mãe a chamasse.