Harmony
Ela acordou às seis da manhã. O novo escritório ficava a quarenta minutos de carro, do outro lado da cidade, a partir do prédio onde morava, então tinha uma hora e vinte minutos para se arrumar — embora nunca levasse tudo isso. Sempre deixava tudo preparado na noite anterior.
Tomou banho e tomou café da manhã, passou uma maquiagem leve e natural, alisou o cabelo e vestiu o terno azul-escuro que deixara pendurado atrás da porta do quarto, pronto para o dia. Gostava muito daquele terno — ainda não o tinha usado. Havia encomendado apenas alguns dias antes de pedir demissão do antigo emprego. Era um conjunto elegante, de saia justa e paletó de mangas curtas, com um cinto embutido ligeiramente deslocado para o lado e um fecho prateado simples. Vesti-lo a fez sorrir para si mesma.
Colocou o relógio e um par de brincos de safira discretos, que combinavam não apenas com a roupa, mas também com seus olhos azul-escuros. Prendeu no pescoço um colar de pérola do Taiti — uma única pérola engastada em um círculo de ouro-rosé com meio quilate de diamantes — e ajeitou-o no pequeno vão entre as clavículas. Era de sua mãe, e ela costumava usá-lo apenas em ocasiões especiais.
Mas hoje o colocou para dar sorte, no primeiro dia do novo emprego. Harmony se observou no espelho. Deixara o cabelo solto naquele dia, mas penteado de forma que caísse para trás das orelhas. Sempre levava um elástico e uma escovinha dentro da bolsa, caso o cabelo a irritasse ou precisasse ser preso. Havia cortado o cabelo uma semana antes — o comprimento, antes longo, agora batia na altura das omoplatas — e ela achava muito mais fácil de cuidar.
Alisou o tecido do terno e sorriu para o próprio reflexo — realmente gostava daquela roupa. Seu estômago havia se acalmado durante a noite, e ela se sentia bem naquela manhã. Preparou um café para levar durante o trajeto e o despejou no copo térmico, o que a fez sorrir. Gostava muito daquele copo e o levava para todo lugar.
Tinha seu nome gravado, para que ninguém o pegasse por engano. Era da marca 64Hyro, um copo preto chamado Wisdom from an Owl. Tinha a ilustração de uma coruja de expressão séria sentada em uma lua crescente, cercada por lindas rosas cor-de-rosa, lilases e azuis, com pequenas estrelas coloridas ao fundo. No verso, havia palavras de sabedoria:
“Mantenha os olhos no prêmio, abrace sua singularidade, busque conselho dos sábios, seja leal aos seus amigos, siga firme no caminho, cavalgue em direção à grandeza.”
Era quase como seu lema pessoal. Seus pais sempre haviam sido pessoas inspiradoras — sua mãe fora professora universitária de Direito, e seu pai, professor de Inglês. Ambos amavam ler e dar bons conselhos; gostavam de ouvir os amigos com atenção genuína, sempre sem julgamento.
Tentavam entender qual era o problema ou a questão em jogo e, então, transmitiam suas próprias palavras de sabedoria àqueles que pediam conselhos. Procuravam ser imparciais e pensar logicamente sobre o melhor desfecho para todas as partes envolvidas, não apenas para quem estavam ouvindo. Conseguiriam, entre si, fazer o papel de advogados do d***o e enxergar diferentes perspectivas a serem exploradas.
Eram pessoas felizes, positivas, prestativas — e Harmony queria ser como eles. Tentava seguir o exemplo dos pais e, na maior parte do tempo, conseguia, ou pelo menos achava que sim. Mas, ultimamente, o término do seu relacionamento a deixara um pouco para baixo. Doía ter sido tratada daquela forma por alguém em quem confiava e com quem acreditava que se casaria.
Ela afastou esse pensamento, tentando não pensar mais naquele homem. Inspirou fundo e seguiu caminho para o novo trabalho. O prédio era imponente, com doze andares — provavelmente uma vitrine das próprias habilidades de construção e design da empresa, pensou. A fachada havia sido reformada e modernizada apenas cinco anos antes. Toda de vidro, tinha um visual elegante e chamativo.
Os sete andares superiores possuíam varandas externas em ambos os lados, provavelmente para que os funcionários pudessem almoçar ou fazer pausas ao ar livre. À frente, do lado esquerdo, havia um grande jardim formal, com canteiros amplos e diversos bancos para que as pessoas pudessem sentar e aproveitar o espaço. O prédio ficava recuado da rua, em uma área ampla e bem planejada.
Do lado direito da entrada principal havia uma zona de embarque e desembarque — provavelmente reservada para o CEO, executivos e convidados de alto escalão, ou mesmo para receber visitantes de negócios. Era uma pista de mão única com três vagas exclusivas bem em frente à entrada, ladeada por um canteiro estreito, mas bonito, ao redor do qual os carros podiam circular.
O estacionamento dos funcionários, ela já sabia, ficava nos fundos do prédio, encostado a uma área de floresta que se estendia para fora da cidade. Achava que haviam escolhido a localização perfeita — tinham o melhor dos dois mundos: a vista urbana e a natureza. Também sabia que a Owens Construction era dona do terreno atrás do edifício, uma propriedade particular à qual apenas algumas pessoas tinham acesso. Era cercada e vigiada.
Ela sorriu para o homem na recepção e olhou o crachá pendurado em seu peito: Henry, dizia o nome. “Bom dia, Henry”, cumprimentou com um sorriso simpático. Acreditava que usar o nome das pessoas mostrava consideração e respeito — além de ser uma atitude educada e profissional.
Também a ajudava a aprender os nomes das pessoas, já que iria trabalhar ali e, com sorte, por muito tempo. Havia ficado em seu último emprego por pouco mais de quatro anos e esperava que este fosse igual — uma renda estável e segurança profissional.
Ele sorriu para ela. “Bom dia, senhora, como posso ajudá-la?” perguntou, simpático.
“É meu primeiro dia hoje. Vim ver a Deidre, do setor de Recursos Humanos”, explicou.
“Ah, então você deve ser a senhorita Preston, a nova secretária do senhor Owens.” Ele assentiu, marcando seu nome em uma lista, o que ela observou com atenção.
“Sou eu mesma.” Ela sorriu e assentiu. Gostou de ver que já sabiam quem ela era — provavelmente a empresa havia feito o anúncio, ou talvez apenas a recepção estivesse informada para recebê-la e direcioná-la.
“Bem-vinda à Owens Construction. Pegue o elevador ali, até o segundo andar.” Ele apontou para dois elevadores à direita. “A recepcionista lá em cima vai levá-la até a senhora Owens. Ela já está esperando por você. Vou avisá-las que chegou.” Ele se levantou e abriu uma pequena passagem lateral para que ela atravessasse, evitando as seis catracas de ponto, vigiadas por seguranças de ambos os lados.
“Obrigada.” Ela acenou com a cabeça. “Tenha um bom dia, Henry.” E seguiu para o elevador, como havia sido instruída. Gostou de ele tê-la chamado de senhorita Preston, mas logo ele aprenderia a chamá-la de Harmony. Era como preferia ser tratada, mesmo em ambiente de trabalho.
Quando as portas do elevador se abriram, foi recebida por Deidre com um sorriso e um aperto de mão. Harmony sabia que ela era a mãe de Garrett Owens, embora não parecesse ter idade para isso. Deve ter genes incríveis, pensou distraidamente. Ela havia pesquisado sobre a empresa — e sobre o próprio Garrett. Ele tinha trinta e oito anos e era considerado um dos solteiros mais ricos e cobiçados da cidade, ainda mais rico que os Blackwell.
Deidre sorriu. “Agora, só porque eu sou a mãe do Garrett, não vá guardar isso contra mim.” Ela riu. “É um negócio familiar, administrado por nós. Meu marido está aposentado agora. Passou as rédeas para o nosso filho há dez anos, quando ele estava pronto para assumir. Embora meu marido e eu ainda trabalhemos no prédio, demos um passo atrás.”
Harmony gostou disso — achava bom que os pais ainda estivessem por perto. Devia ser reconfortante para Garrett ter o pai no mesmo prédio, caso precisasse de orientação. Provavelmente teria a chance de conhecer o antigo CEO em algum momento também.
Ela precisou revisar o contrato oficial e assinar o termo padrão de confidencialidade. Em seguida, tiraram sua foto, imprimiram seu crachá e o colocaram em um cordão de pescoço. Foi instruída a usá-lo o tempo todo enquanto estivesse no prédio. O crachá tinha um design simples, com seu nome e foto, e o cordão era preto.
Informaram-lhe que cada departamento possuía uma cor de cordão diferente — algo proposital, para facilitar o reconhecimento de quem pertencia a qual setor, já que a empresa era enorme. Ela o colocou e sorriu ao olhar para ele. No crachá, estava escrito Harmony em letras grandes, Preston logo abaixo em letras menores, e, mais abaixo, Secretária de Garrett Owens. No final, havia o número 1201, que, disseram a ela, era sua linha telefônica interna. Prático — assim não precisaria decorar, bastaria olhar o crachá. Embora, pensou, 1201 era fácil de lembrar.
Teve que assistir a três vídeos: os padrões de políticas de trabalho — sobre assédio s****l, bullying e segurança ocupacional (OH&S). Depois, tomou um lanche da manhã com Deidre antes de ser guiada por um tour pelo prédio, e, por fim, levada ao 12º andar, onde ficava sua mesa.
A empresa era incrível. Cada andar tinha sua própria cafeteria, com bufês montados e vitrines cheias de comidas prontas — sanduíches, saladas, saladas de frutas, iogurtes com granola, bolos e tortas. Com um único toque de seu cartão de refeição, que já vinha pré-carregado com cinquenta dólares, podia escolher o que quisesse nos intervalos e almoços por apenas cinco dólares cada vez.
Havia também uma máquina de café Jura GIGA X8c impressionante, com diversas opções de cafés e xaropes aromatizados em fileiras ao lado. Ela pensou que talvez começasse a chegar mais cedo só para preparar seu café ali todas as manhãs.
Ela almoçou com Deidre e foi apresentada a algumas outras secretárias e funcionários do 12º andar. Recebeu um aceno do próprio senhor Garrett Owens, que estava sentado com seus diretores executivos, almoçando na mesma sala. Pôde observá-lo interagir com os funcionários — rindo, sorrindo e fazendo piadas.
Ele parecia amigável o suficiente. Antes de sair da sala, caminhou diretamente até ela.
“Harmony, gostaria de vê-la no meu escritório para estabelecer algumas regras importantes antes de você ir para casa hoje.”
Ela ergueu o olhar e sorriu. “Sim, senhor Owens.” Assentiu. “Tem um horário em mente?”
“Dez ou quinze minutos antes do fim do expediente está ótimo.” Ele assentiu. “Mãe.”
“Filho, você conseguiu finalizar aquelas avaliações ontem à noite?”
“Consegui, estão na sua mesa. E não gostei de nenhuma delas.” Ele respondeu secamente, antes de sair da sala.
“Garoto teimoso”, murmurou Deidre, e Harmony a olhou com curiosidade. A mulher apenas acenou a mão, como quem diz para não se preocupar.