capítulo 3

3008 Words
Adele Pai! — falo assim que entro em casa e o vejo sentado no sofá da sala. — Meu amor! — ele diz e se levanta para me abraçar. — Que saudade que eu estava de você, minha princesa. O abraço apertado, sinto seu perfume forte penetrar em minhas narinas e respiro fundo. Eu amo essa sensação, é como se, finalmente, eu tivesse meu porto seguro em casa novamente e dessa forma nada pode me atingir. — Eu também estou com saudades. Queria ter ido com a mamãe te buscar, mas ela disse que a dona Maitê ia com vocês, então decidi ficar para organizar meus horários na próxima semana. Me afasto dele e sorrio. — Tão dedicada essa minha filha — diz, beijando o topo da minha cabeça em seguida. Ele se senta e eu me tomo o lugar ao seu lado, me aconchegando nele. — Como estão as coisas em Londres e em Nova Iorque? — pergunto. — Frias como sempre — fala, sorrindo. — Pensei em marcarmos uma viagem para nós três, poderíamos ir para Londres nas suas férias, o que acha? — pergunta. — Eu acho uma ótima ideia — falo e olho para a minha mãe, sorrindo em seguida. — A não ser que o casal queira viajar sozinho, eu vou até entender e... Ai! — solto quando minha mãe me acerta uma almofada. — Deixe de drama, Adele, isso não combina com você. — Minha mãe sorri e eu gargalho. — Mas, eu vou poder viajar com vocês ou não? — pergunto. — Mas é claro que vai poder, meu amor! — diz e vem se sentar ao meu lado, ela beija meu rosto. — Acha mesmo que eu não apoiaria uma viagem entre nós três? Depois disso nada me impede de amarrar seu pai e levá-lo para outro lugar. Ela pisca para ele e eu reviro os olhos. — Pelo amor de Deus, será que vocês podem ser pais normais ao menos uma vez? — questiono, enfiando a cabeça na almofada que a minha mãe tinha jogado em mim. — Ah querida, vergonha ficou para quem é mais novo e não tem um relacionamento saudável — minha mãe diz. — Meu Deus! — murmuro e recebo um beijo da minha mãe e um do meu pai ao mesmo tempo. — Amamos você, querida — ele diz em seguida. — Não se esqueça disso jamais. — Minha mãe acaricia minha mão. — Também amo vocês — falo e os abraço ao mesmo tempo. — Muito! Todos os dias eu agradeço a Deus pelos pais que Ele havia me dado, eu não me considero uma pessoa de sorte, mas vendo a família que eu tenho, posso pensar o contrário facilmente. Nos tempos de hoje é difícil ter uma família tão aberta e acolhedora como a minha, um relacionamento saudável e que não exige cobranças, claro que no início não foi assim, mas sempre procuramos aprender com nossos erros e a conversa sempre foi a chave fundamental para a construção do nosso relacionamento familiar. — Que tal pedirmos uma pizza? — meu pai fala, já pegando o celular. — Uma ótima ideia — concordo e me levanto. — Peçam e eu vou tomar um banho enquanto ela chega. — Certo então, pedirei duas pizzas — diz. — A minha é de cheddar com catupiry, não esqueçam! — alerto, já caminhando em direção às escadas. — Pode deixar! — minha mãe grita e eu subo as escadas correndo. É muito bom estar com meus pais em casa, me dá uma sensação de proteção ainda maior. O que é ótimo e eu amo, porque conforme vamos crescendo perdemos essa sensação de proteção, de família, que não deve sumir nunca de uma família. Antes de entrar no banheiro para tomar banho, pego meu celular e mando uma mensagem para a Carol. Adele: Meu pai chegou ainda agora em casa, foi tudo bem de viagem e agora vamos jantar. Mal termino de enviar a mensagem e ela já visualiza, espero sua resposta, que não demora a chegar. Carol: Que bom! Então nos vemos amanhã, vou pra casa do Humberto e amanhã estaremos aí para o jantar! Beijos. Adele: Beijos e boa noite! Jogo o celular na cama e me direciono para o banheiro, um banho quente está sendo o pedido prioritário do meu corpo no momento. *** Eu devia estar dormindo, são praticamente três da manhã, mas o sono foi embora e eu aproveitei isso para colocar uma série da Netflix em dia, e depois de ter assistido todos os oito episódios eu ainda não consigo dormir. Me levanto e caminho até a minha mesa, organizo algumas folhas brancas e todos os meus lápis para desenho ali em cima. O talento para desenhos não tinha parado em meu pai, eu desenho desde bem novinha e gosto de ver isso como um hobbie, algo que eu faço quando quero distrair a minha mente e me desligar do mundo real. Me sento confortavelmente em minha cadeira e fico observando a folha em branco por alguns minutos, tento visualizar o que eu posso desenhar. Diferente do meu pai, que desenha todos os dias, eu só faço isso quando tenho inspiração, acho que esse é um dos maiores motivos para minha decisão de não seguir a carreira artística. Afinal, como eu vou viver do desenho se eu só desenho quando tenho vontade? E essa vontade só vem uma vez ao mês praticamente? Não iria dar certo. Respiro fundo e tento mentalizar algo mais natural. Uma pessoa de costas, correndo por um jardim repleto de flores, de todas as cores, tamanhos e tipos. Pego um lápis preto e começo a traçar o contorno do sol, quero fazer os raios parecerem mais reais e intensos possíveis. A menina, possui a cabeça levemente erguida para o alto e está com a mão direita esticada para cima, como se pudesse pegar esses raios solares para si. Traço riscos mais leves para fazer as ondas de seus cabelos. Seleciono as cores para pintar as flores, cores fortes e alegres, e começo a colorir o desenho, me atentando a cada detalhe, tendo cuidado na força exercida em cada cor para ficar com o aspecto mais natural possível. Estico os braços para cima e sorrio ao ver o desenho pronto, ele está lindo, mais que lindo para falar a verdade. São raras as vezes que eu paro para fazer um desenho completo, o que é uma tristeza para o meu pai, pois ele adora vê-los, assim que eu me levantar irei mostrar para ele. Olho para a janela e sorrio quando vejo o sol começar a despontar no céu, talvez eu esteja com um pequeno problema de insônia, apenas talvez. Confiro a hora no meu celular, está dando seis da manhã, me levanto e vou direto para a cama, assim que me aconchego embaixo das cobertas, fecho os olhos e me aninho ainda mais e me deixo, finalmente, ser levada pelos sonhos. Acordo na hora do almoço, ainda sinto meu corpo sonolento, poderia dormir até às 17 horas facilmente, mas tenho que ajudar a minha mãe a organizar algumas coisas para o jantar, então me obrigo a levantar da cama e ir tomar um banho. Opto por um macaquinho jeans e uma blusa de manga curta que tinha um caimento bem legal nos ombros, deixo meu cabelo preso em um coque e não faço maquiagem nenhuma, calço um tênis e coloco meus óculos escuros no topo da cabeça. — Bom dia! — falo assim que apareço na sala, minha mãe já está arrumada e percebo que fala ao telefone, meu pai está lendo um jornal, sentado em sua costumeira poltrona. Quem ainda lê jornal impresso, nos dias de hoje? É uma pergunta que eu sempre me faço, mas não reclamo, afinal é um dos hábitos do seu João Ricardo desde sempre. — Quase boa tarde, não é, Adele? — ele pergunta, sorrindo e dou de ombros, indo até ele lhe dar um beijo. — Fui dormir praticamente de manhã — falo. — Insônia novamente? — Sua voz tem um tom de preocupação e eu sorrio de lado. — Não se preocupe, acontece direto, meus horários estão trocados — explico. — E isso não é saudável, já falei para ela — minha mãe diz. Vou até ela e lhe dou um beijo. — Não se preocupe, já falei que é normal para pessoas da minha idade. — Normal, sei... — murmura ela. — Está pronta? — Posso só tomar um copo de café? — pergunto, já caminhando até a cozinha. — Claro! Vamos encontrar com a Dona Maitê, aproveitaremos para almoçar fora, apenas nós três, enquanto terminamos de comprar as coisas que faltam para o jantar de hoje à noite. — Ok! — grito. Entro na cozinha, já sendo recebida pelo cheiro maravilhoso da comida da Heyde. — Que cheiro bom! — elogio, indo até ela e lhe dando um beijo. — Hoje acordou tarde, não é? Bom dia, Adele. — Bom dia, Heyde. Não consegui dormir durante a noite, então eu fui desenhar depois de ter terminado minha série. — Vai acabar ficando doente dessa maneira, Adele — alerta. — Você precisa ter uma boa noite de sono e uma alimentação saudável, apenas café vai te fazer m*l — diz ao ver eu me servir de uma xicara de café. — Estou com pressa, vou almoçar na rua com a minha mãe e a Maitê, então já sabe que as duas vão me fazer comer de tudo — digo, fazendo careta. — Graças a Deus por isso, você tem estado bem magrinha, tem que se alimentar! — Pode deixar que vou me preocupar mais com essa questão. — Dou outro beijo em sua bochecha e sorrio. — Até daqui a pouco, Heyde. — Até daqui a pouco, querida. — Me despeço com um aceno e vou em direção à sala, pegando uma maça na fruteira no meio do caminho. — Vamos? — minha mãe pergunta, já de pé com a bolsa no braço. — Estou pronta, podemos ir! — anuncio e desço meus óculos escuros. — Adele — ela me chama e assim que olho para ela, vejo a chave do carro ser jogada em minha direção. — Você dirige, querida, dispensei o Rodolfo hoje. — Não tenho como negar, não é? Isso que dá ter uma mãe que não gosta de dirigir — falo, sorrindo. — Vamos logo, menina, a Maitê já me ligou perguntando por que estávamos demorando. — Às vezes eu penso que a dona Maitê esconde a verdadeira idade da gente, nunca que ela age como uma senhora de setenta anos — divago enquanto abro a porta da sala. — Querida, meu sonho de consumo é chegar aos setenta anos com o pique da Maitê. — Minha mãe sorri ao dizer. — Não duvido que chegue. Entramos no carro dela e eu ajusto os espelhos e o banco. Todas as vezes que eu vou dirigir o carro dela é a mesma coisa. Infelizmente meu 1,60m não colabora nem um pouco quando tenho que pegar o carro dela, afinal o Rodolfo mede quase 1,90m, ele é praticamente um poste comparado a mim. — A Maitê está tão feliz com a volta do Alex, seu pai também, é bom para ele ter o amigo e sócio perto dele novamente — minha mãe comenta e eu coloco o carro para fora da garagem. — Imagino que esteja mesmo, ela me fala tanto dele que sinto como se o conhecesse a eras — falo. — Você quase não se lembra dele, não é querida? — pergunta e percebo o olhar dela sobre mim. — Não, apenas por fotos e quando vocês fazem alguma videochamada e eu o vejo de relance, mas não me lembro de ter tido contato com ele. Acho que eu não era muito sociável na época que ele morava no Brasil. — Você até era, querida, mas você ainda era muito nova quando ele foi embora para os Estados Unidos e se casou com a Rafaela, acho que você tinha uns 11 anos de idade. E depois disso foram apenas encontros esporádicos, quando eles conseguiam vir ao Brasil ou quando íamos até lá. — Sim, me lembro que a senhora até insistiu que eu fosse ao enterro dela, mas preferi não ir, não me sinto bem em velórios e eu estava cheia de coisas no início da faculdade. — Verdade, verdade. Acho que o Alex vai ser uma pessoa que você vai gostar de manter uma amizade, ele tem o perfil que se enquadra com seu, quesito responsabilidade e visão de futuro, além de ser uma pessoa super centrada e educada, um verdadeiro cavalheiro, diga-se de passagem. Uma pena que em dois anos ele ainda não tenha arrumado outra pessoa — lamenta. — Se ele chegar a se casar novamente, a futura esposa será uma mulher de muita sorte, ele é um verdadeiro príncipe. — Espero que não esteja tentando bancar a santa casamenteira para cima de mim — brinco. — Lógico que não, Adele, ele tem idade para ser seu pai praticamente! — diz, como se fosse a coisa mais absurda do mundo. — Eu sei disso, mas pelas características que a senhora apontou parecia uma oferta para namoro com casamento já arranjado. — Mas, seria bom se você arrumasse alguém do mesmo porte do Alex, só que compatível para a sua idade, é claro. — Meu pai teria um treco se algum dia eu aparecesse namorando alguém com praticamente a idade dele. — Rio. — Com toda a certeza! Estaciono o carro em frente ao prédio que a dona Maitê mora e espero minha mãe mandar mensagem para ela, enquanto isso pego meu celular e começo a olhar o aplicativo de mensagem, vendo que o Davi tinha me mandado uma mensagem ontem à noite e eu ainda não havia lido. Davi é um cara legal, lindo e inteligente, seria um ótimo candidato a namorado, se não fosse extremamente grudento. Ficamos umas três vezes e agora ele está tentando uma quarta e eu estou fugindo como o d***o foge da cruz, pois eu tenho certeza de que se eu ceder, no dia seguinte ele fará um pedido de namoro seguido de um de casamento. Balanço a cabeça, tentando espantar a imagem que se forma em minha cabeça, se isso acontecer pode ter certeza de que o Davi desejaria jamais ter se envolvido comigo. Fecho o app e coloco o celular no meu colo, ligo o rádio do carro e começa a tocar Taylor Swift. — Essa não é aquela cantora que você foi ao show dela uma vez aqui no Brasil? — minha mãe pergunta e eu confirmo. — Ela mesma, Taylor Swift, o nome dela. — Não sabia que você ainda gostava dessa cantora. — Meu amor pela Taylor não tem nada a ver com a idade, mãe! — Olho para fora do carro e vejo a dona Maitê vir em direção ao carro. — Lá vem a dona Maitê, mãe. Dona Louise ergue os olhos do celular e sorri quando a senhora entra no banco de trás do carro. — Dona Maitê, como vai? — pergunta. — Vou muito bem, querida. Estou faminta para falar a verdade, então acredito que poderíamos ir almoçar primeiro e depois ir atrás do que ainda falta comprar para o jantar, o que acham? — Uma ótima ideia, a Heyde já me passou a lista do que está faltando, só não podemos demorar muito. — Perfeito então. Como vai, Adele? A cada dia que se passa você fica ainda mais linda, impressionante. Sorrio diante do elogio dela e dou partida no carro em seguida. — Vou bem, graças a Deus e a senhora? — Depois que tive certeza de que meu filho estava realmente em casa e não era mais um sonho, estou mil vezes melhor. — Fico feliz, a senhora fala tanto do Alex que imagino que realmente estava com muitas saudades dele. — Você ainda é jovem para entender isso, Adele, mas quando nos tornamos mãe, sabemos que um dia nossos filhos vão crescer e ganhar o mundo, irão sair de casa e ter suas casas, famílias e vidas para cuidar. Sempre fomos o Alex e eu, a vida inteira, o pai dele morreu muito cedo e eu o criei sozinha. Graças a Deus ele se tornou um homem de bem, responsável e completamente ciente do que é certo e errado. Não vou mentir e dizer que fiquei feliz quando meu filho cresceu e foi embora de casa, mas é extremamente gratificante tê-lo por perto depois de tantos anos, me sinto radiante! — Isso é muito bom, dona Maitê, sempre é bom estarmos perto da família, acho que é um laço que não deve ser quebrado jamais, não importa o tempo que se passe. — Sim, querida, falei isso para o Alex hoje de manhã. — Como ele está se adaptando, Maitê? — mamãe pergunta. — Bem, até perguntei se ele não queria vir almoçar com a gente, mas ele disse que preferia passar o dia descansado. — Está certo, uma viagem de Nova Iorque para o Brasil é bem cansativa. — Sim, sim, por isso quase não ia até lá, Louise, e meu filho achando que era frescura. — A senhora reclama e abro um sorriso de lado, apenas prestando atenção na conversa das duas. — No fundo ele sabia que não era, Maitê, todos os filhos são um pouco dramáticos. — Eu estou escutando, sabia? — brinco e as vejo sorrir, ambas continuaram a conversar e eu decido prestar atenção no trânsito, pelo que conheço dessas duas o dia será bem longo. Eu não sou uma pessoa muito curiosa, mas confesso que ver a quantidade de elogios que minha mãe e a dona Maitê distribuem ao Alex me faz querer conhecê-lo ainda mais. Ele deve ser uma pessoa muito boa de se conversar e de se relacionar, quem sabe não pode surgir uma amizade bacana entre nós dois? Seria algo a se pensar futuramente.
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