Garrett
Ele havia visto Harmony andando pelo prédio com sua mãe. Ela estava participando da orientação da empresa e não subiria ao seu andar até a hora do almoço — ou mais tarde, dependendo da profundidade do tour que sua mãe decidisse dar. Isso variava conforme o que ela achava que cada novo funcionário precisava saber.
Como Harmony seria sua secretária, provavelmente receberia o tour completo e detalhado de todos os andares. Às vezes, ela precisaria ir a diferentes setores para buscar algo para ele ou entregar materiais, então era importante que conhecesse todos e soubesse onde tudo ficava.
Ele havia notado como ela estava vestida naquela manhã, embora ela não o tivesse visto, nem à sua equipe. Caminhava ao lado de sua mãe, trajando um conjunto de saia e blazer azul-escuro, muito bem ajustado ao corpo — e ele gostou do visual nela. Notou, porém, que ela cortara metade do cabelo desde a última vez que a vira, o que o surpreendeu. Não havia reparado nisso no dia anterior, já que ela o usava trançado. Hoje, estava solto.
Usava pouca maquiagem e poucas joias — nada chamativo ou que atraísse olhares desnecessários. Vestia-se de forma profissional, e ele gostou disso. Não queria uma secretária que virasse o centro das atenções por causa da aparência.
Alguns de seus funcionários exageravam na maquiagem, com cílios postiços enormes e unhas acrílicas longas, o que ele achava demais. Outros abusavam das joias — pulseiras tilintando nos braços, vários anéis em cada mão, brincos grandes e chamativos, sempre prontos para exibir o preço, contar quem havia dado ou onde haviam comprado.
Ele nunca dizia nada — era escolha pessoal de cada um se vestir como quisesse. A única exigência em seu escritório era quanto ao comprimento das saias: nada de peças curtas demais. Não queria ver as funcionárias mostrando mais do que deviam quando se abaixassem. Todos os contratos deixavam claro: saias, no mínimo, dois dedos acima do joelho — exatamente o que Harmony estava usando.
Sua preferência, tanto para homens quanto para mulheres, era que usassem roupas de escritório formais, ou uniformes, dependendo do departamento — e que tivessem uma aparência natural. Mas algumas das funcionárias mais jovens, até mesmo da equipe de limpeza, apareciam excessivamente produzidas, mesmo no turno da noite, das seis à meia-noite. Ele costumava ficar até tarde e via algumas delas com maquiagem digna de balada. Nunca entendeu o motivo de se arrumarem tanto para o escritório, mas supôs que era apenas uma questão de gosto pessoal.
Ele e sua unidade almoçavam na cafeteria do 12º andar junto com os outros funcionários, e o ambiente era animado, cheio de conversas. A maioria ali fazia parte da matilha, e o assunto girava em torno de família — atualizações sobre os filhos, planos para o fim de semana, convites para sair juntos. Sua matilha era muito sociável, e os almoços sempre pareciam uma grande reunião familiar.
Os olhos dele se voltaram para Harmony, que estava sentada com sua mãe. Ainda não havia ocupado a própria mesa — no momento, ele tinha uma temporária do g***o de datilógrafas do quinto andar cobrindo o posto. Provavelmente, ela se instalaria ali depois do almoço.
Ela parecia sorridente e contente por estar ali, ele pensou — empolgada por trabalhar na empresa e começar um novo caminho profissional. Não seria como seu antigo emprego, nem de longe tão desgastante quanto ser assistente jurídica, mas ainda assim seus dias seriam cheios. Alguns mais corridos do que outros, e certamente haveria dias em que voltaria para casa exausta.
O olhar dele desceu pelo corpo dela até alcançar as pernas e os sapatos. Ela usava pequenas botas pretas de salto baixo — uns cinco centímetros, no máximo —, simples e elegantes. Isso ele aprovava, embora se perguntasse quanto tempo levaria até que ela as trocasse por sapatos baixos. Duas das assistentes pessoais do 12º andar já usavam tênis pretos básicos, pois viviam em movimento, indo e vindo em tarefas fora do escritório.
Os olhos dela encontraram os dele, e ele assentiu brevemente. Antes de deixar a sala, no entanto, foi até ela para avisar que queria vê-la depois — precisava estabelecer algumas regras importantes, diretrizes que ela precisaria seguir à risca, para que não se assustasse e desistisse do cargo.
Ainda estava curioso sobre o que realmente havia acontecido entre ela e Damien Blackwell depois da noite em que a encontrara no Tripple Moon Club. Lia o jornal todos os dias e vira a foto de Damien com uma mulher loira no braço — a mesma do clube, a mesma com quem ele havia traído Harmony. A matéria levantava dúvidas sobre as duas mulheres.
A pergunta que martelava em sua mente era: Harmony havia terminado com Damien, ou Damien a dispensara depois de descobrir que ela dormira com Garrett? Ele não tinha certeza, embora acreditasse mais na primeira opção — que ela o tivesse deixado. Especialmente pela forma como Damien reagira à demissão dela e por ter bloqueado suas tentativas de conseguir uma boa referência. O homem parecia irritado, rancoroso… ou simplesmente um canalha.
De pé ao lado da mesa onde ela estava sentada, ele percebeu que ela exalava um perfume delicioso — suave e floral, com toques de almíscar e um leve aroma amadeirado. Nada que ofendesse seu olfato apurado. Era fresco, limpo, e o fez se perguntar qual seria o nome daquela fragrância. Provavelmente Wyatt saberia — afinal, ele havia vasculhado o banheiro dela naquela noite.
Ela sorriu para ele quando ele mencionou que queria vê-la antes de ela ir embora, e respondeu: “Vou levar minha caneta e meu bloco de anotações.” Ele apenas assentiu e se afastou. Não queria que ninguém pensasse que estava dando atenção extra — ou indevida — à mulher. Ainda assim, Wyatt já parecia se divertir com a situação desde o início. Seu comentário havia sido: “Ainda interessado, é?”
Garrett não respondera ao Beta — apenas ergueu uma sobrancelha —, mas mesmo agora, enquanto deixava a cafeteria, uma parte dele queria se virar para olhá-la mais uma vez. Então, sim, ele supunha que ainda estava interessado em Harmony. Só não sabia se era pura curiosidade sobre o término com Damien Blackwell ou se era um interesse pessoal e real na mulher.
Talvez um pouco dos dois. Mas decidiu deixar isso de lado, porque agora ela era sua secretária — e qualquer envolvimento só traria problemas para ambos.
Primeiro, porque sua mãe ficaria em cima dele por causa da garota, querendo saber se ela era sua companheira humana — e ele nem chegara perto dela em noite de lua cheia. Sabia que ela tinha vinte e oito anos, dez a menos que ele, e talvez ela própria se incomodasse com essa diferença, caso houvesse algum tipo de interesse.
A próxima lua cheia só aconteceria depois do Ano-Novo, em 11 de janeiro. Naquele dia era quinta-feira, 19 de dezembro, então ainda faltavam algumas semanas. A lua cheia seguinte cairia em um sábado — e, normalmente, ele não estava no escritório nessas datas, mas sim no território da matilha ou em algum baile de acasalamento. Era improvável que a encontrasse sob a influência da lua.
Harmony teria dois dias de orientação — hoje e amanhã — e depois o fim de semana livre. Uma forma tranquila de começar na empresa. Eles gostavam de introduzir os funcionários humanos aos poucos, e por isso a maioria começava na quarta ou na quinta-feira. O ritmo ali podia ser intenso, dependendo do departamento, então era melhor deixá-los se ambientar gradualmente.
Por volta das duas da tarde, ele ouviu as vozes de Harmony e de sua mãe na mesa dela — estavam configurando senhas e mostrando o sistema interno da empresa. Em determinado momento, ele levantou o olhar e a viu atender o telefone, falando com alguém do outro lado da linha.
Alguém estava tentando marcar uma reunião com ele. Garrett se recostou na cadeira, observando e ouvindo. Ela era educada e profissional, cuidadosa ao verificar a agenda dele e em anotar os detalhes sobre o motivo do agendamento. Também notou que ela teve o cuidado de não marcar nada nos horários bloqueados.
Mais tarde, ela até usou o interfone para transferir uma ligação para ele, mantendo o olhar nele enquanto falava, informando quem estava na linha e o assunto da chamada. Era muito boa no que fazia e sabia transferir ligações com facilidade. Provavelmente é o mesmo sistema telefônico do emprego anterior, pensou distraidamente enquanto atendia.
Por volta das quatro e quarenta e cinco, ele ouviu sua mãe rir e dizer:
“Não acho que você vá precisar de dois dias comigo. Já entendi que pegou o jeito, mas amanhã ficarei por aqui um tempo. Vamos entrar na parte mais detalhada do sistema de arquivamento e de onde guardamos as cópias físicas dos documentos. Também vou te mostrar onde pegar as coisas que Garrett e os meninos podem pedir, porque às vezes todos eles virão até você. Como organizar as reuniões na sala de conferência, quem se senta onde. Há uma ordem específica para os assentos nas reuniões da empresa.”
Ele sorriu. Sua mãe era ótima treinando pessoas — naturalmente simpática, como toda Luna deveria ser. E parecia que ela realmente havia gostado de Harmony. Essa percepção o surpreendeu. Sua mãe nunca havia chamado a atenção dele para nenhuma humana antes, nunca o incentivara a considerar uma como possível Luna.
Ela própria fora humana um dia, antes de ganhar seu lobo — e não um pequeno, mas um imponente lobo cinza, com listras escuras pelo dorso. Ele pensou em perguntar o motivo naquele momento, mas percebeu que isso só a levaria a preparar uma nova lista de possíveis pretendentes, e duvidava que sua mãe conseguisse fazer a uma humana as mesmas perguntas que faria a uma loba. Para uma mulher humana, pareceriam invasivas e indiscretas.
Levantou o olhar ao ouvir uma batida na porta do escritório, às quatro e cinquenta, e sorriu. Fez um gesto para que Harmony entrasse. Ela trazia uma caneta e um bloco de anotações, exatamente como prometera.
“Senhor Owens, o senhor queria me ver antes de eu ir embora?” ela perguntou, sorrindo enquanto entrava no escritório.