Harmony
Ela se despediu de Deidre e sorriu ao lembrar do aviso que ela lhe dera sobre não esquecer de falar com Garrett antes de ir embora. Não esqueceria — ele era o novo chefe, e ela ainda não tinha realmente tido nada a ver com ele naquele dia. Aquela seria sua primeira interação real, além do pedido que ele fizera na hora do almoço.
Foi chamada a entrar em seu escritório e sorriu para ele ao adentrar, caminhando até a mesa. Sentou-se na cadeira quando ele fez um gesto para que o fizesse. O sorriso dele iluminava todo o rosto — era um homem diabolicamente bonito. Ela se perguntou distraidamente por que ele não era casado.
“Por favor, Harmony, me chame de Garrett, não de senhor Owens. Podemos nos tratar pelo primeiro nome, a menos que estejamos em uma reunião do conselho, tudo bem para você?” ele disse.
“Tudo bem”, Harmony assentiu. Era o que ela preferia.
“Estive ouvindo você lá fora nas últimas horas, e observando a forma como você transfere minhas ligações. Já está se adaptando bem, e é apenas o seu primeiro dia.” Ele se recostou na cadeira para olhá-la.
“É quase como no meu último emprego, marcando compromissos. Eu sempre tinha que verificar a agenda do senhor Williams primeiro — ele tinha reuniões com clientes, mediações, datas em tribunal e várias outras coisas para organizar o tempo todo. Estou acostumada com isso.”
“Ótimo. Agora há algumas coisas que quero que saiba sobre mim. Primeiro, só tomo cafeína antes das 14h. Depois disso, se eu pedir uma xícara de café, tem que ser descafeinado. Tomo meu café com leite de amêndoas e uma colher de chá de açúcar mascavo.”
Ela anotou e assentiu, repetindo de volta para ele, para que soubesse que ela havia entendido direito. “Quer que eu deixe o café na sua mesa quando chegar?” perguntou.
“Não, eu chego em horários variados. Vou pedir se quiser que você me traga uma xícara.”
Ela assentiu. “Certo. Você tem alguma alergia?” perguntou.
“Não.” Ele riu, e ela o olhou com curiosidade, mas ele fez um gesto para deixar pra lá.
“Que tipo de lanche o senhor prefere?” ela perguntou.
“E eu aqui achando que seria eu quem diria o que precisava, mas parece que é você quem tem as perguntas.”
Ela ergueu o olhar para ele e sorriu de leve. “Desculpe, acho que há certas coisas que preciso saber como sua secretária, para aqueles dias em que o senhor pula refeições e precisa que eu coloque algo na sua frente para lembrá-lo de comer.”
“Eu direi, em qualquer dia, do que estou com v*****e de comer. No entanto, se quiser me trazer algo para comer, e eu não tiver pedido nada, porque acha que eu preciso comer, comerei qualquer coisa, menos peixe — nunca coloque peixe na minha frente. Mas confie em mim, eu não vou definhar.”
“Também não gosto particularmente quando minha secretária fica sentada à mesa beliscando o dia todo. Por favor, não faça isso, vai me irritar, e eu vou acabar de mau humor e...” ele suspirou.
Ela ergueu uma sobrancelha depois de anotar que ele não gostava de peixe. “Você tem um temperamento forte.”
“Sim, não vou mentir pra você. Minha última secretária pediu demissão porque entrou no meu escritório sem avisar, e eu estava, infelizmente, repreendendo um funcionário em voz bem alta. Ela se assustou e pediu demissão.”
“Por você estar gritando com alguém?” Harmony franziu o cenho, depois balançou um pouco a cabeça. “Senhor Owens...”
Ele pigarreou. “Garrett, por favor.”
“Minhas desculpas, Garrett. Já vi de tudo, trabalhando como assistente jurídica — clientes furiosos discutindo, advogados se enfrentando, e eu já tive que chamar a segurança do prédio várias vezes. Você gritando com alguém não vai me abalar, pode ter certeza.”
“Não sei... tem dias em que sou bem assustador.” Ele abriu um sorriso direto para ela, e ela riu, percebendo que ele estava fazendo piada de si mesmo.
“Oh, eu definitivamente posso ver isso.” Ela acenou em direção ao bom humor dele.
“Então, nesse ponto, sobre entrar no meu escritório — por favor, nunca entre por conta própria se a porta estiver fechada. Sempre pressione o interfone e peça permissão. Nunca simplesmente entre. Eu não gosto de visitas inesperadas ao meu escritório. Isso, de fato, vai despertar o meu mau humor.”
“Bom saber.” Ela assentiu.
“Agora, se a porta estiver aberta, sinta-se à v*****e para bater e pedir para entrar e falar comigo, se precisar de algo. Também não gosto de fofocas, então, por favor, não faça isso na sua mesa. Acho que o local de trabalho não é lugar para isso, e não gosto de gente cochichando sobre os outros pelas costas ou sendo desrespeitosa de propósito.”
Ela assentiu e anotou. “Eu venho aqui para trabalhar, não para bater papo.” Sorriu para ele. “Se eu quiser conversar, faço isso no meu intervalo.”
“Excelente, acho que vamos nos dar bem.” Mas então ele se inclinou para frente, apoiando os braços sobre a mesa, e olhou diretamente para ela. Harmony percebeu que ele estava debatendo consigo mesmo se devia ou não perguntar algo.
“Pode perguntar. Eu mesma direi se me sinto desconfortável em responder ou se considerar a pergunta inapropriada de alguma forma.” Ela sorriu para ele.
“Ótimo, gosto de honestidade, então, sobre isso... Quando fizemos a verificação das suas referências, o resultado não foi muito bom.” Garrett afirmou simplesmente, mas também estava com o cenho franzido.
“O quê?” Ela franziu a testa para ele. “Eu sou boa no que faço, e o senhor Williams...”
“Fique tranquila.” Ele levantou a mão para interrompê-la. “Eu fui mais a fundo. O senhor Williams, quando consegui falar com ele, deu uma excelente referência sobre você. O problema foi chegar até ele — a verificação de referência foi redirecionada para um tal de Damien Blackwell.” Ele explicou, olhando diretamente para ela.
Ela franziu o cenho, aquilo não fazia o menor sentido. “Eu nunca trabalhei com ele.”
“Não, mas foi ele quem atendeu a ligação. E disse algumas coisas nada agradáveis sobre você. Chamou você de preguiçosa e negligente no seu trabalho. Disse a Wyatt que você dormia com o seu chefe e que, por isso, não podiam demiti-la, já que você alegaria assédio sexual.”
“Eu o quê?” ela arfou, chocada. “Eu nunca fiz isso, senhor Owens, garanto. Eu só tive um...” Ela se interrompeu, respirou fundo, tentando se acalmar, contou até dez e murmurou: “Obrigada por me contar. Acho que isso explica por que não consegui emprego antes deste... Obrigada por insistir em falar com o senhor Williams.”
“Há um motivo para eu ter feito isso.” Ele se recostou novamente na cadeira e a fitou. “Eu vi você nos jornais com Damien Blackwell. Você foi namorada dele por muitos anos... Imagino que tenha sido um término r**m, e o homem que você esbofeteou era ele.”
Ela não queria falar sobre aquilo, mas assentiu. “Sim, um término r**m. E sim, foi ele que eu esbofeteei. Duas vezes.” Murmurou.
“Posso perguntar quem terminou com quem? Só porque, às vezes, tenho negócios com a empresa do pai dele, e vocês dois podem acabar se encontrando aqui no escritório em alguma ocasião.”
Ela apenas o encarou, e ele assentiu em compreensão. “Entendo que seja pessoal, só quero estar ciente. Também vou sempre avisar se ele vier, e é improvável que eu a deixe a sós na presença dele.”
Harmony suspirou. Era pessoal, e ainda muito recente, mas ela sentia que o novo chefe estava, de fato, tentando protegê-la. Então respondeu à pergunta dele: “Eu terminei com ele”, murmurou. “Ele era...” Ela percebeu que não conseguia nem pronunciar em voz alta. Haviam ficado juntos por muito tempo, e ela nem sabia há quanto tempo o caso dele vinha acontecendo.
“Não preciso saber o motivo.” Garrett sorriu gentilmente para ela. “Pelo que sei, vocês ficaram juntos por um bom tempo.”
“Três anos.” Ela assentiu e então se repreendeu mentalmente, fechando os olhos e soltando um leve suspiro. “Desculpe, isso não é algo sobre o qual eu queira falar.” declarou quando finalmente o olhou.
“Tudo bem.” Ele assentiu. “Há mais alguma coisa que queira saber sobre mim e minhas necessidades?” Garrett mudou de assunto, devolvendo a conversa ao trabalho.
“Ahm.” Ela havia perdido completamente a linha de raciocínio. “Ah, sua mãe me disse para anotar jantares duas vezes por semana, às 20h, toda quarta e segunda-feira.”
“Por quê?” ele perguntou, franzindo o cenho e marcando ainda mais o rosto bonito.
“Hmm, bem...” Ela riu baixinho. “Acho que, se me permitir, vou apenas repetir o que ela me disse.” pediu, sabendo que aquilo poderia ser considerado fofoca, ou falta de respeito, já que Deidre era a mãe dele.
Ele assentiu. “Pode falar,” murmurou.
Harmony teve a sensação de que ele já imaginava o que ela estava prestes a dizer. “Meu menino é muito teimoso, e conseguir fazê-lo sair para um encontro é quase impossível. Ele sempre me diz que a agenda está cheia. Então apenas anote duas noites por semana para jantares, eu cuidarei do resto.”
Ela o observou revirar os olhos e balançar a cabeça, o que a fez rir suavemente. “Ela só quer ver você feliz, Garrett.”
“Hmm, ela está sempre tentando me arrumar uma esposa, acha que estou ficando velho.” Ele murmurou. “Era só isso?”
“Anoto ou não?” ela perguntou, sorrindo.
“Pode anotar. Eu vou jantar com os rapazes ou marcar uma reunião tarde da noite pra escapar disso. Sou meio travesso assim.” Ele riu baixo, e ela riu junto.
“Pode ir pra casa, Harmony. Vejo você amanhã.”
Ela assentiu, levantou-se, guardou suas coisas e deixou o escritório. Dirigiu até seu apartamento, com a raiva crescendo dentro dela pelo que Damien havia feito — falando m*l dela para qualquer pessoa que ligasse pedindo uma verificação de referência. Como ele podia ser tão c***l, quando fora ele quem a traíra por sabe-se lá quanto tempo?
Entrou em seu apartamento batendo a porta e gritou de frustração enquanto jogava a bolsa no sofá. Nunca deveria ter assinado aquele acordo com o pai dele. Marchou até o quarto e o puxou da gaveta para examinar, a fim de ver se ele havia violado alguma cláusula.
Se tivesse, ela iria divulgar aquelas filmagens. Não tinha feito nada de errado com ele — o amara, de verdade — e agora simplesmente o odiava. Queria ter espancado aquele desgraçado, em vez de apenas lhe dar dois tapas. Sentou-se à mesa, colocou o contrato à sua frente e começou a analisá-lo, cláusula por cláusula.
Não conseguia acreditar no que ele tinha feito. Tentou impedir que ela conseguisse outro emprego. Como alguém poderia viver sem poder trabalhar? Felizmente, Garrett Owens sabia quem ela realmente era e enxergara através daquele homem. Encontrou uma forma de conseguir sua verdadeira referência e estava disposto a contratá-la.