Beijo

955 Words
Pov's Aaliyah. Arábia Saudita. 07:00 AM. Me encontrava sozinha na cozinha, cumprindo com as minhas obrigações. Sei o que meu tio jamais escolheria o pior para mim, mas... Eu me sentia silenciada. Essa casa não era mim, a minha sogra havia deixado bem claro. Fui humilhada na frente do meu esposo e ainda me sentia atormentada com tudo que ouvi mais cedo. Por um momento a tampa da panela escorreu da minha mão e caiu no chão. Me curvei para pegar, foi bem na hora que: — Nadira já te fez chorar também? — a voz fina soou no cômodo. Ergui o olhar assustada e sequei rapidamente as lágrimas que desciam pelo meu rosto. — Quem é você?— interroguei confusa, ao vê a muçulmana. — Me chamo, Khadija, sou esposa do irmão do Ali Nejat. Prazer! — Prazer.— a cumprimentei de volta, estando triste. — Foi assim com a primeira, será assim com você, se abaixar a cabeça para tudo que aquela naja diz.— a encarei de relance, surpresa.— Nadira quer os filhos só para ela, se Faruk não me amasse, ele já teria me devolvido assim como Ali Nejat fez com a primeira. — Ele devolveu a primeira?— soei incrédula. — Sim, na manhã seguinte da noite de núpcias. Esse assunto não é tocado nesta casa, mas coitada, foi jogado ao vento por nenhum motivo. — Será que ele fará isso comigo também?— sussurrei, com aquele sentimento de medo. — Torça para que isso não aconteça.— disse, andando até o fogão.— Uma mulher sem marido não é nada. – Tem razão.— concordei. – KHADIJA!— a voz da mais velha gritou do outro cômodo.— Traga o meu chá! Yalla! — Já vai sogra.— respondeu e em seguida murmurou:— Cobra! Todo dia é um inferno. Alláh Alláh! Me dê paciência — reclamou, enquanto colocava a xícara na bandeja. — Quer que eu leve?— me ofereci. — La! É capaz dela querer jogar esse chá quente em você. Encolhi os ombros, receosa. Pela forma de como falava, dava até medo. ************************************************* 17:00 PM. Khadija e eu havíamos nos tornado confidentes, ela havia me contado muitas coisas do que acontecia entre a família. Descobri que o seu marido e Ali Nejat possuíam uma loja de tecidos, eles eram comerciantes. Ela também me contou que nem Faruk e nem Ali Nejat gostavam de demonstrar sentimentos. Minha cunhada ligou o som e estava me ensinando a dançar. — Terá que tirar o hijab, mas não se preocupe. Fechou a porta do quarto, para que ninguém entrasse. Embora eu estivesse timida, atendi o pedido. Ela começou a me ensinar os movimentos, para quando eu fosse dançar para o meu marido, ele sentisse o prazer de me ver dançar para ele. Enquanto girava e seguia o ritmo da música árabe, o sorriso transparecia em meu rosto. Me sentia livre, era como se eu pudesse através da dança aliviar todos os sentimentos. *********************************************** 19:30 PM Quando foi a noite, esperei Ali Nejat chegar. Me encontrava no quarto, o aguardando. Havia colocado o meu traje; o meu melhor hijab. Queria agradá-lo, queria que ele me visse com outros olhos. E assim que entrou, todo o meu sorriso se desfaz, quando percebi que o seu semblante não estava bom. — Salaam Aleikum.— o saudei, querendo ouvir o som da sua voz. Mas nem sequer me notou, era como se eu fosse invisível naquele momento. E quando seus olhos cansados percorreram em meu direção: — Arrume suas coisas. — Minhas coisas? — Sim, suas coisas. O meu coração ficou tão partido. As lágrimas se formaram. — Você vai me devolver?— tive a coragem de perguntar, soando com o tom embargado. — Lógico que não.... habibti.— se aproximou— Por que pensou uma coisa dessas? — Nada, só tive medo. – Não tenha medo, você é a minha esposa. Não é?— assenti com a cabeça.— Pois então, habibti. Não quero te vê chorar.— carinhosamente secou as minhas lágrimas. —Olhe para mim, está tudo bem, certo? — Certo. Sua atenção admirava cada detalhe do meu rosto. Nossos olhos cheios de brilhos refletiam no fundo um do outro. A troca de olhar, fazia o meu coração bater tão forte dentro do peito. Minhas pernas estremeciam ao estar em sua presença. — Iremos viajar, Aaliyah. — Pra onde vamos? — Irei te levar para fazer peregrinação em Meca. — Está falando sério? — Seu tio me contou que você nunca foi a cidade do profeta. — É o meu sonho! É o sonho de todo muçulmano ir pelo menos uma vez na vida a Meca. Shukran, Ali Nejat.— o agradeci tão feliz, que o abracei no calor do momento. A minha atitude não era nada apropriada. E logo me afastei: — Me desculpe. — Sem problemas.— sorriu, e vi que também estava sem graça.— Comprei um presente para você. — Pra mim? — Vai combinar com a cor dos seus olhos.— me encarou, exibindo o colar. — Mashallah, como é bonito!— elogiei, sem me sentir digna para merecer aquilo. — Posso colocar em você?— pediu e balancei a cabeça, me virando. Seus dedos macios posicionaram o objeto em volta do meu pescoço e ele ficou alguns segundos, me mirando. Sentia o contato dos seus olhos, sobre a minha pele. — Ficou mais linda. — sussurrou no canto do meu ouvido, com o seu tom rouco. — Shukran. — Posso te pedir uma coisa, Aaliyah? — Sim, o que quiser. — Eu quero um beijo. Meus olhos ficaram balançados, os nossos rostos estavam tão próximos. Nunca havia beijado ninguém, ele seria o meu primeiro.
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